Este artigo tem como objctivo apresentar o impacto dos corpos estranhos em Otorrinolaringologia (ORL) e a sua complexidade. O estudo adoptou a metodologia qualitativo e empregou a pesquisa bibliográfica, estudo de imagens dos casos atendidos nos bancos de urgências de Hospital Josina Machel de Luanda e do Hospital Geral do Uíge- Angola. A pesquisa mostra que a ingestão dos corpos estranhos é um problema comum encontrados mais frequentemente em crianças que adultos, embora a sua penetração possa ser voluntára ou involuntária. Pelo que podendo resultar em complicações graves. E os corpos estranhos mais  frequentamente encontrados nos bancos de urgências de Hospital Josina Machel de Luanda e Hospital Geral do Uíge, são as moedas no esófago, artefactos plásticos nas fossas nasais, os grãos de feijão e fragmento de algodão nos ouvidos e as espinhas de peixe na orofaringe.

Introdução

Corpo estranho em otorrinolaringologia é qualquer material inanimado ou animado que se encontre em cavidade nasal e seios perinasais, orofaringe, hipofaringe, laringe ou conduto auditivo externo e que não faça parte dessas estruturas em condições normais.1 Corpos estranhos são muito frequentes em crianças de 3 a 5 anos, em idosos incapacitados e em indivíduos com transtornos mentais, embora sua penetração possa ser voluntária ou involuntária. Deve-se ressaltar também a possibilidade de introdução acidental de corpos estranhos durante quedas, acidentes automobilísticos e migração de insectos durante o sono. A natureza do corpo estranho é variado e estará relacionado à possibilidade de que eles tenham dado suas características, penetrem e permaneçam localizados ou em progresso.2 Corpos estranhos constituem uma das mais frequentes urgências em Otorrinolaringologia e a presença de corpo estranho nas orelhas, nariz ou garganta é uma queixa comum em serviços de urgência em Otorrinolaringologia. Estima-se que represente cerca de 11% dos atendimentos nesses serviços.3 Podem ocorrer complicações graves em até 22% dos casos, o que demonstra a morbidade do problema, sendo importante o seu devido reconhecimento, estudo e manejo.

- Corpos estranhos do conduto auditivo externo (CAE): Podem ocorrer em qualquer faixa etária, mas trata-se de uma situação bastante frequente nas crianças. Cerca de 40% das crianças têm entre 1 e 2 anos, e 35% entre os 3 e os 5 anos.5 A introdução do corpo estranho é habitualmente voluntário nas crianças e acidental nos adultos ou indivíduos com deficiência mental ou com uso de drogas. As vezes ocorrem a entrada acidental de insectos, principalmente em locais pouco arejados. Os corpos estranhos do CAE, são classificados em animados (insectos vivos) ou inanimados (sementes, jóias, fragmentos de papel, esferovite etc.). A maioria dos corpos estranhos é inerte, pelo que não provocam qualquer tipo de reacção. Os corpos estranhos não inertes (papel, algodão, sementes). Produzem sinais inflamatórios no canal auditivo externo ao fim de alguns dias ou semanas, condicionada otalgia e atorreia. Raramente, existe otorragia devido a lacerações do CAE ou perfuração timpânica, provocada pelo corpo estranho. Geralmente existe história de introdução do corpo estranho, contada pela criança ou adulto. A introdução é unilateral em 95% dos casos.6 Em 46- 72% dos casos, os pacientes apresentam- se no próprio dia no serviço de urgência, 15- 20% em 3 dias, 8- 11% após mais de uma semana e 5% são descobertos acidentalmente, na otoscopia de rotina.7 Apesar da remoção de corpo estranho ser comummente simples, o potencial para complicações durante esse procedimento torna fundamental a actuação do médico especialista otorrinolaringologista. O sucesso da remoção do corpo estranho depende de diversos factores, incluindo a localização do corpo estranho, seu material, a destreza do médico, os equipamentos disponíveis e a cooperação do paciente. 8 Desta forma, sempre que possível o médico otorrinolaringologista é o mais indicado para realizar o procedimento, por possuir também instrumentais mais apropriados e delicados. As tentativas de remoção do corpo estranho sem sucesso podem agravar o quadro; o uso de pinças inapropriadas pode introduzir o objecto mais profundamente, o qual pode ser empurrado em direcção à membrana timpânica, rompê-la e cair na orelha média. Uma orientação importante é que não se utilize qualquer tipo de solução no conduto auditivo, pois grãos e sementes quando hidratados aumentam de volume e ficam mais difíceis de serem removidos. Com boa iluminação e auxílio de micropinças delicadas, os objectos são facilmente removidos em crianças colaborativas. Ao contrário, a imobilização adequada ou a sedação são medidas mandatárias para evitar complicações como lacerações e perfurações de membrana timpânica e /ou lesão de cadeia ossicular. Nos casos de objectos grandes a remoção em pedaços evita a laceração do conduto. Pequenos insectos como formigas podem ser removidos sob visão microscópica por meio de aspiração ou mesmo irrigação do meato acústico com soro fisiológico. Esta última medida deve sempre ser precedida do exame otoscópico para certificação da integridade da membrana timpânica. [...]