Contribuições do Programa Rede Cegonha para o parto humanizado
Por DINO CEZAR RODRIGUES PASSOS | 22/12/2016 | Saúde
Introdução
A alta taxa de morbimortalidade materna e infantil enfrentadas pelos países em desenvolvimento vem contribuindo para a implementação de políticas públicas de saúde para populações salvo, a saber, as mulheres em idade reprodutiva, grávidas dentre outras.
No Brasil, por exemplo, foi criada a portaria ministerial 1.459, de 24 de junho de 2011 que institui o Programa Rede Cegonha, a fim de fortalecer as ações e serviços com qualidade, humanizado e acolhedor para a gestante, parturiente e puérpera, bem como crianças de 0 a 2 anos.
Além disso, a Política Nacional de Humanização do Pré-Natal instituída pelo Ministério da Saúde no ano 2000² estimula o cuidado integral, a escuta qualificada e o estabelecimento de vínculos entre os atores envolvidos no processo de cuidar do binômio mãe-filho. Esta política apóia mudanças na forma de gerenciar o cuidado, na organização do processo de trabalho e no fortalecimento das redes de atenção à saúde.
Nesse sentido, o acesso oportuno das mulheres na hora do parto deve ser assegurado por tecnologias adequadas, práticas baseadas em evidências científicas, classificação de risco das gestantes e referenciação para os locais de sua escolha234
A PHPN surgiu com a finalidade de incentivar o atendimento integral, reorganização da assistência obstétrica, ampliação de acesso e respeito aos direitos garantidos por lei às mulheres, seus companheiros e familiares no ato da parturição.
O panorama atual sobre os indicadores de saúde da mulher ainda é sombrio, principalmente em relação à qualidade da atenção prestada na hora do parto. Segundo o MS há muito que se fazer para alcançar os objetivos do milênio que é reduzir em ¾ a mortalidade materna e neonatal, ou seja, atingir 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos em 2015³, pois na atual conjuntura é 68 para 100.000 nascidos vivos.
Nos últimos anos as invenções tecnológicas, a fabricação de novos medicamentos, vacinas e as especializações das profissões, principalmente às médicas, transformaram as práticas de intervenção no parto4. Assim, o parto cesariano cresceu exponencialmente em detrimento do parto normal.
Em contrapartida a esses fatos, a diminuição da mortalidade materna não seguiu a mesma tendência para os objetivos propostos que o governo estabeleceu no pacto do milênio. A qualidade da assistência prestada no ciclo gravídico-puerperal indica a efetividade das políticas propostas e demonstra a realidade do país.
A humanização da assistência obstétrica é fundamental para evitar intervenções cirúrgicas desnecessárias e traumáticas para o corpo da mãe e do concepto234. Assim, o ato de humanizar a assistência durante o parto é uma atitude digna, solidaria, democrática, ética e politicamente correta.
Em razão disso, o presente artigo poderá trazer contribuições para reflexão dos profissionais de saúde, alocação de investimentos em recursos físico, logística e educação permanente por parte dos gestores, bem como, acesso à informação às usuárias e familiares.
Diante de tais afirmações emergiram os seguintes objetivos. Geral: Analisar as evidencias disponíveis na literatura científica sobre a contribuição do Programa Rede Cegonha para o parto humanizado; Específicos: Identificar a importância do parto humanizado; Correlacionar as contribuições do parto humanizado;
Método
Trata-se de uma pesquisa exploratória de caráter bibliográfica desenvolvida com base em material já elaborado, constituído por artigos científicos. A busca bibliográfica foi realizada por meio dos seguintes descritores cesáreo, parto humanizado e parto normal, na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), respeitando os limites de publicação entre 2011 e 2015, no idioma português.
Foram selecionados apenas os artigos gratuitamente disponíveis na íntegra e excluídos aqueles publicados antes da implementação do programa rede cegonha em 2011.
Tabela 1 Processo de seleção dos artigos após leitura integral do estudo
Descritor Artigos encontrados Artigos selecionados
Trabalho de parto |
27 |
05 |
Parto |
01 |
01 |
Parto humanizado |
03 |
03 |
Mortalidade materna |
01 |
01 |
Quadro 1: Artigos selecionados
TITULO |
AUTORES |
RESULTADOS |
RECOMENDAÇÕES |
A humanização do nascimento: percepção dos profissionais de saúde que atuam na atenção ao parto. |
Thaisa Guimarães de Souza, Maria Aparecida Munhoz Gaiva, Priscila Shirley Siniak dos anjos Modes. |
Infere-se que é necessário ampliara humanização do nascimento em muitos hospitais brasileiros, bem como capacitação dos profissionais. |
Conclui-se que a implantação da humanização durante o parto está a quem da realidade. E preciso realizar educação permanente. |
A humanização da assistência ao parto na percepção de estudantes de medicina. |
Maria Tereza Maia Penido Rabello, Joao Felício Rodrigues Neto. |
O estudo aponta a necessidade do acolhimento, respeito aos direitos e o uso de pouca intervenção tecnológica e atendimento multiprofissional. |
Depreende-se que a humanização da assistência perpassa no cuidado centrado na usuária, no acolhimento, e na formação generalista do profissional. |
Expectativas de participações de gestantes e acompanhantes. para o parto humanizado |
Joeli Fernanda Basso, Marisa Monticelli. |
A interação e o dialogo fortalece a escolha do tipo de parto. |
Conclui-se que e preferível o parto normal em contraponto ao parto cesariano. |
Como os trabalhadores de um Centro Obstétrico justificam a utilização de práticas prejudiciais ao parto normal |
