A imagem é a forma pela qual um objeto e algumas de suas qualidades podem ser representadas, mentalmente.
A imagem mantém elementos de qualidades sensíveis, restritas, dificultando, uma descrição completa do objeto representado. O conceito, por sua vez, não tem elementos sensíveis. A imagem contribui para a apreensão do objeto e o conceito contribui para a apreensão do significado do objeto. Por não ter elementos sensíveis, o conceito, ao contrário da imagem, será universal e formará um sistema de relações. O característico do ato da compreensão (cognitivo) diz respeito à vivência, individual, interior, proporcionando, uma síntese perceptual-sensorial dos dados imediatos da consciência, ordenados e estruturados de uma maneira específica que sofre a influência de estímulos externos e internos. Aqui estão delineados os princípios mentais que dão origem ao pensamento cognitivo e suas conexões, lógico-didáticas. Desta feita, poderemos entender a cognição em sua gênese e enriquecer as práticas educativas com esse conhecimento.


A ideia dos conceitos está relacionada à intelecção, à cognição, à consciência e ao conhecimento. A atividade sensorial capta infinitas impressões, advindas, dos estímulos do mundo exterior, os quais deixam a sua impressão na consciência. Para que essas marcas do mundo exterior possam transitar, didaticamente, na consciência e se cristalizem melhor, cognitivamente, falando, é necessário que elas estabeleçam conexões com representações experimentadas, anteriormente, como fruto de nossa experiência sensorial, alocadas, epistemologicamente, em nossa ecologia neurológica. Então, toda vez que um estímulo primário é intensificado de maneira adequada, adquire uma clareza, indispensável, para se tornar consciente, determinando, a compreensão do seu conteúdo e substância. Destarte, a melhor compreensão do objeto estaria na dependência do número de representações despertadas pelo ato perceptivo, o qual está sempre a reforçar o registro da vivência.

A percepção sensorial já vimos, é a capacidade de associar as informações sensoriais à memória, à cognição e gerar conceitos sobre a realidade, sobre nós mesmos e os outros... Gradativamente, a pessoa passa a ter maior consciência de sua existência e surge o fenômeno da ideação que consiste numa função psíquica onde se sucedem, primeiramente, a percepção, seguida pelo registro na memória e, posteriormente, a elaboração e associação (analógica) das impressões registradas pela consciência. .

Sistematicamente, tudo se associa aos elementos anteriores de nossa experiência, formando, numa primeira fase, os conceitos concretos e, posteriormente, os conceitos abstratos das coisas. Esse mecanismo mental leva à formação de juízos e do pensamento racional. Portanto, os conceitos são os primeiros atributos que se pode definir como intelectivos, por excelência, pois, é graças à eles que se organizam na consciência individual, os dados perceptivos e representativos, empiricamente, vivenciados e correspondentes, respectivamente, aos planos objetivo e subjetivo da realidade. Essa compreensão intelectual oferecida pelos conceitos representa um componente da experiência interna e pessoal de maior importância para a construção do conhecimento, ordenando, hierarquicamente, na consciência o caos das formas sensoriais e o registro das memórias com as quais a realidade se nos apresenta, e é apreendida. Através dos conceitos promove-se a construção dos significados do mundo objetivo que ultrapassam os dados sensoriais.
É através dos conceitos que tentamos alcançar a essência das coisas, que apreendemos e agrupamos os objetos da realidade em relações que guardam similaridades entre si. Cabe aqui, pontuar, que o conceito é o elemento estrutural do pensamento. Na construção de nossas vivências do mundo e da vida, a passagem das imagens oferecidas pela percepção dos conceitos se faz através de nossa capacidade de abstração e de generalização.

Ao contrário das percepções, o conceito não tem elementos de sensibilidade. Não nos é possível contempla-lo nem imagina-lo, só percebe-lo. Dado essa peculiaridade de experienciar conceitos sem, portanto, sermos capazes de contempla-los ou imagina-los, inferimos que eles são intuitivos. Em decorrência, para captarmos os conteúdos intuitivos das vivências são indispensáveis esses atributos mentais que sintetizam e corporificam, intelectualmente, as significações, que são os conceitos.

