Por Ludmilla Paniago Nogueira e Maria Zilda da Silva Barbosa

 

 

   Sabemos que a sexualidade infantil ganha cada vez mais espaço nas discussões e estudos científicos. Ela é fundamental na formação da personalidade, pois é uma necessidade básica do ser humano, estritamente relacionada aos pensamentos e ações. Preocupada com a forma de como a sexualidade vem sendo trabalhada na Educação Infantil, ou até mesmo silenciada pelos educadores, surgiu o interesse em conhecer a concepção dos educadores acerca das questões relacionadas à sexualidade infantil, bem como a prática pedagógica destes no que se refere às manifestações e implicações, sobre, a sexualidade nos anos iniciais.

          Como discutir algumas questões relacionadas à educação sexual nos anos iniciais, quais os métodos e caminhos a ser utilizado pelos professores?

 

  Em que idade se deve "falar" sobre as questões vinculadas à sexualidade, e se essas fazem parte dos conteúdos escolares?

 

   Debater sobre quem "pode" ou quem está "preparado" para falar sobre essas questões?

 

   Desenvolver atividades sobre sexualidade na educação infantil estimularia precocemente a libido das crianças?

 

        Mediante essa questão aparentemente difícil de ser abordada surgem às suposições: A que a escola vê como fator desnecessário uma preparação relacionada à sexualidade na educação infantil, prefere ignorar a idéia de que a criança necessita desse aprendizado desde os seus primeiros anos do período escolar. Quando os professores se deparam com alguma situação relacionada ao tema, sentem-se despreparados constrangido e inseguros, não sabendo conduzir a mesma. A falta de um psicopedagogo no ambiente escolar, para estabelecer um trabalho orientação aos professores, alunos e pais. Cursos de capacitação e especialização voltados para o tema sexualidade para que haja uma formação continua e assim os professores possam estar aptos a desenvolver um trabalho satisfatório e produtivo com alunos.

 

 

 

         Acredita-se que trabalhar á sexualidade na Educação Infantil, auxilia a perceber a necessidade de uma revisão sobre como trabalhar esse assunto dentro da sala de aula, discutindo a preparação dos professores para abordá-lo, suas principais dificuldades, as estratégias que poderiam ser utilizadas e, principalmente como conhecer os reais problemas das crianças nessa faixa etária.

 

Ao tratar do tema considera-se a sexualidade como algo inerente à vida e à saúde, que se expressa no ser humano, do nascimento até a morte. Relaciona-se ao prazer e à sexualidade; englobam as relações de gênero, o respeito a si mesmo e ao outro.

 

           Portanto, não só no mundo adulto, como também no infantil, o tema sexualidade tem singular importância. Estudos apontam que, mesmo ciente da responsabilidade que tem no processo de desenvolvimento da sexualidade das crianças, juntamente com outras instâncias da sociedade, a escola nem sempre se envolve com o tema na intensidade necessária, e, muitas vezes, quando o faz é de modo reducionista, atendo-se as questões biológicas da reprodução         

 

 

 

 O desenvolvimento da sexualidade humana inicia-se com o contato físico desde quando o bebê é acariciado pelos pais, pois os órgãos dos sentidos vitais têm íntima relação com a sexualidade por isso o contato com a pele provoca excitação nas crianças. Nesse contexto, e viável indagar também que se a criança aprende cedo a conhecer seu corpo isso contribuirá significantemente para seu desenvolvimento. E a partir do momento que a criança vai crescendo logo percebe as diferenças entre homem e mulher acarretando o surgimento de muitas curiosidades e dúvidas acerca das diferenças.

 

Então a experiência da auto-exploração do próprio corpo não traz prejuízos à criança, porém se a criança for reprimida e se sentir culpada pela sua atitude ela acreditará que esse autoconhecimento é errado, e criará conceitos que não são provenientes do verdadeiro sentido da sexualidade, cuja é uma atividade natural da vida humana. As questões sobre a sexualidade infantil variam muito ao logo da história humana e do desenvolvimento das sociedades.

 

Segundo (BARROSO,1978, p 87), a sexualidade infantil feita por Ariès realizada em 1978, em sua história social da criança. Analisou um documento muito importante sobre a variação desse assunto nos últimos séculos na França e Inglaterra. O estudo apresentado é bem intrigante, pois relata sobre certa liberdade em se mencionar sobre a sexualidade na família e nas comunidades no século XVI.

