CAPÍTULO TRÊS

COMPROMETIMENTO E PRODUTIVIDADE           

Nos dias atuais, o que mais ouvimos em nossa rotina de trabalho são episódios relacionados ao aumento da produtividade de equipes e ou colaboradores. Ficamos pressionados em demonstrar níveis de rendimento cada vez maiores no trabalho que desenvolvemos que às vezes esse mesmo rendimento desejado não acontece. Além da própria pressão exercida de forma desconcertante, que em muitos casos acaba inibindo o trabalhador, o que mais pode contribuir para o não atendimento das metas de produtividade? A resposta é comprometimento. Assim como a produtividade, os níveis de comprometimento das equipes nas organizações estão cada vez menores, e isso não se reflete somente na produtividade, mas também em outros aspectos relevantes para a organização, tais como: eficiência, custos, qualidade e atendimento.

            Prova disso, temos os indicadores de Turnover que evidenciam esta realidade. Quando equipes ou indivíduos não se sentem comprometidos com o trabalho que desempenham, a primeira atitude tomada é o desligamento do trabalho atual para então buscar algo mais motivador, seja no âmbito do trabalho em si ou atrelado ao fator financeiro. Esse movimento impede que a organização consiga estabilizar seu ambiente produtivo e consequentemente o não atendimento das metas estipuladas, sem falar é claro na total instabilidade da curva de aprendizagem dos envolvidos. O comprometimento faz com que o indivíduo estabeleça internamente uma fonte de energia que o mova na concretização de suas atividades, independentemente das adversidades impostas, levando-o a melhoria de sua produtividade e também melhor aproveitamento do tempo.

            Não se pode pensar que, somente pelo fato de se estabelecer metas arrojadas de produtividade, a organização irá caminhar em verdes vales. A questão é muito mais complexa do que se imagina. Logicamente, trabalhar com metas tangíveis e bem planejadas leva a organização a patamares mais respeitosos e confiáveis. No entanto, o passo seguinte a esta trajetória é o fato de se trabalhar formas que propiciem aos indivíduos envolvidos nos processos produtivos, melhores condições de trabalho que influenciem direta ou indiretamente o nível de comprometimento para com o trabalho realizado e também à organização. Essa atitude sim, de forma concreta, irá levar a organização a níveis de excelência tão almejados nos dias atuais. No objetivo da excelência, não precisamos de atos, mas sim de hábitos e o comprometimento nos leva a hábitos cotidianos saudáveis e contagiantes.

            Em um passado não muito distante, acreditava-se que pessoas somente por serem qualificadas, era sinônimo de produtividade. Um total engano. Produtividade está diretamente ligada ao comprometimento. Sem comprometimento não há produtividade. O indivíduo que se compromete com o que faz, traz para si a questão do melhor aproveitamento dos recursos disponíveis e necessários para a realização do trabalho. A questão também pode ser vista no sentido de que, pessoas altamente motivadas e comprometidas, mas sem preparação, implicam em um grande risco para a organização. No mesmo sentido, pessoas altamente preparadas, mas sem motivação e comprometimento representam um risco muito maior, uma vez que, possuem uma grande capacidade em se produzir problemas de forma rápida e inconsciente. Com isso, todo cuidado é pouco. O que temos que ter em mente é o fato de que comprometimento é a palavra chave e educação e treinamento são artifícios que contribuem para a correta definição e mensuração de produtividade, seja de forma permanente ou em contínua evolução. Nesse caminho, cabe ainda enfatizar que o comprometimento é aplicável em todos os níveis da organização, o que nos leva a crer que se trata de algo muito simples. Porém, não se iluda. A precaução é a palavra de ordem.

