Trata-se de um resumo que fiz de Material de Estudo. As apostilas trazem os assuntos muito espalhados. Para exames e provas eu costumava resumir alguns temas. 

CONCEITOS SOCIOLÓGICOS PARA ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO

 

WERNER SCHROR LEBER

 

Resenha e comentário de material para o Ensino Médio, conforme Unidades 1 e 2, do Volume I, da seguinte obra:

 

BERLATTO, Fábia. Sociologia: 2ª Série, 1º volume. Ilustração de José Aguiar e Marcos Guilherme. Curitiba: Editora Positivo, 2011, p. 03-19.

 

 

UNIDADE 1: SEGREGAÇÃO SOCIAL 

 

Desde o século XIX, as casas mais pobres, os cortiços e a população pobre de modo geral, passaram a ser vistas como empecilho ao desenvolvimento da nação brasileira. O capitalismo, agora a todo vapor, necessitava de gente “desenvolvida” para se firmar, o que fez com que as classes dominantes (aristocráticas) do Brasil elegessem os pobres e suas habitações como culpadas pelo atraso social (ver páginas 02-03, Apostila I).[1] Em 1893, o médico Barata Ribeiro mandou demolir todos os cortiços do centro da cidade do Rio de Janeiro, alegando que os moradores atentavam contra as regras de higiene que a prefeitura havia estipulado (p. 03). Isso contribuiu para o surgimento das favelas, pois não tendo para onde ir, instalaram-se nos morros da cidade. Conforme a Apostila I, p. 04, em 1904 mais uma vez outro prefeito mandou demolir mais de 600 casas no centro do Rio. Para muitos sociólogos essas ações foram as responsáveis pelo favelamento do Rio janeiro. Falamos que isso é segregação. Esse projeto era segregacionista (ver conceito na página 04).[2] Mas havia ainda outro preconceito camuflado nessa visão: a de que os pobres e favelados formavam um classe mentalmente, psicologicamente e geneticamente inferior. Os ideólogos sociais acreditavam que houvesse uma predisposição genética que fizesse com que as pessoas menos abastadas financeiramente fossem menos capazes intelectualmente. Não se esqueçam, alunos e alunas, o século XIX foi fortemente marcado pelo positivismo e evolucionismo nas ciências. Isso levou a que se acreditasse que houvesse “raças” e, obviamente, nessa perspectiva deveria haver também “raças melhores” e “raças piores”. Isso se chama determinismo biológico e entrou na sociologia por conta da influência das teorias evolucionistas de Darwin nas ciências naturais, notadamente na biologia. Essas teses geraram também segregação de vários segmentos do tecido social.

Um conceito importante que surge no texto é “o monopólio da violência legítima” (p. 04). É o direito que o Estado (Nação) tem de atuar em nome da ordem e da Lei. Só ele tem direito à força legítima. Mas quando o Estado faz uso dessa força para segregar e classificar negativamente (ou positivamente) determinado aspecto da sociedade ou determinados grupos sociais, ocorre o que se chama “violência simbólica”. A violência simbólica, quase sempre, ocorre quando o Estado age de modo depreciativo em relação às pessoas, quando as classifica negativamente, ou até quando atribui adjetivos depreciativos a determinados locais e seus habitantes. Isso é comum, mas é uma forma errada de agir, pois em nada melhora a situação e quase sempre produz marginalizações. O livro Os Sertões, de Euclides da Cunha no qual ele narra a Guerra de Canudos (interior da Bahia, 1896-1897), serviu de inspiração para caracterizar as favelas que se formavam no início do século XX. Desse modo, jornalistas, escritores e reformadores urbanos basearam-se nesse escrito para caracterizar as favelas (vejam os textos em destaque das páginas 04 e 05). Conforme podemos ler na página 07, há também outro preconceito que se construiu sobre a favela: achar que as favelas formam uma “Unidade”, uma coisa homogênea. Isso é preconceito. As favelas são constituídas de uma diversidade impressionante. Instituiu-se também o dualismo, que nada mais é do que achar que a favela é o contrário de bairro, o longe em relação ao perto, cidade legal contra cidade ilegal. São dogmas que estão arraigados em nossas mentes. Foram construídos pelos detentores de informações e formadores de opinião.  Essas ideias que foram sendo criadas pelas classes dominantes em torno da pobreza, da favela, dos pobres instituíram o “imaginário social” que temos dos pobres (ver página 08). Dos anos 80 para adiante ocorre outra transformação. A pobreza, os pobres e as favelas passam a ser vistas como espaços propícios aos crimes e à violência. Ocorre então outra segregação: as classes mais ricas enclausuram-se em seus castelos e condomínios de luxo ao passo que os pobres são empurrados para cada vez longe dos muros da cidade. Começa a haver uma desconfiança mútua: o rico acha que pobre só quer roubá-lo e assaltá-lo;  enquanto o pobre vê nas classes ricas a origem da miséria que sente na pele. Assim, ambas vivem segregadas, isoladas umas das outras e, de certo modo, cultivando um ódio recíproco. O resultado disso, diretamente, é que as coisas que já foram da ordem da saúde e da medicina, passaram para a esfera policial (página 10). Os pobres tornaram-se casos de polícia.  As ações do Estado (Polícia) contra as áreas mais pobres dos núcleos urbanos ilustra bem essa situação.

