Continuum

As noites escuras eram tantas, que ele as passava em claro, andando pela casa em passos rápidos, tentando apressar as horas para que o dia amanhecesse.
Pensamentos atrapalhavam seu sono e ele não mais sabia o que fazer. Era sempre a mesma coisa. Noite após noite. Ele não mais sabia a quem contar o que lhe acontecia, a não ser para si mesmo, que muitas vezes recusava-se a ouvir. Estava desacreditado naquilo que o perseguia anos a fio. A noite escura tudo fazia para que ele relembrasse de maneira um tanto repetitiva e incoerente, aquilo que queria esquecer, por apenas algumas poucas horas e não conseguia. E não entendia o porquê. E ninguém, nem ele mesmo conseguia ajudá-lo. Era o disco riscado que o incomodava. Eram as preocupações diárias acumuladas no decorrer de sua vida. A cada dia que passava, uma a mais. Nunca uma a menos.Nunca. Acumulavam-se... Encontravam-se alocadas em uma parte de sua vida que queria esquecer, se possível fosse. Fingir que não existia. Mas o que fazer o que com elas? Restava apenas pensá-las à noite... Era essa a sua mesmice inaceitável, indesejável, mas muito sua. Só sua. Era o contraponto com o dia, que tão logo amanhecia, fazia com que ele, tal qual Fênix, ressurgisse das sombras da noite que queria excluir, e renascia. Renascia, matando a noite a cada dia. Era a esperança de que tudo ainda teria um fim e que esse desconforto que a muito o incomodava, não mais seria o grande vilão que o acompanhava por anos a fio, sem que ele entendesse a causa, mas que convivesse com os efeitos.
Heloisa