 

 

 

[...] Ariès mostra as práticas que predominavam nos fins do século XVI, não só na corte, mas também entre famílias que não faziam parte da nobreza. Nos primeiros anos de vida, brincadeiras com os genitais, feitas pela própria criança ou pelos adultos que o cercam, são descritas com a maior naturalidade. Também não se via mal algum em que a criança estivesse presente por ocasião de brincadeiras sexuais entre adultos tudo era permitido na sua presença

 

 

 

 

 

Esse fato é muito peculiar porque no decorrer da história isso mudou radicalmente e chega a despertar certa curiosidade, pois o sexo em séculos mais tarde é visto com um ato de pecado, e proibido.  Como no século XVII, quando Barroso (1978, p.87), descreve que: "[...] essa mudança de atitude acompanha uma restauração moral e religiosa".  Além disso, "acreditava-se que a criança fosse alheia e indiferente ao sexo e que gestos e alusões sexuais não tinham qualquer significado para ela". Então, com esse comportamento casou muitos conflitos, a sexualidade gradativamente foi desassociada da infância, que dão origem aos primeiros preconceitos e tabus no que se refere ao sexo na fase infantil. "No fim do século XVI, porém alguns pedagogos importantes, católicos e protestantes, começaram a impedir que as crianças recebessem livros de piadas grosseiras, o que marca o início do respeito pela infância [...]"

 

Porém grandes mudanças ocorreram no século XVII. Pois as idéias moralistas passaram a ter maior aceitação, que motivou o aparecimento de um movimento de produção acerbada de literatura pedagógica, o qual tinha finalidade de orientar aos pais e educadores que a sexualidade era uma atividade da fase adulta, a as crianças  um ser divino,  não poderiam estar inserida nessa atividade.

 

 

 

O conceito da inocência das crianças ganhou aceitação. A comparação das crianças com os anjos tornou-se um tema comum de edificação. Estabeleceu-se uma religião para crianças e uma nova devoção lhes foi praticamente reservada- a devoção do anjo da guarda. [...] De fato, a literatura pedagógica desta época enfatiza tanto o ideal de caráter, seriedade, razão e dignidade que se deseja despertar na criança, quanto à inocência que é preciso conservar, preservando- a da sexualidade reservada aos adultos.

 

                 (BARROSO, 1978, p.87)

 

 

 

 

 

       Essa concepção perdurou até o século XIX, a partir do século XX vários estudiosos começam a associar contraposições diante desses conceitos construídos durante quatro séculos.As contradições tiveram maior intensidade através das pesquisas de Freud sobre a linguagem que se relacionam a um dos objetos de estudo da psicanálise interligando que a formação da personalidade humana estava associada ao seu desenvolvimento sexual de maneira saudável.

 

    As idéias a respeito da sexualidade na infância estudada por Freud causou profundas transformações. Porém suas contribuições não se deram no meio acadêmico devido que seus conceitos foram elaborados diante do senso comum, e suas teorias foram consideradas por muitos moralistas sendo moderno demais e fora da realidade.  Então ele não conseguiu fugir das influências culturais repressivas de sua época apesar de inovar radicalmente as concepções sobre sexualidade infantil, sendo assim o modelo de sexualidade que se tem conhecimento hoje, é a dos estudos abordados por Freud.

 

      No início do século XX a sexualidade infantil ganha nova concepções. Em 1905 Sigmund Freud publica seu trabalho sobre a sexualidade infantil, que será revisto até 1920. Sigmund Freud chocou a sociedade da sua época ao tecer diversas teorias sobre a sexualidade infantil, pois as crianças eram consideradas seres assexuados.   Segundo Freud (1973, p.1200): "[...] vendo uma criança que saciou seu apetite e se retira do peito da mãe com as faces avermelhadas e um sorriso bem-aventurado, para em seguida cair no sono profundo, temos que reconhecer neste quadro o modelo e a expressão da satisfação sexual que o sujeitoconhecerá mais tarde."

 

    Essa foi das teorias que teve mais repercussão, pois os grandes estudiosos do período acreditavam que essa é uma função de sobrevivência, de alimentação dos pequenos não um satisfação sexual como relatava Freud.  Além disso, ele ainda criou diversos conceitos de sexualidade reconhecer a independência de erotismo das crianças, e ao considerar inúmeras fontes da sexualidade infantil.

