Como construir um solo de derbaque dinâmico
Publicado em 02 de junho de 2009 por Luzimar Paiva
Por meio do acrônimo SHIMMY FEST, criado por Michelle Morrisson, diretora do Farfesha Bellydance Troupe de Albuquerque (Novo México-EUA) no Festival Amaya's Oriental Potpourri, uma poderosa apresentação de solo de percussão pode ser elaborada.
S (de sharp) – seco, preciso
É necessário mover-se percussivamente, para isso o desenvolvimento das técnicas básicas de dança torna-se fundamental.
1 – Tremido e ximes: são os movimentos mais apreciados e vibrantes da dança.
O tremido é a base do trabalho de solo de percussão (tanto gravado quanto ao vivo). Seja fluente e mantenha uma variedade deles.
Um bom exercício é executar o tremido de modo suave e relaxado, utilizando somente os joelhos e depois contrair os glúteos, os quadríceps, e mesmo os abdominais, enquanto você desliza o peso de um lado para o outro.
Tal treinamento permitirá a execução de movimentos secos, precisos e pontuados.
Um movimento seco é aquele em que há uma forte ênfase em seu final, dando um sentido percussivo. Isso poderá ser percebido no modo como o xale de quadril se move: moedas ou crochê vão vibrar durante o tremido suave, mas deverão literalmente pular durante as marcações.
Alguns ximes a desenvolver são: xime em L, xime frente/trás.
2 – Marcações de abdome, de tronco, de ombros ou mesmo de cabeça.
3 – Explosões: tanto a pelve quanto o tronco permitem a execução de explosões, que são perfeitas para marcar os acentos da música.
4 – Batidas: tanto a pelve quanto o tronco permitem a execução de batidas, que são perfeitas para marcar os acentos da música, como básicos secos para cima e para baixo, batida pélvica, twist de quadril seco.
5 – Paradas.
6 – Divisão de movimentos ondulatórios: uma ondulação de tronco pode ser articulada em quatro pontos secos (frente, arco, descida posição 1, descida posição 2) ou quando alcança-se o alto do círculo (arco), faz-se uma descida enfática de tronco. Igualmente a ondulação de braços pode ser articulada, fazendo-os parecerem robotizados. Erga um ombro de forma seca. Ele deverá cair assim que o cotovelo subir. Solte-o, descendo a mão reta para baixo ao mesmo tempo. Volte a mão para trás. Mude a ação usando o outro braço.
H (de hips) – quadris:
Os quadris são a base para uma boa apresentação de solo de tabla.
- pratique grandes e pequenos movimentos de quadril, variações de velocidade (rápido e devagar);
- trabalhe na divisão de movimentos grandes em pequenos e precisos (como o realizado com a ondulação de tronco e de braços; tente com os oitos, com os redondos);
- amplie seu tremido e depois deslize de um lado a outro, transferindo seu peso de um pé para o outro;
- junte um tremido a qualquer outro movimento como o camelo para fora ou um oito. Isto é particularmente efetivo quando surge no solo uma espécie de som que parece estar enrolando ou quando a percussão é tão rápida que você não tem condições de pegar todas as batidas;
- tente colocar boa parte do peso na perna de base, liberando o quadril da outra perna para executar básicos, batidas, círculos, oitos verticais. Isto focalizará a atenção da audiência em um ponto específico e permitirá que você respire apesar dos tremidos!
- outra técnica envolve começar um movimento suave no seu quadril direito (como o oito maia), mas logo mudando para um movimento seco (como uma descida seca) quando você move seu quadril esquerdo. Muito eficaz quando o derbaque realiza uma batida suave seguida por uma ou duas explosões secas.
I (de isolations) – isolamentos:
Esta dança basea-se sobre o controle do corpo e o isolamento de diferentes partes dele. Os isolamentos são cruciais porque permitem a marcação de diferentes sons na música. Eles pode ser secos, mas às vezes podem ser suaves.
Mantenha a parte superior mais parada, enquanto seus quadris e pernas se movem e vice-versa. Em outras palavras, não deixe seu tronco se mover quando é esperado somente trabalho de quadril.
