Conexões: pontas que precisam ser ajustados

          De repente, uma diferença de cores, um cheiro diferente de cores que chegam a profundir senão confundir conceitos, embaralhar possibilidades, provocar questionamentos: o que mudou, o mundo ou as pessoas; a medida ou o objeto; a meta ou os objetivos. E, nesse levantamento inicial de diferenças e comportamentos, surgiu a primeira questão: escolas formam mestres, oficinas forjam os técnicos, igrejas formam os monges, padres, pastores e ministros, as famílias formam e forjam homens, os laboratórios, os químicos; as farmácias, os medicamentos; os ventos, a tempestade; a água; as inundações; ...quem formam os pais do futuro?

         Nesse raciocínio, surgiram as primeiras perguntas a respeito da capacidade humana de criar, de inventar, de buscar melhores formas de se obter o que já se obtém, de um modo mais prático, mais rentável, mais significativo diante do outro, como forma de mostrar caracterização de capacidade, do conquistas e de avanços, ainda que os meios e os recursos utilizados possam vir, no futuro a por em dúvida quanto à dimensão do lucro diante dos prejuízos causados ao meio, à natureza e aos propósitos da humanidade.

          Se por um lado, encontram-se pessoas que admitem que as crianças de hoje é que estão a anos-luz adiante no seu tempo e no seu espaço, é preciso redimensionar valores que fundamentem a capacidade criativa que cada geração gerou ou se fez gerar. Reconhecer que o raciocínio lógico da criança do século XXI movida a computadores de ultima geração é o melhor resultado do avanço da humanidade é criar bases reais para uma inteligência artificial que povoa o imaginário do homem moderno diante de importantes descobertas científicas que envolvem a velocidade a luz e dos seus desdobramentos. Sem demeritar a força da tecnologia e de sua aplicação em favor da vida, reconhece-se que, na prática, é como se o hd externo contivesse todas as informações necessárias para a solução de um problema reconhecidamente complexo e, basta um clic e a resposta está ali, pronta, ao alcance d as mãos de qualquer pessoa; é como se alguém precisasse, de imediato, da tradução de um termo da sua língua, para  um outro idioma e, em um rasgo, buscasse a internet e ali obtivesse a pronta resposta. O cérebro estaria sempre livre de quaisquer acúmulos de informações porque logo ali estaria o arquivo eletrônico, open drive, a muleta, o hd externo. Mas há de que se questionar: Onde está a conexão entre o conhecimento e a sabedoria? Estaria o conhecimento aliado à capacidade e sabedoria à habilidade de agir com competência? O jogador de futebol conhece todas as regras e normas que regem esse esporte que é paixão mundial. Mas esse conhecimento não lhe assegura boas jogadas, trabalhados lances que resultam em gols, em resultados... O chip queimou, a capacidade do homem moderno acabou?

            Em se falando de gerações e opções por meios de como lidar com os valores praticados pelos pais modernos, o que se fez até então, está ultrapassado? Os que admitem não ter comando sobre os filhos conseguem ser pais-modernos; pais-nutela e põem a culpa na escola, na violência das ruas, na ação dos políticos, na ineficiência do Estado e, tentam se eximir de uma responsabilidade que primariamente é exclusiva sua?. Ou os pais assumem o seu papel de comando na formação de seus filos como agentes do futuro, ou todos os esforços para o sucesso de humanidade terão sido em vão.  É preciso localizar onde se perderam os elos que formavam a corrente da vida. O tempo não pode ser responsabilizado pelas perdas que a sociedade promove e sofre, sem se dá conta do seu papel.

           Não muito distante, o chinelo da mãe, era o eficiente psicólogo; o cinturão do pai era o decisivo psiquiatra; a força da imagem do professor e da escola, era a vara da infância e da juventude; a palmatória era um instrumento contra a estutícia (comportamento estúpido) era psicopedagogia que atuava de modo seguro, para resultados altamente positivos em aprendizagem e comportamento adequado a qualquer aprendiz que fugisse um pouco às normas estabelecidas pelos pais, que nada deixavam escapar. E não havia frustrações, constrangimentos, transtornos nem bipolaridades que hoje povoam o imaginário de pais que terceirizam sua ação, pela justificativa  de que os tempos são outros, precisam trabalhar, não lhes cabem as tarefas de educar, punir e falar a verdade, a ponto de permitir que a educação dos seus filhos seja entregue à televisão, computadores, celulares e outros tantos dispositivos e aplicativos que assumem o que fazer com a linguagem, o sentimento, o pensamento e capacidade de entender e interpretar os fatos da vida, como a tecnologia permite e dita.

