Confusão De Dops Com Drops
Por Eurico de Andrade | 26/11/2006 | Contos
No início dos anos setenta, grande parte da juventude tabuiense imitando a onda, deu pra falar gíria. O jovem Boanerges havia voltado de Brasília onde passara quase dois anos. Brasília, além de ser capital da República, era também a capital da gíria, dado o grande número de nordestinos que vivia por lá. Boanerges teve seus mestres nas colônias do Nordeste, em Brasília. Depois de muito aprender, volta à terra natal, Tabuí. Lá encontra um cinqüentão, gaúcho da fronteira, velho malandro, baixinho, magricelo, com os dedos cheios de anéis, pulsos com variadas pulseiras, pescoço empatufado de correntes e colares. O Wenceslau, casado com uma filha da terra. Era mais um nômade que morador da cidade. E falar gíria era sua especialidade.
Boanerges e Wenceslau se juntaram em grande amizade. Não se separavam nunca, parecendo bagos de cachorro. Povo de Tabuí começou a imitar os dois no seu palavreado girático e danaram a seguir os dois. Os botecos onde os dois tomavam seus pileques pareciam salas de espetáculos. Os aprendizes e espectadores ouviam e viam extasiados o bate-papo dos dois amigos. Aquilo mais parecia um diálogo em algum dialeto estrangeiro. Mas a amizade inseparável e aqueles constantes e estranhos bate-papos geraram suspeita sobre os dois amigos. Tinha gente do DOPS (Departamento de Opinião Pública e Social) na cidade investigando uma história sobre o tráfico e uso de maconha. Boanerges e Wenceslau foram presos e levados pro depósito da Lagoinha, na capital mineira.
Ficaram trancafiados por mais de vinte dias, mas, como não tinham culpa no cartório, conseguiram provar sua inocência. Assim que foram soltos, as respectivas famílias enviaram dinheiro para a compra das passagens, providenciadas pelo próprio pessoal do DOPS. Os dois amigos estavam eufóricos, não só por ficarem livres, mas, principalmente, pela oportunidade que teriam novamente de molhar o bico com a boa canjebrina. Ao se despedirem dos companheiros de cela foram avisados:
Tomem cuidado! Vão direto pra rodoviária! Não passem nos botecos nem pra comprar cigarros. A polícia do DOPS vai seguí-los e se os vir entrando num boteco vão trancafiá-los de novo!
Tanto um, quanto o outro, estavam psicados e traumatizados com a palavra DOPS. Ansiosos para chegar em casa e voltar para a boemia. Saíram do depósito de presos. Mochilas na mão. Parecia um sonho. Liberdade.
No trajeto até a rodoviária, chegando na boca da passarela do ribeirão Arruda, ainda lá em Belô, havia um bando de garotos que vendia balas, pirulitos, chocolate e o diabo a quatro. Um dos garotos gritou em voz alta, bem atrás dos dois companheiros:
- Óia o drops! Treis é cem!...
Só que o Boanerges entendeu errado: A Dops envém!. E esticou as botinas, a mil por hora. O Wenceslau, muito fraco e com as pernas duras, gritava em voz alta:
Pera aí, seu Boas, meu irmão de sangue!
Não adiantou nada. Seu Boas sumiu no mundo e só foi parar muito desconfiado em Tabuí, na carona de um caminhão boiadeiro.
Boanerges e Wenceslau se juntaram em grande amizade. Não se separavam nunca, parecendo bagos de cachorro. Povo de Tabuí começou a imitar os dois no seu palavreado girático e danaram a seguir os dois. Os botecos onde os dois tomavam seus pileques pareciam salas de espetáculos. Os aprendizes e espectadores ouviam e viam extasiados o bate-papo dos dois amigos. Aquilo mais parecia um diálogo em algum dialeto estrangeiro. Mas a amizade inseparável e aqueles constantes e estranhos bate-papos geraram suspeita sobre os dois amigos. Tinha gente do DOPS (Departamento de Opinião Pública e Social) na cidade investigando uma história sobre o tráfico e uso de maconha. Boanerges e Wenceslau foram presos e levados pro depósito da Lagoinha, na capital mineira.
Ficaram trancafiados por mais de vinte dias, mas, como não tinham culpa no cartório, conseguiram provar sua inocência. Assim que foram soltos, as respectivas famílias enviaram dinheiro para a compra das passagens, providenciadas pelo próprio pessoal do DOPS. Os dois amigos estavam eufóricos, não só por ficarem livres, mas, principalmente, pela oportunidade que teriam novamente de molhar o bico com a boa canjebrina. Ao se despedirem dos companheiros de cela foram avisados:
Tomem cuidado! Vão direto pra rodoviária! Não passem nos botecos nem pra comprar cigarros. A polícia do DOPS vai seguí-los e se os vir entrando num boteco vão trancafiá-los de novo!
Tanto um, quanto o outro, estavam psicados e traumatizados com a palavra DOPS. Ansiosos para chegar em casa e voltar para a boemia. Saíram do depósito de presos. Mochilas na mão. Parecia um sonho. Liberdade.
No trajeto até a rodoviária, chegando na boca da passarela do ribeirão Arruda, ainda lá em Belô, havia um bando de garotos que vendia balas, pirulitos, chocolate e o diabo a quatro. Um dos garotos gritou em voz alta, bem atrás dos dois companheiros:
- Óia o drops! Treis é cem!...
Só que o Boanerges entendeu errado: A Dops envém!. E esticou as botinas, a mil por hora. O Wenceslau, muito fraco e com as pernas duras, gritava em voz alta:
Pera aí, seu Boas, meu irmão de sangue!
Não adiantou nada. Seu Boas sumiu no mundo e só foi parar muito desconfiado em Tabuí, na carona de um caminhão boiadeiro.