COMUNICAR OU DIALOGAR, EIS A QUESTÃO...

      Comunicar tem como uma das suas definições a de transmitir, a transmissão pode se dá sem que o interlocutor tenha a oportunidade de se posicionar, podendo se caracterizar como um monólogo. A reação ao comunicado pode ou não  ocorrer de imediato ou em etapas posteriores. O diálogo pressupõe a possibilidade de contrapontos entre, no mínimo, duas pessoas face a face.

      No diálogo franco e direto não há como o ouvinte se esconder, mesmo que o interlocutor se cale, as reações corporais ou a expressão facial, denunciam a aceitação ou rejeição. O advindo do telefone limitou a visualização das reações  e das expressões, mas não impediu a percepção das inflexões de voz e das pausas na fala tão significativas.

      Sempre houve a opção da comunicação ou diálogo, escritos e cuidadosos de modo a não  gerar atritos e muitos deles, até poéticos. Mesmo assim, um ponto, uma vírgula, uma conjunção, um adjetivo, uma preposição ou um advérbio, no lugar errado na hora errada, permitem controvérsias avassaladoras, capazes de provocar rompimentos de relações afetivas ou longas amizades.

      Há uma brincadeira infantil em que num círculo inicia-se uma fala que é reproduzida ao pé do ouvido de cada um dos participantes até que se retorne ao início e a reprodução em voz alta faz rir a todos os participantes pelas distorções causadas pela audição e pela prática de se contar um conto aumentando um ponto. A brincadeira sempre serviu de exemplo à constatação de que não sabemos ouvir e muito menos  transmitir com isenção o que chega aos nossos ouvidos.

      Hoje, quando aparentemente, a comunicação travestida de diálogo  ocorre simultaneamente com milhares de interlocutores, ou seja, internautas, temos a transmissão cifrada de conteúdos cujo o alcance é instantâneo mas a sua assimilação padece de consistência porque não está referendada no aprofundamento de uma análise crítica, é objeto de leitura dinâmica e dependendo do interesse que desperta é reproduzida cedendo a uma série de interpretações, algumas desprovidas de qualquer nexo.

      Até bem pouco tempo, usava-se o termo curtir  como demonstração de prazer, atualmente, nas redes sociais, curte-se até notícia de morte  de ente querido. É mais fácil curtir como quem diz: “Oh! Fiquei sabendo  mas não posso fazer nada, ta legal?” do que dar um telefonema ou fazer uma visita à pessoa que passa  pelo infortúnio. Nas redes sociais todos são amigos, mas presencialmente, poucos se conhecem e há os que se conhecem mas quando estão fisicamente juntos, preferem “se comunicar” pela internet.  A comunicação através das  redes sociais é uma grande conquista da humanidade, o problema está na falta de diálogo somada as exigências do mundo moderno que nos obriga a fazer uma corrida contra o tempo.