Dedico ao saudoso padre, engenheiro agrônomo e colega docente da Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, José Maria de Albuquerque, que me ensinou muitas lições de botânica, especialmente da Taxonomia Vegetal e os significados de muitas das palavras latinas, cujos nomes científicos cultivo até hoje.

 

Tinha acabado de chegar em Manaus, Amazonas, para começar o curso de pós-graduação, nível de mestrado em Ecologia, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA para o qual fui aprovado e selecionado. Era o primeiro curso deste nível a ser realizado na região norte do Brasil. O INPA dispunha de diversas casas em seu campus de Manaus, local de realização dos cursos, para acolher pesquisadores e visitantes eventuais. Algumas delas foram disponibilizadas para os estudantes dos cursos de pós-graduação recém-criados nas áreas de Botânica, Ecologia, Entomologia e Ictiologia. Eram pessoas de todo o Brasil, sendo 50% delas, moradoras da região norte, isto um fato inédito e inovador nos processos de seleção semelhantes. Para atendem a mais estudantes de fora de Manaus essas moradias deveriam ser compartilhadas por dois ou mais casais ou solteiros.

Eu tinha acabado de casar em dezembro do ano anterior. Em meados de janeiro de 1976 embarcava eu, a esposa e o enxoval – Sim! Naqueles tempos era tradição e quase compulsório o casal montar os seus principais e indispensáveis móveis, equipamentos e utensílios domésticos do futuro lar, antes do casório! – no navio Lobo D’Almada, da Empresa de Navegação da Amazônia, ENASA, com destino à Manaus para fixar residência e estudar. Por sorte, tinha diversos parentes e um deles nos abrigou – o saudoso Tio Domingos e Tia Ena. Eu, a esposa e o enxoval.

Nos primeiros dias de convivência no INPA, tudo era novidade! Conversas e sotaques os mais diferentes de todo o Brasil. Gaúchos, Paulistas, Catarinenses, Paranaenses, Cariocas, Cuiabanos, Mineiros, Baianos, Pernambucanos, Maranhenses, enfim o Brasil adentro, se mesclavam com os Paraenses e Amazonenses. Além dos professores Brasileiros tinham os professores “gringos”. Americanos, Alemães, Indianos, Ingleses, Argentinos, Colombianos, Portugueses, em suma, quase um planeta todo reunido no campus, nas horas das refeições, na biblioteca e nas sessões semanais de palestras, conferências ou anúncios de meros comunicados, que se tornaram um dos marcos fenomenais desse período pujante na minha formação. Todo o INPA parava nesse dia, nessa hora!

Foi em um desses primeiros encontros ou em um meramente casual no campus, não me lembro bem desses detalhes, que recebi um convite aconchegante e até inusitado. Meu colega de trabalho, o saudoso padre José Maria de Albuquerque que faria pós-graduação em Botânica chegou pra mim e disse: – Estou te convidando para compartilharmos – essa palavra que hoje está na moda na comunicação digital – uma das casas daqui do campus. – Ficas num quarto e eu em outro. Sem maiores problemas. – Completou. Eu expliquei rapidamente que teria que consultar minha esposa e depois daria a resposta para ele. Na verdade, eu já tinha a minha resposta na ponta da língua que certamente coincidia com a dela, mas fiquei receoso que machucasse o meu colega, o qual prezava muito. Em outra ocasião, no dia seguinte, respondi pra ele. – Padre, eu sou recém-casado, trouxe todo o enxoval pra cá e decidimos começar uma vida em comum só nós dois. Estou procurando uma casa pra alugar. Portanto, te agradeço imensamente, mas será melhor assim.

Eu passava a semana inteira no INPA. Consegui alugar, com a ajuda decisiva de meu saudoso tio Domingos, um quitinete relativamente próximo do INPA, na av. Constantino Nery. Todos os dias pegava o ônibus e ia pro INPA, onde passava quase sempre o dia inteiro estudando e onde vez por outra, almoçava no bandejão. Pra minha sorte, alguns meses depois, fui contemplado no consórcio que entrara ainda solteiro, em Belém. Meu saudoso pai despachou pra mim o veículo pela balsa e logo, logo, pude desfrutar de mais uma autonomia em Manaus. Cerca de um ano depois nascia o meu primogênito. O saudoso padre Zé fez o seu batizado, assim como dos outros dois filhos que viriam alguns anos depois, já morando em Belém.