COMO OS PROFESSORES ESTÃO PREPARADOS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS PORTADORES DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

ONÓRIO, Iara Aparecida*

RESUMO

Os professores que atuam ou atuarão nas instituições de ensino estão capacitados para praticar a educação inclusiva? Esta preocupação levou ao desenvolvimento deste estudo, que teve como objetivo identificar como os professores estão preparados para lidar com a inclusão escolar de alunos com necessidades especiais através de uma revisão de literaturas científicas originais que abordam o assunto. Trata-se então de um estudo descritivo elaborado a partir de uma busca minuciosa deestudos desenvolvidos no Brasil e publicados entre 2000 e 2015. Após a escolha criteriosa dos 12 materiais bibliográficos a serem utilizados, procedeu-se então a análise a fim de descrever as características dos estudos conforme o objetivo proposto, divididos em quatro categorias. Com isso foi possível perceber que os professores encontram-se praticamente despreparados, mesmo com o fortalecimento no processo de inclusão; portanto, há muito a evoluir. Isso por que antes de tudo eles precisam compreender o significado da inclusão escolar, utilizar uma metodologia adaptável para que todos os alunos tenham igualdade de oportunidades, que sejam capacitados desde a graduação até o fim de sua atuação como docente e por fim, que eles continuem se vendo como profissionais essenciais na concretização da Educação inclusiva.

 

Introdução

Este estudo atenta-se para o fato de que a educação inclusiva apesar deestar progredindo, buscando superar toda uma história de isolamento, discriminação e preconceito, ainda é um grande desafio: transformar a escola da atualidade para que haja efetivamente a inclusão escolar de alunos com algum tipo de deficiência física ou mental.Acredita-se que o professor é o agente principal do processo educativo e inclusivo, pois em suas mãos estão grande parte da responsabilidade sobre os processos de aprendizagem e desenvolvimento dos educandos.

Diante disso,surge o seguinte questionamento: Os professores que atuam ou atuarão nestas instituições de ensino estão capacitados para praticar a educação inclusiva?Esta preocupação e o fato de ser portador de deficiência visual me levaram ao desenvolvimento desta pesquisa, que teve como objetivo conhecer estudos e discussões sobre essa temática, e através destesidentificarcomo os professores estão preparados para lidar com a inclusão escolar de alunos com necessidades especiais.

O preconceito e a discriminação dos indivíduos considerados diferentes, portadores de deformidades, podem ser observados no decorrer de toda história da humanidade. Nas sociedades primitivas os deficientes eram condenados à morte, na Europa medieval, eram considerados como obras do demônio e no fim da Idade Média os deficientes se tornaram culpados pela própria deficiência.Antes do cristianismo os deficientes eram considerados como “coisas” e não como pessoas (CARVALHO; ROCHA; SILVA, s.d, p.11)).

No final do século XVIII, surgiram atitudes mais humanitárias, quebuscavam compreender as especificidades do indivíduo portador de necessidades especiais. Iniciou-se então uma defesa pelo direito à educação dos desprezados e excluídos pela família e sociedade; com isso, a educação especial, visando à escolarização de crianças anormais, desponta nesse contexto.Assim, por volta das décadas de 80 e 90 do século passado, a educação inclusivaganhou repercussão (TESSARO et al., 2005, p.2).

A inclusão de pessoas com necessidades especiais na sociedade e na educação do Brasil, se torna então umassunto extremamente oficial em 1988, com a promulgação da nova Constituição Federal:

Art. 205. A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família [...] Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I- Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; [...]. Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: [...]; III- Atendimento educacional especializado às pessoas com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino.

Pode-se dizer então que a legislação brasileira tem a preocupação de desenvolver uma democracia, baseada na igualdade e na liberdade, na qual defende os direitos humanos, rejeitando as desigualdades sociais e todas as formas de exclusão. Entretanto, a prática diverge significativamente da teoria, pois se percebe que ainda há diversas formas de opressão e discriminação dos excluídos, dentre os quais estão os deficientes. Ainda que de forma implícita (RIPPEL; SILVA, 2008, p.2).

Por tal motivo, acredita-se que a escola e o professorpossuem um papel fundamental na inclusão social, mas não basta que as escolas tenham crianças com deficiência em sala de aula, é necessário muito mais (PAIM, 2012). Os educadores precisam construir um espaço escolar onde a diferença, de qualquer natureza, possa “existir”, com diversas possibilidades, ao invés de manter os antigos estigmas e práticas. Objetivando sempre uma educação plural e de qualidade, que contemple todas as pessoas, com e sem deficiência, de forma que todos se sintam participantes do processo de ensino-aprendizagem (VILELLA; LOPES; GUERRERO, 2013, p.1).

Desenvolvimento

O presente estudo é uma revisão de literatura, do tipo descritivo,realizado a partir de uma busca meticulosa da produção científica desenvolvida no Brasil a cerca do tema.Para isso, primeiro verificou-se a incidência de artigos publicados, com data de publicação de 2000 a 2015, em revistas de cunho científico, indexadas na base de dados do Google acadêmico, sobre a inclusão escolar de crianças com Necessidades Educacionais Especiais. Vale ressaltar que tal coleta de dados foi realizada durante o mês de dezembro de 2015.

