COMPORTAMENTO HUMANO E SUAS AÇÕES PSICOLÓGICAS

Por MARÍLIA REGINA DE ALMEIDA | 24/01/2019 | Psicologia

COMPORTAMENTO HUMANO E SUAS AÇÕES PSICOLÓGICAS

Marília Regina de Almeida.

            A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano a partir de suas ações e a maneira como ele se estabelece na sociedade. A função de um psicólogo é auxiliar um indivíduo no processo de autoconhecimento. Na área da educação, o psicólogo desempenha pelo menos duas funções pertinentes para o sistema educacional, são elas: o estudo de classes nas quais as pessoas se desenvolvem, e o estudo da aprendizagem nas condições que a tornam mais eficiente e menos complexa.

            A Psicologia da Educação tem como objetivo tornar o ensino-aprendizagem mais eficiente a partir da utilização de informações e pesquisas referentes ao comportamento humano já estabelecidos por essa ciência. Sendo assim, no âmbito escolar, essa ciência se propõe a explicar que o estudante é um ser concreto que possui sentimentos, desejos, emoções e características físicas e intelectuais que o tornam único. Portanto, ele deve ser compreendido pelos profissionais da educação e não rejeitados como se fosse simplesmente uma criatura indisciplinada que não possua condições para se desenvolver.

            Além disso, a Psicologia da Educação também estuda o papel do professor e garante que não basta somente que ele conheça o seu aprendiz, mas que ele tenha conhecimento de como se dá o processo de ensino-aprendizagem, quais métodos funcionam e quais são obsoletos para que a classe aprenda de maneira eficaz, além da relação entre os membros.

            A sociedade acredita em um modelo de ensino o qual prega que somente os estudantes aprendem em sala de aula. No entanto, sabemos que qualquer cidadão está passível de adquirir conhecimento, mesmo que ele tenha uma idade superior aqueles para quem ele compartilha o seu conhecimento. O professor aprende com os estudantes, e aprende também quando ensina. Ou seja, os aprendizes são o caminho para o autoconhecimento do professor. O mestre não é um ser supremo dominador da verdade, do conteúdo, tampouco dos seus estudantes. Assim como a figura do professor tem de ser respeitada, a figura do discente também deve ser. Na escola ideal não se deve haver hierarquia. O respeito deve ser recíproco.

            O professor é um espelho para a turma. Muitas vezes, a classe aprende mais com as atitudes do professor do que com os conteúdos que ele repassa. E é importante que todo profissional tenha consciência disso, já que ele está passível de imitações.

            Uma das formas mais eficientes para se conhecer um estudante é por meio das participações extraclasses. Nos eventos que a escola promove, na hora do intervalo, no contraturno e em outros momentos que o professor não está direcionado à sala de aula, é que os discentes aprenderão sobre a convivência social, o gosto pela arte, a simpatia com jogos e atividades afins. A escola não deve se isolar da comunidade, pois ela está a serviço da sociedade.

            Para que o professor tenha sucesso nas atividades que ele desempenha, é de suma importância que dele tenha satisfação pelo trabalho que faz. É claro que o sistema não tem proporcionado condições de trabalhos dignas para que os professores se sintam motivados a realizarem atividades que almejam desenvolver. E são nesses momentos de indignação que a luta por condições melhores de trabalhos e a conscientização de órgãos públicos deve acontecer. É importante que a comunidade se junte aos trabalhadores/servidores, de modo que se compreenda que as greves, por exemplo, são feitas para que se conquistem e cumpram os direitos dos homens.

            A Psicologia da Educação é indispensável para o profissional que procura compreender os seus educandos, na intenção de desenvolver atividades eficientes. Trabalhar com crianças não é o mesmo que trabalhar com adolescentes. Por isso temos de ter a noção de que todo estudante está em processo de formação, pois a cada idade eles possuem necessidades, características e modos diferentes para assimilar as coisas e os conteúdos. É pensando nessas ações que se faz tão importante que o professor conheça os aspectos físico, intelectual, emocional e social das crianças, aspectos que são, geralmente, ignorados pela escola, já que somente o intelecto é mais valorizado.

            A aprendizagem se dá à medida que o comportamento muda. Repetir discursos ou comportamentos não garante a aprendizagem. Mouly defende que existem sete etapas para o processo de aprendizagem: a motivação, pois se o estudante não tiver motivação e interesse em aprender, ele não o fará, mesmo que o professor se esforce para tal; o objetivo, o qual deve ser concernente ao objetivo proposto pela escola e pelo professor, de modo que satisfaça suas necessidades; a preparação e prontidão, a qual defende que não adiante o estudante estar motivado e ter um objetivo se ele não estiver maturo para traçar um objetivo; os obstáculos, pois se não existirem barreiras, provavelmente não haverá a necessidade de aprendizagem. Sendo que os obstáculos podem ser de natureza social, tais como a proibição dos pais, a censura governamental, ou baixo salário, ou pessoal, como a falta de estrutura ou limitações físicas; as respostas, maneiras nas quais o indivíduo agirá de modo com a sua interpretação, visando a melhor maneira de vencer os obstáculos; o reforço, quando o obstáculo é superado de uma maneira que poderá ser repetida posteriormente quando ele se deparar com uma dificuldade semelhante; e, por fim, a generalização, a qual consiste basicamente na anterior, na qual o indivíduo utilizará da resposta correta para o repertório de conhecimentos, sendo que essa nova aprendizagem será utilizada sempre que for necessário.      

