Como prever o futuro!
Por Avelino José Pereira Neto | 12/04/2016 | FilosofiaPor séculos o homem tem fracassadamente tentado prever o futuro. Quando falamos em futuro, as pessoas tendem a imaginar que é uma coisa que está bem além de nós. Algo intangível. Porém a verdade é outra. De fato, o futuro tem seu começo no agora, nas ações do presente e nas ações que se seguem. Essas ações, na verdade, são traduzidas em energia e é essa energia que define o “rumo” do futuro. Isso pode parecer metafísico, mas se fizermos uma análise bem concreta do que ocorre dentro das relações humanas, veremos como essas relações determinam o rumo do futuro. Ou pelo menos muito próximo dele. Como exemplo, citemos um time de esporte. Imaginemos um time com o seu quadro de jogadores, treinadores e técnico. São as relações entre os atletas e com o quadro técnico é que determinarão como esse time irá desempenhar durante os jogos e as competições. Um time pode realizar treinamentos constantes, cumprir todo o calendário de atividades físicas e técnicas. Porém se as relações entre os atletas e com a equipe técnica não estiverem niveladas num patamar de entendimento e de entrosamento, este time encontrará sérias dificuldades para atingir resultados satisfatórios. A entrada e saída de pessoas desse time também irá determinar como a performance desse time se dará. Isso porque as relações dentro desse grupo sofrerá mudanças. As novas relações (ações) irão gerar outro tipo de energia e essa energia será fundamental para o rumo dessa equipe. Isso pode ser observado todos os dias nos times esportivos, nos grupos de trabalho das empresas, nas equipes de governo de um país e assim por diante.
Em todo grupo humano seja ele esportivo, político, profissional ou religioso observamos três pilares fundamentais na sua composição. O primeiro pilar é o interesse mútuo ou afinidade. O segundo pilar é representado pela crença, naquilo que o grupo acredita. O terceiro pilar é o objetivo do grupo, ou aquilo que o grupo quer alcançar. Citemos por exemplo o grupo de empresários dentro de uma empresa de negócios. O interesse mútuo desse grupo é a geração de dinheiro e lucros advindos de negócios. Este grupo acredita que através de negócios e bons lucros, seus membros terão uma vida cada vez melhor, pois poderão comprar o que querem e gozar de uma de conforto e regalias. O objetivo do grupo é o crescimento de seus negócios, do poder da empresa sobre seus concorrentes e o aumento cada vez maior do lucro. Tomemos um grupo religioso como outro exemplo. Obviamente o que interesse desse grupo é a causa religiosa e o interesse espiritual. O grupo acredita que a crença numa entidade maior ou superior justifica a nossa existência. O objetivo é a disseminação dessa crença e a reverência a esse ser superior. Todos os grupos humanos têm como base esses três pilares e podemos observar essa composição desde os grupos mais simples até aos mais sofisticados. Outro elemento comum a todos os grupos é a relação entre as pessoas e os fatos que exercem influência sobre os grupos. Na verdade, são as relações entre as pessoas, conhecida como inter-relação, que irão definir o caminho dos diversos tipos de grupos humanos. Pois é dessa inter-relação que são produzidas as ações (processos, decisões, atividades, eventos, etc.) e é dessas ações que surgem a energia que promove o desenvolvimento e o avançar das atividades humanas. É como a luz produzida pelo o homem. Construímos usinas para gerar eletricidade, essa eletricidade é direcionada para as nossas casas e ao acionarmos os interruptores nos ambientes de nossas residências a energia é transformada em luz. Essa luz nos auxilia a desenvolver todo tipo de atividade humana, desde a leitura de um livro até o processamento dos mais sofisticados equipamentos desenvolvidos pelo o homem. Assim, a inter-relação humana produz energia e essa energia é transformada em algum tipo de resultado que irá impactar como vivemos e como avançamos na história. Os fatos que acompanham o caminhar da humanidade fazem parte desse processo. Esses fatos podem ser de ordem natural como um tsunami, um abalo sísmico, assim como podem ser causados pela ação dos homens como um assassinato de um presidente, um ataque terrorista, etc, ou pela combinação de ambos como o desastre da barragem de Mariana em Minas Gerais.
