"EFEITO 'COR-(W)-EL-L': DIATRIBE DE UMA TRÍADE POLICIAL OBSEDANTE"

Por Felipe Genovez | 10/12/2018 | Filosofia

Todo ser humano:

  1. Está sujeito a doenças conhecidas pelas medicinas ocidental e oriental que podem ser natas ou adquiridas, cujo tratamento e terapias transitam entre as ciências ortodoxas e heterodoxas (Ser “Corpo”).
  2. Ao longo da sua existência têm assegurado plenas condições de moldar a sua natureza espiritual, a partir de graus de consciência, discernimento, evolução, e experiências (provações da jornada). Nesses pilares estão presentes quer de forma pontual, alternada ou regressiva, variáveis como “egos”, “alter egos”, o sentir-se importante para si ou para os outros, os sentimentos ligados a desejos e paixões, a capacidade nata ou desenvolvida de atrair ódios, invejas, vinganças, disputas por supremacia e poder, além da imanente e contínua necessidade de julgar seus semelhantes próximos e distantes.  Antes mesmo de nascer passa a ser dotado de um espírito que se expande durante toda a sua trajetória existencial, e assim terá que se defrontar de forma inexpugnável com as forças do bem e do mal (Ser “Espírito-Luz”).
  3. Desde a mais tenra idade traz consigo uma luz interior que o acompanha ao longo da sua existência e será responsável por sua energia vital. Convencionamos que esta última ponta da tríade se denomina a alma e está, única e exclusivamente, ligada a sua essência num sentido absoluto, acima de todas as coisas. Da mesma maneira que uma luz possui intensidade, brilho, contraste, ela pode variar de tons, como as cores de um arco-íris. Não podemos vê-la, porém, podemos senti-la por meio da aura e do espírito das pessoas (Ser “Luz”).

Feitas essas considerações preliminares:

Do micro para o macro, o universo policial se constitui um grande celeiro para se entender como surgem, vibram e partem entidades em constantes estágios de vibrações. Ao ingressar na realidade criminal o policial passa a se constituir um laboratório experimental em que, além de protagonista de cenas difusas nos planos pessoal e profissional, ao mesmo tempo é o próprio objeto sujeito a miriades de análises sob diversos prismas (científico, pragmático e metafísico). Passados os primeiros momentos lúdicos de expectação e empolgação, depara-se com outra realidade  fática que desconhecia ou ignorava. A figura do herói dá lugar a um ser humano real e verdadeiro, ocasionado não só pelo convívio com a criminalidade baixa que permeia a sociedade, mas com outros tipos de ações ilícitas não tipificadas  que também, deveriam se constituir crimes:  o sistema financeira pratica constante e velozmente  condutas abusivas direcionadas a explorar as pessoas na sua ingenuidade, passividade, boa fé..., e com vistas a exponenciar seus lucros em escala crescente;  o Estado e suas instituições, ao invés de darem exemplos de Justiça, muito pelo contrário, obrigam o cidadão a essa condição (submissão constritiva ao império da lei e ao Estado para servir propósitos de governos), especialmente, quando eles deveriam fazer primeiro a sua parte (a missão de servir e praticar o bem na sua plenitude), e isso abrange diversos setores da sociedade, desde pagamentos de dívidas, reposição de perdas  salariais, imposição e cobrança de multas, controle rigoroso de obras inacabadas realizadas por meio de licitações fraudulentas,  empresários privilegiados com legislação altamente flexível e contando com a leniência do Poder Público e de políticos inescrupulosos, sem contar a falta de controle quanto a qualidade e eficiência de produtos ofertados a sociedade, cujo consumo é estimulado indiscriminadamente pelos meios de comunicação em massa,  com o propósito de fomentar  a lucratividade sem fronteiras, também, governos que cometem erros ou são omissos, sem  que nada aconteça em termos de punibilidade,  enquanto que o cidadão pode sofrer os reveses da lei e da Justiça a partir de uma legislação repressora dirigida somente a parte mais fraca (a pessoa física).

