CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE
Publicado em 26 de julho de 2022 por ANA DE SOUSA CELESTINO SILVA SANTOS
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE
ANA DE SOUSA CELESTINO SILVA SANTOS
IVANILDA ALVES DE SOUZA GOMES
Na concepção de Imbernón (2010, p. 79), a identidade docente deve ser compreendida como algo capaz de contribuir para com a transformação da “realidade social e educacional, e seus valores, e da capacidade de produção de conhecimento educativo e de troca de experiências”. E a argumentação de Imbernón (2010, p. 79) é que,
O reconhecimento da identidade permite interpretar o trabalho docente e melhor interagir com os outros e com a situação que se vive diariamente nas instituições escolares. As experiências de vida dos professores relacionam-se às tarefas profissionais, já que o ensino requer uma implicação pessoal. A formação baseada na reflexão será um elemento importante para se analisar o que são ou acreditam ser os professores e o que fazem e como fazem.
Conforme o supracitado estudioso, a formação da identidade individual do/a professor/a, enquanto sujeito pertencente a um grupo - classe profissional - , não pode ser ignorada. Pelo contrário, deve ser considerada, principalmente, por trazer em seu bojo experiências capazes de contribuir com a formação da identidade do grupo ao qual pertence, o que vai além de suas ações e relações pedagógicas; considera-se sob essa perspectiva a objetividade e a subjetividade implicadas na construção das identificações profissionais.
Imbernón (2010) chama atenção ao afirmar a necessidade de se conhecer a identidade profissional do/a professor/a quando este/a participa de um processo de formação. Devemos reconhecer, nesse processo, se existem diferentes concepções ao termo identidade docente individual ou coletiva, de modo a saber se, existindo diferenças, as mesmas criam tensões ou alianças. Para Iza et. all. (2014, p. 276),
A presença de uma identidade própria para a docência aponta a responsabilidade do professor para a sua função social, emergindo daí a autonomia e o comprometimento com aquilo que faz. Porém, é importante salientar que o professor adquire estes quesitos por meio da formação escolar, formação inicial, experiências diversas, processos de formação continuada, influências sociais, entre outros. De fato, este processo é permanente e está fortemente atrelado à cultura e às demandas que se apresentam em qualquer sociedade.
É no espaço da formação que o/a professor/a aprende a sê-lo, a agir, a tomar decisões e a reconhecer-se como um formador, explicam Iza et. all. (2014). Percebemos que, de outro horizonte teórico, aproximado das teorias crítico-dialéticas, nesta dimensão situa-se a práxis enquanto, igualmente, capacidade de reflexão e ação e constituição de novos saberes, novas compreensões que iluminam para novas ações. Também importa saber como reconstruir as identidades docentes no processo de formação. Colocá-las em debate possibilita interrogá-las e reconstruí-las. Os autores afirmam que, considerando esses pontos, pode-se reduzir a incerteza pessoal e coletiva, melhorando a qualidade da realidade educacional, posto que a identidade do/a professor/a não é igual para todos do mesmo grupo. “Na profissão docente, tal identidade depende da relação entre o contexto em que se realiza o trabalho e o trabalho em si mesmo”, afirma Imbernón (2010, p. 80).
Na explicação de Coelho Filho (2018, p. 09), “A identidade profissional do professor tem sido referida [como a maneira com que] a profissão docente é representada, constituída e mantida socialmente”. Compreendemos que a identidade profissional é, então, construída individual e coletivamente. Esperamos que os cursos de formação inicial e continuada motivem o pensar sobre a construção da identidade profissional dos/as professores/as. Complementando o entendimento, Imbernón (2010) refere que antes de adquirir/formar a identidade docente, o/a professor/a constituio diversas identidades, pela união de representações, de sentimentos, de experiências, de influências, de valores que contribuem na formação, ao longo de toda vida profissional. Dessa forma, o/a professor/a é protagonista de sua formação e de seu desenvolvimento profissional, embora não se possa negar influências externas e mudanças perspectivas na formação e na atuação profissional em função de fatores sócio-econômicos e físicos, além dos sentimentais/emocionais.
Pimenta (2009) afirma que o desenvolvimento profissional docente é um processo contínuo de reconstrução de uma identidade profissional, processo compreendido como desenvolvimento profissional. Nesse processo, faz-se necessário respeitar suas múltiplas identificações e diferenças, formas de se relacionar, de saber conviver, de saber aprender a aprender, de se permitir formar/aperfeiçoar a identidade docente, sempre em formação.
O/a professor/a, a partir de sua convivência com seus pares, passa a conhecê-los e a se conhecer. Percebe os limites, os valores, as suas crenças e aprende quão complexa é a construção da identidade do profissional docente – a sua e a do outro -. Nesse processo de convivência, de escolha e de tomada de decisões, o/a professor/a se torna consciente de sua identidade, reconhecendo seus limites e suas possibilidades e descobre-se como profissional comprometido socialmente com seus/suas alunos/as.
REFERÊNCIAS
COELHO FILHO, Mateus de Souza. Formação de professores e construção da identidade profissional docente. Anais do Colóquio Luso-Brasileiro de Educação – COLBEDUCA, Revistas UDESC, 2018. Vol.3. Disponível em: . Acesso em: 16 maio 2020.
IMBERNÓN, Francisco. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010.
IZA, Dijnane Fernanda Vedovatto, Et. all. Identidade docente: As várias faces da constituição do ser professor. Revista Eletrônica de Educação, v. 8, n. 2, p. 273-292, 2014. ISSN 1982-7199 | DOI: http://dx.doi.org/10.14244/198271999978. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/viewFile/978/339. Acesso em: 02 jun. 2020.
PIMENTA, Selma Garrido. Saberes pedagógicos e atividade docente. Textos de Edson Nascimento Campos – (et. al.); Selma Garrido Pimenta (Org.). 1. Ed. São Paulo: Cortez, 2009.