Considerações sobre organização dos espaços de leitura na Educação Infantil

Por Carolina Pessoa Varanda Leite | 16/07/2025 | Educação

Considerações sobre organização dos espaços de leitura na Educação Infantil

 

A Educação Infantil constitui o alicerce das aprendizagens posteriores, sendo a primeira oportunidade sistemática que a criança tem de socializar em instituições educativas ela  representa a primeira etapa da educação básica e é essencial para o desenvolvimento integral da criança. Nesse contexto, o estímulo à leitura ganha relevância como instrumento que potencializa a linguagem, a imaginação e o desenvolvimento cognitivo e emocional. No entanto, para que a leitura seja significativa, é necessário considerar a organização dos espaços destinados a essa prática nos ambientes escolares.

A proposta deste artigo é refletir sobre a importância da organização dos espaços de leitura na Educação Infantil, analisando aspectos físicos, pedagógicos e sociais que contribuem para a formação de leitores desde os primeiros anos de vida. Serão discutidos a relevância da leitura, o ambiente físico como estímulo à aprendizagem, as características de um espaço adequado, os materiais e mobiliários necessários, o papel do adulto como mediador da leitura, além de considerações finais e referências que embasam a discussão.

O objetivo é oferecer subsídios para que educadores, gestores escolares e demais profissionais da área possam pensar e reorganizar os espaços de leitura de forma intencional, acolhedora e funcional, promovendo experiências leitoras prazerosas e significativas para as crianças.

 

A importância da leitura na Educação Infantil

A leitura desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, especialmente na Educação Infantil, fase em que as bases para a aprendizagem são construídas. Estimular o contato com os livros desde os primeiros anos de vida é uma forma eficaz de promover o desenvolvimento da linguagem, a imaginação, a criatividade e o gosto pela aprendizagem. A leitura na Educação Infantil vai além da decodificação de palavras. Trata-se de uma prática cultural que introduz a criança no universo simbólico da linguagem escrita, ampliando sua visão de mundo, promovendo o desenvolvimento da oralidade, da escuta atenta e da capacidade de interpretação.

Segundo autores como Teresa Colomer e Emilia Ferreiro, o contato com os livros desde a infância é fundamental para que a criança compreenda a função social da leitura e construa uma relação afetiva com os textos. A leitura em voz alta, realizada pelo adulto, contribui significativamente para esse processo, despertando o interesse, a curiosidade e o prazer pelo ato de ler.

Durante a primeira infância, o cérebro está em rápida formação, e as experiências vividas nesse período influenciam diretamente o modo como a criança irá interagir com o mundo. A leitura, além de ser uma atividade prazerosa, é uma ferramenta poderosa que contribui para o desenvolvimento da atenção, da memória, da concentração e da capacidade de interpretação. Quando o hábito da leitura é introduzido de forma lúdica e afetiva, torna-se uma ponte entre a criança e o conhecimento.

Outro aspecto relevante é a formação do vínculo afetivo por meio da leitura compartilhada. Quando pais, professores ou cuidadores leem para as crianças, criam-se momentos de proximidade e confiança que fortalecem os laços interpessoais. Essa interação não apenas favorece o desenvolvimento da linguagem oral, mas também desperta nas crianças o interesse pelo mundo letrado, contribuindo para o processo de alfabetização que será aprofundado nos anos seguintes.

A leitura também estimula valores importantes, como a empatia, o respeito às diferenças e a capacidade de se colocar no lugar do outro. Ao ouvir histórias com personagens diversos, que enfrentam desafios e vivem emoções variadas, as crianças aprendem, de forma simbólica, a lidar com suas próprias experiências e sentimentos. Isso amplia seu repertório emocional e contribui para a formação de cidadãos mais conscientes e sensíveis.

Além disso, o contato com diferentes tipos de textos – contos, poesias, adivinhas, parlendas e histórias rimadas – proporciona uma rica vivência com a linguagem em suas múltiplas formas. Essa variedade textual amplia o vocabulário e favorece o desenvolvimento da oralidade, da escuta atenta e da expressão verbal.