Esses fatos ocorrentes podem ser fatos internos ou externos que fogem ao controle do grupo. Porém eles determinam de alguma forma o curso das coisas. Em certas ocasiões, alteram completamente o rumo ou destino das coisas.
Maria Luíza planejou detalhadamente seu aniversário para passar com os amigos. Decidiu que seu aniversário seria comemorado num determinado bar da Vila Madalena em São Paulo. Como parte do planejamento, ela enviou mensagens ao seu círculo de amigos avisando-os sobre seu aniversário. Reservou uma área no bar escolhido, pagou pelos tira-gostos e entradas. Dois dias antes do evento, ela reenviou mensagens relembrando seus amigos sobre a comemoração, que por sinal, todos confirmaram que estariam lá. Porém na noite de seu aniversário, a pessoa mais esperada por ela, não apareceu. Mesmo com tantos amigos ao seu redor, Maria Luíza ficou um pouco decepcionada e mal pode esconder seu desapontamento. Era uma noite para ser de completa felicidade e festa, mas algo não correu como planejado. No dia seguinte, Maria Luísa ficou sabendo, através de um amigo, que Paulo havia sofrido um grave acidente de carro e que por isso mesmo não pode comparecer, nem avisá-la. Vejamos aqui que um acontecimento externo mudou não só o curso de algo planejado, como também, a dinâmica do grupo que sofreu de alguma forma com as ações desse fato. Podemos citar o rompimento da barragem de rejeitos da Samarco em novembro de 2015 - que destruiu o distrito mineiro de Bento Rodrigues como um fato determinante para a mudança radical nas vidas de milhares de pessoas em Minas Gerais e no Espírito Santo. Um fato externo que por força da irresponsabilidade de empresas, técnicos e outras instituições alterou por completo a vida de vários municípios e das pessoas que de alguma forma tinham relações com essas regiões. Fatos internos são fatos que ocorrem dentro dos grupos. Esses fatos ocorrem dentro do meio aonde as pessoas desse grupo se relacionam. Por exemplo, uma briga entre participantes de um clube de futebol ou a eleição de um novo presidente do clube. Esses fatos, tanto externos como internos criam ações e essas ações geram energia e essa energia se propaga dentro do grupo impactando as pessoas e alterando o curso das coisas. São essas alterações dentro das inter-relações das pessoas que nos impede de prever exatamente o futuro das coisas. Pois como essas mudanças são externadas através de energia, e energia se transforma a toda hora, torna-se bastante difícil prever o futuro. Porém nem tudo é incerto. Como o futuro também é ciência e ciência pode ser estudada, o futuro também pode ser contemplado de uma outra forma.
