EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLOSSENSES                                                                                                              

 

A suficiência do Evangelho de Cristo

 

Há uma corrente muito influente na igreja dos nossos dias que classifica como obra de Satanás todo e qualquer mal que aflige o crente, sejam doenças, problemas sociais, catástrofes naturais, etc. Não tenho intenção alguma de inocentar o tinhoso, mas penso que o campo que o inimigo trabalha de maneira mais eficiente e eficaz é na disseminação de ideias. É aqui que precisamos ficar atentos. Um dos mais astutos estratagemas do coisa-ruim dentro da igreja é criar um ambiente que leve o cristão genuíno achar que sua fé e compreensão do evangelho são de segunda categoria, que alguma coisa está faltando, ou algo parecido. Isso geralmente ocorre através da influência daqueles que reivindicam espiritualidade acima do comum por conta de alguma experiência subjetiva, ou ainda dos que alegam atingir níveis mais profundos na vida cristã por meio de revelações extraordinárias. Ao comparar-se com estes, o ‘crente comum’ sente-se inferiorizado e desanimado porque pensa se tratar de uma falta ou falha de sua parte. Ele deseja sinceramente seguir a Cristo, mas fica com a sensação de que precisa/não pode alcançar tal nível de espiritualidade. Uma vez que ele entra em desespero, duas reações podem acontecer: ou ele parte em busca desta pretensa espiritualidade ou desanima a ponto de sua eficácia como testemunha de Cristo ser diminuída, seu zelo apagar e sua paixão resfriar. Este tipo de sentimento comumente afeta os crentes mais desavisados. 

Assim, o inimigo encontra brechas para disseminar suas falsas doutrinas:

– “Se você quiser ser um verdadeiro cristão ou mais espiritual, então você deve iniciar-se em certas práticas, ter certas experiências, atingir certos níveis de profundidade intelectual ou entender certos segredos da vida cristã, revelado somente a poucos”.

O conceito que este acaba formando em seu coração sobre quem é Jesus Cristo e a suficiência do Seu evangelho não são satisfatórios: deve-se adicionar algo a Jesus Cristo e sua obra concluída, seja através da observação da lei, por passar algum tipo de experiência, engajar-se em algumas atividades religiosas, ou ainda envolver-se ativamente em todos os tipos de encontros e eventos da igreja, na certeza de que estas atividades o tornarão uma pessoa espiritual. 

Foi neste clima de desencanto que Paulo escreveu à igreja de Colossos. Ele se concentrou em ajudar os novos cristãos que estavam espiritualmente desanimados devido à dúvida e o desespero. Seu objetivo na epístola era lembrar-lhes da majestade e suficiência de Jesus, seu Redentor. Paulo puxa a cortina que estava vendando os olhos dos irmãos colossenses, para mostrar-lhes mais uma vez a simplicidade maravilhosa e completa da obra de Cristo. Todo cristão deve empenhar-se em contemplar a glória de Cristo e seu evangelho para compreender o efeito único e duradouro desta mensagem sobre sua vida. 

Colossos ficava a cerca de 160 quilômetros de Éfeso e juntamente com Laodicéia e Hierápolis formava um importante triângulo no Vale do Lico, que hoje é a Turquia moderna. 

O apóstolo Paulo não fundou a igreja em Colossos, embora ele provavelmente conhecesse alguns dos irmãos naquela igreja (incluindo Filemom). Esta igreja provavelmente surgiu enquanto Paulo esteve em Éfeso. Lucas registrou este evento em Atos 19.10:

 

“Durou isto (a exposição das escrituras feita diariamente por Paulo) por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos.”

 

O pastor daquela igreja era Epafras, que pregara o evangelho a eles como um “amado conservo... e fiel ministro de Cristo” (Cl 1.7). Ele provavelmente fora discipulado pelo apóstolo (enquanto em Éfeso), e fora profundamente transformado. Epafras não se conteve em sua alegria e, então, quis levar as boas novas da salvação de volta para sua região de origem: Colossos. Assim, Paulo teria sido o “avô da fé” daquela igreja, sendo por isso muito respeitado entre os colossenses.

Agora a igreja daquela pequena cidade enfrenta alguns problemas. Sob a influência de várias correntes religiosas e crendices populares prevalecentes no Império Romano somada a uma crescente influência gnóstica, os fiéis estavam começando a se questionar se eles tinham realmente recebido a mensagem certa e se tiveram a experiência certa para a vida eterna.  A dúvida tinha se alastrado dentro da igreja, misturando ao cristianismo o judaísmo, o gnosticismo, e a superstição das crendices populares. Assim, quando o relatório chegou a Paulo (que estava preso em Roma) ele redige, com amor pastoral, suas instruções diretas para a igreja de Colossos, focalizando a supremacia de Jesus Cristo: tanto a sua pessoa quanto a sua obra.