É importante destacar o papel do educador como mediador da leitura. O professor deve selecionar obras adequadas à faixa etária, incentivar a participação ativa das crianças e promover rodas de conversa sobre os livros lidos. A contação de histórias, o uso de fantoches, dramatizações e músicas são recursos que tornam a leitura ainda mais envolvente e significativa no contexto da Educação Infantil.

Para que o hábito da leitura se consolide, é essencial que a escola ofereça um ambiente alfabetizador, com cantinhos de leitura bem organizados, acervo variado e momentos diários dedicados à leitura. Paralelamente, a parceria com as famílias deve ser incentivada, pois o estímulo à leitura também precisa acontecer no ambiente doméstico.

Em síntese, a leitura na Educação Infantil é muito mais do que uma preparação para a alfabetização. Ela é um instrumento de construção de sentidos, de ampliação de horizontes e de desenvolvimento integral da criança. Investir nesse processo desde os primeiros anos é garantir uma base sólida para a formação de leitores críticos, criativos e apaixonados pelo conhecimento.

Portanto, a leitura deve ser uma prática cotidiana nas instituições de Educação Infantil, inserida de forma lúdica e significativa no cotidiano das crianças. Para isso, é essencial que existam espaços apropriados que convidem e incentivem a leitura, contribuindo para a formação de leitores desde os primeiros anos.

Ambiente Físico e Aprendizagem para Leitura na Educação Infantil

O ambiente físico na Educação Infantil desempenha um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagem, especialmente quando se trata da promoção da leitura. Um espaço organizado, acolhedor e estimulante favorece o desenvolvimento da linguagem, da imaginação e da construção do gosto pela leitura desde os primeiros anos de vida. A maneira como o ambiente é estruturado influencia diretamente o interesse das crianças pelos livros e pela cultura escrita.

De acordo com a abordagem de Reggio Emilia:

 

“o ambiente é considerado o “terceiro educador”, ao lado do adulto e da própria criança. Assim, a organização dos espaços físicos deve favorecer a autonomia, a interação, o bem-estar e o prazer em aprender.

 

Um espaço bem organizado favorece o interesse espontâneo das crianças pela leitura, proporciona momentos de tranquilidade e introspecção e estimula a imaginação. Ao mesmo tempo, pode servir como local de socialização, quando as crianças compartilham histórias, interpretam personagens e recontam narrativas.

Na Educação Infantil, o ambiente precisa ser pensado para proporcionar experiências ricas e significativas. Os cantinhos de leitura, por exemplo, são essenciais nesse processo. Eles devem ser organizados com estantes acessíveis à altura das crianças, almofadas ou tapetes confortáveis, iluminação adequada e um acervo variado de livros infantis. Esses detalhes contribuem para que o espaço seja visto pelas crianças como um lugar prazeroso, onde elas podem explorar os livros livremente, manuseá-los e se envolver com as histórias.

O espaço físico deve também favorecer a autonomia e a interação. Quando as crianças têm liberdade para escolher os livros que querem ler ou ouvir, sentem-se valorizadas e se tornam protagonistas de seu próprio aprendizado. Além disso, o ambiente deve estimular o convívio entre os pequenos, permitindo a leitura compartilhada, a contação de histórias em grupo e o diálogo sobre o que foi lido. Essa socialização contribui não apenas para a formação de leitores, mas também para o desenvolvimento de competências socioemocionais.

Outro aspecto importante é a variedade de materiais disponíveis no ambiente. Além dos livros, podem ser oferecidos jogos de linguagem, fantoches, letras móveis, painéis ilustrados, revistas infantis e textos do cotidiano como rótulos, receitas ou cartazes. Esses elementos enriquecem o letramento, promovendo a familiaridade com diferentes portadores de texto e favorecendo a ampliação do vocabulário e da compreensão oral e escrita.

A presença de um ambiente alfabetizador na Educação Infantil está diretamente ligada ao papel do educador. É ele quem organiza os espaços, planeja os momentos de leitura, observa o interesse das crianças e promove a mediação adequada. O professor também deve incentivar a interação das crianças com o espaço, permitindo que elas criem suas próprias narrativas a partir das imagens dos livros ou que dramatizem histórias com o apoio de materiais disponíveis.