Quem não conhece a expressão: “O futuro a Deus pertence!”? É uma expressão gótica advinda do mundo antigo no qual os sacerdotes e videntes diziam que o futuro aos deuses pertencia. Mesmo vivendo no século XXI, ainda é bastante comum ouvirmos tal expressão. Essa expressão representa a visão de que o futuro está totalmente fora do controle de nós seres humanos. Uma contradição e tanto, se a analisarmos dentro do pensamento moderno. Ora, o futuro sem a ação humana é um futuro natural ou futuro mecânico. É aquele futuro do relógio aonde os ponteiros giram, o tempo passa, mas nada acontece. O futuro real é aquele que é determinado justamente pela ação do homem e dos fatos através da história. O futuro é algo desenhado pelas ações que cada sociedade exerce através dos tempos e de sua história. Eu diria que o futuro somente existe porque existem seres pensantes, pois sem a existência da consciência não existe passado, nem presente e tão pouco futuro! Goste ou não isso é fato. É a nossa consciência que nos permite imaginar e conceber o futuro. E o futuro por sua vez, impulsionado por essa ação da consciência nos presenteia com mais descobertas, com novos fatos e a própria evolução das coisas. Se você ainda discorda, imagine você o ser humano há cinco milhões de anos atrás vivendo em tribos e lutando pela sobrevivência. Estes seres humanos tinham concepção de futuro? Claro que não, pois a consciência como a conhecemos agora, não existia. A preocupação desses primeiros seres era exclusivamente com a sobrevivência das tribos. Eles nem sabiam que eram seres humanos! A evolução somente passa acontecer com advento da fala, da escrita e do desejo de mudar o meio em que viviam. É o desejo que revela a consciência, e através da consciência, o homem descobre a sua existência. Essa é a maior descoberta da humanidade! É a partir dessa descoberta que o futuro passa a existir. Podemos dizer que é o nascimento do futuro. O nascimento do futuro semeia o nascimento da divindade. É aí que o homem descobre Deus, ou pelo menos, o imagina. Por isso, goste ou não, Deus somente existe para os homens se houver a consciência! Se por algum motivo a consciência humana for roubada, Deus irá desaparecer de dentro da nossa concepção. Voltaremos a ser seres pré-históricos e ponto final.
Então já descobrimos que o futuro nasce da nossa consciência. A consciência de quem somos nos revela a nossa existência e assim imaginamos o que é o futuro. Porém até alguns séculos atrás, nós, seres humanos, acreditávamos que o futuro a Deus pertencia. Essa revolução da descoberta de que as nossas ações é que irão determinar o futuro nasce praticamente com a revolução industrial. São as ideias de Karl Max e Friedrich Hegel as primeiras sementes filosóficas dessa mudança. Porém como ideias insipientes do poder de mudança trazem consigo falhas. Uma delas é a ideia quase linear do pensamento dialético da evolução. Outra falha foi acreditar que estabelecendo um modelo de ditadura do proletariado a evolução da sociedade humana se transformaria radicalmente e o futuro seria alterado somente com esse desejo e essa dinâmica. Comparando o pensamento filosófico de Mark à ciência da física clássica, seria mais ou menos como o pensamento de Newton. Uma coisa meio mecânica. Hoje sabemos que a equação é muito mais complexa. Ela é mais complexa porque existe o fenômeno das inter-relações e da energia criada por essas relações. Como essas inter-relações são dinâmicas e mudam a todo momento a evolução da sociedade também muda. Porém, há mais um componente somente explorado em um passado recente que é o do Universo da Consciência. Sim, além do “bioma” das inter-relações humanas e da energia criada por essas inter-relações, há um componente ainda pouco investigado que é chamado de "Universo da Consciência". Deepak Chopra, médico Indiano, é um grande estudioso e propagador da ideia do universo da consciência e de sua relação como o universo quântico.
Mas, o que é isso?