            Comprometimento é algo muito íntimo do indivíduo e está exposto a inúmeras variáveis. Tentar criar comprometimento de forma mecanizada é errôneo e com consequências devastadoras. Uma coisa é cobrar produtividade e outra comprometimento. Com o apoio de indicadores de desempenho, podemos comparar dados relativos a produtividade em períodos distintos e então tomar ações técnicas que viabilizem melhorias que irão contribuir para o atendimento dos níveis estabelecidos. Já para o comprometimento, não temos estes indicadores. Nesse sentido, em comparando com a produtividade que é o quesito primário de análise, o comprometimento acaba por se tornar um quesito secundário, mesmo tendo em sua síntese toda a importância cabível na inter-relação com a produtividade. A própria evolução humana já vem nos demonstrando que somos seres com uma insatisfação constante. Quando almejamos alguma coisa ou uma conquista e quando a realizamos, imediatamente já estabelecemos um novo patamar a ser alcançado. Ficamos expostos quase que imediatamente às nossas insatisfações e essas, de forma negativa, acabam por influenciar o nosso comprometimento para com a realidade. O sonho se sobrepõe ao real e a necessidade de mudança se aflora, nos deixando vulneráveis e insatisfeitos com o que temos de imediato. Essa variação, mesmo não trazendo resultados favoráveis, proporciona uma gama de possibilidades de evolução.

COMO PODEMOS NOS MANTER COMPROMETIDOS?            

            O conceito de comprometimento trata de um envolvimento harmônico e psicológico entre as pessoas e também os aspectos relativos ao ambiente de trabalho em que estas pessoas estão inseridas. Para o comprometimento organizacional (que é o tema tratado neste capítulo), a questão flui no sentido de que, esse envolvimento está embasado em uma aceitação dos valores e objetivos organizacionais estabelecidos, proporcionando um sentimento de lealdade, permanência e trabalho. A busca por artifícios (íntimos) atrelados ao que a organização espera do funcionário faz com que o indivíduo se mova e estruture no sentido de permanecer produzindo, independentemente das fagulhas emocionais que assolam o ser em determinados momentos da vida. O foco deve estar não somente no patamar a atingir, mas sim na sua permanência. E sem comprometimento, essa permanência se torna mais difícil e desgastante. Podemos abordar as seguintes questões como alternativas para nos mantermos comprometidos em nosso dia a dia. São elas:

Você deve estar comprometido com você mesmo, naquilo que você é e quer. Estando neste estado, os outros quesitos como trabalho e vida pessoal acabam por se ajustar com o decorrer do tempo;

Tenha decidido em você que, comprometimento não é e nem será o único agente de sucesso em sua vida, e que o sucesso não pode ser o único agente propulsor para seu comprometimento. Manter-se comprometido é uma escolha e não um meio;

Manter-se comprometido é uma tarefa árdua, e, portanto, dedicação e vontade serão as palavras de ordem. Utilize-se de todos os artifícios que influenciem positivamente o seu interior. A busca pelo autoconhecimento pode ser a chave para alavancar novos e altos voos;

Procure estabelecer limites. Você não é perfeito e não tem a obrigação de saber tudo. Oferecer ajuda é algo grandioso, porém, dentro daquilo que não venha a atrapalhar você. Não entenda comprometimento com submissão. Saiba entrar e sair de cena e aprenda a lidar bem com isso.

            Também é importante compreender que, para se manter comprometido com algo ou alguma coisa, outras deverão ser renunciadas, seja de forma definitiva ou por determinado tempo. O principal erro visualizado na condição de diminuir o comprometimento humano está vinculado às questões de completude, ou seja, a busca constante e plena em se fazer conseguir tudo de uma única vez, seja em curto ou longo prazo. Esta ambição por completude acaba por gerar insatisfações específicas que levam o indivíduo a um estado menos comprometido com certas atividades ou atitudes que não lhe agrada desenvolver, mas que são necessárias ao alcance dos objetivos estabelecidos. Na minha visão, o comprometimento pode ser encarado muito mais como um estado de “transe psicológico” capaz de provocar no indivíduo reações positivas e inesperadas quando exposto a altos níveis de estresse e adversidades do que algo ligado única e exclusivamente a um estado emocional equilibrado e feliz. Conheço vários casos em que o indivíduo se encontra debilitado emocionalmente (por problemas diversos que não cabe tratar aqui) e mesmo assim se mantêm comprometido com a vida e trabalho. Para estar comprometido, não necessariamente, deve se encontrar em estado de felicidade ou realização plena, até mesmo porque, a felicidade plena é episódica e deve ser assim.