As representações psíquicas, significam a reprodução na consciência de percepções sensoriais, vividas e apreendidas da realidade à nossa volta. É através dessas representações psíquicas (abstratas) que os objetos são apreendidos como reais e validados pelo sujeito. Os conceitos podem ter um aspecto psicológico ou particular, e um aspecto lógico ou geral. O conceito psicológico ou particular, tanto quanto a representação psíquica, decorrente, é constituído pelos aspectos dos objetos que interessam a determinado indivíduo em particular, em virtude de sua cultura, inclinações, interesses específicos, temperamento, variando, de pessoa a pessoa e durante toda a vida de uma mesma pessoa.
O conceito lógico se ocupa da síntese de todos os aspectos do objeto e é idêntico para todos os indivíduos (esse é o princípio da ciência Lógica: categorizar propriedades, universais).

O pensamento, o progresso e o desenvolvimento do ser humano dependem da exatidão dos conceitos, os quais vão desde ideias simples sobre as coisas até as abstrações do mais alto nível e bastante distanciadas do objeto concreto. Não podemos confundir o conceito com a palavra ou com o objeto em si. Os conceitos representam o significante, as palavras, por outro lado, são signos ou símbolos e representam, também, o significado. O pensamento racional nos permite captar o conteúdo de relações, objetivamente, existentes no mundo sob a forma de conceitos, como é o caso dos conceitos de causa e efeito, anterior e posterior, relatividade, etc. Grande número dessas relações não podem ser produto exclusivo da experiência sensorial. Através da abstração dos conceitos, a atividade racional se converte em um poderoso instrumento de conhecimento do mundo, permitindo, captar, fixar e comunicar as mais complexas relações existentes na realidade. A abstração e a generalização, geralmente descritas como operações sucessivas e inerentes à formação dos conceitos (pensamento reflexivo), na realidade ocorrem simultaneamente. De fato, esta atitude possui formas pré-reflexivas que já se manifestam no próprio ato de apreensão perceptiva da realidade.

Ao mesmo tempo que num conjunto de objetos aparentemente heterogêneos, abstraímos e destacamos qualidades comuns a vários deles, eliminando, suas diferenças, também, aplicamos aí um certo princípio extensivo a todos os demais objetos que apresentem condições semelhantes, isto é, generalizamos. Para que ocorra essa generalização, será necessário que já os tenhamos abstraído simultaneamente ao ato perceptivo. Isso demonstra que há, de fato, uma abstração e uma generalização naturais, primitivas, espontâneas, como uma espécie de discernimento intuitivo dos seres e das coisas do mundo sensível. Além, da teoria da formação dos conceitos como requisito indispensável ao conhecimento e desenvolvimento da cognição, também, o método da inferência parece desempenhar papel importantíssimo. A ideia da inferência na aquisição do conhecimento, pode muito bem completar a ideia dos conceitos e não opor-se à ela. Enquanto os conceitos são atitudes permeadas na classificação e associação de ideias, a inferência seria um passo mais além: tem base nas analogias.

As palavras e atitudes que a criança usa para chamar a atenção (ainda que, inconsciente, para ela) reintegram todos os tipos de experiências passadas que tivemos. Isso significa que toda experiência ou processo mental em outro ser podem ser inferidos à partir da similaridade da situação, histórico e comportamento. Isso, ocorre apenas quando uma experiência similar ou um processo mental similar são ou foram associados, analogicamente, em nós mesmos, a uma situação, história e comportamento semelhantes. A probabilidade da inferência ser positiva será proporcional ao grau dessas semelhanças. Não se pode negar a existência desse processo de raciocínio por analogia ou inferência. Ele é aceito desde que Aristóteles estabeleceu as condições do silogismo. Se um novo acontecimento é semelhante à um tipo de experiência prévia, será compreendido como tendo a mesma significação. Quando Aristóteles nos fundamentos da lógica, expressa, que se nossa experiência nos induz à significação de que : “todos os homens são mortais, e se eu pertenço à classe – homens -- então, eu também, devo concluir que eu sou mortal”. Raramente estamos conscientes da cognição conseguida por esse tipo de silogismo mental. A lógica do silogismo, raramente, é consciente e quase todas as inferências que fazemos na vida diária são muito sutis e, em grande parte, inconscientes.

A velocidade do processo de inferência torna-se ainda mais desconcertante quando, além dos silogismos mentais automáticos, temos de considerar também os indícios a fim de determinar sua validade da inferência em termos de probabilidades. Baseado na noção de probabilidade, alguns de nossos julgamentos parecem seguros e outros incertos.