Talvez você já tenha se encontrado lutando com dúvidas, desanimado com sua vida cristã, ou conhece alguém assim. Por isso a importância desta carta. Vamos ver como o Apóstolo confirma a evidência de uma vida cristã autêntica entre aqueles crentes de Colossos e entre nós também.

Boa leitura.

 

 COLOSSENSES CAPÍTULO 1

 

 

 1. MARCAS DE UMA VIDA ESPIRITUAL AUTÊNTICA - FÉ                                                                                    

 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, ​aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai. ​Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós (Colossenses 1.1-3; Romanos 1.7)

Há pelo menos duas características marcantes nas epístolas de Paulo. Uma é sua saudação, que segue quase um padrão. Comumente, Paulo costumava afirmar a sua autoridade apostólica, frente às inúmeras acusações que sofria por parte de seus oponentes, pincipalmente a que seu apostolado não era autêntico.

 

Outra característica bastante comum observada nas cartas de Paulo, é o fato de que ele era um homem que continuamente orava por todos: “Sempre agradecemos a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vocês”, e em seguida, vemos o conteúdo de suas orações. Podemos aprender com Paulo a motivação para orar por nossos irmãos regularmente. Ele usa este recurso como uma maneira de estimulá-los na fé e instruí-los mais profundamente no evangelho.

 

O motivo desta carta foi o fato dos cristãos de Colossos estarem sendo atacados por várias heresias que, aparentemente, causavam dúvidas em suas mentes. Ao invés de simplesmente escrever: “Vocês estão proibidos de andar junto com estes caras e dar ouvidos para suas doutrinas”, o apóstolo faz diferente. Ele aponta para as evidências da graça salvadora e da suficiência da obra de Cristo em nossas vidas. Uma vez que eles desenvolvessem esta certeza em suas mentes, poderiam descansar em Deus e crescer na fé e confiança de sua salvação. Esta é a primeira marca de uma espiritualidade autêntica: a fé.

 

Mas fé em que? - devemos nos perguntar. Fé em Cristo Jesus, e nada mais. Ou seja, a certeza da suficiência de Sua obra em nossas vidas. Esta confiança em Jesus era algo visível, pois levara Paulo escrever: “Damos graças... desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus”. Era o tipo de fé que outras pessoas podiam ver e comentar. Era uma fé perceptível. Esta deveria ser uma característica comum a todos nós, a ponto do mundo inteiro admirar a conduta dos que se dizem cristãos. Porém, infelizmente, temos percebido cada vez mais uma fé questionável, em vez de uma fé perceptível. Para falar aos colossenses, o apóstolo, os chama de "santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos"

 

Este termo (santos) era comumente usado ​​por Paulo para se referir àqueles que estão em Cristo. Significa literalmente, aqueles que são separados para um propósito. Paulo não aponta para uma elite especial dentro da igreja, mas para o crente comum que é qualificado por Deus para a obra de Cristo. Admiravelmente, os de Colossos foram chamados por Paulo de irmãos fiéis em Cristo. Notamos nesta carta que eles viviam uma relação com Jesus Cristo pela fé, pois eram irmãos fiéis que ”estavam em Cristo”.     

 

Que tipo de fé eles tinham? É comum ouvir, mesmo em círculos seculares, que o importante é que todos tenham fé. Pode ser uma crença em algo qualquer, não importando o que seja. A escolha é pessoal. Assim, pode-se ter fé em si mesmo, ou em uma instituição, uma organização, ou em uma experiência subjetiva, na sua autoestima, em uma filosofia de vida, etc. Mas não é esse o tipo de fé de que o apóstolo se referiu. Não é fé na nossa fé, mas no Autor da nossa fé. Paulo identifica o conteúdo desta fé como “a fé em Cristo Jesus”. É a certeza daquilo que esperamos e a firme convicção de fatos que ainda não podemos ver, mas que, baseados na Palavra de Cristo, esta fé deve resultar em confiança, apego e descanso em Jesus.  Esta é uma forma de expressar tanto a pessoa quanto a obra de Cristo. É uma fé que está baseada sobre uma pessoa viva: o Filho de Deus que se tornou homem. A verdadeira fé não é uma filosofia de vida. É uma firme confiança de que Deus invadiu o mundo do tempo e do espaço, na pessoa do Filho:

 

“O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1.14).

 

Reflita: A verdadeira fé em Jesus Cristo é completa: satisfez a justiça de Deus no cumprimento da Lei, o juízo de Deus na expiação dos pecados na cruz, e nos dá esperança de vida abundante com Deus pela sua ressurreição dentre os mortos. Há alguma coisa mais que precisamos ou possamos fazer? Apenas descansar.

 

Ore: Senhor, aumenta-nos a fé.

