Corrida Expansionista Ibérica: Tratados Ultramarinos.
Por Heverton Luis Barros Reis | 04/12/2014 | História
A Europa entre os séculos XIV e XV:
Durante o período conhecido como Baixa Idade Média, a Europa passava por inúmeras transformações no feudalismo, como o renascimento do mundo urbano; o reaquecimento das atividades comerciais; o fim do trabalho servil; o surgimento da burguesia; a centralização política nas mãos dos monarcas; a peste negra e as crises da Igreja Católica. Todos estes fatos históricos levaram o sistema feudal a uma grave crise que resultou na transição para o capitalismo.
As cidades italianas de Veneza e Genova eram os mais importantes centros comerciais desta época. Estes italianas dominavam a Europa comercialmente seguindo uma rota com destino a Ásia pelo Mar Mediterrâneo, monopolizando a distribuição dos produtos orientais no continente europeu. Para fazer a distribuição destas mercadorias trazidas das Índias e de outras partes do Oriente por toda a Europa, os mercadores usavam rotas terrestres e fluviais. Os mercadores da Veneza, Gênova e outras cidades realizavam seus negócios com os comerciantes do norte da Europa.
Porém no inicio do século XIV, a dificuldade do comercio europeu chega ao extremo porque os produtos orientais passaram a ser limitado, causando nos preços dessas mercadorias aumentos excessivos, em razão de Constantinopla ou Alexandria estar em poder dos mouros, o que promoveu o monopólio italiano e um grande número de intermediários na distribuição dos produtos constituindo uma séria barreira ao crescimento econômico. Além disso, as tradicionais rotas de comércio já não ofereciam segurança contra os assaltos, cada vez mais frequentes e também os mercadores eram obrigados a pagar pesadas tarifas aos senhores feudais pelo direito de atravessa suas propriedades, o que elevava o preço final de mercadorias constituindo uma séria barreira ao crescimento econômico. Assim, as antigas rotas terrestres e fluviais acabaram entrando em colapso, sendo lentamente substituídas por rotas marítimas, Foi nesse quadro que Portugal assumiu importância.
Outra situação que é importante resaltar é que toda a Europa estava procurando se reestruturar política e economicamente. A Espanha estava com dificuldades internas e externas, devido à falta de um governo unificado e à presença árabe no sul da península Ibérica, questões que só seriam solucionadas mais tarde.
Mas apesar de todas estas dificuldades a Europa sabia que havia necessidade urgente de revitalizar a sua economia. Para tanto precisava ir a busca de novos lugares na África e Ásia onde pudessem obter metais preciosos porque as fontes de recursos minerais do velho mundo estavam esgotadas e também porque seria necessário ampliar as possibilidades comerciais, para oferecer produtos a preços mais baixos. Estes feitos só seria possível com a descoberta de uma nova rota para o Oriente e a mais provável seria desbravando o Atlântico e contornando o continente africano. Só um país podia e estava naquele momento preparado para realizar esta façanha, Portugal.
A rota comercial e expansionista Portuguesa:
No século XIV Portugal, assim como toda a Europa, estava econômica e militarmente numa situação de grande crise. As antigas rotas terrestres foram substituídas por rotas marítimas, as quais passaram a ligar a Itália ao mar do Norte através do oceano Atlântico, tornando o litoral português importante, pelo fato de ficasse aproximadamente na metade do percurso entre a Itália e o mar do Norte. Assim Portugal passou a constituir um excelente ponto de escala e de abastecimento para os mercadores. Com isso, as atividades econômicas se desenvolveram, possibilitando a ascensão do grupo mercantil português, que, mais tarde, fortalecido, projetaria a expansão marítima.
Mas todo este processo de navegação portuguesa só foi possível porque a monarquia lusitana, percebendo a importância do desenvolvimento do comércio para o progresso do país e o fortalecimento do Estado, passou a estimular as atividades mercantis. Uma das medidas de incentivo adotadas pelo governo foi a criação e ensino dos conhecimentos e técnicas de navegação, dirigida pelo infante D. Henrique, filho do rei D. João I. Já nos finais do século XV princípios do século XVI as rotas marítimas foram ficando cada vez mais distantes de Terra.
Com isso, Portugal também impulsiona o desenvolvimento no campo da navegação, da cartografia, e nas próprias embarcações, como a caravela, de maneira a encontrar um caminho marítimo que intersectasse o lucrativo comercial de especiarias que se fazia no Oriente. Outro fator que ajudou as viagens mais longas foi à evolução da tecnologia naval principalmente nos instrumentos de orientação, para evitar que os marinheiros se perdessem por aqueles mares sem fim. Foram inventados os astrolábios, os quadrantes, os prumos.
Assim em 1415, Portugal marcava o início da sua expansão territorial com a tomada de Ceuta, um entreposto comercial árabe localizado ao norte da África, em seguida descoberta das ilhas da Madeira (1418) e das Canárias (1432), que eram territórios de colonização e exploração agropecuária, atestada a sua pobreza mineral .A partir da segunda metade do século XV, os conhecimentos náuticos necessários são melhorados e passa a ser possível se realizar viagens mais audaciosas. Assim, a descoberta de uma nova rota para as Índias e a possibilidade de adquirir os produtos orientais por preços bem mais baixos transformaram-se no principal objetivo do Estado português.
Grandes navegadores como Diogo Cão e Bartolomeu Dias exploraram a costa africana, o último passando, em 1487, o Cabo das Tormentas, mais tarde renomeado para Cabo da Boa Esperança pelo rei João II de Portugal.
Em 1498, Vasco da Gama aproveitou os traçados marítimos de seu antecessor estabelece uma rota marítima e chega às Índia. Pedro Álvares Cabral, em 1500,se afastando da rota oficial e chega ao Brasil.