 

Mesmo diante das rejeições as teorias de Freud seu estudo anos mais tarde foram considerados valiosos, e que realmente tinham ligação com a sexualidade infantil, de acordo com o médico o desenvolvimento sexual do ser humano está dividido em diferentes fases conforme os órgãos, seres e objetos que proporcionam prazer e a relação que o indivíduo estabelece com eles. Essas fases são; oral, anal, fálica, latência e a puberdade.

 

 A fase oral ocorre até os dois anos da idade, o órgão que concentra o prazer é a boca, sendo o meio que o bebê descobre o mundo, explorando objetos e partes do corpo. Conforme (D'ANDREA,1936, p.30), o nascimento é a primeira grande experiência vivida pelo ser humano: " [...] Para nascer, o feto precisa deixar a segurança e a proteção do útero materno e enfrentar os estímulos do mundo externo." Essa seria a primeira superação do ser humano, e nesse novo meio de mudanças o recém-nascido passa por muitas transformações e sempre conta com cuidados especiais dos pais.

 

 Porém a alimentação nessa fase não tem só um valor nutritivo e o momento em que a criança tem contato com calor humano através da mãe. (D'ANDREA, 1936, p.35) descreve que: "A alimentação, aqui, não deve ser entendida como uma simples incorporação de material nutritivo para a vida se torne possível, mas, também, o contato e calor humano providos pela figura materna [...]".

 

 Nesse processo a mãe é a peça primordial ao bebê, pois o mesmo, diante do afeto  materno cria suas primeiras experiências que contribuíram para sua vida futura inclusive para suas experiências sexuais. Durante esse período a criança tem a mãe com sua única fonte de satisfação. E para (D'ANDREA, 1936, p.35): "está criará sua configuração do mundo em termos orais, utilizando-se dos mecanismos de introjeção e projeção". Ambos os termos são associados para a formação da personalidade dos pequenos.

 

  A introjeção é os fins didáticos, e todos os tipos de identificação onde o indivíduo, inconscientemente procura igualar-se a outro transferindo pra si mesmo vários elementos da sua personalidade. Já a projeção apresenta características opostas, pois é um processo mental pelo qual os atributos da própria pessoa não aceitos conscientemente são imputados a outro.

 

A fase oral é sem dúvida algo que permite a formação da personalidade da criança, onde elas adquiriram seus primeiros saberes diante do mundo e seu primeiro contato com o outro com o calor humano.

 

A segunda fase apresentada por Freud é a anal, essa fase acontece nas crianças de três e quatro anos nesse momento as atividades orais ainda existem, mas abrem lugar para outras atividades, como por exemplo, a criança deixa de ser um agente passivo e receptivo para uma posição predominante ativa. E a criança aprende a falar e andar a se interessar pelo mundo que a cerca. Nesse período a região do ânus adquire uma importância fundamental na formação da personalidade.

 

 

 

[...] Neste período a energia libidinosa está concentrada na porção posterior do trato digestivo e a satisfação anal ocupa uma posição de destaque. A criança obtém prazer pela estimulação da mucosa retal e das partes adjacentes. As funções da parte terminal dos intestinos são prazerosas agora, como o foram a da entrada do tubo digestivo, na fase oral. Além do prazer natural pelas atividades anais, a criança é ainda estimulada pela valorização que os pais dão a estas funções.

 

(D'ANDREA, 1936, p.47)

 

 

 

    Essas funções estimuladas pelos pais aparecem quando as crianças são submetidas a usar laxantes para que as fezes sejam eliminadas. Nesse contexto, a criança além das condições normais tem que aprender a controlar os intestinos de acordo com as exigências do meio ambiente. Segundo D'Andrea (1936, p.48): "[...] Este aprendizado atinge-a, emocionalmente, mais que outros, com vestir-se ou deixar de brincar para ir dormir, pois se liga a seu corpo e suas sensações."

 

   Nessa fase a evacuação de fezes passa gerarem um grande prazer à criança, o valor que os adultos dão a esse processo faz a criança fantasiar que o ato é precioso e maravilhoso. E por muitas vezes a criança acredita estar expressando seu amor através da evacuação, e satisfazendo o desejo dos pais.

 

  A partir do momento que a criança não consegue atingir o que é desejado pelos pais surgem as primeiras angústias e frustração por não ter correspondido coma demanda exigida.Ou seja, esta fase o desenvolvimento sentimental da personalidade da criança está muito aguçado, a mesma já consegue compreender que necessita conservar o amor dos pais satisfazendo as metas almejadas por eles e quando não conseguem, a criança tem a necessidade de se comporta de acordo com o meio.