 

 

 

2. MARCAS DE UMA VIDA ESPIRITUAL AUTÊNTICA - AMOR                                                                          

 

Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós,​desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos; ​por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, ​que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade (Colossenses 1.1-6; Gálatas 1.3; Efésios 1.2)

 

A segunda marca de uma vida espiritual autêntica registrada aqui em Colossenses é “o amor para com todos os santos”. Vamos pensar um momento sobre o povo de Colossos. A população daquela cidade era uma mistura de pessoas pertencentes ao Império Romano, vivendo em uma área próspera da Ásia Menor. Naquela região encontravam-se importantes cidades como Laodicéia, conhecida por suas fontes termais; Hierápolis, conhecida por seus negócios de tingimento de lã; e Colossos, que fora no passado um próspero centro comercial, agora em decadência. Ou seja, a pobreza e a carência assombravam aquela cidade que tempos atrás havia desfrutado de alguma riqueza. Além disto, seu povo era dado à idolatria e ao paganismo.

 

Neste cenário, o evangelho chegou aos colossenses, o que fez com que suas atitudes, bem como toda sua vida, mudassem. Agora eles demonstravam amor um pelo outro. Não continuaram mergulhados no egocentrismo típico de uma sociedade abastada. É muito difícil acreditar que alguém se alegre no cuidado sacrificial para com os outros. Difícil ao homem, mas não quando um coração é transformado pelo Senhor!

 

Em nosso século, percebemos que quando as pessoas estão focadas na riqueza normalmente têm pouco tempo para os outros, especialmente se não lhe interessarem (financeiramente falando). Vive-se somente para o poder e materialismo adquiridos através do dinheiro – um deus deste século. Mesmo entre aqueles que buscam algum tipo de satisfação espiritual através do cumprimento de alguma indulgência, têm pouco interesse pelos outros, exceto quando os outros podem fazer algo por eles. Cristãos também agem assim, e muitas vezes, cercamo-nos de pessoas pelos nossos próprios interesses egoístas. Não abrimos mão (nem pensar) de sacrificar um segundo do nosso precioso seu tempo, a fim de servir aos que não nos interessa. Esta busca por autossatisfação é uma atitude típica da raça humana e é egoísta, carnal e pagã (para não dizer demoníaca).  Vemos o mundo através de uma lente centrada no nosso eu exclusivamente.

 

Com os colossenses não era diferente. Mas, penso que o empobrecimento daquela cidade colaborou para o quebrantamento de seus corações. E foi neste ambiente que o poder do evangelho invadiu o coração daqueles homens e mulheres, de modo que eles começaram a (sacrificialmente) amarem-se uns aos outros. Eles cuidavam das necessidades uns dos outros, e procuraram servir uns dos outros. 

 

Tertuliano, um dos pais da igreja, comenta que os pagãos em exasperação declararam: "Veja como esses cristãos se amam!".  Alguns historiadores comentam que as razões para a rápida propagação do evangelho nos primeiros séculos de existência da igreja foi a prática do amor entre os cristãos. Onde está este amor hoje em dia? Você realmente ama seus irmãos? Qual é a chave para amar desta forma? Podemos trabalhar duro para obtê-lo e vê-lo se revelar em nós? Note o que Paulo escreveu:

 

“Epafras... também nos relatou do vosso amor no Espírito”.

 

Este é um amor relacionado com o Espírito Santo e o fruto que Ele desenvolve em nós. Somente por sua habitação é que o cristão é capaz de amar como convém. Em outras palavras, o tipo de amor que ele descreve só pode ser produzido por Deus, através do seu Espírito. Não é natural para o homem amar assim. 

 

Todos nós conhecemos pessoas que têm certas propensões para a bondade ou o auxílio ao próximo. Mas ágape é um tipo de amor não natural ao coração humano; muito pelo contrário, o homem é naturalmente egoísta, empenhado em seguir seus próprios desejos, amar as coisas que possui e usar as pessoas para seus próprios fins. O Amor cristão através do poder do Espírito deve tornar-se o princípio dominante em nossas vidas. Se o amor de Cristo a todos os homens se tornar uma realidade crescente em nossas vidas, consequentemente amaremos mais a todos. Amaremos de uma maneira especial nossos irmãos em Cristo por causa da vida em comum e da intensa comunhão entre nós.

 

Aqui todas as distinções desaparecem. As diferenças entre nomes, classes, tribos, povos, raças, culturas, línguas e nações deveriam desaparecer entre os cristãos e apenas um Nome, prevalecer: o nome de Cristo. Judeus e gentios, escravos e livres, ricos e pobres, são um em Cristo Jesus. Assim, todos deveríamos trabalhar para um mesmo propósito, dirigidos pelos mesmos princípios, conservando a mesmas esperança, animados pelas mesmas perspectivas, trabalhando pela mesma causa, lutando contra os mesmos inimigos e as mesmas tentações, o mesmo inferno a evitar, e o céu para desfrutar...