            O estímulo-resposta nada mais é do que a aprendizagem que se dá por meio de uma resposta após um indivíduo ser estimulado por alguém que o recompensará com alguma vantagem.

            No campo da aprendizagem, os psicólogos não defendem a ideia de que as pessoas só aprendem porque alguém as ensina, ou porque elas aprendem por livre e espontânea vontade. Isso explica ocasiões em que alguém tenta ensinar inúmeras vezes e mesmo assim o indivíduo não consegue compreender. O processo de aprendizagem acontece durante toda a vida, assim como a evolução. Há muito tempo acreditou-se que a Terra era o centro do Universo; e por conta disso quem defendia o inverso e contrariava os ensinamentos do clero era morto. Hoje, devido ao avanço da Ciência e da Tecnologia sabemos que a Terra é apenas um planeta presente na Via Láctea, insignificante dentre de um Universo infinito.

            A busca pela realização é um dos fatores principais que motivam os seres humanos, e que traz benefícios para a sala de aula. A curiosidade, ou talvez, a necessidade do conhecimento é uma das necessidades específicas a serem ofertadas pelas instituições de ensino. Este é um dos motivos pelos quais se é tão importante que o Estado invista em projetos, análises e pesquisas para que haja interação e participação dos estudantes.

            Visando as relações exteriores à escola, nas quais os indivíduos estabelecem relações estáveis entre colegas, vizinhos, familiares e fins, a relação escolar deve seguir a mesma linha de raciocínio. A relação entre professores e estudantes também deve ser de afeto, então porque seria diferente? O estudante não é um objeto que o professor manipula. O estudante não é uma gaveta que guarda informações. Todo estudante é capaz de raciocinar, discutir, ter voz ativa, ter opinião, e decidir o que é melhor para si.

            Como a Psicologia é a ciência que estuda o comportamento dos indivíduos que compõe uma sociedade, sabemos que os comportamentos são respostas a partir do ambiente físico social. As pessoas são responsáveis por despertar comportamentos diferentes em cada pessoa, como o despertar de sentimentos, conhecimento, sensações agradáveis, entre outros; assim como também podem despertar sentimentos de repulsa. Isso também acontece em sala de aula. Um aprendiz só vai se aproximar e se sentir seguro quando ele sentir que essa aproximação é agradável; assim como é notável que muitos professores só se aproximam daqueles estudantes com os quais ele se sente bem. Logo, isso reforça a ideia de que as pessoas são seletivas e não são neutras. E isso é natural da estrutura humana, e com o professor não seria diferente, uma vez que ele é, acima de tudo, um ser humano comum.

            Um dos maiores causadores que contribuem para a dificuldade no processo de aprendizagem e para a rebeldia no sistema escolar é a falta de liberdade em sala de aula. Geralmente, devido ao ensino tradicional do velho modelo de escola do século XX, os professores tendem a ser mais autoritários, pois esse foi o modelo de formação pelo qual ele passou no seu processo de desenvolvimento. Logo, conforme afirma Paulo Freire, quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar o opressor. Em um ambiente no qual a liberdade é estabelecida, o discente se sente seguro, confiante e motivado para aprender o que lhe é repassado e consequentemente se interessa pelas atividades que ele realiza, acreditando na sua capacidade de melhorar e se dedica para a realização de suas tarefas; e como resultado alcança os objetivos traçados. O trabalho em liberdade gera entusiasmo e resulta na realização pessoal e em atitudes positivas para a convivência em sociedade.

            A empatia é um sentimento que permite que o professor compreenda as reações intimas dos seus aprendizes. Quando um professor sabe reconhecer que um estudante possui dificuldades, habilidades ou que se destaca, ele acaba por não estabelecer estigmas ou rótulos que desestimulam o estudante.

            A avaliação é um processo gradativo que não deve ser feito somente ao final do processo de aprendizagem. Desde o início, lá no planejamento o professor já deve utilizar deste recurso. Um bom profissional é aquele que planeja suas aulas e não simplesmente repassa conteúdos soltos, os quais não fazem parte do contexto dos seus estudantes. O professor deve saber quando os estudantes estão aprendendo e quando suas aulas não estão alcançando os objetivos.

            Avaliar a criatividade da turma é de suma importância, pois é a partir dessa observação que será possível ter uma noção de qual função um estudante poderá desempenhar no futuro de acordo com o que ele mais estima. Infelizmente o sistema acaba rotulando de forma positiva as profissões mais almejadas e com maiores remunerações e excluindo funções que são consideradas fracas para quem sonha com uma vida digna. No entanto, o que deve ser ensinado de fato é que todo trabalho é digno desde que ele seja feito de maneira positiva e amorosa.

O despertar da criatividade deve ser estimulado pelo professor, de modo de a curiosidade e a pesquisa promova no aprendiz a originalidade e a apreciação por culturas externas à sua e que o novo também proporciona boas experiências.

            O modelo tradicional de avaliação é aquele no qual o docente elabora um teste que “medirá” se os estudantes alcançaram a meta no conteúdo específico de uma disciplina. Portanto, temos de ter em mente que nem sempre os estudantes estarão bem para a realização de uma avalição, e isso não significa, necessariamente, que aquele que tirou uma nota baixa não saiba aplicar o que fora estudado em sala, e aquele que tirou nota máxima é quem domina o conteúdo. A forma de avaliação ideal deve ser aquela que não seleciona os estudantes em bons ou ruins, mas aquelas que reconheça que os estudantes possuem habilidades distintas