COMO O INTERVALO MONITORADO PODE AUXILIAR NA MELHORIA DA DISCIPLINA DOS ALUNOS NA ESCOLA

RESUMO

 O presente artigo descreve o trabalho desenvolvido na EMEF Profª Sônia Maria Pereira da Silva, em parceria com o profissional de Educação Física e a Equipe Gestora, visando o protagonismo juvenil e o trabalho com os estudantes do ensino fundamental I em busca da organização e da melhoria da indisciplina dos alunos nos horários de intervalos, através das brincadeiras monitoradas, jogos de mesa e de tabuleiro dispostos pelo pátio da escola, além da contação de histórias infantis. Foi desenvolvido através de observação do dia-a-dia dos jovens protagonistas, estudantes do ensino fundamental II, e suas ações em benefício da coletividade e do bom andamento da escola no período da tarde, contrário ao período de estudo destes alunos. Os jovens responderam a um questionário onde puderam expressar o que esperam e como se sentem ao desenvolverem o trabalho de protagonismo juvenil na escola onde atuam. O artigo discute também a importância do brincar e a influência direta da violência e da mídia na indisciplina das crianças dentro da unidade escolar.

INTRODUÇÃO 

        Todos nós, gestores, educadores e profissionais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, sabemos das grandes dificuldades pelas quais passamos ao nos depararmos com enormes mudanças da sociedade atual, tendo que lidar com sabedoria com os diferentes valores que cada um carrega junto de si, considerando as mais variadas faixas etárias e níveis sócio, econômico e cultural, dentro de uma escola, seja ela privada ou pública. É notório que as transformações da sociedade impactam diretamente na escola e isso acaba causando de certa forma mudanças na maneira como os alunos se comportam no ambiente escolar.

        Também não podemos negar que a sociedade brasileira enfrenta níveis altíssimos de violência e as crianças sofrem este impacto cada vez maior, sendo impossibilitadas de brincarem nas ruas, estando cada vez mais fechadas em suas casas, com medo de que algo perigoso as acometa. Essa violência também reflete diretamente no comportamento dos alunos dentro da escola, pois eles trazem muito do que vivenciam e assistem na mídia, para dentro do ambiente escolar.  Muitas vezes o único momento lúdico e de interação social da criança em seu dia-a-dia é o intervalo da escola. Por este motivo, dentre outros, ele deve ser muito bem aproveitado, para que as crianças tirem dele ótimos momentos, de muito prazer, alegria, aprendizado, interação, crescimento, boas relações afetivas e sociais.

        Um dos grandes dificultadores para que as boas relações aconteçam, está, muitas vezes, na falta de direcionamento desses intervalos, na falta de atividades interessantes que atraiam as crianças para brincadeiras saudáveis, pois as crianças, nas mais variadas faixas etárias necessitam desses direcionamentos para que elas consigam se organizar melhor e aproveitar o tempo livre de forma útil.

        Os alunos mais velhos, estudantes do ensino fundamental II, também intitulados de jovens protagonistas, possuem carteirinhas de identificação para voltarem para a escola no período contrário e desenvolverem um trabalho de orientação de intervalo, onde utilizam diversas estratégias, como leitura, contação de histórias e brincadeiras dirigidas, buscando organizar os intervalos e transformar o momento de correria em momento de brincadeiras e interação social e afetiva. Para esses alunos, foi aplicado um questionário com o intuito de conhecer um pouco mais o que os motiva a frequentar a escola no período contrário e desenvolver um trabalho com os alunos menores.

        Quando nós, educadores, planejamos, sempre surgem em nossos planejamentos, as frases clássicas que sugerem que o aluno que queremos formar deve ser autônomo, participativo, conhecedor de seus direitos e deveres, cidadão crítico e protagonista de suas ações. Para que isso aconteça verdadeiramente, é necessário um trabalho de responsabilização pelos próprios atos, bem como o cuidado pelo outro, que muitas vezes para um adolescente, não é uma tarefa simples de ser executada.