Melhore os movimentos lentos! Ao contrário do que um solo de derbaque inicialmente sinaliza, ele não precisa ser somente batidas e paradas. As ondulações ou os oitos podem ser usados em um momento suave.
Pratique o seguinte:
- redondos, oitos, deslizamentos com o quadril;
- redondos, oitos, deslizamentos com o tronco;
- mantenha-os separados.
A superposição permite a você seguir as diferentes partes do solo – os dums, os taks, os saks. É a técnica pela qual você utiliza dois movimentos simultaneamente. Você pode realizar um movimento em uma parte do corpo e outro na outra parte, ou você pode juntar dois movimentos em uma única área. Por exemplo, um trabalho lento de braços com um rápido xime frente/trás, ou um xime de quadril enquanto executa um suave maia.
Algumas superposições para treinar:
- deslizamentos com xime;
- oitos com xime;
- xime
- de ombros e ondulação de tronco;
- ondulação de braços com xime choo-choo
Para melhor isolar as partes do seu corpo, tenha certeza de que você tem os músculos bem alongados – especialmente os que ficam ao longo do seu torso. Se somente é possível fazer um alongamento antes da apresentação, curve-se para um lado com a mão acima da cabeça, depois para o outro. Isto alonga das costelas até os quadris e realmente solta todo o tronco. Quando esses músculos estão "duros", é quase impossível isolar sua parte superior da inferior. Ao passo que, quando esses músculos estão bem alongados, seu tronco não vibra durante a realização de um choo-choo e seus quadris são uma rocha abaixo do seu tronco oscilante. Alongue-se, alongue-se e alongue-se para alcançar isto!
Outra técnica a empregar é o encaixe de postura:
- inspire profundamente, enchendo completamente seus pulmões e sentindo seu tronco subir naturalmente;
- expire, mas deixe a caixa torácica levantada;
- a distância entre a caixa torácica e a pelve foi aumentada em cerca de duas polegadas. Apesar de suas costelas essencialmente repousarem sobre sua pelve, você agora tem um bom espaço (sua cintura) entre o tronco e a parte inferior para trabalhar.
M (de movement) – movimento:
A natureza deste tipo de música pede um pouco mais de atenção.
Usualmente a execução de um solo de percussão é fixa no lugar, entretanto pode haver um pouco de deslocamento.
Pratique tipos de deslocamentos que você possa realizar de maneira rápida, bem como giros e pequenos passos rápidos. As pausas ou os momentos suaves da música são boas oportunidades para deslocar ou girar.
Tente mover-se em posições diferentes – de costas, de lado, ou na diagonal - para a audiência.
M (de mind/body) – mente e corpo:
Sua mente tem que estar ativamente envolvida não apenas em lembrar seu repertório de dança, mas em conhecer a música por dentro e por fora, pois com um solo, não há como fingir.
Tente ouvir além do derbaque.
Cante o solo do seu jeito (dum-tá-dum-dum-tá-tá,dum-tá-dum-dum, aumentando e abaixando a voz) e ouça a melodia da percussão.
Ouça todas as pausas e o nível do derbaque (suave ou alto).
Sinta o humor da música.
Enquanto a maioria dos solos são bastante energéticos, alguns permitem brincar. Uns são festivos; outros, apaixonados. Há ainda outros que somam todas as características.
Y (de yowza factor) – improvisação:
Devido à espontaneidade e à improvisação do solo de percussão, pode-se optar por não coreografá-lo. Entretanto tente planejar algumas combinações dinâmicas para as partes especiais.
Por exemplo, se a música tem uma longa e rápida suavização seguida de vários dum-dum-dums secos, tente um twist com xime e então acerte os acentos com uma batida de pelve ou de abdome, ou uma explosão de tronco (então o movimento seco ecoa por seu corpo). Com boas combinações é possível acrescentar peso à improvisação, além de desobrigar a apresentar algo novo sempre.
