CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E LEITURA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 

LUDMILLA PANIAGO NOGUEIRA

NEIDE FIGUEIREDO DE SOUZA 

No artigo “O professor um contador de histórias na formação de leitores”, Martins e Galhart (2015, p. 02) tratam sobre “a importante contribuição dos contadores de histórias na formação de sujeitos leitores e apreciadores da literatura.” O hábito da contação de histórias é antigo e mais lembrado como algo da infância, quando os pais se sentavam com seus filhos e ali passavam um tempo agradável, contando histórias.

As histórias sempre prenderam a atenção não só das crianças, mas também dos adultos, com elementos como a voz, os gestos, o suspense, tudo o que o desenho permite a imaginação enxergar, sentir, imaginar. As cantigas de roda, a contação de histórias, os faz de conta nos remetem a pensar na naturalidade com a qual as expressões utilizadas impulsionavam nossa inteligência, nossa imaginação, aguçando os valores sociais e morais, como o respeito e a solidariedade diante das situações imbrincadas nas mais diferentes histórias e contos.

Se antes as histórias contadas passavam de pais para os filhos, como uma cultura arraigada no seio familiar, com o passar do tempo, o contar histórias ganhou apoio de uma gama de escritores que colocaram toda a sua imaginação em livros, com romances, pensamentos, histórias de outros povos, contos dos mais variados contextos e linguagens, conforme explicam Martins e Galhart (2015).

Com a belíssima evolução da escrita, a voz das histórias e contos e das mais belas fábulas então tornou-se impressa. E, com isso, e devido a outros fatores, segundo afirmam Martins e Galhart (2015, p. 02), aos poucos a família silenciou, e a “leitura passou a ser realizada individualmente. Conhecer a história de outros povos, pensamentos diferentes dos nossos passou a ser privilégio apenas daqueles que já tinham adquirido a dádiva de decifrar os códigos.”.

Diante de uma nova realidade, na qual poucos sabiam ler, a contação de história diminuiu, dando lugar ao hábito da leitura individual, fazendo com que a proximidade, o diálogo, o contato, a alegria e outros sentimentos se perdessem. As narrativas aos poucos foram cessando... “Perdeu-se o olhar olho no olho, a voz macia de quem narrava o ouvido atento daqueles que ouviam.”, afirmam Martins e Galhart (2015, p. 02).

Segundo Souza e Bernardino (2011), o fato de a contação de história não ser uma prática comum no ensino da leitura nas séries iniciais do Ensino Fundamental deve-se à dificuldade de os professores avaliarem a aprendizagem de seus alunos. Estas Autoras afirmam que “Não se pode medir notas ou conceitos quando contamos ou ouvimos um conto e a escola tem dificuldades em trabalhar com aquilo que não pode ser avaliado.” (p. 236). No entanto, os estudos elencados em nossa investigação discordam dessa afirmação, evidenciando que é possível avaliar a aprendizagem ainda que não se disponham de métodos de avaliação formais, como provas e testes. Até porque a leitura e a compreensão do que é lido pode ser vista, observada e ouvida.

Ainda sobre avaliação, Souza e Bernardino (2011, p. 236) ressalvam que essa dificuldade acontece “mesmo com a literatura infantil, que perde a sua beleza quando o texto se transforma em uma ferramenta avaliativa, fazendo com que o prazer da leitura se perca com a avaliação.”. Essa postura de tirar o prazer da leitura pode sim inibir ou desmotivar os alunos no processo de aquisição da leitura. Porém, isso só acontece se o professor utilizar a contação de história não como ferramenta de aprendizagem, mas apenas como um passatempo sem importância didática.

No entanto, nem tudo se perdeu. Fontoura (2018) relata, em seu estudo, que, com as diversas transformações na sociedade de cultura letrada, em sua prática pedagógica, os professores vêm buscando alternativas/ferramentas que os auxiliem no ensino e aprendizagem da leitura e na formação de leitores. É nesse contexto que (re)surge a contação de histórias, como, segundo Sousa e Bernardino (2011, apud Fontoura, 2018, p. 32), “um valioso auxiliar na prática pedagógica”, principalmente por que “as narrativas estimulam o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, facilitando o aprendizado, trabalhando a brincadeira, o faz-de-conta além de valores e conceitos que formam a personalidade de uma criança.”.

É importante na atividade de contação de histórias o professor se ater, conforme Martins e Galhart (2015): 

O contador de histórias atrai pela sedução das palavras, pela magia e sonoridade da sua voz e do seu brilho encantador transmitido através do olhar. O contador de histórias é o personagem indispensável na vida do homem. O primeiro contato com literatura é realizado através de um contador de histórias. É ele que com sua voz vai apresentando a graciosidade de um conto o desenrolar de uma história. O contador de história com seu estilo próprio vai seduzindo o ouvinte para a leitura. (MARTINS, GALHART, 2015, p. 09). 

Implica afirmar que ao contar uma história, o professor deve fazê-lo, considerando-se como agente crucial para suscitar nos alunos o interesse, o gosto de ouvir e contar histórias. O contador é quem “dá vida” à história e à imaginação.


REFERÊNCIAS 

MARTINS, Iloine Maria Hartmann; GALHART, Anna Carolina. O professor um contador de histórias na formação de leitores. EDUCERE - XII Congresso Nacional de Educação, PUCPR, 26 a 29 out. 2015.

SOUZA, Linete Oliveira de; BERNARDINO, Andreza Dalla. A contação de histórias como estratégia pedagógica na educação infantil e ensino fundamental. Educere Et Educare – Revista de Educação. Unoeste – Campus de Cascavel –PR. Vol. 6, nº 12 Jul./dez 2011. p. 235-249.