CORRENDO NO MESMO LUGAR                   

Belo Horizonte, 17-01-1977

 

É noite. A neblina domina.

Vou andando pela rua

Em meio à cor cinzenta

Do espaço poluído.

Mal diviso a sombra

Da pessoa que se aproxima.

Talvez um assassino,

Talvez uma múmia.

 

Penso então:

Tudo isso é inútil,

Até pensar.

Quanto mais, pensar em múmias

Ou então num duende.

No mundo em que vegetamos

Há tantas coisas inúteis,

Que a felicidade

Só é vitoriosa

Quando essas coisas morrem.

De repente, quando o sol

Fabricou o dia

Em plena madrugada,

Não fugiu à regra

Previamente determinada.

E eu vi tudo com clareza,

E eu vi tudo com tristeza.

Eu estava angustiado

Como se nadasse

Num intenso mar de tensão,

Que nos dá uma certa distancia

Para fazer-nos voltar

Ao ponto de partida,

                                                      

Numa ordem irônica,                                                                          

Numa voz arrogante,

Numa voz imperial

Que não admite réplicas,

Que não admite diálogos.

 

Ninguém ousava, portanto,

Ser uma exceção

A essa dura regra.

Todos sabiam disso.

 

Tudo existe na vida,

É só a pessoa viver

E saberá o que eu digo.

 

Ontem foi de uma forma,

Hoje é outro com forma diferente,

Mas o modelo é o mesmo.