– Ela chorava descontroladamente. Sua pele branca estava avermelhada. Dava até dó. Parei para conversar com a moça. Ela atendeu-me prontamente.

– E ai?

– A miserável mentira. Estava chorando com uma falsidade tão desmedida que quando descobri meti-lhe tapa na cara – Disse rangendo os dentes e com as mãos abertas.

– Como pôde fazê-lo?

– Quis e fiz. Nada me controlava. Estava louca, estava supostamente com ódio, com sede de matança. Ela me confessara que o chororó era por que meu marido havia deixado-a. Pode? Não poderia ficar quieta, tive que agir. Ela bem que tentou correr, fui encima, ela gritava, eu forte, e encorajada pela vingança corri. Palpei seus cabelos e a lancei ao chão. Pulei encima de sua barriga, dei-lhe um soco nas fuças. Ela sangrava como uma leitoa em seu estado de morte numa fazenda repleta de gente faminta.

– Não sentiu pena?

–Lógico que não! Era ela quem deveria sentir pena de mim. Pois fora ela quem destruiu meu casamento. E agora: Passo os dias nesta prisão repugnante. Meus cinco filhos estão num abrigo.

– E seu marido?

– Aquele desgraçado, quando soube que sangrei sua sirigaita, caiu numa depressão e morrera após cinco dias seguidos bebendo catuaba com cinqüenta e um.

As duas condenadas à cela da penitenciária feminina confessavam-se uma à outra numa noite de natal qualquer.

– E você, o que fizera?

– Sangrei minha mãe. Ela roubou meu marido.

– É. Amanhã falamos desta sua história. Boa noite.

– Boa noite.

– Espere...

– O que?

–Arrependeu-se de matar a amante do excomungado do teu homem?

Silêncio

– Sim – Disse com vergonha – E você?

– Hoje sinto pena de mamãe. Arrepender não adianta. Mas...

– E ai?

– Arrependo-me profundamente.