        Um aluno para ser considerado jovem protagonista, precisa reunir uma série de valores e princípios, que nem sempre são possíveis de serem reunidos em um adolescente qualquer, comum. Inicialmente, ele deve ter como princípio básico, gostar de crianças, ser paciente, ser respeitoso no trato com o outro, ter compromisso com aquilo que assume, motivação, ser proativo, ter disponibilidade de tempo em período contrário, autorização de seus pais para ficar na escola praticamente em tempo integral, ser responsável, dentre outros atributos. Ao responderem ao questionário apresentado com o intuito de colher e reunir dados para escrever este artigo, foi possível perceber que os alunos protagonistas, apresentam características comuns entre eles, como o amor por crianças menores, o prazer em estar no ambiente escolar, a alegria de se sentir autônomo e autêntico e apesar de terem entrado há tão pouco tempo na adolescência, gostam de se sentir um pouco crianças de novo. Essas foram as repostas dadas à pergunta: Como você se sente ao retornar no horário da tarde para brincar com as crianças menores? A segunda pergunta: Você acha que o projeto de recreio monitorado ajuda a diminuir a indisciplina? Por que? 100% dos alunos respondeu que sim, porque as crianças possuem distração, ficam alegres, obedecem regras e aprendem a respeitar mais os brinquedos. A terceira questão foi: Quando não havia intervalo monitorado, o que as crianças faziam durante o tempo de recreio? Todos os jovens protagonistas responderam que se não houvesse o intervalo monitorado, as crianças ficariam correndo pelos pátios, se machucando e algumas vezes conversando, mas sem se divertir. Todos eles sugerem que a equipe gestora da escola aumente o número de brinquedos para serem utilizados nos intervalos, além da utilização de músicas nos e mais jogos de tabuleiros.

        Através das respostas apresentadas pelos alunos protagonistas, foi possível notar que o compromisso e o prazer em estar no ambiente escolar desenvolvendo as atividades com as crianças nos intervalos, brincando com eles, são atividades levadas muito a sério, fato que os torna diferentes dos demais alunos e, portanto, preenchem os requisitos citados acima para serem alunos protagonistas.

A VIOLÊNCIA NAS CIDADES E O NÃO BRINCAR 

            Infelizmente os números da violência em nosso país estão cada dia maiores. Em São José dos Campos isso não é diferente. Somente para citar como exemplo, segundo dados estatísticos da Policia Militar, em 2015, os números de ocorrências de pessoas portando entorpecentes, na cidade, aumentaram em 35% em relação ao ano de 2014.

Esses e outros dados alarmantes podem ser encontrados no endereço abaixo: http://www.ssp.sp.gov.br/novaestatistica/Pesquisa.aspx

        Qualquer pai ou mãe teme pela segurança de seus filhos. Com o aumento significativo da violência, fica cada vez mais difícil para as crianças, saírem de suas casas para brincarem nas ruas de seus bairros, por mais tranquilos que pareçam ser.Porém, todos nós sabemos que brincando a criança aprende a socializar, a desenvolver o espírito de grupo, a criatividade, a capacidade de tomar decisões, além de melhorar o desenvolvimento motor, afetivo e social.  Então, como não brincar? Como aprisionar as crianças dentro de seus lares, com medo da violência, privando-as do crescimento e do amadurecimento; sabendo-se que a brincadeira na vida da criança é importante para seu o desenvolvimento cognitivo, motor, imaginativo, criativo, para a construção de culturas e interações sociais e que os jogos e as brincadeiras ajudam as crianças a vivenciarem regras pré – estabelecidas, que elas aprendem a esperar a sua vez e também a ganhar e perder e que muitas vezes conseguem estabelecer relações que acabam fortalecendo assim sua autoestima?

        O papel da escola torna-se cada dia mais fundamental no sentido de viabilizar possibilidades de interações sociais que a vida em sociedade está tolindo através da violência exacerbada que se apresenta. A criança vê na escola a grande oportunidade de estabelecer vínculos, criar personagens, viajar através das histórias, fazer de conta, criar significados, interagir, resolver conflitos, aprender a ter atitudes, ser solidário, cooperativo, além de tantas outras coisas que o brincar e o se relacionar com o outro pode proporcionar. Além do momento pedagógico em sala de aula, é possível que grandes conquistas pedagógicas sejam feitas quando a criança está em seu momento de intervalo, desde que este momento não se torne meramente o momento de alimentação para a criança e descanso para o professor. Por esse motivo, o Parecer CEB Nº05/97 do Conselho Nacional de Educação torna o recreio  parte da atividade pedagógica, ou seja, os professores são remunerados para acompanharem seus alunos durante o período de intervalo. Na legislação, o recreio e os intervalos de aula são horas de efetivo trabalho escolar, conforme conceituou o CNE, no Parecer CEB nº 05/97 : "As atividades escolares se realizam na tradicional sala de aula, do mesmo modo que em outros locais adequados a trabalhos teóricos e práticos, a leituras, pesquisas ou atividades em grupo, treinamento e demonstrações, contato com o meio ambiente e com as demais atividades humanas de natureza cultural e artística, visando à plenitude da formação de cada aluno. Assim, não são apenas os limites da sala de aula propriamente dita que caracterizam com exclusividade a atividade escolar de que fala a lei. Esta se caracterizará por toda e qualquer programação incluída na proposta pedagógica da instituição, com frequência exigível e efetiva orientação por professores habilitados. Os 200 dias letivos e as 800 horas anuais englobarão todo esse conjunto."

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