 

Reflita: Não é para estranharmos o amor com que os colossenses se amavam um ao outro. É assim que devemos nos amar também: com sinceridade de coração e fervorosamente. Há uma unidade de propósito nisto tudo: A glória de Deus. Você busca a glória de quem? Quando amamos como Cristo nos amou, Deus é glorificado; quando não, nem nós somos.

 

Ore: Senhor, ensina-me amar como convém ao Senhor, e não como convém a mim.

 

 

 3. MARCAS DE UMA VIDA ESPIRITUAL AUTÊNTICA - ESPERANÇA                                                              

 

 

Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós,​desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos; ​por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, ​que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade (Colossenses 1.1-6; 1 Pedro 1.2)

 

A terceira marca de espiritualidade madura e autêntica é a esperança. Observe como Paulo afirma que a esperança é o cerne da fé e do amor dos colossenses: “por causa da esperança que vos está preservada nos céus” Ele vê esperança como raiz do comportamento demonstrado pelos crentes em Colossos. Para compreender melhor, precisamos entender que a Bíblia descreve o incrédulo como uma pessoa sem esperança. Note o que Paulo escreveu em sua carta aos Efésios (2.11-12):

 

Portanto”, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.

 

Agora, o apóstolo escreve que eles têm uma esperança. A ideia de esperança não significa apenas um sonho ou uma utopia, como é usado com tanta frequência em nossos dias. Esperança aqui não é algo vago, mas sim uma certeza: é a espera do cumprimento do que é certo. Uma definição que expressa bem é uma confiante expectativa. Esta esperança não é vã porque tem como base a promessa de Deus e a obra de Jesus Cristo. Pedro nos escreve em sua carta que Deus...

 

“... nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ​para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros ​que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.

Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. (1 Pe 1.3-5,13)

 

A esperança que Deus coloca em nossos corações tira o nosso foco do que é temporal e coloca nossa visão na realidade de uma vida eterna. Assim, a morte não é o nosso fim, mas o início desta nova vida. 

 

Paulo escreveu aos Coríntios que sua antecipação do que estava à frente o motivava a caminhar firmemente através de quaisquer circunstâncias que enfrentara na vida:

 

“...não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas. Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus.” (2 Coríntios 4.18-5:1).

 

Uma atitude completamente nova dirigia os pensamentos de Paulo. Ele percebeu que sua alma era mais importante do que as coisas deste mundo. Ele aprendeu a valorizar mais o eterno do que o temporal. Ele entendeu que a glória e a riqueza frutos da obra redentora de Cristo estavam à frente, por isso podia seguir confiante nas promessas de Deus.  E ele sabia que somente o evangelho é o poder de Deus para nos transformar e proporcionar uma nova e viva esperança.

 

Estamos acostumados com a mensagem que Deus está aí para nos proporcionar saúde, segurança e bem estar sempre. Mas imagine-se sendo açoitado ou preso por causa de Jesus. Como Paulo suportava estas situações desesperadoras com um espírito de alegria e paciência?

 

Reflita: Perceba como a famosa frase de Jim Eliot estava focada na perspectiva correta, carregada de esperança, baseada na fé e encharcada de amor (referindo-se àqueles que dedicam sua vida à missões): “Não é tolo aquele que abre mão do que não pode reter para ganhar o que não pode perder”.

 

Ore: Senhor, desejo viver uma vida cristã autêntica. Uma vida baseada na esperança daquilo que está porvir, experimentar um crescimento saudável pela fé em Jesus.

 

 

 

4. A SUFICIÊNCIA EVANGELHO                                                                                                                      

 

Por todo o mundo este evangelho vai frutificando e crescendo, como também ocorre entre vocês, desde o dia em que o ouviram e entenderam a graça de Deus em toda a sua verdade.  Vocês o aprenderam de Epafras, nosso amado cooperador, fiel ministro de Cristo para conosco,  que também nos falou do amor que vocês têm no Espírito. (Colossenses 1.6-8; Efésios 1.15; Filipenses 1.3)

 

Ainda durante introdução de sua carta aos colossenses, Paulo afirmara que o evangelho veio pela primeira vez a eles através do ministério de Epafras. Pode ser que algum deles pensasse que, de alguma forma, Epafras tinha esquecido alguma coisa ao lhes transmitir o evangelho. Talvez, alguém tenha pensado que ele se esquecera de contar-lhes algum dos mistérios ocultos da qual estavam ouvindo falar. Assim, Paulo autentica a mensagem de Epafras, qualificando o evangelho anunciado.

 

Como você descreveria o evangelho? Em Romanos, Paulo o chama de “o poder de Deus para a salvação” (Rm 1.16) e quando escreve aos Tessalonicenses ele o define como “a palavra de Deus” (1 Tessalonicenses 2.13). Mas aqui ele o chama de “a graça de Deus em toda a sua verdade”. A ideia comum do termo evangelho (boa notícia ou boas novas) aponta para algo que é comunicado. Porém, não é apenas uma notícia qualquer que Paulo focaliza, mas a mensagem da verdade. Assim, “a verdade” qualifica o conteúdo da comunicação desta mensagem. O evangelho não é fruto da imaginação humana, nem de religiões, nem de filosofias, nem do pensamento atual. O evangelho é a verdade! A verdade que é imutável, que atravessa todas as barreiras culturais e linguísticas sem ser diminuída, a verdade que não pode ser alterada por uma nova era dum novo milênio, a verdade que “de uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3).