          O bem e o mal passaram a ser dois personagens de ficção para as crianças primeiro aprendem a matar e a morrer nos jogos do free fire. O medo e a coragem se colocam em extremos que sugerem dúvidas quanto à sua existência: a criança não tem medo de desagradar o outro, como tem a coragem de enfrentar uma determinação de um superior, professor; ela desafia quaisquer regras por não ter medo das consequências que nunca serão de sua responsabilidade: “vou falar pro papai”  E o papai vem e reage: “O meu filho não gosta de ser contrariado, porque lá em casa ninguém se atreve a tamanha ousadia. Pago a escola e é aqui que meu filho precisa se sentir amado, compreendido e respeitado”. Esse discurso revela que os desdobramentos serão sempre favoráveis ao novo gênio: ou a professora retira o que disse e a escola impõe uma punição, ou a criança muda de escola. Se for na escola pública, a criança nem precisa recorrer aos pais, ela mesma resolve do seu jeito, agredindo, revidando ou se reconhecendo vítima de uma sociedade que  termina trazendo o Conselho tutelar para “defender” o indefensável: a escola é da criança e é aqui que ela precisa ser “educada”. Fora disso, nada mais se pode cobrar dessa criança, vítima de nós mesmos. É o que fica posto. Volta-se ao questionamento: onde estão as escolas de pais?

       Reconhecendo que há casos de conquistas sócio-emocionais que demonstram ganhos reais na aquisição de conhecimentos nesse plano do mundo cibernético onde pais e filhos são simplesmente amigos para quaisquer questões, sem a necessidade de que uma das partes tome as rédeas da vida, de conversa e dos negócios, elevam-se a possibilidade de se vir a ter no futuro, homens que não precisaram de “educador”, formador, monitor, professor. Mas como negar que resultados atuais antecipam que a criança que não sabe lidar com limites, não terá limites; que por não saber lidar com “não”, igualmente não saberá dizer “não” aos aventureiros, aos que vivem à margem da lei e dos bons hábitos, numa prática aliada à ideia de valores que ao longo dos séculos moveram a vida das sociedades formais que lidaram livremente com as energias biológicas, psicológicas e sociológicas, de modo integrados a partir da máxima da vida: “men sana in corpore sano”.

         Conectar lados, agrupar ideais, somar princípios, harmonizar princípios, ajustar pontos de vista, aprender a ensinar, lados possíveis de um mesmo processo. Diante de um assunto, surgem os problemas, diante desses, se colocam as mais variadas hipóteses de entendimento que nos levarão a uma análise das razões que justifiquem um determinado comportamento. Depois de acurada verificação chega-se necessariamente a uma síntese, um resumo, um sintético resultado de tudo o que se pesquisa, que se analisa, que se imagina ser viável e fundamental.

           Nesse emaranhado de conjecturas, afunila-se na proposta que salta aos olhos de qualquer educador, professor, pensador: se as crianças de hoje estão no caminho certo, mesmo sem saber onde poderão chegar, se os pais dessas crianças acreditam estar preparando homens e mulheres para saberem enfrentar os dissabores da vida, se as sociedades intelectualizadas do presente têm conhecimento, pesquisa, dados, análise e síntese de um assunto tão complexo a ponto de estarem no caminho certo, ótimo. Não se discutem os meios, encerra-se a discussão de que os padrões que forjaram homens e mulheres durante tanto tempo, estavam equivocados por serem rígidos, exemplares, éticos, pautados em valores morais, reconhece-se que a inteligência emocional perdeu, de fato o seu lugar para uma inteligência artificial isenta de emoções e sonhos, para futuro incógnito, mas sem retorno.

  •  Sebastião Maciel Costa