Ao coreografar, procure um solo em que o derbaque principal toque frases distintas, visando assim estruturá-lo por inteiro. Isso ajuda a visualizar o corpo do solo e a tocar o tema e a variação dentro dos movimentos elaborados para que a continuidade e o interesse sejam mantidos, além de evitar que tudo seja previsível ou monótono.
Experimente alegria ao conectar seus movimentos às elaborações do derbaque principal, enquanto respeita constantemente o ritmo. Diversifique o tremido, mas não complique demais, ou ocorrerá o risco de perder a ligação com a música.
É importante que a audiência identifique seus movimentos. Não se esqueça, às vezes os momentos mais dramáticos são aqueles nos quais você não marca tudo!
Embora a percussão seja empolgante, a riqueza e a complexidade dos outros instrumentos são bastante valiosas. O solo se tornará muito mais rico se não seguir-se o derbaque ad eternum.
F (de fun) – alegria, divertimento
A audiência percebe que certamente há alegria ao dançar.
Apesar do nervosismo, é importante a apreciação da música e da dança.
A expressão facial permite a conexão com o público e a manutenção de sua atenção, além de marcar a diferença em como será a resposta à sua dança.
Embora não seja obrigatório sempre sorrir, é importante praticar o sorriso, do mesmo modo como é feito com o tremido.
Utilize movimentos inusitados como levantar uma das sobrancelhas em uma marcação do derbaque, ou pareça surpresa com a explosão do próprio tronco – a audiência particularmente gosta disso, porque não se sente constrangida ao olhar sua movimentação se você os faz rir.
E (de energy) – energia
Treine no sentido de colocar seu coração e sua alma em seus movimentos. O derbaque parece uma serra? Deixe que a audiência perceba isso em sua face e na força do movimento de seus quadris.
Um solo hipnótico, como um transe, deve ser desenvolvido com atitude e energia completamente diferentes, mas essas características precisam perpassar toda a apresentação da música escolhida.
A audiência sabe apreciar o árduo trabalho e a técnica empregada em uma performance de tabla solo e demonstra com sorrisos, piscadas e assobios.
S (de stamina) – preparação
Preparação é crucial!
É importante estar fisicamente preparada para realizar um solo de percussão, ou a exaustão aparecerá e seus movimentos se tornarão vagos justo quando eles precisam ser marcados. Isto é válido para qualquer música que se deseje apresentar, mas especialmente para a intensidade dos solos.
É importante não deixar a cargo da adrenalina carreada pela apresentação.
A presença no palco deve manter a energia e o sorriso na face. Mas é difícil terminar a música, se os músculos simplesmente não ajudam.
É recomendado treinar um solo de cinco minutos no mínimo quatro vezes seguidas, porque se todos os detalhes forem apanhados na última vez do mesmo modo do que na primeira, o melhor pode ser atingido na performance.
Realize diariamente exercícios de respiração profunda:
- inspire devagar e profundamente, sentindo suas costelas alongarem com a respiração;
- segure por alguns segundos;
- expire lentamente.
Repita pelo menos duas vezes mais. Habitue-se a fazê-lo pelo menos três vezes por dia. Isso condicionará os pulmões para o trabalho de alta intensidade que é o solo de percussão.
Bom para a saúde cardiovascular bem como para a preparação para a performance!
T (de time) – tempo
É recomendável que o solo tenha um tempo de até cinco minutos. Esse é o tempo máximo para a bailarina dançar e para a audiência ouvir.
Aventure-se!