 

Esta verdade, que por séculos tem resistido a ataques incessantes, foi entregue a nós. Assim como o apóstolo Paulo zelou pela manutenção da integridade desta mensagem, nós também devemos fazer. Não podemos (em hipótese alguma) negociar, diluir, corromper, diminuir ou acrescentar nada a esta ‘Palavra da Verdade’. Paulo redigiu esta carta justamente porque algumas heresias sutis estavam se infiltrando dentro da igreja de Colossos. Ele não hesita em combatê-las com a verdade, a verdade do evangelho de Jesus Cristo.

 

É a verdade do evangelho que nós devemos conhecer e proclamar. É a verdade que diz: “...que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.  Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2Coríntios 5:19,21).

 

É a palavra da verdade, o evangelho, que traz homens mortos à vida e oferece luz àqueles que vivem em trevas Sem este evangelho, semeado em nossos corações, ouvido com a razão e crido pela fé, ninguém tem esperança, seja um perverso ou um moralista, um ateu ou um religioso fervoroso. Você pode ter uma visão correta da eleição e ainda perecer em seu pecado. Você pode entender escatologia e ainda enfrentar o juízo eterno. Você pode ter uma compreensão adequada da igreja, incluindo sua experiência administrativa e ainda queimar, onde o fogo nunca se apaga. Se sua fé não estiver baseada na verdade única do evangelho, de nada adianta uma vida de práticas piedosas.

 

Este evangelho é poderoso! Observe que Paulo diz que “por todo o mundo este evangelho vai frutificando e crescendo, como também ocorre entre vocês, desde o dia em que o ouviram e entenderam a graça de Deus em toda a sua verdade”. 

 

O termo “frutificando” (no grego karpophorew), sugere que é o próprio evangelho quem produz frutos. Quando bem enraizado em um solo fértil, ele naturalmente dará frutos. Esta é a lição que aprendemos do Senhor na parábola do semeador: a Palavra semeada num coração apto a recebê-la frutificará. Não é o coração que frutifica, mas a Palavra que ali cresceu. Ela, por si mesma, cresce e produz. (Mateus 13, Marcos 4).

 

 Os colossenses precisavam compreender isto, por causa daqueles que estavam tentando adicionar algo mais ao evangelho, ensinando que sua mensagem não era suficiente. Ainda hoje, muitos pensam assim: é necessário acrescentar alguma coisa mais, seja uma revelação, uma lista de regras, um novo ensinamento, ou qualquer outra coisa para que ele seja completo. Paulo diz: Não! “Por todo o mundo este evangelho vai frutificando”.

É só pregar o evangelho da verdade que ele produzirá fruto por si mesmo! 

 

Reflita: Que tipo de fruto você gostaria de ver o evangelho produzir em sua vida? 

 

Ore: Pai, não permita que “algo mais” desvie minha fé do evangelho autêntico.

5. O FRUTO DO EVANGELHO                                                                                                                         

 

Por todo o mundo este evangelho vai frutificando e crescendo, como também ocorre entre vocês, desde o dia em que o ouviram e entenderam a graça de Deus em toda a sua verdade.  Vocês o aprenderam de Epafras, nosso amado cooperador, fiel ministro de Cristo para conosco,  que também nos falou do amor que vocês têm no Espírito. (Colossenses 1.6-8; 1 Tessalonicenses 1.2; 2 Tessalonicenses 1.3)

 

Mas que tipo de fruto o evangelho produz? A resposta é: o fruto do Espírito. Quando abrimos nosso coração para esta semente, Deus produzirá um fruto que caracterizará uma vida transformada: amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio (Gálatas 5.22 NVI). Esta é a nova criatura em Cristo (2 Coríntios 5.17), cuja principal marca é o amor para com todos.

 

Há ainda um estímulo para a evangelização e uma mudança de paradigma nisto tudo. Talvez você esteja carregando aquele fardo de tentar mudar a vida de alguém. Se for o seu caso, jogue esse peso no chão! Só o evangelho pode fazer isso. E aqui está o incentivo: se vamos falar do evangelho, onde quer que seja, em situações variadas, para todos os tipos de pessoas, temos que ter esta certeza de que “... este evangelho vai frutificando e crescendo...” por si só, e há muito tempo (bem antes de você nascer)!

