Segundo Durand (1998), o conhecimento corresponde a uma série de informações assimiladas e estruturadas pelo indivíduo que lhe permitem “entender o mundo”, o saber que a pessoa acumulou ao longo da vida. A habilidade, segundo Gagné et. al. (1988), está relacionada ao saber como fazer algo, ou à capacidade de aplicar e fazer uso produtivo do conhecimento adquirido, ou seja, de instaurar informações e utilizá-las em uma ação, com vistas à realização de um propósito específico. Para trabalhar esses conceitos, recorreremos aos PCNs.

A atitude, segundo Durand (1998), diz respeito a aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho. Para Gagné et. al. (1988) atitudes são estados complexos do ser humano que afetam o comportamento em relação a pessoas, coisas e eventos, determinando a escolha de um curso de ação pessoal. Segundo os autores, as pessoas têm preferências por alguns tipos de atividades e mostram interesse por certos eventos mais que por outros.

As três dimensões básicas para o exercício da docência, segundo Durand (1998) conhecimento, habilidade e atitude são interdependentes. Assim, para a exposição de uma habilidade, presume-se que o indivíduo conheça princípios ou técnicas específicas. Da mesma forma, a adoção de um determinado comportamento no trabalho exige que a pessoa, na maioria das vezes, não apenas tenha conhecimentos, mas também habilidades e atitudes apropriadas.

Segundo Wittmann (2000), o processo de construção das aptidões cognitivas e atitudinais necessárias ao docente alicerça-se em três pilares ou eixos desta formação: o conhecimento, a comunicação e a historicidade. O conhecimento é o objeto específico do trabalho escolar. Portanto, a compreensão profunda do processo de (re)construção do conhecimento no ato pedagógico é um determinante da formação do docente.

O segundo eixo de sua formação, de acordo com Wittmann (2000), é a competência de interlocução. A competência linguística e comunicativa é indispensável no processo de coordenação da elaboração, execução e avaliação do projeto político-pedagógico, nos planos de aulas, no uso das diferentes metodologias de ensino. É fundamental a competência para a obtenção e sistematização de contribuições, para que, no processo educativo escolar, a participação seja efetiva pela inclusão das contribuições dos envolvidos, inclusive, em documentos (re) escritos.

Ainda segundo Wittmann (2000), o terceiro elemento essencial, fundante da competência do docente, é sua inscrição histórica. A escola trabalha o conhecimento em contextos sócio institucionais específicos e determinados. De acordo com Nóvoa (1999), o processo histórico de profissionalização do/a professor/a passa por quatro etapas (um conjunto de normas e valores), duas dimensões (corpo de conhecimentos e técnicas) e um eixo estruturante (estatuto social e econômico).

Nóvoa (1999) retrata o/a professor/a de pelo menos três décadas atrás. No entanto, pouca coisa mudou. Ainda hoje nos deparamos com professores/as que têm como única ocupação profissional, a docência, inclusive, alguns que o façam nos três turnos de aula. Não é negativo o fato de manter somente a docência como profissão, mas sim, fazê-lo além do período integral, para sobreviver.

Independente da forma como desenvolve seu trabalho, uma condição para tê-lo – o que podemos chamar de garantia -, é o Diploma de Licenciatura, a sua formação primeira. Lembrando que, conforme Artigo 62 da Lei nº 13.415, de 2017, essa exigência é para atuar na educação básica - na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, formação também oferecida em nível médio, na modalidade Normal, cujas Diretrizes Curriculares Nacionais foram instituídas pela Resolução CEB Nº 2, de 19 de abril de 1999.

Outra questão refere-se aos espaços específicos de formação: as instituições de Ensino Superior que oferecem Licenciaturas. Nesses espaços são constituídos os saberes docentes de forma especializada ao longo de toda a formação. A respeito de normas e valores, segundo Nóvoa (1999, p. 17),

As instituições de formação ocupam um lugar central na produção e reprodução do corpo de saberes e do sistema de normas da profissão docente, desempenhando um papel crucial na elaboração dos conhecimentos pedagógicos e de uma ideologia comum. Mais do que formar professores (a título individual), as escolas normais produzem a profissão docente (a nível coletivo), contribuindo para a socialização de seus membros e para a gênese de uma cultura profissional.

 

As associações das quais os/as professores/as participam estão aí para ampla defesa do estatuto sócio profissional conforme afirma o autor. Quanto às duas dimensões, os/as professores/as, segundo Nóvoa (1999, p. 20),

 

1. Possuem um conjunto de conhecimentos e técnicas necessários ao exercício qualificado da atividade docente: os seus saberes não são meramente instrumentais, devendo integrar perspectivas teóricas e tender para um contacto cada vez mais estreito com as disciplinas científicas.

2. Aderem a valores éticos e a normas deontológicas, que regem não apenas o quotidiano educativo, mas também as relações no interior e no exterior do corpo docente; a identidade profissional não pode ser dissociada da adesão dos professores ao projeto histórico da escolarização, o que funda uma profissão que não define limites internos da sua atividade.

 

Em relação ao eixo estruturante, Nóvoa (1999) argumenta que os/as professores/as gozam de grande prestígio social e usufruem de uma situação econômica digna (sic), que é o Estatuto Social e Econômico. Para o autor, ambas as condições são essenciais à missão confiada aos/às professores/as. Concordamos com a afirmação do pesquisador em relação ao que é essencial, no entanto, discordamos no que se refere à situação econômica digna. Na atualidade, isso não se contempla no Brasil. Nóvoa toma como base, uma realidade europeia, na qual vive e de onde realiza suas investigações.

Pimenta (2009) auxilia-nos a compreender que a formação é o ponto de partida e também de chegada na construção da identidade docente, além, de também, em nossa compreensão, se colocar ao longo do caminho. Para autora, os cursos de formação ainda estão longe de contribuir para gestar uma nova identidade profissional, principalmente por trazerem currículos defasados, conteúdos e atividades de estágios distanciados das diversas realidades escolares. É na formação inicial que os/as futuros/as professores/as devem se perceber como tal, “trabalhando coletivamente [...] enfrentando o desafio de conviver (falar e ouvir), com linguagens e saberes diferentes daqueles de seus campos específicos.” (PIMENTA, 2009, p. 17).


REFERÊNCIAS


BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017.

DURAND, Thomas. Estratégias para inovação: análise de competências na avaliação de mudanças estratégicas. In: Saches, Ron; Heene, Aimé. Competence-based strategic management. Chichester. Inglaterra: John Wiley & Sons, 1998. Tradução: Professora Simoni.

NÓVOA, António. Profissão Professor. Capítulo I: O passado e o presente dos professores. 2. Ed.Porto:  Porto Editora, 1999. p.13-34.

PIMENTA, Selma Garrido. Saberes pedagógicos e atividade docente. Textos de Edson Nascimento Campos – (et. al.); Selma Garrido Pimenta (Org.). 1. Ed. São Paulo: Cortez, 2009.

WITTMANN, Lauro Carlos. Autonomia da escola e democratização de sua gestão: novas demandas para o gestor. Em Aberto. Vol. 17, nº 72, p. 88-96, fev./jun. Brasília, 2000.