O que carregamos e queremos honrar em nossos familiares e como isso se reverbera em nossas relações dentro e fora de casa 

Se autoconhecer é, antes de qualquer outra coisa, reconhecer nossa história. Os caminhos que percorremos e o porquê de termos feito aquelas escolhas. O terapeuta alemão Bert Hellinger, criador do método psicoterapêutico de abordagem sistêmico-fenomenológica conhecido como Constelação Familiar, trouxe para essa indagação o investigar de nossa relação com a família e como ela se reverbera em nossa psique. Em outras palavras, o método de constelar a família é um caminho para resgatar, pôr à luz e buscar harmonia. Para Hellinger, o meio em que vivemos é um sistema e, partindo desse princípio, ele também desenvolveu outros métodos de constelação sistêmica, como o organizacional (relações no ambiente de trabalho). 

Mas o que é constelar? A palavra em si pode ser compreendida como iluminar, trazer à luz. Como as constelações que trazem estrelas sem nome no céu, aquelas a serem descobertas,. A intenção é trazer para a consciência emaranhados que não compreendemos, mas que atuam sobre nós e a rede de conexões ao nosso redor. Nosso sistema. Para isso, utiliza-se a física quântica, partindo da abordagem de que nossa mente carrega a energia interconectada daquele convívio. No caso da constelação familiar, a de nossa família. Não somente o que vivemos e ouvimos deles, mas até as histórias que não puderam ser contadas são passadas para nós sutilmente através das relações que temos. Especialmente através do contato com nosso pai e nossa mãe. Eles são o elo entre duas histórias, duas famílias com seu sistema próprio que, com essa união, formam um novo campo sobre nós.  

E para constelar esta atuação, Hellinger apresenta metodologia curiosa e inovadora: como em um teatro-terapia, papéis são dispostos entre grupos de pessoas que representarão seus familiares, situações, doenças ou medos. A maneira que o “personagem” se porta – podendo a pessoa ou a família constelada representarem a si mesmos – revela aquilo que precisa ser visto, descoberto, trabalhado. Estranhos que nunca tiveram relação com aquela família, quando postos como parte do sistema, representam e apresentam situações de extrema precisão. Os terapeutas que aplicam explicam que o fenômeno está ligado à frequências quânticas que são emitidas pelo nosso sistema através de nós, “dedurando” tudo aquilo que não conseguimos ver “de dentro” do sistema. 

Para tal, o terapeuta pergunta sobre qual aspecto da família o indivíduo quer constelar (prosperidade, saúde, relacionamentos específicos...) e pede informações básicas sobre a história daquela família. Após o sistema estar posto, com pessoas representando situações, o terapeuta avalia se três leis essenciais para o equilíbrio sistêmico estão sendo respeitadas. 

Hellinger chama-as de “Leis da Vida”, que desenharão tramas dentro do inconsciente de nossas famílias para tentarem se autorregular, influenciando-nos positiva ou negativamente, gerando desequilíbrios..São elas: 

  1. A lei do pertencimento: essa lei decreta que todos os familiares são pertencentes. É a herança material, emocional e espiritual de nossos pais e antepassados. Para pertencer, um membro do sistema irá se sujeitar ao que foi estabelecido da maneira que lhe for oferecido ou da maneira que lhe “sobrar” espaço. Por exemplo, um filho, mesmo sem aptidão para a profissão, irá seguir a carreira que o avô e o pai seguiram. Ou mais profundo, um filho irá manter a mesma relação de incerteza com suas escolhas profissionais que carregou de seu pai, pois assim se sentirá pertencente. Carregamos os aspectos positivos e negativos das relações, buscando sempre fazer parte ou incluir aqueles que são parte do sistema. Isso significa que o sistema irá, caso haja uma exclusão, buscar uma relação de pertencimento para o membro desajustado ou o equilíbrio se quebra. 

  1. A lei da ordem: O tempo cronológico comanda essa lei, que decreta a hierarquia das decisões e resoluções. Ou seja, somente aqueles que nasceram primeiro podem harmonizar o que precede os que vieram antes. Um desentendimento entre familiares só pode ser harmonizado por eles e pelos que estão acima deles. A responsabilidade de tomar posicionamento sobre determinado assunto só cabe aos que diretamente são responsáveis e aos seus superiores. Uma briga entre irmãos só pode ser harmonizada por eles mesmos e pelos seus pais, mas jamais pelos filhos desses irmãos. Novamente, infringir essa lei causa desarmonia ao sistema, gerando comportamentos de inversão de papéis, por exemplo. 

  1. A lei do “dar e receber”: todas as trocas do sistema devem ser balanceadas e justas. Caso não sejam, o acúmulo de culpa ou mágoa pode gerar uma série de desequilíbrios no sistema. Por exemplo, um casal em que a mulher se doou mais para a vida do homem do que o contrário. O marido então, inconscientemente pensando que não poderá nunca retribuir o que foi feito, a afasta traindo-a. Nesta lei, apenas a relação de pais para com filhos pode ser descartado, pois estes tem o dever de criar e doar valores emocionais incondicionais para os filhos. 

É a partir do diagnóstico de quais dessas leis estão sendo infringidas que a pessoa que constela enxerga aquilo que precisa levar para a consciência. Durante as sessões, é possível pedir desculpas, desculpar e se posicionar em situações, mesmo sem a presença dos membros da família, o que gera a circulação de uma nova energia no sistema. Por isso que muitos vem procurando as constelações sistêmicas de Hellinger e, em especial, a Constelação Familiar. É o sistema em que estamos inseridos desde que nascemos e o que mais sofremos influências. 

Mais uma ferramenta de autoconhecimento que pode ser interpretada de acordo com aquilo que você acredita, servindo desde ateístas até fervorosos religiosos, a Constelação Familiar é a terapia que mais cresce no país e recentemente está sendo usada para solucionar inclusive casos judiciais, provando o poder que a compreensão do nosso sistema tem sobre a fluidez de nossas vidas.