Como seres humanos que somos vivemos em comunidades e essas comunidades formam pátrias e essas pátrias se traduzem em países. Pois bem, imaginemos um bioma chamado Brasil e esse Brasil tem dentro de seu meio milhões de pessoas se inter-relacionado a todo momento nas mais diversas formas. Como já descrevemos, essas relações e inter-relações geram uma quantidade incrível de energia que se espalha determinando comportamento social, pensamento social, a nossa política, a nossa economia e assim por diante. Como sabemos a energia não se perde, apenas se transforma. Então para aonde essa energia vai? Bom, é aí que entra o “universo da consciência”. No princípio do século XX, alguns cientistas começaram a dar alfinetadas no conhecimento convencional e mecânico de como nós seres humanos pensávamos. Apresentavam ao mundo as novas ideias de um mundo quântico. Um mundo numa dimensão antes nunca contemplada. Afirmavam que uma matéria poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo e que comportavam de acordo como eram observados. Coisa de cientista maluco! Mais de cem anos depois, o estreitamento entre física quântica e a consciência humana é observado cada vez mais. Diversas experiências demonstram que existe uma íntima relação entre este universo subatômico e a nossa consciência e que um molda o outro. Alguns artigos mais recentes chegam a anunciar que o “universo é uma construção mental”! Gautama Buda afirma:
“Nós Somos o que pensamos, tudo o que somos surge com nossos pensamentos, com nossos pensamentos fazemos o mundo.“
Isso porque é o observador, o ser humano, que molda a realidade. Assim como vários cientistas, eu também acredito que essa simbiose é verdadeira e factível. Se não fosse assim, pra onde iria toda essa gama de conhecimentos que temos desenvolvido? Como esse conhecimento é passado de geração a geração? Certamente não estava em computadores, porque os computadores só apareceram a menos de cem anos. Estariam nos livros. Também, mas há algo mais do que isso. Esse conhecimento e a consciência da realidade são acumulados nesse universo da consciência e é disseminado de alguma forma às novas gerações. Isso pode ser observado no comportamento social. Sem que haja um processo formal de educação ou de treinamento, as pessoas começam a se comportarem diferentemente no decorrer do processo evolutivo das sociedades. Claro que a educação transmitida nas escolas colaboram com o processo, mas pergunto eu: E quem não foi exposto a esse processo formal das escolas, como desenvolvem tais comportamento? Ainda mais, com a morte das gerações mais velhas, como esse conhecimento se perpetua e evolui sem a presença de que o iniciou? Eu acredito que essas informações são passadas através de energia. Energia essa que é resultado da ações humanas e que são acumuladas nesse universo da consciência.
Se somos cientes de nossa existência e essa consciência de quem somos implica na moldagem da nossa realidade; se sabemos que é a energia a responsável por mover e acontecer as coisas, se há um “lugar” chamado de universo consciente aonde essa gama de informação e conhecimento são depositados e dali disseminados para que a evolução se perpetue, e se como humanos possuímos desejo, então, vale dizer que é possível prevermos o futuro dentro de certos parâmetros. Mas para que isso aconteça deve haver um último ingrediente: a sinergia. Ela deve acontecer em todos os níveis do processo. Desde a intenção, o desejo que algo aconteça, até nas ações das pessoas. Se juntarmos todos esses ingredientes poderemos prever o futuro.
Mas isso de fato acontece? Sim, e isso já ocorre há algum tempo.
É isso que a NASA faz, ela prevê o futuro! Toda vez que a NASA desenvolve e executa um projeto até o seu final ela está prevendo o futuro. A missão da sonda não tripulada “New Horizons” é mais um exemplo do que estamos falando aqui. Há nove anos atrás a NASA previa que a New Horizons estaria enviando imagens de Plutão, o nono planeta (ou ex-planeta) do sistema solar. No dia 14 de Julho de 2015 a sonda chegava ao ponto mais próximo de Plutão. “Depois de viajar por nove anos e quase 5 bilhões de quilômetros (que é a distância entre Plutão e a Terra), o equipamento conseguiu ficar a 12.500 km do planeta anão.” Anunciavam os americanos. A NASA previu esse futuro há mais de nove anos atrás quando iniciaram o projeto New Horizons a Plutão. Para que isso acontecesse foram necessários todos os ingredientes listados nesse nosso pequeno artigo. A partir que nós, humanos, evoluímos a previsão do futuro será cada vez mais precisa. E isso faz sentido. Há milhões de anos atrás o homem mal podia prever se haveria comida suficiente para o dia seguinte. Hoje já fazemos previsões sobre o tempo, as viagens interplanetárias, sobre os jogos olímpicos, etc. Não estamos falando somente de tecnologia, estamos falando sobre um conjunto de coisas imprescindíveis para que isso aconteça. Estamos falando de Evolução Humana. Então, é perfeitamente plausível dizer que daqui a cinco mil anos estaremos muito melhor em como prever o futuro, se até lá não tivermos destruído o mundo. Espero que não!
Arq. Avelino Neto