As embarcações portuguesas a partir destes navegadores chegam ao Oceano Índico, tomando conhecimento de novas terras, conquistando pontos-chave do comércio,alcançando mais tarde a China e o Japão, para além de expedições e viagens no interior asiático e africano e a descoberta do continente australiano.
Os portugueses construíram uma rede de feitorias, entrepostos, e fortalezas, captando riquezas e irradiando a língua portuguesa e a religião católica, num esforço de criação de uma unidade civilizacional portuguesa, quer através da ação missionária quer da miscigenação, e, sobretudo pela força das armas. Os povos que viviam pela América ainda não conhecida, foram dizimados em todos os sentidos, quanto à cultura, religião, línguas faladas, modo de vida, etc...
Na África os portugueses conseguiram principalmente mão de obra para o sistema de produção escrava, inicialmente para a Europa e depois para a colônia portuguesa.Do Índico e Extremo Oriente vieram as especiarias, os metais preciosos, os tesouros artísticos, as porcelanas, sedas e madeiras, entre outros produtos para venda na Europa.
Nesse processo de expansão, Lisboa se transformou num centro comercial importantíssimo, firmando-se como um importante centro do comércio europeu.
Expansão Marítima Espanhola:
A Espanha entrou em cena na expansão ultramarina europeia em 1492 antes mesmo que os portugueses chegassem as Índias Tendo superado dois sérios entraves ao progresso nacional a presença árabe e a divisão interna, a Espanha reuniu forças para participar das disputas comerciais e da exploração do mundo colonial.Nesse mesmo ano o novo reino patrocinava a viagem do navegador genovês Cristóvão Colombo.
Acreditando na esfericidade da terra, Colombo defendia a tese de que seria possível alcançar as Índias no Oriente navegando em direção ao Ocidente. Colombo partiu em agosto de 1492 e rumou para oeste por dois meses, alcançando a ilha de Guanaani (San Salvador), nas Bahamas, acreditou, porém, ter alcançado as Índias, e só mais tarde, em 1504, é que o navegador Américo Vespúcio confirmaria que se havia descoberto um novo continente .Iniciava-se desse modo o ciclo espanhol das Grandes Navegações.
Outros navegadores importantes como Fernão de Magalhães, a serviço da Coroa de Castela, Pedro Fernandes de Queirós e Luís Vaz de Torres exploraram o Oceano Pacífico para o Império Espanhol.
Corrida Expansionista Ibérica (Portugal X Espanha) o os Tratados:
Portugal e Espanha iniciaram as navegações comerciais muito antes que outros países da Europa, em razão da sua localização facilitada as margens do Oceano Atlântico e principalmente porque o comercio pela rota do Mar Mediterrâneo, utilizada anteriormente para chegar ao Oriente ficou impossível com Constantinopla.
Porém as crenças de qual rota seriam a mais correta e de quem seria o direito das descobertas sempre foi um problema que causou disputa entre as duas noções da península ibérica. Tanto é que já na segunda metade do século XV, inevitáveis conflitos e inúmeras controvérsias acerca não só sobre as rotas como também sobre o direito de posse sobre as terras descobertas ou a descobrir já havia se estabelecido entre estas duas nações.
Com o objetivo de definir os direitos de cada país na corrida expansionistas ibérica, nas ultimas décadas do século XV foram se formando diversos tratados, dos quais o primeiro foi o Tratado de Toledo, assinado em 1480.Esse tratado constituiu uma importante vitória da diplomacia lusitana, pois assegurava a Portugal a rota das Índias pelo sul da África e o direito as terras a descobrir ao sul das ilhas Canárias.
Todavia, este tratado tornou-se insustentável após a viagem de Colombo, em 1492,que navegando para o ocidente chega as novas terras da atual America. Assim em 1493, o papa Alexandre VI edita a Bula Intercoetera, que determina a partilha do mundo ultramarino entre espanhóis e portugueses.Um meridiano situado 100 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde destinava a Portugal todos os territórios situados a leste, e à Espanha, as terras localizadas a oeste do meridiano
Mas os portugueses ficaram insatisfeitos com a Bula Intercoetera por acharem que foram prejudicados e contestaram exigindo sua reformulação. Depois de muita negociação entre os dois países, um novo acordo foi celebrado em 1494, na cidade de Tordesilhas, na Espanha. O Tratado de Tordesilhas substituía a linha divisória anterior por outra, situando em 370 léguas ao oeste das ilhas de Cabo Verde. Esse tratado ampliou para Portugal as possibilidades de conquistar das terras no Atlântico ocidental.
Conclusão Para Além dos Textos:
Desde que o mundo é mundo, que surgiu a história no tempo CROMO, as civilizações se constituem social e politicamente. Com isso notamos motivos em busca de desenvolvimento, e isso fez parte da construção civilizatória. Não seria diferente no mundo capitalista, uma eterna busca pelo poder, pelo ouro, pelo que é do outro. E assim foi com Portugal, Espanha e seus inimigos e aliados. Todos possuíam motivos econômicos, a fim de fortalecer seu estado e sua coroa, motivos sociais, com preocupação de fortalecer seu povo (mão de obra) e políticos dos quais envolvem controle religioso sobre a massa. Diante disso podemos concluir que os motivos sociais, religiosos estavam e até a contemporaneidade ainda estão ligados aos movimentos políticos e por fim financeiros. Tudo em nome de um poder maior. Esse motivo (financeiro) fizeram homens se lançarem ao mar pouco conhecido, a lutarem entre si, matarem em nome de um Rei, fizeram homens em nome de um Deus, calar a boca de povos, tornando-os seguidores sem opções e escolhas.