A pergunta que se pode colocar é sobre o papel dos espaços  crônicos nas mídias no México sobre: o narcotráfico,  a imigração, a violência, a decapitações, a corrupção, os desaparecimentos, etc?.

Inicialmente, é importante ressaltar que o México tem uma longa tradição de movimentos sociais desde a sua independência. Durante a revolução de 1910, esses movimentos adquiriram novos matizes no seio de suas organizações e nas diferentes tendências emergem. Há, por exemplo, a tendência da "camponesa e zapatista" no sul do país, outra tendência no norte, inspirada da revolucionária Pancho Villa, além da tendência anarquista com a influência das Flores. Mago.

Com a formação do Estado mexicano, assistimos a um desenvolvimento, favorável aos movimentos sociais: há uma reforma agrária, os movimentos vencem a batalha por certos direitos sociais (a Jornada de 8 horas por exemplo). Assim, no México, pode-se observar as características de um estado social bem antes da revolução russa de 1917.

No entanto, com a consolidação do PRI (Partido Revolucionário Institucional), nasce um novo pacto social, acompanhado pela recomposição de uma nova elite que toma o lugar da elite familiar pré-revolucionária. No México se fala muito da "revolução traída" ou "enganda".

As comunidades indígenas que defendiam para mais de representação foram removidas do poder, assim como as comunidades camponesas mais vulneráveis ​​ou ainda os partidos da esquerda revolucionária. O PRI busca a consolidação o que Gramsci chama de "bloco hegemônico", onde os grupos subordinados adotam o aparato estatal para tentar atender às reivindicações sociais, mantendo ao mesmo tempo um caráter fortemente reacionário. Foi assim que se construiu um imaginário coletivo de ascensão social dentro das comunidades indígenas, que, de fato, nunca deixou de ser fictício.

Perante esta situação, assistimos a uma forma de resistência popular que pode ir até a guerra e, mais especificamente, para a guerrilha, notadamente do sul do país, a região a mais pobre do país e maioria indígena. Mas esta guerrilha também se espalha nas zonas urbanas.

O comandante Marcos, por exemplo, construiu o começo da sua carreira no seio dos grupos de guerrilha urbana, para depois migrar para as zonas as mais rurais e tentar liderar uma revolução guevarista (Ernesto Che Guevara), pela criação de sementes de guerrilha revolucionários.

Hoje, graças ao movimento zapatista, o povo mexicano percebe que as diferentes formas de se organizar são possíveis, face a um outro modelo que se instala. E isso é certamente um fato, contra o que o México deseja em termos de uma grande frente comum, anti-neoliberal, anticapitalista, progressista e emancipadora.  

 Para se posicionar diante deste canalizadores, o México necessita de estabelecer uma estrutura organizacional bem definida, e isso vai levar um pouco de tempo

Qual é o papel do para-militarismo no México? Como isso se desenvolveu?

Os paramilitares já estavam desempenhando um papel importante na década de 1970 para desmantelar os movimentos de resistência. Fala-se de "guerra suja" para descrever o que acontece  no estado de Guerrero, uma região muito pobre que passou por um desenvolvimento significativo de grupos guerrilheiros marxistas.

Em 1994, esta guerra suja ocorreu com a chegada do movimento zapatista. É também chamado de "guerra de baixa intensidade" (o mesmo conceito usado para descrever as guerras anticomunistas nos países da América Central). Esta guerra consiste na formação de esquadrões paramilitares treinados pelo exército regular para semear o caos entre os diferentes grupos étnicos e culturas existentes nessas regiões.

A mídia por sua vez deve definir seu papel, e não considerar essas guerras como guerras étnicas e entre diferentes grupos políticos. Hoje, mesmo dentro dos cartéis, a confusão reina. A mesma manipulação em massa aconteceu com os 43 estudantes desaparecidos de Ayotzinapa. No primeiro passo, os meios de comunicação transmitem a informação que os alunos são ligados aos grupos delinqüentes. O para-militarismo se foi apontado, portanto, e acima de tudo, como dividido, intimidado e reprimido.

Deve-se também entender que o Estado de Chiapas (onde houve una insurreição do movimento Zapatista EZLN), região muito rica em recursos naturais. Há também muitos recursos hídricos e mineração. O Estado, para se apropriar dessas terras, recorre ao para-militarismo. Exatamente como foi no caso da Colômbia.

Pergunta-se se existe um elo entre a ascensão do para-militarismo e o narcotráfico, e a implementação autoritária do modelo neoliberal?

O para-militarismo conhece uma importante decolagem a partir do período da influência do neoliberalismo. Nesse sentido, não é surpresa que os dois países, onde o problema do para-militarismo / narcotráfico é o mais significativo, seja no México ou Colômbia, os dois países latino-americanos onde o modelo neoliberal foi  imposto (quase) sem qualquer resistência, graças à presença de uma oligarquia capitalista sujeita aos interesses dos EUA. O neoliberalismo na América Latina envolve a apropriação de terras pelas multinacionais, a destruição dos direitos sociais, o tecido social, os direitos indígenas e entre outros. Para que isso seja sustentável, o neoliberalismo precisa de uma força que imponha o status quo, e essa tarefa foi confiada precisamente aos paramilitares ...

Outra interrogação sobre o México e suas enormes reservas de petróleo. Se a interferência dos EUA no país se explica pelos recursos naturais?

Em dezembro de 2013, o presidente Peña Nieto privatizou a última grande empresa estatal de petróleo. Essa privatização corresponde ao modelo clássico capitalista e ao desenvolvimento da globalização, onde os países ricos do centro exploram os recursos dos países pobres da periferia. Isso se perdurou durante séculos desde o início da colonização no século XVI. A privatização do petróleo se inscreve na mesma lógica de pilhagem dos recursos dos países do Sul, anteriormente foi através dos colonialistas espanhóis e, hoje, pelos Estados Unidos.

Diante de tudo isso, a luta será longa e complicada no México, e o povo está em posição de ação o que indica que esta situação não vai durar para sempre.

Terminando dizendo uma frase do filósofo francês Daniel Bensaïd: "Ah a revolução, seja ela chega cedo demais, seja ela chega tarde demais, mas nunca na hora. "

Lahcen EL MOUTAQI