Muito difícil manter intacto um corpo tão avesso aos parâmetros humanos, como é o estranhíssimo corpo denominado Igreja. Mesmo tende uma analogia com o corpo humano, não houve como seguir as mesmas configurações desse corpo criado pela sua Cabeça. Aqui neste ponto - onde uma cabeça externa, ela mesma, fugindo da regra humana, cria um corpo, estando em dimensão além do mesmo, aos olhos humanos - começam as discrepâncias quanto as inúmeras diferenças. Tão além quanto ao entendimento; tão discrepante quanto à composição invisível, mas presente em milhares de corpos humano, este corpo - a Igreja - não poderia continuar como nos primórdios de sua criação. Incompreensível pelos manipuladores da ordem, quanto às emanações advindas da Cabeça, cujos elementos de dimensões nada condizente com esta em que os manipuladores estavam, acharam por bem moldar esse organismo às suas expensas, retirando, modificando elementos essenciais, acrescentando outros tantos de cunho altamente alheio ao contexto da Igreja, que o resultado foi um amontoado de corpos paridos em dimensões astronômicas. Verdadeira metamorfoses ocorreram, cujos resultados espalharam-se pelos continentes.

O que ocorreu de fato, com as medidas adotadas pelos líderes alheios ao conteúdo da magna assembleia, foi um esquartejamento daquele corpo, do qual os pedaços desse mártir, em contato com elementos alheios, multiplicaram-se tanto, que transformaram-se em milhares de úteros a gerar novos tipos de corpos. Como resultado, tão diferentes do genuíno corpo criado pela Cabeça nos primórdios da história. Esses pseudos corpos, cada um com suas consistências, tão destoantes do original, continuaram a se multiplicar e, à medida em que nasciam, surgiam com novos caracteres, tão alheio ao primeiro, que hoje a identidade daquele não mais é encontrada nestes disformes corpos.

Igrejas, melhor, oraganizações denominacionais,  milhares delas, formando milhares de grupos, todos vivendo sob a égide de adoções, de tudo quanto perverteu o significado e o conteúdo da Assembleia prima, têm em seus átrios o que de mais esdrúxulo existe em matéria de comportamento. São casos análogos aos de um corpo humano, que nem o melhor especialista pode sanar os traumas de uma mente conturbada pelos desarranjos sofridos. Nos casos das greis, são defeitos congênitos, oriundos dos elementos que entraram nas primeiras denominações surgidas após o primeiro século. Começando com o catolicismo - que deu o pontapé inicial nas divergências quanto ao genuíno corpo - o que veio depois nada mais foi que vertentes oriundas das deformações papais. Ficaram patentes tais desvios, que hoje o que há nos átrios da grei romano são práticas e normas jamais contidas no seio da primeira Igreja, logo após a descida do Consolador.

Mutilaram, esquartejaram o corpo genuíno com suas concepções, retirando, adicionando elementos estranhos, que hoje a identidade de um Paulo, ou mesmo de um Pedro jamais poderá ser vista no líder romano, alcunhado de representante de Deus na terra. Do pobre Pedro, um pescador, casado, a um portento em palácios e tronos de ouro, mantidos por grupos financeiros, empresas outras, turismo, com a maior posse de propriedade neste Ocidente, esta organização se prima pela sua discrepâncias quanto à igreja do Cabeça, a qual nada, mas nada mesmo possui de âmbito material! Vaticano - seu nome - a maior afronta ao que Cristo deixou em matéria de assembleia dos santos. Enquanto “O meu reino não é deste mundo”, a Sé romana acumula fortunas e vive sob a égide do mundo material. Entra de sola nessas pisadas o povo que “perece por falta de entendimentos” do verdadeiro conteúdo da magna Assembleia. O tripé em que se apoia o catolicismo é constituído essencialmente do poder político - o papa é um estadista - comandante de um estado político-material, o material - um mundo financeiro com bancos, empresas, e todo arsenal deste mundo e o da religiosidade, o poder que prende o povo às normas desse organismo com adoções ímpares à primeira assembleia.

Por outro lado, os grupos - a maioria deles - provenientes da Reforma, guardam em suas entranhas os resquícios do antigo edifício romano, sendo impossível libertarem-se desse estigma. Como no útero contaminado que deu origem ao esquartejamento, mutilação, introduções de adendos extremamente alheios ao contexto da Igreja neotestamentária, as novas greis adotaram quase a mesma sistemática, o que concorreu para criar novos corpos deformados, que hoje se torna difícil saber a serviço de quem eles estão. De um fato é sabido: o poder material, os dotes do mundo - como na assembleia romano - fazem o dia a dia das novas comunidades surgidas na esteira dos edifícios reformados. Verdade é, que um edifício reformado guarda em seu interior a parte sólida do que consistia do edifício antes da reforma. Assim, não há como se libertar das estruturas antigas, salvo se abandonar por completo os alicerces do milenar prédio, que foi o primeiro embrião a surgir após os primores da criação da Assembleia dos Santos.

Qual a solução ante esse esquartejamento; esse tremendo cenário de exceções, que tomou o lugar da magna Igreja? Qual o caminho a seguir, se na atual conjuntura servem-se aos ditames das ordens montadas em cima de fugas, de adições e do separatismo, como se cada um dominasse sobre quadrículas de uma colcha de retalhos? Como fazer vicejar os dotes divinos, outorgados aos primeiros expoentes que pagaram com a vida pela difusão do reino, se hoje é justamente o reino oposto que comanda as ações dos milhares de grupos, ao lado de concepções, interpretações mil, nas quais transparecem os fatores humanos como dignos de todas as atenções?

Retorno incondicional à origem, aos primeiro momentos, aos tempos, antes dos corpos paridos pelo esquartejamento terem-se verificados. Voltar em guinada de 180º, abandonando tudo, mas tudo mesmo que o homem adicionou como formas de domínio de massas. Não reformar, não valer-se das estruturas milenares, mas retornar incontinente aos teores da primeira assembleia, seguindo as normas estipuladas pela Cabeça da mesma.

C. Oliveira