A teoria da inferência pode explicar por que as pessoas conhecem melhor, portanto, compreendem melhor, aquelas pessoas que são como elas; isso explica as incompreensões e incompatibilidades que existem entre os sexos, entre as raças, e entre tipos de pessoas com valores diversos aos nossos. Pode explicar os erros comuns de julgamento provocados por pessoas inflexíveis, pela suposição de similaridade entre o outro e nós quando, de fato, essa similaridade não existe.

Os conceitos começam a se formar na pessoa, através da aquisição da linguagem e do aprendizado das palavras. Toda vez que apreendemos qualquer coisa de novo na realidade circundante, e classificamos algum objeto apreendido, fazemos isso conjuntamente com a palavra que o designa – ou seja, nós, o nomeamos – e a palavra, resultante, será depois utilizada na elaboração da ideia correspondente. Nos primeiros estágios de aprendizagem da linguagem, é provável que os três tipos de aprendizagem que a Psicologia da Educação nos ensina, sejam eficientes: resposta condicionada, aprendizagem por memorização; aprendizagem por ensaio-e-erro.

ALLPORT, Gordon (1962) apresentou na sua teoria do desenvolvimento (psicológico), a descrição clássica da maneira pela qual o condicionamento pode desempenhar um papel: A mãe segura uma boneca e ao mesmo tempo diz: "boneca". A criança vê a boneca e ouve o som "boneca". O som "boneca", emitido pela mãe é considerado o estímulo incondicionado que provoca na criança a resposta imitativa: "boneca". A visão da boneca serve de estímulo condicionado. Com a frequente repetição a simples visão da boneca sozinha chega a provocar na criança -- a palavra "boneca". Podemos supor que tenha ocorrido uma generalização. Portanto, qualquer objeto, conceitualmente, e visualmente, semelhante, a uma boneca provocará a resposta "boneca", e logo depois por analogia, talvez, todas as figuras visuais que representam bonecas.

No processo de alfabetização, frases e sentenças podem ser aprendidas através do processo de memorização e repetição. As palavras depois de aprendidas, não funcionam apenas como sinais para objetos ou acontecimentos, embora pareça ( e possa) ser essa a sua função mais comum. Podemos distinguir três maneiras diferentes de emprego das palavras: como sinais, como atributos de objetos, e como objetos. Na realidade, a palavra representa o próprio conceito que se tem do objeto. "O ensino é altamente facilitado por meio da linguagem que acaba sendo não apenas o meio de comunicação, mas o instrumento que o estudante pode usar para ordenar o meio ambiente." (BRUNER, Jerome, 2001).

Segundo Piaget e Vygotsky, desde pequenos tendemos a perceber uma palavra como um atributo inseparável do objeto a que se refere, exatamente, como fazemos com a cor do objeto. As palavras que são atributos de objetos específicos são mais flexíveis que aquelas que representam sinais ou símbolos. Estas são atreladas fortemente aos objetos específicos. A habilidade para ver uma palavra como sinal de um objeto desenvolve-se somente com a idade.

Das três funções das palavras -- sinais, atributos, objetos -- a função de sinal ou símbolo é a mais significativa no desenvolvimento da linguagem. Uma das conclusões mais firmemente estabelecidas é a de que, muito cedo se aprende que uma palavra vem a ser um sinal para muitos objetos.

A criança não precisa ser ensinada a generalizar pois, esta atividade pode ser entendida como consequência de nossa tendência básica natural para agrupar e organizar conceitualmente os objetos. Essa tendência conceitual torna possível a existência de palavras úteis, isto é, uma única palavra abrange um grande número de diferentes espécies de uma classe de objetos. Quase todas as palavras-sinais com exceção dos nomes próprios são sinais de grupos de objetos e por isso, se referem a generalizações. Portanto, o termo conceito faz referência à essas generalizações. Para apreensão do sentido correto de uma palavra, dependemos, antes ou simultaneamente, da obtenção de um conceito. A formação de conceitos se refere ao processo de descobrir alguma característica comum a uma série de objetos distintos, e que os separa de todos os outros. Um conceito se prende à descrição desse elemento comum.