 

  Conforme Freud a terceira fase é a fálica ou genital, ocorre entre os três e cinco anos, aqui, aumenta o interesse pelo próprio corpo principalmente pelos genitais através da masturbação. Além disso, a criança tem mais consciência e consegue compreender o mundo que a rodeia, e  sua curiosidade diante do mundo está mais presente, e surgem as primeiras inquietações sobre tudo e o porquê da existência do mundo e dos objetos e sujeitos inseridos nesse mundo.

 

  Para D'Andrea (1936, p.59): "O termo fálico, relativo ao pênis, usado para esta fase provém do fato da libido concentra-se nos órgãos genitais que passam a ser a zona erógena predominante." Ou seja, a criança sente prazer em estimular seus órgãos sexuais, e esse fato é mais evidente nos meninos apesar das meninas apresentarem a mesma função, porém seja mais curto e menos evidente. Esse processo pode ser descrito como o autoconhecimento do próprio corpo.

 

  Na fase fálica as relações interpessoais da criança são definidas pela seleção de um objeto sexual bem definido. E os impulsos sexuais têm maior intensidade, e são acompanhados de fantasias eróticas associadas à masturbação e de alguns conflitos. Esses conflitos segundo D'Andrea (1936, p.60), são normais: "A presença de conflitos não é novidade para uma criança nesta fase, pois ela já os experimentou nas fases anteriores."

 

 Os conflitos sexuais da fase fálica estão interligados ao fenômeno Édipo. O mesmo foi observado por Freud, que descobriram nas manifestações inconscientes de seus pacientes neuróticos freqüentes fantasias referentes ao sexo oposto.  Segundo D'Andrea (1936, p.61), os estudos de Freud descrevem que Édipo: [...] denominou estas idéias carregadas de afetos de complexo de Édipo por analogia à lenda grega na qual Édipo, sem o saber, assassinou o próprio pai e casou-se com a mãe, tendo filhos com ela. Mais tarde, ao descobrir a verdade, a mãe enforcou-se e Édipo vazou os próprios olhos e foi perseguido pela fúria dos deuses. 

 

Freud utilizou essa teoria para relacionar os objetos ao complexo de Édipo que são de grande importância no desenvolvimento da personalidade, e considerando que os eventos do período edipiano são cruciais na formação de uma personalidade normal ou patológica. E esse fato se manifesta quando o menino odeia o pai por ter ciúmes da mãe.O  amor materno é incondicional, o fenômeno pode ocorrer com as meninas também que apresentam amor pleno ao pai e ódio a mãe pelos ciúmes, nas relações edipianas com as meninas a complexidade é ainda maior, pois a menina precisa ir de encontro com seu objeto amoroso, o pai e nesse caso se desliga emocionalmente da mãe e acredita que a figura materna seja rival na disputa pelo amor do pai. Essa fase é muito complexa e exige muita cautela mediante aos fatos.

 

   A fase da latência vem logo após a da fálica, é a fase que ocorre dos cinco aos onze anos. A curiosidade sexual ainda é presente, porém com menos intensidade devido que em a criança estar passando por um processo de desenvolvimento intelectual e social. Nesse momento a criança tem maior contato com o mundo, são inseridas no ambiente escolar, então lhe são apresentados uma série de novidades, assim necessitam se adequarem a essa nova fase e por este fato diminuem os impulsos sexuais mais evidentes nas outras fases anteriores.

 

  A última fase definida por Freud é a puberdade que vai dos doze aos dezoito anos, nessa fase o ato sexual é algo que se torna mais nítido e o adolescente tem um desejo mais agudo em manter relação sexual. Os fatores sociais e emocionais que se ligam ao prazer ganham maior importância. A ação dos hormônios se intensifica, e o corpo amadurece, nesse período em comum o jovem ter sonhos eróticos e fantasias, e ainda de se masturbar constantemente de forma consciente perante o ato.

 

  As meninas durante essa fase passam por grandes transformações físicas e mentais, como por exemplo, a primeira menstruação ou menarca, na qual a menina deixa ser criança para se torna mulher. Já nos meninos o desenvolvimento físico não é tão acentuado quanto o das meninas, porém ocorre o aumento do sistema musculoesquelético e de outras modificações físicas iniciadas antes, os órgãos genitais crescem, os testículos e o pênis desenvolvem-se, a próstata e a vesícula seminal amadurecem e começa a produção de esperma. Esse período ocorre também à primeira ejaculação, que é o feito de emitir espermas. Além disso, aparece a barba e os pêlos por todo corpo e a voz engrossa.

