COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS PARA PRODUÇÃO DE ADUBOS

 

1. ATIVIDADES HUMANAS PRODUZEM GRANDE QUANTIDADE DE RESÍDUOS ORGÂNICOS

As atividades humanas geram grandes quantidades de resíduos orgânicos que podem ser aproveitados, após decomposição, como adubos para as plantas. Os resíduos de origem vegetal são encontrados facilmente no meio ambiente: restos culturais, palhadas, capins, folhas, galhos, cascas de árvores, serragem, bagaços de frutos, lixo orgânico, os quais podem ser enriquecidos quando adicionados a resíduos de origem animal como estercos, os quais aceleram, também, o processo de decomposição. 

2.       O QUE É COMPOSTAGEM

Compostagem é um processo de decomposição aeróbia de resíduos orgânicos de origem vegetal e animal, realizado por microorganismos que liberam calor, sob condições controladas, que produz um material estabilizado conhecido como húmus, rico em nutrientes para as plantas.

3. QUAIS AS VANTAGENS DA COMPOSTAGEM?

  • Reciclagem de nutrientes presentes nos resíduos orgânicos, prontamente absorvidos pelas plantas e microorganismos do solo.
  • Eliminação de gases que causam cheiro desagradável, resultantes do processo natural de decomposição da matéria orgânica.
  • Inativação de organismos fitopatogênicos.
  • Aproveitamento do lixo urbano.

Vantagens da utilização dos compostos orgânicos

  • Quando aplicados no solo aumentam a capacidade de retenção de água solo, a porosidade, a aeração e equilibra as variações de pH e temperatura.
  • Ativam a vida do solo, favorecendo a reprodução de microorganismos benéficos às culturas agrícolas.
  • Fornecem os nutrientes que as plantas precisam para seu crescimento e desenvolvimento.
  • Estimulam o desenvolvimento das raízes das plantas, que se tornam mais capazes de absorver água e nutrientes do solo.

4. COMO FAZER A COMPOSTAGEM?

O composto deve ser produzido num local sombreado ou coberto para evitar o excesso de luz, em terreno de textura média e de pequena declividade para facilitar o escoamento do excesso de água, próximo a uma fonte de água para facilitar as regas e perto do local a ser utilizado.

O método mais comum de compostagem é conhecido como Indore e foi criado por Albert Howard no Instituto da Vida das Plantas de Indore (Índia em 1924 a 1933). Esse tipo de compostagem é feito alternando-se uma camada de 15 a 20 cm de resíduos de origem vegetal.

com estercos (camada de 5 cm), podendo ser adicionados em pequenas quantidades e dependendo da disponibilidade: farinha de sangue, ossos ou de chifre, calcário dolomítico, fosfato de rochas, termofosfato magnesiano, cinzas em concentrações inferiores a 1% do volume total do composto. Os aditivos devem ser colocados em cima da palhada, pois esses materiais são mais pobres em nutrientes.

Várias camadas da pilha ou meda vão sempre alternadas com resíduos orgânicos e estercos até uma altura mínima de 0,9 m e máxima de 1,5 m, devidamente umedecidos com água. A largura da base pode variar de 1,0 a 3,5 m e o comprimento depende da disponibilidade de material, até 10 m para facilitar o revolvimento.

5. CUIDADOS QUE DEVEM SER OBSERVADOS PARA UMA BOA COMPOSTAGEM

a) Relação Carbono/Nitrogênio (C/N)

Os materiais usados na compostagem podem ser classificados em:

Resíduos de alta relação C/N (mais de 35/1), ou seja, ricos em Carbono e pobres em Nitrogênio. Exemplos: palhas, folhas, capins, serragem, cascas, etc.

Resíduos da baixa relação C/N (menos de 35/1), são mais ricos em nitrogênio e de decomposição mais rápida, por exemplo, os estercos. Por isso se recomenda uma proporção de 70% de resíduos de baixa relação C/N para 30% de resíduos de alta relação C/N.

b) Manter o teor adequado de umidade na meda

O teor de umidade recomendado na meda deve ser em torno de 50 a 60% da capacidade de retenção de água da mistura. Portanto, o material de compostagem deve ser regado desde o início da montagem da pilha ate o final, no dia seguinte verificar se a água aplicada não foi em excesso, para tanto, espremer uma bolota do material, se a água não escorrer pelas mãos, mas somente umedecer os dedos a umidade está no ponto ideal. Outra maneira de conferir visualmente se a umidade está em excesso é observar a presença de moscas e mau cheiro, nesse caso suspender as regas ou se for necessário revolver a pilha.

c) Controle da aeração

A areação no interior da meda é importante para a sobrevivência dos microorganismos, sendo condição básica para uma boa fermentação, portanto o teor de oxigênio no interior da pilha de estar em torno de 15 a 17%. O controle da aeração é feito por meio de revolvimentos e manutenção do teor adequado de umidade em trono de 50 a 60% da capacidade de retenção de água da mistura.

d) Controlar a temperatura na meda

A temperatura da leira nos primeiros 15 a 20 dias atinge 60 a 70 oC, que é importante para eliminar patógenos (fungos e bactérias), causadoras de doenças nas plantas. Após esse período a temperatura permanece entre 45 a 55 oC, e vai decrescendo até atingir a estabilidade por volta de 40 dias. O revolvimento da leira nessa fase de aquecimento é importante para eliminar larvas e microorganismos que causam doenças as plantas.