Os processos que ocorrem na formação de conceito são os processos de percepção, aprendizagem, memória e pensamento produtivo. A capacidade na formação de um conceito é uma função, intuitiva, da performance mental do indivíduo. Em decorrência, os transtornos mentais e emocionais que proporcionam alterações da senso percepção, da memória e do pensamento, acabam proporcionando também profundas alterações dos conceitos (exemplo: esquizofrenia).

Logo depois do nascimento, a criança é capaz de emitir qualquer som possível, contido, na linguagem usual. Através, de uma prática espontânea, aprende a colocar esses diferentes sons sob controle voluntário e eficiente. Como resultado da recompensa que recebe por emitir certos sons específicos, e também, como consequência de sua tendência para repetir os sons ouvidos dos adultos, a criança logo elimina os sons supérfluos, sem resultado prático e passa a apresentar o padrão de sons característicos da cultura em que vive, e o faz na maior parte das vezes por imitação. Eis o porquê da ênfase de Vygotsky nas interações sociais como elemento cognitivo, por excelência. Por um processo de condicionamento, memorização, e aprendizagem por ensaio-e-erro, a criança chega a ligar sentidos aos vários sons e às diferentes combinações de sons. Então, começa a adquirir uma linguagem -- a aprender palavras... As palavras, depois de aprendidas, funcionam como sinais dos objetos, como atributos de objetos e até mesmo, óbvio, como os próprios objetos. No desenvolvimento da linguagem, as palavras isoladas vêm a ser sinais de grupos de objetos, e assim se inicia a formação de conceitos.

Podemos resumir a questão, acima, dizendo que as palavras-sinais são a melhor maneira de descrever os conceitos. A capacidade de exposição correta e clara de nossas ideias já constitui, por si uma atividade intelectual. A linguagem, além, de ser um indispensável instrumento de comunicação pessoal, favorece, por meio dos símbolos e sinais dos quais é feita, a própria formulação e configuração dinâmica das ideias e do ato de pensar (cognição).

Por causa da associação entre ideias e palavras pode-se ter a noção equivocada de supor que a abundância de vocabulário seja sinônimo de riqueza intelectual. Embora isso possa ser verdade, algumas vezes, nem sempre é. Em alguns casos, a exuberância verbal pode até servir para disfarçar a mais autêntica pobreza intelectual. Essa observação pode dar razão àqueles que creem que a Retórica seja a arte de não dizer nada concreto em muitas palavras. Fica só um rebuscamento verbal. Essa concepção, também, não se aplica a todos os casos. Lacan, em sua escrita psicanalítica, elaborou um texto, extremamente, prolixo, denso, profundamente, abstrato (alguns diriam, metafísico). Entretanto, é inegável a revolução teórica que produziu na senda da Psicanálise.

Sendo a linguagem um instrumento simbólico do qual nos servimos para criar conceitos e, ao mesmo tempo, sendo um fenômeno caracteristicamente sociocultural, cada idioma há de refletir a tradição, a estrutura, o grau de civilização, em suma, os estereótipos, idiossincráticos, das pessoas e do sistema social que o usa.

Os conceitos são, sobretudo, alicerçados na formulação consciente de associações e relações entre as vivências experimentadas pela pessoa. Desde a origem dos conceitos se estabelecem relações conceituais que constituem os verdadeiros fundamentos do pensamento humano. Portanto, falamos aqui da natureza relacional dos conceitos. Os conceitos podem ser (e quase sempre são) expressados através, da linguagem, mas, esta nem sempre essa é suficiente para traduzir com fidelidade uma ideia.

A ligação entre a expressão verbal com os objetos e fenômenos da realidade exterior, é incapaz de revelar a riqueza de conhecimentos contidos nas relações conceituais não expressas, verbalmente. A tendência, compulsória, com a qual lidamos com essas analogias, sugere que no psiquismo humano preexistem relações conceituais que num dado momento ou noutro desse dinamismo psíquico, houve uma experiência senso perceptiva, tipificada, dos elementos envolvidos que deram origem aos conceitos, ou os reformularam. Mostram também que em cada conceito se inclui uma interrelação unívoca (filosoficamente, falando) ou melhor, ainda, que os conceitos não apenas se constituem de relações, mas, eles mesmos, são propriamente essas mesmas relações.

Reinaldo Müller > “Reizinho”