Para a extração de dados utilizou-se osseguintes descritores: “ação docente inclusiva”, “formação de professores na educação inclusiva” e “processos de inclusão escolar”; que foram filtrados por palavras que ocorrem somente no título e estudos com datas entre 2000 e 2015. Após a pesquisa na base de dados foi realizada uma seleçãominuciosa, baseada nos seguintes critérios de inclusão: artigos ou teses originais, publicadas no portal acima citado, disponibilizados na íntegra, no idioma português, que relatam estudos realizados no Brasil,cujo tema central eraadocência frente ao processo de inclusão escolar de crianças com Necessidades Educacionais Especiais.

Dentre os estudos excluídos estavam às resenhas, artigos disponíveis somente na forma de resumo, editoriais, estudos repetidos e trabalhos que não se encaixavam nos critérios de inclusão aqui descritos.A busca a partir dos descritores supracitados resultou em um total de 69 artigos. Destes todos foram explorados a partir de uma leitura criteriosa, considerando os critérios de inclusão e exclusão desta pesquisa, destes 25 trabalhos foram selecionados como biografias potencialmente relevantes. Posteriormente, pode-se filtrar ainda mais as bibliografias necessárias, restando como dados desta investigação somente 12 estudos e destes 9 são artigos científicos, 2 são Trabalhos de Conclusão de Curso de Pedagogia e 1 é uma Monografia de uma pós-graduação.

Os descritores foram delineados de forma extremamente específica para que os dados encontrados fossem de acordo com os objetivos do presente trabalho, por isso a quantidade pequena de resultados. O primeiro descritor “ação docente inclusiva” obteve 2 resultados, o segundo “formação de professores na educação inclusiva” teve 59 resultados e o último “processos de inclusão escolar” teve 8 estudos. De posse do material bibliográfico, procedeu-se então a leitura exploratória, analítica e interpretativa dos 12 artigos selecionados, com o objetivo de identificar as informações e os dados constantes nos impressos e estabelecer as relações das informações e os dados obtidos com o problema em questão.

Os escolhidos foram:(ANTUNES; RECH; ÁVILA, 2015; ALCÂNTARA, 2015; DELEVATI, 2009; FIGUEREDO, 2014; GESSINGER; LIMA; BORGES, 2010; GONÇALVES,.et al, 2013; FILLIPIN MACHADO; COSTA, 2013; MACHADO, 2014; OLIVEIRA; SILVA; BARROS, 2012; SANTOS, 2007; VITALIANO, s.d;ZANELLATO; POKER, s.d). As categorias escolhidas para a organização, análise e discussão dosdados foram relacionadas ao objetivo da pesquisa.

A análise do conteúdo possibilitou conhecer as principais características que evidenciam se um professor está ou não preparado para trabalhar com alunos portadores de alguma deficiência. Dessa forma, os dados estão apresentados de forma a atender o objetivo proposto, sendo organizados em quatro grupos: Entendimento sobre educação inclusiva;Metodologia utilizada, na sala de aula, com alunos com necessidades educacionais especiais;A formação e capacitação de professores para atuação na educação inclusiva; eComo o professor descreve sua importância frente à educação inclusiva.

Sobre o Entendimento da educação inclusiva, dentro deste subitem os professores participantes das pesquisas alvos deste estudo, de forma unânime, atribuem à educação inclusiva o processo de inserir o aluno com necessidade educacional especial no espaço de aula regular, tendo que para isso adaptar-se. Bastando inseri-lo. Isso cria a ilusão que estão em correspondência com preceitos inclusivos. Percebe-setambém que estes alunossão definidos por suas dificuldades e limitações. Desconsiderando totalmente o fato de que nenhuma criança é e aprende da mesma maneira que a outra (ALCÂNTARA, 2015; DELEVATI, 2009; MACHADO, 2014).

Isso pode ser evidenciado na pesquisa de Delevati (2009), em que uma professora descreve a aluna especial em sua sala de aula: “ Ela não consegue fazer nada do que os outros fazem, ela não recorta, ela não pinta, ela não consegue escrever, não consegue falar [...]”

Além disso, foi possível observar que as concepções de inclusão escolar reflete um imenso problema, pois o seu foco tem sido o alunado “diferente”, fora dos parâmetros considerados “normais”. Dessa forma, não vincula o projeto de Educação para alunos com deficiência àquele pensado para os alunos sem deficiência. O que faz a educação inclusiva ser pautada na perspectiva de exclusão baseada na “normalidade” Sendo considerados os alunos com necessidades especiais como aqueles que exigem da escola modificações e adaptações (ANTUNES; RECH; ÁVILA, 2015; DELEVATI, 2009; MACHADO, 2014; SANTOS, 2007).

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