A temperatura deve ser monitorada, em intervalo de três dias, a partir do quinto dia da montagem da leira. Para medir a temperatura, colocar um cano de PCV dentro leira, introduzindo um termômetro de escala 0-100 oC, preso na ponta de um bambu. Outra maneira é introduzir um pedaço de vergalhão de ferro com diâmetro aproximado de 7,0 mm. Tanto o termômetro quanto o vergalhão devem ser introduzidos na leira à profundidade de 50 cm a 1,0 m, onde permanecem por 5 minutos. No caso do vergalhão, ao retirá-lo segurar, imediatamente, com a mão a parte mediana do mesmo. Se a temperatura for tolerável significa que o processo de compostagem está ocorrendo normalmente. Se estiver de morno a frio, há necessidade de aumentar a temperatura por meio de reviramento.

e) Revolvimento de meda

Cabe lembrar que o revolvimento manual da pilha dá trabalho e deve ser feito de acordo com a disponibilidade de mão-de-obra do local. O ideal é que sejam feitos pelo menos três revolvimentos no primeiro mês de compostagem, aos 7, 17 e 30 dias, aproximadamente para se obter um material livre de microorganismos que causam doenças nas plantas. Nessas datas, deve-se aproveitar para verificar a umidade da pilha e, caso seja necessário, irrigar o material para torná-lo úmido, mas não encharcado. Lembrar que o revolvimento é necessário, caso a pilha não esteja esquentando nos primeiros 25 dias após o início da compostagem, nesse caso observar se não está ocorrendo excesso de água.

6. COMO SABER SE O MATERIAL ESTÁ PRONTO PARA UTILIZAÇÃO?

Geralmente o composto está humificado entre 60 e 120 dias dependendo do material utilizado na compostagem (proporção de resíduos orgânicos e estercos), teor de umidade e revolvimentos. Para verificar se o composto está curado de forma prática, colocar um pouco do material entre as mãos e esfregar. O composto pronto deixará as mãos sujas de graxa. Apresenta com escura, tipo pó de café, sem odor, não se distinguindo mais os seus materiais componentes.

8. COMO UTILIZAR O COMPOSTO ORGÂNICO NA ADUBAÇÃO DE PLANTAS?

O material decomposto pode ser utilizado incorporado ao solo ou como cobertura morta, mulche.  Pode ser utilizado, também na produção de mudas e enriquecido com fontes solúveis de fósforo ou potássio.

As dosagens recomendadas variam de acordo com a disponibilidade do composto, tipo de cultura ou tipo de substrato. Para cultivo de hortaliças: 2 a 10 L m2 de canteiro ou sulco. Em sementeiras para produção de mudas: 10 a 12 L m-2 de canteiro (Figura 2).

Na produção de mudas: podem ser usados sem nenhuma mistura com solo, ou misturados com solo fértil ou terriço de mato virgem na proporção de 1:1 (solo/composto). Exemplo de substratos para bandeja: composto orgânico mais casca de café carbonizada na proporção 1:1, adicionar 20 a 25 g/L de 4-14-8 (NPK).

 

Tabela 3. Composição de alguns materiais empregados no preparo de compostos

Material

M.O. (g/kg)

C/N

C (g/kg)

N (g/kg)

P2O5 (g/kg)

K2O (g/kg)

Arroz (casca)

850

63/1

472,5

7,5

1,5

5,3

Arroz (palha)

543,4

39/1

304,2

7,8

5,8

4,1

Banana (talos e cachos)

852,8

61/1

469,7

7,7

1,5

5,3

Cacau (cascas do fruto)

886,8

38/1

486,4

12,8

4,1

25,4

Esterco de carneiro

564,9

15/1

319,5

21,3

12,8

26,7

Esterco de gado

621,1

18/1

345,6

19,2

10,1

16,2

Esterco de galinha

540,0

10/1

304,0

30,4

47,0

18,9

Esterco de proco

462,8

10/1

254,0

25,4

49,3

23,5

Feijão Guandu

959,0

29/1

524,9

18,1

5,9

11,4

Capim colonião

910,3

27/1

504,9

18,7

5,3

-

Mandioca (folhas)

916,6

12/1

522,0

42,5

7,2

-

Milho (palhas)

967,5

112/1

525,0

4,8

3,8

16,4

Palha de café

999,9

31/1

511,5

16,5

1,8

18,9

Plha de feijão

946,8

32/1

521,6

16,3

2,9

19,4

Serragem de madeira

943,5

865/1

519,0

0,6

0,1

0,1

Fonte: Adapatado de Kiehl (1981 e 1985). M.O. –Materia Orgânica; C/N relação carbono/nitrogênio.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

COUTO, J.R. do; RESENDE, F.V de; et al. Instruções práticas para produção de compostos orgânicos em pequenas propriedades. Brasília: Embrapa Hortaliças, junho de 2008. (Comunicado Técnico, 53).

MELO, G.M.P de; MELO, V.P de; MELO, W.J de. Compostagem. Jaboticabal, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2007. 10p.

Coordenação de Extensão: Profa. Elaine Oliveira Costa de Carvalho

 

Orientador: Prof. Antonio Anicete de Lima

Monitores: Camila Gomes Silva, David Eufrázio de Oliveira, Eric Rodrigues e Leandro Vieira Krause.