 

  Essas etapas são definidas por Freud em seus estudos que demonstram que a sexualidade começa na infância mesmo sem a criança ainda ter consciência do seja isso, e o médico descreve os fatos como um fato natural da vida humana e que não existe nada de errado em suas teorias acerca do assunto. Freud observa, no decorrer de suas análises, que as fases do desenvolvimento individual se organizam de acordo com a parte do corpo em que a libido está momentaneamente concentrada, em conseqüência das necessidades fisiológicas e dos cuidados de higiene porque passa a criança em seus primeiros anos de vida, estabelecendo, assim, a primazia de uma zona erógena do corpo. As fases pré-genitais são nomeadas pela parte do corpo onde está concentrada a libido (fase oral, anal e fálica) que, hipoteticamente num transcurso normal do desenvolvimento, deve alcançar um período de latência, que se situa entre os sete e treze anos de idade, até, finalmente, chegar à fase genital, onde alcança sua plenitude por volta dos dezoito anos de idade.

 

Segundo Freud:

 

A primeira fase do desenvolvimento da sexualidade é denominada por de Fase Oral. Vai desde o nascimento até o desmame, estando sob a primazia da zona erógena bucal. É pela boca que a criança começará a provar e a conhecer o mundo externo. O seio e a mamadeira são os primeiros objetos de prazer que a criança tem contato, à medida que saciam a fome que causa tensão no organismo. A criança procurará repetir a sensação prazerosa de satisfação que ocorre com a alimentação, tentando reproduzi-la, independentemente da necessidade fisiológica, levando à boca todos os objetos que estiverem disponíveis: dedo, chupeta, chocalho, fraldas, etc.

 

 

 

     A mãe passa a ser, então, uma figura ligada à satisfação, ao prazer do ato de mamar, a quem a criança está identificada. A mãe constitui-se, primitivamente, no primeiro objeto de amor a quem a pulsão se liga fora do corpo da criança. Ela incorpora o leite através do seio e sente a mãe dentro dela como um só ser. A esse primeiro momento narcíseo, tem-se uma forma passiva de manifestação da Fase Oral. Tudo que a criança encontra é levado à boca, visando a apreensão em si mesma, numa relação incorporativa do mundo que a cerca.

 

   Num segundo momento, paralelo aos sofrimentos da dentição, a criança manifesta uma pulsão agressiva, destrutiva, mordendo tudo que vier à boca. É desse momento de agressividade, frente ao objeto amoroso, que a criança extrairá subsídios afetivos para futura combatividade social. Para a criança, amar significa incorporação oral e o mastigar atualiza fantasias destrutivas.

 

Um bom desenvolvimento dessa fase resulta num modelo afetivo saudável.

 

  De acordo com Freud:

 

  

 

Uma frustração na Fase Oral estabelecerá a preponderância da agressividade e da destrutividade do objeto amoroso e de determinadas características da personalidade do indivíduo. Adultos que, por alguma razão, foram privados quando crianças da Fase Oral poderão ter o hábito de chupar o dedo, levar objetos à boca, serem fumantes, bebedores, comilões, toxicômanos etc.

 

 A segunda fase do desenvolvimento da sexualidade recebe o nome de Fase Anal. A libido passa da organização oral, gradativamente, sem evidentemente abandoná-la de todo, para a Fase Anal, aproximadamente entre um a três anos de idade. Esta zona passa a ter uma importância significativa, paralelamente ao aprendizado do asseio esfincteriano. A mãe passa de nutridora incondicional da Fase Oral à exigente disciplinadora dos hábitos de higiene, criando um sentimento de ambivalência da criança em relação a ela.