Além do espaço interno da sala, outras áreas da escola, como pátios, jardins e bibliotecas, podem ser utilizadas para práticas de leitura. O contato com a natureza e ambientes diferentes pode tornar a leitura ainda mais encantadora e significativa. Um piquenique literário no jardim, por exemplo, pode transformar o momento da leitura em uma experiência inesquecível.

Para que tudo isso aconteça de forma eficaz, é fundamental o compromisso da equipe pedagógica e o apoio da gestão escolar. Investir na criação e manutenção de espaços leitores dentro das instituições de Educação Infantil é reconhecer a leitura como um direito da criança e um eixo central no processo de desenvolvimento integral.

É importante que o espaço esteja integrado ao cotidiano da criança, ou seja, não seja reservado apenas para momentos específicos ou como um canto isolado, mas sim como parte viva e ativa do ambiente educacional. Quanto mais natural for a inserção do espaço de leitura na rotina, mais oportunidades as crianças terão de se apropriar da linguagem escrita de maneira significativa.

Em resumo, o ambiente físico não é apenas um cenário onde a aprendizagem acontece, mas sim um agente ativo que influencia a forma como as crianças se relacionam com a leitura. Ambientes bem planejados, ricos em estímulos e acolhedores criam condições ideais para que a leitura seja vivenciada com prazer, curiosidade e envolvimento. Promover um ambiente leitor na Educação Infantil é, portanto, plantar as sementes para uma formação sólida, crítica e encantada com o mundo das palavras.

 

Características de um espaço de leitura adequado

Na Educação Infantil, o espaço físico tem um papel decisivo na formação de hábitos, atitudes e vínculos com o mundo da leitura. Um espaço de leitura bem planejado vai além da presença de livros: ele deve ser um ambiente acolhedor, acessível e estimulante, capaz de despertar o prazer pela leitura e favorecer o desenvolvimento integral das crianças.

 Um espaço de leitura eficaz deve contemplar diversas características que dialogam com as necessidades e os interesses das crianças pequenas. Entre os principais elementos a considerar estão:

  1. Acolhimento e conforto: O espaço deve transmitir aconchego, com uso de almofadas, tapetes, pufes e móveis baixos que permitam às crianças se acomodar de forma confortável durante a leitura.

  2. Acessibilidade: Os livros devem estar ao alcance das crianças, organizados em estantes baixas, cestos ou suportes visíveis que permitam fácil visualização e escolha autônoma.

  3. Estímulo visual: A decoração do espaço pode incluir murais com ilustrações, frases literárias, personagens de histórias e trabalhos das próprias crianças, criando uma atmosfera lúdica e estimulante.

  4. Organização: Embora o ambiente seja lúdico, ele precisa ser organizado, limpo e seguro. A disposição dos materiais deve seguir uma lógica que facilite a utilização e a devolução dos livros.

  5. Variedade de gêneros: Um espaço de leitura bem estruturado deve conter livros de diferentes gêneros e temas, respeitando a diversidade cultural e linguística do grupo atendido.

  6. Flexibilidade: O espaço deve ser adaptável, permitindo reorganizações para atividades em grupo, leituras coletivas ou momentos de leitura individual.

 

Por fim, um espaço de leitura adequado é aquele que está integrado à rotina diária. Ele deve ser utilizado de forma constante, com mediações sensíveis por parte do educador, que lê para as crianças, escuta suas interpretações e incentiva a criação de vínculos afetivos com os livros. Esse ambiente, além de favorecer o desenvolvimento da linguagem, promove a autonomia, a concentração e o gosto pela leitura desde a infância. Tais características contribuem para transformar o ato de ler em uma experiência prazerosa e significativa.

 

Materiais e mobiliários

A escolha dos materiais e mobiliários é fundamental para o funcionamento adequado de um espaço de leitura na Educação Infantil. Esses elementos devem ser pensados com base na faixa etária das crianças e nas possibilidades de exploração autônoma. O olhar da criança é diferente do adulto, portanto para que esse espaço seja interessante, diversos aspectos são importantes de modo a favorecer e acolher as crianças que são o alvo para a leitura.

