Conexão da Kabbalah

São diversos os estágios nos quais a pessoa vem, de fato, pedir ajuda. Alguns, de acordo com o temperamento, agarrarão a primeira coisa oferecida, enquanto outros demorarão tanto que perderão a oportunidade que se apresenta. Há outros ainda que não reconhecerão durante muito tempo o que têm diante de si, embora existam os que sabem, mas relutam em agir. Alguns ainda vêem, mas são demasiado orgulhosos para revelar sua necessidade, e outros, embora reconhecendo o que lhe está sendo oferecido, vão-se embora, porque isto significa mudança e preferem sofrer com o que é familiar. Pessoas distintas em diferentes estágios e circunstâncias apresentam grande variedade de situações nas quais podem transpor o vazio entre a ignorância e o conhecimento.

Ignorância neste contexto significa “ignorar” o que é sabido, porque qualquer um que tenha atingido este estágio de questionamento já sabe bastante. Não se chega a refletir sobre o significado da Existência a partir de uma postura de inocência. Uma pessoa deve possuir alguma experiência de vida para buscar solução para esta ou aquela pergunta, seja intensamente pessoal, como “Porque sempre perco tudo?” até “Qual é a natureza de Deus?”. Os inocentes permanecem ainda em estado de ignorância, como as crianças; e a situação mundial, as crises cósmicas, e as questões entre o bem e o mal até então, não os atingem. Tais assuntos afetam apenas os que se tornam cônscios do drama da Criação, ou encontram a luta da moralidade na alma. Nestas pessoas os contatos ficam atentos, para ajudá-las em seu caminho.

Vemos que o momento do contato pode ser decisivo por diversos motivos. Uma pessoa, por exemplo, à procura de algumas respostas tem a possibilidade de encontrar um contato que as possua e passar a noite toda falando sobre suas próprias opiniões, o que na verdade pode ser muito interessante, mas não é a finalidade daquele encontro. Tudo o que o contato pode fazer, neste caso, é sentar e aguardar uma brecha na conversa que pode não acontecer nunca, pelo menos entre estas duas pessoas. Muitos anos podem se passar, antes que tal indivíduo esteja outra vez em posição de ter alguém para escutá-lo e que saiba o que ele quer. Tais mudanças são muitas vezes desperdiçadas pelos aparentemente brilhantes e bem-sucedidos, pois os inteligentes são, em geral, notoriamente estúpidos quando se trata de assuntos esotéricos. O problema para o contato é extrair a pergunta não formulada e não interferir com o direito daquela pessoa de recusar o momento. Esta é uma operação de discernimento muito delicada.

É necessário bastante experiência para criar as condições nas quais é dada ao candidato a máxima oportunidade de formular a pergunta do que pode ser feito sobre o seu estado espiritual, ou como cmpreender o mundo e conhecer a Deus. Alguns podem armar uma situação social, como um amontoado de pessoas do grupo que falam discreta ou abertamente sobre o trabalho espiritual em termos gerais. É, às vezes, a solução perfeita para gerar interesse, e pode resultar em uma revelação menor quando a pessoa compreende que apesar de tudo não está sozinha, e que existem outros que não vivem apenas pelos patrões mundanos, mas seguem um caminho de desenvolvimento interno. Existem ocasiões em que apesar de toda cuidadosa preparação e trabalho tudo dá errado, como no caso da festa onde o candidato se embebedou para evitar qualquer conversa séria. Era esta a sua escolha e deveria ser respeitada, pois ninguém deve ser jamais coagido ao trabalho espiritual.

Supondo que o candidato esteja de fato interessado em desenvolvimento interno, o contato torna possível e conduz a conversa, talvez durante muitos meses ou por apenas uma hora, em direção ao momento em que, como se diz na Kabbalah, “o véu do Céu é levantado”. Em um instante a situação é totalmente transformada, e candidato e contato estão unidos em um instante de Graça. Tal acontecimento é memorável, mesmo para os que depois recuam e querem esquecer que a história toda aconteceu, como às vezes acontece. O que ocorre é a iluminação do Self dessa pessoa, que depois vê com extraordinária clareza qual a situação de sua vida e quais são as suas opções. No caso do indivíduo em uma encruzilhada, pode ser o ponto de transformação em uma jornada de desespero, ou de hesitação no auge do sucesso. Pode ser a percepção do ponto central de uma crise, ou o reconhecimento de um não-acontecimento. Tais compreensões revelam um modo bem diferente de olhar a realidade; de repente as implicações do momento são vislumbradas em grande profundidade e soluções que não eram observadas no estado normal de consciência são vistas surgindo dos lugares mais improváveis, como compreender que uma situação não se complicaria se seguíssemos um Caminho verdadeiro.