Então, diante dessa realidade nua e crua, o policial passa a perceber que sua vida profissional é totalmente projetada via de regra a controlar e reprimir o "cidadão", distante daqueles princípios superiores que veio a nutrir em seus sonhos, especialmente, de se transformar em instrumento na defesa, melhoraria e humanização da sociedade. Pior, ainda, descobre que seus heróis viraram suco, porque eles também foram projetados para ser caçadores de humanos a partir de uma polícia de idéias, do controle de informações, da vigilância total, além do desenvolvimento da linguagem e cultura policialesca, tipo: o “teje preso!”, o “modus operandi”, “o bagulho”, “o meliante” (...)”. O que se vê é esse policial se “despoliciar” para se transformar em uma caricatura de seus próprios heróis introjetados pela cultura contemporânea. Com o passar do tempo passa a acreditar na verdade que permeia o seu imaginário atual contaminado pelo meio circundante, chegando a se confundir com o próprio bandido, muito embora procure manter várias identidades ao mesmo tempo: a do policial defensor da lei e da ordem; a do policial que se transformou em agente da própria desordem; que deturpa valores sociais, a começar pela idéia de “Justiça” que "solta os criminosos" e "convive pacificamente com um sistema prisional caotica"; também, o policial investido de autoridade que se olha no espelho e se acha acima da lei se comparado com as pessoas comuns, de outra parte, acaba se aceitando como transgressor das leis ao praticar abusos que muitas vezes passam ao largo dos órgãos correcionais; o policial que incorpora a imagem do protótipo cidadão honesto, cobrando das pessoas condutas que ele próprio muitas vezes ignora ou extrapola, desenvolvendo atitudes sinistras (a violência...), bizarras (submeter pessoas a humilhações...) achando tudo muito normal; com relação a seus superiores, em razão de princípios rígidos como hierarquia, disciplina, deveres, obrigações,  um órgão correcional coercitivo e disciplinador que desenvolve a imagem de um servidor obediente, submisso... que desperta e especializa seu instinto de sobrevivência institucional, ao mesmo tempo que, ao longe dos olhos, acaba desenvolvendo outros mecanismos de rebeldia, indisciplina, contestação velada..., realizando suas tarefas sem acreditar mais no que está fazendo, não demonstrando gosto pelo trabalho,  nutrindo desinteresse de participar da vida institucional. Outra situação bastante comum, é o fato de que ao mesmo tempo que para sobreviver se porta de maneira submissa e obediente, por trás, é crítico, injuriante, rebelde..., de imediato, com relação a seus superiores, e nisso são autofagicos, egoístas, parciais e apegados a seus cargos enquanto servirem governos para garantir direitos, mas não aos interesses do povo em geral. E, esse é um ciclo que se repete e impõe adaptação permanente aos novos tempos, sem que seus responsáveis possam fugir ao seu determinismo político e administrativo. Dentro do meio policial existem também os agentes que acabam se distanciando de colegas por não aceitarem esse tipo de condutas ou por perceberem que seus sonhos de heróis morreram ou são utópicos.

Diante dessa realidade dual, as experiências criminal e prisional acabam moldando seus espíritos de maneira a elevar ou  baixar a autoestima, a funcionar como motor de um sistema de dominação ou a sufocar os sentimentos bons...,  que abrem as portas para o agigantamento de outras variáveis decorrentes de frustrações, desânimos, falta de perspectivas, disputas internas, baixa estima, o moral coletivo visceralmente  atingido negativamente e, o que é ainda pior, desenvolve atitudes e pensamentos niilistas que acabam permeando todo universo policial coletivo e irracional (Justiça desacreditada, sistemas  e modelo policial ultrapassado, sistema prisional caótico, fomento à indústria do medo pelos alto-falantes midiáticos oficiais e privados...).

Uma das principais consequências dessa realidade são as enfermidades (individuais e coletivas)  crescentes que vemos proliferar no meio, desde psiquiátricas às doenças mais comuns, aos vários tipos de câncer, além de outras.

Outro sintoma, especialmente, para aqueles que estão em cargos de confiança, é o envelhecimento precoce causado especialmente pelo excesso de cortisol nas correntes sanguíneas. Por isso é que ultimamente (com o recrudescimento da criminalidade e da corrupção generalizada) vemos pessoas no meio policial - num curto espaço de cinco ou dez anos - envelhecerem assustadoramente.

Conclusão:

Portanto, a fórmula possível e imperativa é simples para se blindar e sobreviver neste mundo: dê o melhor de si (nos planos individual e coletivo) para a sua causa, sem ambicionar posições (desde poder, cargos, promoções, vantagens, favorecimentos...), defenda e apoie projetos que possam melhorar a vida das pessoas: a maior razão de ser e existir de qualquer instituição criada para defender a sociedade.

Como decorrência, no plano da alma, podemos inferir que o conjunto de luminosidade dos policiais pode variar entre as cores pretas, marrom e vermelha. Acreditamos que o grande desafio futuro será a tomada de consciência para que se possam viabilizar mudanças – a partir de novos paradigmas que envolvam projetos pessoais e institucionais que possibilitem alterar  as cores do universo policial, para que os profissionais de polícia possam migrar e transitar, com prevalência, entre o verde, azul e, finalmente, a infinita luz branca.

E, assim, quem souber "Viver Verá" a luz na máxima expressão do criador que nos deu a "Terra" como presente.

*George Orwell  (1984 – pense “Wisdom” e liberte-se do “Ministério da Verdade”, da “Novilingua”...);

*Deepak Chopra (“Existe um Mago dentro de Você” – quem é você? Vença a batalha entre o “ego” e o “espírito”...).