Materiais:

  • Livros de literatura infantil: Diversificados em tema, gênero e linguagem. Devem incluir contos, poesias, livros ilustrados, sem texto, livros sensoriais, entre outros.

  • Revistas infantis: Que promovam a leitura leve e lúdica.

  • Materiais produzidos pelas crianças: Livros artesanais, registros de histórias, desenhos narrativos.

  • Fantoches, almofadas temáticas, objetos cênicos: Que auxiliem na dramatização das histórias e na imersão no mundo literário.

Mobiliário:

  • Estantes baixas e abertas: Para que os livros estejam ao alcance das crianças.

  • Pufes, tapetes e almofadas: Para garantir conforto durante a leitura.

  • Mesas e cadeiras pequenas: Para momentos de leitura coletiva ou atividades relacionadas.

  • Cabana de leitura ou cantinho temático: Espaços simbólicos que criam um ambiente diferenciado e mágico para o momento da leitura.

O investimento nesses materiais deve ser contínuo, buscando sempre atualizar o acervo e preservar os livros com cuidado e zelo.

 

A mediação do adulto no espaço de leitura

A presença do adulto como mediador é indispensável para que o espaço de leitura se torne um ambiente vivo e significativo. O educador é responsável por apresentar os livros às crianças, contextualizar as histórias, incentivar o diálogo e promover a escuta ativa. Na Educação Infantil, a leitura deve ser apresentada à criança como uma experiência afetiva, prazerosa e significativa. Para isso, o espaço de leitura precisa ser mais do que um local físico com livros; ele deve ser um ambiente vivo, construído com intencionalidade pedagógica. Nesse contexto, a presença e a mediação do adulto — seja o professor, cuidador, bibliotecário ou mesmo a família — são fundamentais para potencializar a relação da criança com o universo literário.

A criança pequena, em sua fase inicial de desenvolvimento, ainda não possui domínio da leitura convencional. No entanto, é plenamente capaz de interpretar imagens, gestos, sons e emoções transmitidas pelas histórias. É nesse momento que a atuação do adulto mediador faz toda a diferença: ao selecionar os livros, contar histórias, estimular perguntas e promover conversas, o adulto guia a criança em um processo de descoberta e encantamento com a linguagem.

A mediação de leitura é muito mais do que simplesmente ler um texto em voz alta. Envolve observar o interesse das crianças, fazer pausas para perguntar, incentivar que elas expressem opiniões ou sentimentos, relacionar a história com vivências cotidianas e permitir interpretações pessoais. Essa interação fortalece o vínculo afetivo entre o adulto e a criança e, ao mesmo tempo, cria um ambiente de confiança onde a criança se sente segura para imaginar, questionar e participar.

No espaço de leitura, o mediador também exerce o papel de curador do acervo. Ele escolhe materiais adequados à faixa etária, com variedade de gêneros e linguagens. Livros ilustrados, contos populares, poesias, livros com texturas, obras que abordam a diversidade cultural e social, entre outros, devem compor um acervo rico e acessível. O adulto precisa estar atento à qualidade literária das obras e à sua capacidade de dialogar com as experiências das crianças.

Outro aspecto importante da mediação é a construção de uma rotina de leitura. O adulto precisa reservar momentos regulares para o contato com os livros — seja durante a acolhida, após o lanche ou em rodas de conversa. A leitura não deve ser vista como uma atividade isolada, mas como parte do cotidiano escolar. Com o tempo, esse hábito se consolida como um momento esperado e valorizado pelas crianças, contribuindo para a formação de leitores desde os primeiros anos de vida.

A mediação também pode se estender para além da leitura tradicional. O adulto pode usar recursos como fantoches, dramatizações, músicas, objetos simbólicos e ambientes temáticos para enriquecer a narrativa e torná-la mais envolvente. Essas estratégias despertam o interesse e mantêm a atenção das crianças, além de estimular múltiplas formas de expressão e linguagem.

Além disso, o adulto deve observar os interesses das crianças, propor leituras que dialoguem com o cotidiano e valorizar a escuta e a participação de todos, criando um ambiente de respeito e afeto.

A mediação pode ocorrer de diferentes formas:

  • Leitura em voz alta: Realizada com entonação expressiva e pausas estratégicas para favorecer a compreensão e o envolvimento da criança.