Depois de ajudar a abrir a porta do Céu, o contato, então, deve esperar pela reação seguinte, pois nem todos desejam usar a oportunidade oferecida. Muitos são tentados a fugir, pois tal compreensão significa transformar todo um modo de vida. O contato deve esperar um momento, ou muitos anos pela experiência, que durou apenas um segundo, para se aprofundar e exercer seu efeito máximo no candidato. Também porque existem alguns que desejam instantaneamente carregar a sua cruz (para utilizar um termo cristão), somente para se darem conta de que ela é demasiadamente pesada. Embora a Kabbalah seja uma ocupação fascinante, não é trabalho leve, e carrega consigo responsabilidades que a maioria das pessoas desconhecem completamente. Muitas vezes, assim sendo, haverá depois da abertura uma pausa por um longo ou curto período, dependendo da pessoa, que dá ao candidato a oportunidade de refletir, reconsiderar e reagir a essa experiência, e entrar novamente em contato, se quiser, com a pessoa que o introduziu a este nova dimensão. Este é um exemplo do tipo de responsabilidade pretendida. É uma grande responsabilidade ser o ponto de entrada para a Kabbalah. Tal dever é chamado na Kabbalah de ser um Sandik, ou padrinho, que inicia o candidato na tradição.

Como uma proteção contra o erro, que pode acontecer de ambos os lados, a Tradição estabelece certos métodos a serem empregados em casos duvidosos. Após a reunião decisiva, são levantadas barreiras para tornar as coisas difíceis para o candidato. Uma barreira pode ser um espaço de tempo ou um artifício social, como o contato não estar disponível, ou ser encaminhado a outro lugar, de modo que o candidato deve fazer um esforço enorme para manter a conexão. Não é apenas para testar a tenacidade da experiência original, mas para permitir a ambas as partes ver quão dedicada é a pessoa na busca da Verdade. Alguns grupos estabelecem um processo muito difícil para seus prováveis membros. Em um caso, a pessoa teve de viajar tarde da noite por diversas estações de trem para seguir uma trilha que, eventualmente, a conduziu até um certo endereço. Em outro exemplo, contudo, muito pouco foi pedido, além de dizer ao candidato para procurar determinado nome no catálogo de telefone. Depende das circunstâncias. Devemos também acrescentar que qualquer abuso deste processo por parte do contato ou do grupo indica que eles não estão mais no espírito da Tradição, e que pertencem a uma instituição decadente. Este aviso é para proteger o explorador.

Depois de estabelecer a conexão, o candidato agora se tornou elegível para ser introduzido a um grupo. Pode ser um assunto simples, no caso de um grupo pequeno e íntimo, mas não tão direto em uma escola totalmente operante. As pessoas chegam à Kabbalah por vários motivos. Algumas, por exemplo, podem necessitar da cura, pois grande número dos que estão interessados no Caminho, muitas vezes estão machucados pela vida e precisam de ajuda. Destes, uma boa parte pode, de fato, ser doente, mas este é um risco que às vezes deve ser corrido, se a pessoa desejar se submeter à disciplina. Não se pode permitir que tais pessoas participem de certos exercícios, quando uma determinada fraqueza sua possa ser acionada de modo a incomodá-las. É necessário muita habilidade para selecionar e dirigir as pessoas ao grupo certo. Por outro lado, há o problema dos que são excessivamente inteligentes ou estúpidos, sendo possível que ambos tenham um interesse genuíno no autodesenvolvimento e no serviço. Sempre há pessoas para serem cuidadas ou auxiliadas pelos que estão no grupo já há algum tempo. É bom introduzir, periodicamente, elementos novos, mas às vezes a combinação errada produz um rompimento e uma queda temporária do nível de consciência. Até mesmo grupos, contudo, devem lidar com a vida como ela realmente é, e manter a sua própria.

Falamos até agora de uma escola já existente, na qual a Árvore, sua estrutura e infra-estrutura, já está em atividade, uma situação que leva muitos anos para se materializar. Muitas vezes grande número de pessoas passarão por um grupo antes que este amadureça, ajudando sua experiência comum a construir um reservatório de energia padronizada para formar as fundações de um veículo esotérico. A fim de compreender este processo, vamos estudar a situação desde o início, para observarmos como um grupo é concebido, nasce e cresce para se tornar uma escola. Vamos presumir que a Tradição queira expandir o seu campo de atividades, e que alguém foi enviado pela Linha para iniciar uma escola que satisfaça às necessidades daquela determinada época e local. Tais acontecimentos ocorrem em cada geração.