 

Segundo SUPLICY

 

 

 

As fezes passam a ter então um valor simbólico, constituindo-se no primeiro produto que a criança oferece ao mundo - que efetivamente lhe pertence - é uma produção própria. É através desse produto que a criança cria uma fantasia de valor simbólico das fezes. No ambiente seguro para a criança, as fezes passam a representar um presente a ser ofertado aos pais; quando, ao contrário, o ambiente é hostil e exige uma disciplina rígida quanto aos hábitos de higiene, a criança se recusa a oferecer as fezes ao mundo externo, ou seja, sua produção, seu presente. Doar seu produto no momento em que é solicitado torna-se uma maneira de presentear à mãe, ao contrário, a recusa é uma resposta negativa frente ao desejo materno. (SUPLICY, 1993, p.29)

 

 

 

 Ao atingir o controle esfincteriano, a criança descobre a noção de seu poder, da sua propriedade privada - as fezes que ela oferece ou não quando ela quer. Esse símbolo se desdobrará ao longo da vida no dinheiro, nos objetos preciosos, no controle, na posse, etc. Segundo Freud, uma vivência negativa nessa fase tornará o sujeito exigente, manipulador, controlador, obsessivo por limpeza e arrumação, mesquinho em relação à suas posses.

 

A terceira fase do desenvolvimento da sexualidade infantil, a Fase Fálica, ocorre dos quatro aos sete anos aproximadamente, e é marcada pelo interesse sobre a diferença anatômica, isto é, sobre os genitais. É marcada também por um momento decisivo para a formação do sujeito - "O Complexo de Édipo". As curiosidades sobre as diferenças entre os meninos e as meninas se voltam para o órgão sexual masculino. O pênis, por ser visualmente destacado, passa a ter um significado de referência. O menino, que possui o pênis, encara a falta na menina como uma ameaça à sua integridade física. A fantasia de que todos são iguais e que, por algum motivo, as meninas foram punidas e castradas, leva o menino a temer a castração. Já a menina, a priori, encara a diferença como uma perda irreparável. O clitóris representa para ela o pênis não desenvolvido, que foi castrado. Surge, nessa fase, o "Complexo de Castração".

 

 O Complexo de Castração está ligado ao núcleo do Complexo de Édipo e surge como uma ameaça real ou fantasmática de castração. O menino teme ser castrada pelo pai a quem ele ama e odeia. O ódio está diretamente ligado ao relacionamento especial que a figura paterna mantém com seu objeto de amor - a mãe. O declínio do Complexo de Édipo na menina é mais complicado.

 

A Fase de Latência é a quarta fase do desenvolvimento da sexualidade infantil. Com a resolução dos conflitos edipianos, pela repressão ou recalcamento do interesse sexual pelos seus pais, por volta dos sete aos treze anos, surgem as faculdades de sublimação, que permitem ao indivíduo a conquista do mundo exterior - a socialização efetiva da pessoa. É nessa fase que surge a competência e a disposição para um desenvolvimento intelectual abrangente.

 

Assim, observa-se que a sexualidade toma diversos rumos no desenvolvimento sexual humano. Durante o desenvolvimento, a criança passa por várias situações de autoconhecimento, a princípio do próprio corpo, a seguir do corpo das outras pessoas e por fim, da descoberta do prazer ligado aos seus órgãos sexuais. Ao longo de sua existência, toma consciência de sentimentos e sensações que não estavam ligados ao seu universo infantil e, então, começa a busca do outro para com ele fazer-se completo.

 

Conforme as fases de desenvolvimento da sexualidade infantil, a curiosidade das crianças é distinta em cada faixa etária. Determinados acontecimentos ocorrem especificamente em determinada época, porém, vale salientar que estes deixam marcas nos períodos subseqüentes. Primeiramente, o bebê vive uma auto descoberta de seu próprio corpo. Descobrir-se um ser único, diferenciado dos outros seres e superfícies exteriores no plano corporal é algo bastante significante. A primeira curiosidade da criança está voltada para o seu próprio corpo, percebendo as partes que o compõem e estabelecendo relações entre sensações e experimentações vivenciadas através do contato com o ambiente externo. Segundo Kaplan (1983), assim que um bebê, seja menino ou menina, consegue controlar suas mãos, vai procurar os órgãos genitais. Ele aprende a fazer isso porque estes órgãos estão diretamente ligados ao centro de prazer no cérebro.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BARROSO, Carmem Lúcia de M.; BRUSSCHINI, Maria Cristina A. Sexualidade Infantil e Praticas Repressiva. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1978.

D'ANDREA, Flávio Fortes. Desenvolvimento da Personalidade: enfoque psicodinâmico. 14.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: pluralidade cultural: orientação sexual. Brasília: Mistério de Educação, p 107-159.

 SUPLICY, Marta. Sexo Para Adolescentes. São Paulo: FTD, 1998.