Construir um conceito para a categoria região é uma tarefa cada vez mais difícil diante da perspectiva de acompanhar o processo de evolução dos sistemas e das redes que regem o desenvolvimento humano. Para Milton Santos (2003), a região apareceu na geografia moderna, em meados do século XIX, calcada pelas disciplinas da natureza. Foi a partir da geologia que a geografia científica incorporou, em seu vocabulário, o termo região. Sendo esse espaço geográfico tão vasto e heterogêneo, como compreender essas diferenciações? Já que a simples distinção de áreas não molda uma região, o espacial foge do delimitado, do conceito de região como simples idéia de demarcação zonal. A geografia é a ciência da Terra, e de suas singularidades, e essa diferenciação superficial do planeta em seu espaço geográfico exigiu desse conceito uma precisa adequação da análise regional. Como sendo a geografia outrora a ciência da caracterização dos ambientes naturais, foi o determinismo ambiental o desenvoltor do processo de análise da região como espaço natural, voltando a dizer das diferenciações espaciais as escolas geográficas tiveram de contextualizar o conceito de região com suas linhas e correntes de pensamento. Precisamos entender que mesmo um conceito que se apresenta como eminentemente teorizado não se desenvolve fora desse espaço geográfico, mas está sim inserido dentro dele, portanto cada uma das correntes que analisa a idéia de região incorpora a essa análise de maneira direta ou não, as várias contextualizações com os processos históricos, culturais, sociais e identitários de cada lugar. Dentro desses objetivos de contextualização temporal a própria geografia cumpriu diferentes papéis em diferentes regiões, a geografia que serviu para fazer a guerra, serviu-se da região para legitimar suas perspectivas de dominação, de ação e controle sobre o espaço, justificando através da superioridade regional uma ideologia de dominação racial, espacial e econômica. A vida humana e a formação das regiões sempre estiveram relacionadas às condições ambientais, na relação do homem com o clima e com os recursos naturais, fato é que a distribuição dessas riquezas não é dada de maneira homogênea pelo espaço, o que não justifica de fato a superioridade regional na esfera político-ideológica, mas sim na capacidade de ação e controle sobre o território.
Vem então o possibilismo geográfico que nos traz a idéia de um espaço que não depende só das condições naturais onde o homem é um agente constantemente atuante nesse processo, a região considerada é concebida como sendo, por excelência, a região geográfica, pois esta abrange a paisagem e sua extensão territorial, onde se entrelaçam de modo harmonioso componentes humanos e natureza. Refere-se a uma relação específica entre homem e natureza num determinado lugar, onde cultura, política, economia e sociedade se formam a partir de suas necessidades internas, conforme uma dinâmica que é própria da região, podendo ser definida como a análise do modo de vida de cada um que por sua vez molda as condições regionais que singularizam e identificam cada localidade regional. A ideia de que no decorrer da história dos modos de produção se constroem objetos ? que guardam consigo todo significado referente ao ato de sua elaboração ? mostra que esses são marcados pela produção cultural de uma determinada extensão territorial e de uma determinada época.

A cada nova função do espaço regional, no contexto internacional, novas forças externas de modernização entram em contato com uma ou mais regiões e as modificam de acordo com suas necessidades e características regionais. Essa convergência ou, muitas vezes, divergência entre as forças externas e internas na região cria certa instabilidade no espaço, causando desequilíbrios e desigualdades sociais. Portanto a região como arena política apresenta bons e maus aspectos, já que serve tanto de aparato para o desenvolvimento dessa região quanto para a legitimação do poder pelas altas classes sociais. Entretanto, as regiões comportam formas e conteúdos distintos no processo contraditório do capitalismo. O modo de produção não garante a homogeneidade das regiões. Ao contrário, ele instiga as diferenças como forma de produzir, em cada lugar, algum tipo de vantagem comparativa para a acumulação de capital. A internacionalização do capital mostrou a debilidade em se ter um conceito de região estático, e o quanto é importante estar sempre o revendo, modificando, atualizando a região com a sociedade, com os modos de produção, com os diversos sistemas, e com o ambiente regional. Assim, a região se definiria como o resultado das possibilidades nela presentes, geradas pelo capital fixo e pelas relações políticas, sociais e culturais existentes dentro dela. A região é o resultado do fluxo de ações internas e externas.


Referência:


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