A tensão em Panimalos

 

"O ser se aproximou com gestos metódicos, calculados. E, como quem conhece muito bem os ritos, começou a descrever cada um dos crimes cometidos pela prisioneira. A cada palavra, a cela, enegrecida pelo tempo, parecia ficar menor. Era como se algo vivo naquelas paredes segurasse a respiração. "

O trecho acima do conto Panimalos publicado em https://amarelocarmesim.blogspot.com/2020/05/panimalos.html insere na narrativa uma noção de que o próprio ambiente sente o peso da punição permanente que ocorre entre as paredes da masmorra. Diversas culturas têm, ao longo da história da humanidade, buscado na punição do criminoso uma forma de aplacar o desejo de buscar equilíbrio após o rompimento de um contrato social ou norma. Aqui as próprias paredes são testemunhas, eternas, de um processo de expiação permanente.

Grasya, a personagem que sofre a dor constante, não revela sentimentos sobre seus crimes ou algum tipo de remorso. Temos apenas a noção de que atos foram cometidos e como é sua cadeia de punições. Não saber qual sua opinião sobre sua culpa ou, talvez, se há arrependimento, cria  no leitor uma relação de curiosidade e, talvez, estranhamento. Devemos notar que o conto não é contado pelo ponto de vista da mulher nem da criatura que a pune. O conto é contado por um viés diferente, o viés do próprio ambiente no qual as personagens estão inseridas no ciclo de punição e dor.

Panimalos é um conto curto, mas que busca alguma interação com o desconforto. Uma tentativa de, através do inexplicável, mostrar ao leitor que, após processos eternos de punição terem iniciado, tanto carrasco quanto vítima se tornam interdependentes.

Artigo postado por

Filipe Tassoni 

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