 

 

UNIDADE 2: CONTROLE SOCIAL

 

Há duas formas maneiras de interpretar o que seja Controle Social. O primeiro, mais comum, é achar que se está falando de uma determinada classe controlando a outra, como no que foi escrito acima. Mas há uma segunda maneira aceita em sociologia que é a capacidade que tem governo e população de se controlar, isto é, de não permitir que a sociedade se transforme em classes radicalmente segregadas. É, como diz a apostila, p. 11, “[...] a capacidade da sociedade de se autorregular”. O que está por trás  desse conceito é justamente que a sociedade não se regula só pelas forças policiais, mas sobretudo pela concepção de pessoas de dignidade humana que ela cultiva. Ainda no século XIX Durkheim já havia falado em Solidariedade Social – que para ele seria uma maneira da sociedade se autorregular por meio do trabalho e dos serviços de cooperação. Ele falava também em Integração Social (ver página 11). Isso significa, a Integração Social é uma forma de manter a ordem e incluir as pessoas ao processo social. Quem não estiver integrado, está “desfiliado”, diz Robert Castel (página 11-12). O trabalho, conforme essa visão, é um fator de integrador. Mas não trabalho como serviço temporário e sim como emprego, com garantias, proteção social, previdência (página 12).

 

Escola de Chicago

 

Os sociólogos de Chicago falaram em intervenção pública para evitar distorções sociais. Segundo essa visão, as pessoas depois de inseridas em determinado contexto social perderiam a capacidade de escolha (livre arbítrio) e só poderiam melhorar de vida por meio da intervenção de governos e políticos, pois eram conformistas e desorganizados. Essa tese ficou conhecida como “Teoria da Ecologia Humana” (páginas 12-13). Como entender o termo Ecologia Humana? Em minha opinião, se é que sei alguma coisa, há uma comparação com “limpeza”. A desorganização parecia coisa  “suja”. Era necessário uniformizar a sociedade, quer dizer, “limpar”, acabar com a desorganização.

 

Surgimento da Sociedade Disciplinar

 

Para Michel Foucault Controle Social é vigilância da sociedade pelos poderes constituídos. É controle fiscal, político e policial da sociedade. Para ele, o Estado atual exerce esse controle com rigor e com eficiência. Mas não só as instituições públicas como a polícia e justiça são encarregados desse ofício. Há uma hierarquia que se estende de modo organizado e ramificado até atingir o indivíduo isoladamente. Como? O Estado infiltra sua ideologia nas famílias, na escola, em vários outros âmbitos da sociedade, como nos hospitais, nos asilos, nas prisões. Os intelectuais, conforme Foucault, exercem esse poder muito bem, e muitas vezes sem se apercebem de que o fazem. Daí que escolas e universidades são formadoras  e disseminadoras desse poder e nem o percebem. Vivemos em uma Sociedade Disciplinar (p. 13). Ela teria surgido nos séculos XVII e XVIII, mas efetiva-se com força total no século XX. Foucault compara o sistema de controle a um Panóptico – espécie de construção circular de onde é possível avistar e manter controle sobre tudo que ocorre em seu interior (veja desenho na página 14). Podemos dizer então, conforme apostila I, UT2, página 15, que “[...] A sociedade disciplinar, segundo Foucault, seria aquela que é ‘atravessada/constituída pela hierarquia, pela vigilância, pelo olhar que tudo vê, pelos regulamentos, pela documentação, pela proibição’”.

 

 

[1] Veja, por exemplo, a Tira da Mafalda, página 08 da Unidade I, em que é apresentada essa perspectiva de modo cômico.

[2] Segregação - política de separação de minorias ou política de isolamento de determinados segmentos sociais.