 

A palavra “crescendo” refere-se a sua propagação externa. Ele se ramifica em novos territórios. Silenciosamente expande. Quando olhamos para a enorme população do mundo e para os desafios missionários podemos nos assustar. No entanto, considere que o primeiro século tinha apenas um punhado de crentes. Antes de Pentecostes, poderia ter colocado todo o grupo de cristãos em uma de nossas igrejas e sobraria espaço! Mas eles não se intimidaram, nem correram atrás de estratégias de marketing para disseminar o evangelho, nem contrataram uma agência para melhorar sua imagem e lançar uma campanha publicitária e nem investiram em tecnologia para compensar seus números insignificantes. Eles apenas saíram semeando as sementes do evangelho. Eles não passaram por nenhum seminário, faculdade ou mesmo algum curso de testemunhar. Eles simplesmente pregavam o evangelho. O evangelho incomodava tanto as pessoas, que no momento em que chegou a Tessalônica, na Grécia antiga, alguns cidadãos gritaram:

 

“Esses homens, que têm perturbado o mundo chegaram também aqui.” (Atos 17.6)

   

Como pode o evangelho fazer isso? Pois como disse Paulo, este evangelho é “a graça de Deus em verdade”. Ele não é invenção humana. Não é um esquema para aumentar a membresia. Embora seja verdade que, ao longo da história da igreja muitos homens têm distorcido a verdade por motivos escusos e egoístas, o evangelho ainda é a graça de Deus para transformação de pessoas perdidas e sem esperança. 

 

O evangelho dá frutos e cresce porque é o evangelho de Deus. É a boa nova de um Deus misericordioso que decidiu perdoar todos os pecados de toda a humanidade, carregando Ele mesmo, na pessoa de Jesus, nossas dívida impagável:

 

“... tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz” (Colossenses 2.14)

 

Através da morte de Cristo na cruz, feita em benefício de toda humanidade, todos podem ter acesso a Deus, se tão somente crer. O desejo deste Deus longânimo, é que nenhuma pessoa pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (2 Pedro 3.9). Cabe a nós apenas pregar este evangelho (sem retirar e nem aumentar nada) e deixar ele agir.  Mas infelizmente nem todos acolherão as sementes do evangelho da mesma forma.

 

O evangelho, esta “palavra da verdade” ou “da graça de Deus”, chegou em Colossos através de Epafras, que entendera que as pessoas daquela cidade precisavam ouvir a boa notícia sobre o que Deus tinha feito, por meio de Cristo, para resgatar a humanidade.  Eles ouviram “a palavra da verdade”, capaz de salvá-los conforme eles creram.

 

Observe como Paulo descreve a transmissão do evangelho: eles ... ouviram e entenderam a graça de Deus em toda a sua verdade... aprenderam de Epafras”. Este amado cooperador foi até eles pessoalmente, geograficamente. Através de Epafras, o evangelho chegou, invadiu a pequena cidade de Colossos com grande poder, atingindo os corações daquele povo pagão. Uma vez que eles ouviram o evangelho, o Espírito Santo operou de forma que eles entendessem a mensagem como sendo do próprio Deus. Eles entenderam que só o evangelho tinha o poder de livrá-los de seus pecados e do julgamento por vir.

 A palavra “entenderam” implica um reconhecimento ativo e consciente de algo. É um entendimento que o afeta profundamente e provoca mudanças. Portanto, não é uma questão de tentar convencer as pessoas que você está falando a verdade, tentar fazer com que as pessoas busquem um certo estado de espírito, de modo que eles desenvolvam um determinado comportamento entre o público, mas é a pregação do evangelho, para que, pela graça de Deus um pecador possa entender e ser salvo.

 

Reflita: Como é que o evangelho chegou até você? Uma vez que você ouviu e creu, que fruto ele produziu na sua vida?

 

Ore: Senhor, que seja o Fruto do Espírito a maior evidência do evangelho na minha vida: o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio.

 

 

 

6. O PODER DO EVANGELHO                                                                                                                         

 

Por todo o mundo este evangelho vai frutificando e crescendo, como também ocorre entre vocês, desde o dia em que o ouviram e entenderam a graça de Deus em toda a sua verdade.  Vocês o aprenderam de Epafras, nosso amado cooperador, fiel ministro de Cristo para conosco,  que também nos falou do amor que vocês têm no Espírito. (Colossenses 1.6-8; Marcos 4.8; João 15.16)

 

Pense: como é que o evangelho chegou até você? Simples: alguém falou! Da mesma forma, o evangelho chegou a Colossos através de um instrumento humano: “Vocês o aprenderam de Epafras”. A palavra aprenderam significa “direcionar a mente para algo” trazendo consigo a ideia de que seus processos cognitivos fazem parte deste processo. Em outras palavras, sua mente está envolvida. Porém não é um conhecimento mecânico, meramente acadêmico. O evangelho é também experiencial: conhecer aqui implica “experimentar”. A verdade sobre Jesus que você ouviu, entendeu e aprendeu se torna uma experiência de fé quando afeta toda a sua vida.