  • Conversas antes, durante e após a leitura: Para estimular a interpretação e o pensamento crítico.

  • Estimulação da autonomia: Incentivar a criança a escolher livros sozinha e compartilhar suas impressões com os colegas.

  • Rodas de leitura: Promovem o diálogo coletivo e o compartilhamento de experiências leitoras.

Além disso, é essencial que o mediador esteja aberto ao diálogo com as famílias. Envolver os responsáveis no processo de incentivo à leitura fortalece o vínculo escola-família e amplia as possibilidades de acesso ao livro fora do ambiente escolar. Enviar livros para casa, propor momentos de leitura em família e convidar os pais para contarem histórias na escola são ações que ajudam a criar uma rede de apoio ao desenvolvimento leitor da criança.

Por fim, é importante compreender que a mediação do adulto não se trata de controlar a experiência da criança com o livro, mas sim de criar pontes entre o texto e o leitor. O objetivo é provocar a curiosidade, incentivar a escuta e a fala, valorizar as interpretações e, principalmente, cultivar o prazer pela leitura.

Em resumo, o espaço de leitura na Educação Infantil só ganha sentido pleno quando conta com a presença ativa e sensível de um adulto mediador. É ele quem transforma o livro em encontro, a palavra em diálogo, a história em experiência. Investir nessa mediação é investir no desenvolvimento emocional, linguístico e social das crianças, promovendo uma base sólida para a formação de leitores críticos e apaixonados pelo conhecimento.

 

Desafios e possibilidades Práticas

Tornar a leitura uma prática significativa na educação infantil não é uma tarefa simples. Existem diversos desafios que precisam ser enfrentados para que o ato de ler se transforme, de fato, em uma experiência prazerosa e formativa para os pequenos.

Um dos principais desafios é a formação dos professores. Muitos profissionais não tiveram a oportunidade de vivenciar práticas consistentes de leitura durante sua própria formação, o que pode resultar em uma abordagem limitada ou mecânica da leitura em sala de aula. A mediação leitora exige sensibilidade, criatividade e conhecimento do universo infantil e das obras literárias adequadas à faixa etária.

Outro desafio está na estrutura física e no acervo disponível nas instituições. Nem todas as escolas contam com bibliotecas, cantinhos de leitura ou acesso a livros de qualidade. Quando os livros estão presentes, muitas vezes são antigos, em más condições ou não dialogam com os interesses e realidades das crianças. Sem acesso regular e diversificado à literatura infantil, é difícil despertar o gosto pela leitura.

Além disso, há o tempo reduzido destinado à leitura no cotidiano escolar. Em meio a tantas exigências curriculares, a leitura por prazer acaba sendo deixada de lado. Em alguns contextos, ela é vista apenas como uma atividade complementar, sem o mesmo peso das outras áreas do conhecimento, o que impede sua valorização plena no planejamento pedagógico.

Apesar desses desafios, existem muitas possibilidades práticas para tornar a leitura uma ação efetiva e transformadora na educação infantil. Uma das mais importantes é a mediação diária de leitura pelo professor. Quando o educador lê para as crianças com entusiasmo, envolvimento e atenção, ele transmite não só o conteúdo do texto, mas também o afeto, o encantamento e o valor simbólico do livro.

Outra prática poderosa é a criação de ambientes ricos em linguagem, como cantinhos de leitura bem organizados, rodas de conversa sobre os livros lidos, dramatizações e contação de histórias. A integração da leitura com outras linguagens, como música, teatro e artes visuais, também contribui para tornar o momento mais lúdico e envolvente.

A participação das famílias é outra possibilidade que amplia o impacto da leitura. Envolver pais e responsáveis em projetos de leitura em casa, empréstimos de livros ou eventos como "sacolinha literária" e "dia do conto" fortalece o vínculo entre escola e comunidade, além de reforçar o valor da leitura no cotidiano da criança.

Em síntese, embora os desafios para promover a leitura na educação infantil sejam reais e diversos, as possibilidades práticas também são ricas e acessíveis. Com investimento na formação docente, valorização da literatura infantil e criação de momentos significativos de leitura, é possível transformar o ato de ler em uma experiência marcante, que contribui para a formação integral das crianças — como leitoras, cidadãs e seres humanos sensíveis ao mundo.

