Concluí a leitura do livro Corações Sujos do Fernando Moraes sobre a comunidade japonesa no Brasil nos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo depois do ataque americano com bombas atômicas sobre e Hiroxima e Nagasaki, muitos japoneses residentes no Brasil ainda acreditavam que o Japão havia vencido a guerra e que as informações que aqui chegavam eram manipulações do imperialismo americano.

Aqueles que não concordavam que o Japão havia vencido a guerra eram chamados de "Corações sujos" e muitos foram assassinados como traidores da pátria do Sol Nascente. No oeste paulista, onde estava grande parte da colônia, esse sentimento era muito forte, causando sérios problemas, obrigando a polícia a intervir de forma muitas vezes violenta e desproporcional. A repressão criou um sentimento entre os japoneses de que os brasileiros não gostavam deles.

Fazendo uma analogia com a atualidade, a informação de que o Japão teria sido o vencedor da guerra, era uma fake news e aqueles que não aceitavam a falsa informação eram acusados de traidores, com pichações nas portas das casas com ameaças de morte. É interessante entender como o fanatismo político pode levar as pessoas a acreditarem em informações inverídicas e sem nenhuma comprovação científica, apenas baseadas na fé, nas tradições e no nacionalismo exacerbado.

Esse problema se prolongou ainda por algum tempo após o final da guerra, fato que acabou por dificultar a assimilação da colônia nipônica no Brasil. Estima-se que mais de cem mil japoneses contribuíam regularmente para a Shindio Renmei, liderada por um ex-coronel do Exército japonês, chamado Kikawa.

Esse fato histórico foi também tema do filme com o mesmo nome dirigido por Vicente Amorim, baseado no livro que também vale a pena ser visto.