 

Veja o caso de Epafras: era um verdadeiro leva-e-traz de boas notícias. Aprendamos com ele! Quando Paulo pregou o evangelho em Éfeso, Epafras entendeu a salvação através de Jesus e creu. Não satisfeito em guardar somente para si mesmo esta palavra, ele fez uma viagem de aproximadamente 160 quilômetros até Colossos (possivelmente para Laodicéia e Hierápolis também). Deus utilizou este fiel ministro para levar sua Palavra e estender graça a outras pessoas. É interessante saber que o Senhor não mudou sua estratégia: ainda hoje Ele assim o faz. Ele poderia ter enviado um anjo para Colossos ou ter escrito a mensagem no céu, mas não o fez. Ele escolheu usar Epafras. Da mesma forma, Ele usa você e eu na proclamação do evangelho em todo o mundo. 

 

O que qualificou Epafras para proclamar o evangelho? Atualmente acreditamos que para uma pessoa chegar a ser uma pregadora do evangelho, esta precisa ter autoridade reconhecida através de cursos, escolas preparatórias para missões, seminários teológicos com reconhecimento do MEC, etc. Mas vemos que não foi assim com Epafras. Primeiro, ele ouviu o evangelho e experimentou em si mesmo o seu poder, a alegria da graça e a certeza da esperança. Epafras experimentou o que é ser levado das trevas para a luz. Se você sabe o que é isto pode testemunhar a diferença que Jesus faz em sua vida.

 

Além de sua própria experiência, ele se valeu do que aprendeu com Paulo, enquanto em Éfeso. Paulo chamou-o de “amado cooperador” e “fiel ministro de Cristo”.  O calor do evangelho queimado em sua mente e seu coração o impulsionou a compartilhar da graça salvadora e do amor incondicional de Deus por todos.  Penso que Epafras ainda sentia aquela vontade crescente de conhecer cada dia mais a respeito de Jesus. Creio que ele exercitava sua mente pensando diariamente sobre as coisas do evangelho. Sua compreensão e vontade de testemunhar e crescer na Palavra eram tão visíveis que Paulo não titubeou em enviá-lo para Colossos como “nosso amado colaborador”. Veja que não sou contra cursos, escolas e seminários, porém, creio que o reconhecimento da autoridade do cristão testemunhar não pode depender de um “diplominha”.

 

O próprio apóstolo Paulo reconhecia o poder sobrenatural que operava por trás da mera transmissão da palavra (1 Tessalonicenses 1.1-5): ​”... porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós”.

 

Note: o método que Deus utiliza para espalhar seu evangelho pela face da terra é através da boca humana, daí a importância de falar desta boa nova a todos e testemunhar com a nossa própria vida. Mas a capacitação e a transformação ficam por conta do Seu Espírito. Medite diariamente nas maravilhas de Deus. Procure aumentar a sua compreensão do poder do evangelho, e não aumentar algum poder a mais ao evangelho.

 

Finalmente, Epafras acreditava firmemente que fora do evangelho da graça em Cristo não há esperança, que estamos todos perdidos (prá não falar outra coisa). Assim, ele se propôs – pela graça de Deus, levar o evangelho a Colossos e região. Precisamos ter esta mesma compreensão, que sem a fé em Cristo e seu evangelho não há esperança. Existem pessoas que você conhece que ainda não ouviram o evangelho? Talvez você seja o Epafras que Deus quer usar...

 

Reflita: O evangelho tem criado raízes em sua vida? As evidências da fé em Cristo e o amor para com os irmãos, demonstrados por Epafras são evidentes também na sua vida?

 

Ore: Pai, assim como aqueles colossenses receberam o evangelho, creio na transformação que esta “boa notícia” pode causar nos corações das pessoas ainda hoje. Usa-me como o Senhor usou Epafras.

 

 

7. A PRÁTICA DA ORAÇÃO                                                                                                                                

 

​Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; ​a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; ​sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, ​dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. (Colossenses 1.9-12; 1 Coríntios 1.5)

 

Talvez nada seja tão resistente na vida cristã do que a prática da oração. Raramente encontramos cristãos que confessam estar exatamente onde eles entendem ser o alvo de uma vida de oração. Podemos imaginar que mesmo neste lugar, hoje, estamos unidos com irmãos que há muito tempo anseiam por um desejo crescente na fidelidade e eficácia na oração.

 

 Por que temos tantos problemas com a oração? Uma razão é que a oração é um trabalho duro! Ela requer muita disciplina da nossa parte. Desenvolver consistência leva tempo. É muito fácil fazer tantas outras coisas (coisas boas, diga-se de passagem), mas negligenciar a prática da oração. Podemos ter a certeza de que se alguma coisa pode nos distrair na oração, nos distrairemos! Outro motivo fica por conta da natureza subjetiva da oração. Estamos orando em particular a um Deus que não podemos ver com nossos olhos, pedindo-lhe para fazer coisas que (muitas vezes) duvidamos que ele vá fazer.  Às vezes até nos perguntamos se ele ouve nossas súplicas e os gritos de um coração desesperado, que são os únicos sons audíveis a nós... E não conseguimos ouvir a voz de Deus.