 

Considerações finais

A leitura, na Educação Infantil, é uma prática fundamental que vai muito além da preparação para a alfabetização. Ela é parte essencial do desenvolvimento integral da criança, pois contribui para a formação da linguagem oral, da imaginação, da empatia e do pensamento crítico.

Nessa fase, em que a criança ainda não domina o código alfabético, é por meio da escuta atenta, da observação de imagens e da mediação de adultos que ela inicia seu percurso como leitora. Por isso, oferecer experiências de leitura ricas, variadas e prazerosas é um dos papéis mais importantes da escola e da família durante a infância. A leitura deve ser vivida como descoberta, brincadeira e encontro com o outro.

Dentro desse contexto, o ambiente físico da escola tem papel determinante. Um espaço que valoriza a leitura precisa ser planejado de forma intencional, garantindo acessibilidade, conforto e autonomia. O ambiente não é apenas um suporte para a aprendizagem: ele é um agente ativo que influencia comportamentos, desperta interesses e estimula o desenvolvimento da linguagem. Um ambiente leitor adequado comunica à criança, ainda que de forma não verbal, que os livros são importantes, estão disponíveis e são bem-vindos.

Organizar espaços de leitura na Educação Infantil é uma ação pedagógica que requer intencionalidade, sensibilidade e compromisso com a formação de leitores desde os primeiros anos de vida. Não basta apenas disponibilizar livros; é necessário criar um ambiente que desperte o prazer de ler, respeite a criança como sujeito ativo da aprendizagem e favoreça experiências significativas.

O espaço de leitura na Educação Infantil deve ser aconchegante e acolhedor, com almofadas, tapetes, pufes, iluminação adequada e uma disposição convidativa dos livros. Os títulos devem estar ao alcance das crianças, organizados de forma visualmente atrativa e variada: livros de imagens, contos, poesias, livros com texturas, histórias rimadas e temáticas diversas. Esses elementos tornam o ambiente vivo, dinâmico e centrado na experiência da criança como leitora em formação.

Além disso, é importante que o espaço permita diferentes formas de interação: leitura individual, compartilhada entre colegas, escuta de histórias mediadas pelo adulto, dramatizações e explorações livres. O envolvimento com o livro deve ser espontâneo, mas também estimulado por ações planejadas, como rodas de leitura, projetos literários e contação de histórias com apoio de fantoches ou objetos simbólicos.

A presença do educador como mediador é outro fator essencial. Ele é quem orienta, provoca, escuta, acolhe e amplia o olhar das crianças durante as experiências de leitura. A mediação sensível e constante transforma o espaço físico em um lugar de troca, imaginação e aprendizagem significativa. O professor também tem papel importante na curadoria do acervo e na rotina de leitura diária, garantindo que todos os alunos tenham acesso frequente e prazeroso aos livros.

Portanto, promover um espaço leitor na Educação Infantil não é apenas montar um canto com livros: é criar oportunidades para que a criança se encante, se expresse, interprete o mundo e construa sentidos por meio das palavras. É plantar, desde cedo, as sementes para uma vida marcada pelo prazer de ler e pelo desejo contínuo de aprender.

Referências

  • COLLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. São Paulo: Global, 2007.
  • FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
  • CORSARO, William A. A sociologia da infância. Porto Alegre: Artmed, 2011.
  • BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2017.
  • MACHADO, Maria Cristina da Silva. Literatura infantil: políticas e mediações. São Paulo: Cortez, 2009.
  • MOURA, Maria Cristina de. Olhar pedagógico sobre a leitura na Educação Infantil. Porto Alegre: Mediação, 2011.
  • REVELLES, Denise. Espaços e tempos de aprendizagem na Educação Infantil. Campinas: Papirus, 2013.
  • VELOSO, Maria; MALUF, Rosangela. Educar com espaços lúdicos. São Paulo: Pearson, 2012.
  • ZECHINI, Bruno; BECKER, Débora. Organização de ambientes de leitura infantis. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2014.

 

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