Além dos tópicos abordados no Shimmy Fest, outros pontos específicos devem ser enfatizados sobre a dança com percussão ao vivo:
1 - Um solo de derbaque ao vivo é na realidade um dueto. Juntos, a bailarina e o derbaquista criam uma peça especial de apresentação. É necessário conscientizar-se de que não se está só no palco e que o parceiro não deve ignorado. Posicione-se de modo que você possa facilmente ver o derbaquista. Use o contato visual e contato de olho-mão para se comunicar (quer dizer, esteja apta a ver o que as mãos dele estão fazendo – os seus olhos vêem as mãos dele);
2 - Organize o cenário. Como será o início: no palco ou fora dele; devagar ou rápido; com o ritmo, com uma entrada espetacular;
3 - Decida o tema de sua apresentação: o que você quer dançar;
4 - Decida com seu derbaquista o tempo e a emoção. Isto ajudará a decidir o ritmo a escolher: o chiftitelli é excelente trabalhar com solos lentos, enquanto que o malfuf pode ser usado para um número rápido;
5 - Deseja mostrar a habilidade ao tremer ou destacar seus isolamentos. Isto também influenciará o que o derbaquista vai tocar (para variações de tremidos, você quererá muitas variações rápidas de batidas; para os isolamentos, o percussionista pode realmente tocar um pouco mais livre então você pode dançar a melodia);
6 - Divida a apresentação em partes: estabeleça se você deseja ralentar no meio, ter pausas, acelerar no final;
7 - Pretende destacar algo em especial: o derbaquista precisa saber para poder segui-la e implementar a finalização do show;
8 - Algumas inclusões podem ser feitas como: acessórios (espada, bengala, véus, leques), acompanhamento com snujs (tenha certeza que o derbaquista toque um ritmo que você possa tocar), trabalho de chão, cambrês ou aberturas (determine se você precisará de um ritmo ou de mudança de tempo para acomodar estes movimentos);
9 - Como terminará a apresentação? Isso será o que a audiência lembrará quando sair. Mesmo que o restante tenha sido realizado de modo aleatório, você deve amarrar o final. Se você não planejou o início da música com o derbaquista, esta parte deve ser programada. Coisas a serem estabelecidas são: devagar e vai abaixando ou rápido e impactante, acerte o ritmo ou caminho para o final, combine sinais para indicar a finalização (por exemplo, um gesto, uma palavra), programe uma pose final e permaneça nela (mesmo que o derbaquista se distraia e permaneça tocando – ele rapidamente parará e isso será melhor do que se você tentar recomeçar a dançar);
10 - Entre em sintonia com o derbaquista. Ele é seu parceiro nesta dança. Seria ideal se você pudesse ensaiar com ele antes da apresentação, mas algumas vezes isto não é possível.
11 - Desenvolva sincronicidade: observe as mãos dele (veja quando ele se prepara para tocar os dums ou os floreados), antecipe os modos da música dele (se você perder o primeiro dum-tak, esteja pronta para o segundo e, às vezes, para o terceiro e para o quarto), combine sinais (gestos, movimentos específicos que indicarão quando ralentar, acelerar ou terminar);
12 - Interaja com o derbaquista (use humor, expressão facial, piscadas) de modo que a audiência perceba o dueto.
13 - Planeje sua dança. Uma profissional sempre se prepara para toda a apresentação, mesmo que nessa performance a música diga como ela deve se mover;
14 - Evite muito deslocamento. Diferentemente da música gravada, onde você é solista e pode planejar grandes deslocamentos, a percussão ao vivo é imprevisível. Você não quer se perder completamente do derbaquista e tão pouco quer dançar a música ipsi sonoris (por exemplo, se você iniciou um giro através do palco de acordo com a marcação feita e ele muda repentinamente para uma parada seca);
15 - Tente ouvir todos os sons do derbaque (dums e taks), mas se não limite a somente marcá-los. Para uma parte, marque precisamente o ritmo; para outra, aplique um movimento suave que flua com o ritmo;
16 - Esteja aquecida e pronta para experimentar;
17 - Use as pausas a seu favor (a parada ajuda na mudança de posicionamento);
18 - Seja a música! Este é o mais importante e dinâmico momento para fazer seu corpo refletir a música que ele está ouvindo. Quando o percussionista suaviza e ralenta o ritmo, você faz o mesmo. Quando ele é seco e alto, você deve ser precisa e forte.
19 - Divirta-se! Se você ama dançar, relaxe e deixe acontecer. Não somente a audiência apreciará sua expressão emocional natural, mas também você experimentará uma elevação sem paralelos.