Vanessa Franco de Carvalho, Nalu Pereira da Costa Keber, Josefine Busanello, Bruna Goulart Gonçalves, Eloisa da Fonseca Rodrigues e Eliana Pinho Azambuja |
Evidencia-se que o modelo biomédico contribui para a fragmentação do cuidado |
Reafirma a necessidade de mudanças na relação paciente e equipes, com foco na autonomia da usuária. |
Parto e nascimento: saberes e práticas humanizadas. |
Paolla Amorim Malheiros, Valdecir Herdy Alves, Tainara Serôdio Amim Rangel, Octavio Muniz da Costa Vargens |
Afirma que é importante a autonomia e empoderamento das parturientes |
Reforça a necessidade de capacitação através da educação permanente. |
O discurso e a prática do parto humanizado de adolescentes. |
Renata cunha da SILVA, Marilu Correia Soares, Vanda Maria da Rosa Jardim, Nalu Pereira da Costa Kerber, Sonia Maria konzgem Meinck. |
Os resultados evidenciam que se faz necessário garantir os objetivos da PHPN; |
Evidencia-se que a PHNH deveria ser melhor implementada |
Implementação da presença de acompanhantes durante a internação para o parto: dados de a pesquisa nacional nascer no Brasil |
Carmen Simone Diniz, Rosa Maria Soares Madeira Domingues, Jacqueline Alves Torres, Marcos Augusto Bastos Dias, Camila A. Scneck, Neuza Zamariano Fania Teixeira, Suzana Rance, Jane Sandall |
Formação profissional de médicos e enfermeiros com visão mecanicista |
Recomenda o direito a um acompanhante, diminui o número de parto cesáreo e suas complicações. |
Práticas educativas desenvolvidas por enfermeiras: repercussões sobre vivências de mulheres na gestação e no parto |
Jane Marcia Progianiti, Rafael Ferreira da Costa. |
As práticas educativas reestruturam a assistência materna e neonatal |
A educação em saúde contribui para melhoria da assistência prestada às mulheres na hora do parto. |
Mortalidade infantil e acesso geográfico ao parto nos municípios brasileiros. |
Wanessa da Silva de Almeida, Celia Landmann Szwarcwald. |
Traduz-se em que as diferenças regionais na oferta das ações e serviços de saúde contribuem para o morbimortalidade materna e neonatal. |
É preciso ações fiscalizatórias para garantir o acesso igualitário e equânime as mulheres na parturição. |
Processo de decisão pelo tipo de parto no Brasil: da preferência inicial das mulheres à via de parto final. |
Rosa Maria S. M. Domingues, Marcos A B. Dias, Jackeline. Torres, Eleonora Dorsi, Ana Paula Pereira, Artur Orlando Correa Schilithz, Maria do Carmo leal. |
Ficou evidenciado que a busca do parto cesariano em detrimento do normal, se dava por falta de conhecimento da parturiente. |
Propõe mudanças no paradigma atual de assistir a mulher e seus familiares. |
Resultados
Da análise dos dados resultaram em três blocos de evidencias científicas que reforçam as contribuições do programa rede cegonha. Primeiro, a estruturação físicas das instituições de saúde, aquisição de recursos material e logística, bem como a regionalização dos serviços para garantir o acesso em tempo oportuno e evitar mortes desnecessárias, contribuem com para melhoria dos indicadores. Nesta perspectiva a RC, complementou a PHPN ao definir ações e serviços mínimos para melhorar as condições de vida das mulheres grávidas e conseqüentemente na evolução do parto.
Em outra vertente, percebe-se que a política de educação permanente instituída pelo governo federal em ampliar os cursos presenciais ou a distância, tem garantido a qualificação e valorização de enfermeiros e médicos de todo país, principalmente para o acolhimento e humanização das práticas em saúde com a finalidade de mudar a lógica de modelo excludente, pouco resolutivo para o cuidado centrado nas reais necessidades da mulher, seu parceiro e familiares.
Em última análise, depreende-se que diversas prática ainda que incipientes tem mudado a realidade do cenário atual a saber- direito a um acompanhante, livre posição para o parto, escolha da maternidade- promove qualidade de vida e previne doenças.
O presente estudo aponta que o parto humanizado, com mínimo de intervenção cirúrgica, com equipe qualificada, colocando a mulher como protagonista nas suas escolhas tem evitado complicações e óbitos.
Discussões
Nos últimos anos o governo brasileiro tem investido em ações e serviços de saúde que contribuem na prevenção da redução progressiva da morbimortalidade materna e neonatal precoce por causas evitáveis. Essas ações se manifestam através das políticas públicas básicas (saneamento do meio ambiente, bolsa família, rede cegonha, imunização).
As políticas públicas de saúde materna e infantil demonstram avanços significativos na cobertura de pré natal e no número de consultas realizadas, mas com diferenças entre as regiões brasileiras5, 6.
Nesse sentido, merece destaque a rede cegonha pela implementação da qualificação dos profissionais de saúde, fortalecimento das redes de atenção integral da saúde da mulher em idade fértil, alterações dos perfis clínico-epidemiológicos dos indicadores2, 3, 5.
Enquanto política de saúde a rede cegonha torna-se uma estratégia para melhorias das condições de vidas das gestantes, parturientes e puérperas para reduzir os índices de mortalidade, articulação dos pontos de atenção numa rede de cuidados integrais em todos os níveis de atenção à saúde2, 3e4.
Assim, visa implementar uma rede de atenção integral para assegurar às mulheres o direito ao planejamento familiar, parto e puerpério humanizados com o mínimo de intervenção tecnológica possível, e às crianças crescer com dignidade, respeito e saúde.
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