 

Existem alguns recursos para ajudar-nos nestas e em outras preocupações na área de oração. Vários livros abordam uma infinidade de temas sobre a oração e nos ajudam com a nossa disciplina e motivação para buscar a Deus. Mas eu quero olhar para uma área específica sobre oração. Muitas vezes o caso não é falta de vontade de orar, mas em vez disso, a questão é: O que devo orar? Muitos simplesmente recitam uma lista de nomes diante de Deus e “determinam”: Abençoe este e aquele, dê boa saúde aqui, e concerte as finanças lá. Muito das nossas orações giram em torno de saúde, finanças e, ocasionalmente, decisões. Certamente não há nada de errado em orar por estas coisas. Mas vemos que as Escrituras nos levam para outras direções na prática da oração. Esse deve ser nosso foco. Uma rápida olhada no texto acima, já nos convence de que a nossa oração pelos outros irmãos tem um impacto imensurável na saúde espiritual da igreja.

 

Primeiramente, devemos considerar quem é o alvo de nossas orações. Uma das marcas registradas de Paulo em suas epístolas é a constância de sua oração por seus destinatários. Aos romanos, ele escreveu: “Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós, pedindo sempre em minhas orações que nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco.” (Romanos 1.9-10). Aos Efésios, ele escreveu: “Pelo que, ouvindo eu também a fé que entre vós há no SENHOR Jesus, e a vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações” (Efésios 1.15-16).  Para sua amada igreja de Filipos, ele diz: “Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas” (Filipenses 1.3-4). Aos colossenses não é diferente: “Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus”.

 

Assim, o apóstolo define um exemplo de oração para nós. Se tivermos alguma dúvida para quem devemos orar, Paulo não tinha. No seu pensamento o alvo eram aqueles irmãos de quem ele já ouvira falar, e da obra que Deus vinha realizando entre eles.  Precisamos lembrar que Paulo não fundou esta igreja, nem nunca havia pregado um sermão em Colossos. No entanto, vemos que ele estava intimamente ligado aos colossenses pelo fato de ter assumido esta responsabilidade de interceder por eles e instruí-los na fé. Paulo certamente tinha uma agenda bem cheia, apenas com as igrejas que havia estabelecido (como Éfeso e Filipos). Mas é muito interessante notar que sua preocupação com o evangelho estendia- se além de suas próprias pegadas.

 

Reflita: Para quem você tem orado ultimamente? Se Paulo podia orar por uma igreja onde ele nunca havia pregado, certamente devemos nos motivar a orar pela igreja onde congregamos. Penso que este é um bom alvo para começar orar, além de nossas preocupações pessoais e familiares. 

 

Ore: Pela saúde da igreja, tão atacada e retalhada em nossos dias.

 

 

8. ORANDO UNS PELOS OUTROS                                                                                                                          

 

​Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; ​a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; ​sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, ​dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. (Colossenses 1:9-12; Romanos 12.12)

 

Devemos orar também por outro motivo igualmente nobre: pela graça de Deus entre nós. As únicas pessoas que não precisam de nossa oração são aqueles que chegaram ao top da espiritualidade. Conhece alguém que se qualifica? Então, todos nós necessitamos das orações de cada membro do corpo. Aqui se encontra implícito como o viver cristão deve ser em relação uns aos outros. O exercício da oração, nesse contexto, aponta para aqueles com quem nos relacionamos.

 

O que motivou Paulo a orar para os crentes de Colossos? Ele ouviu falar da obra de Deus entre eles! Paulo sabia que o evangelho havia chegado a eles, que ouviram, entenderam, aprenderam, e desejavam seguir a Jesus (1.5-7). Mas ele também sabia o que os colossenses estavam enfrentando. Esta jovem igreja estava sendo invadida por aqueles que reivindicavam um conhecimento secreto dos mistérios divinos, por outros que diziam que a chave para a espiritualidade estava numa vida monástica, e ainda outros que defendiam a manutenção do legalismo sobre eles. Paulo sabia que precisavam de conhecimento e sabedoria para discernir e resistirem a tais influências. Então, Paulo orou.

 

Paulo ainda orava regularmente por todos, como diz: “não cessamos de orar por vós e de pedir”. Sabemos que o apóstolo exortava os cristãos a “orar sem cessar” e a “se dedicarem à oração”. Podemos não saber os detalhes exatos de sua vida de oração, mas temos a certeza de que oração era uma parte vital de sua caminhada permanente com Cristo; e intercessão pelos outros era uma parte importante desta prática. Sabemos também que ele orou pessoalmente e fielmente para algumas pessoas em particular.

 

Podemos aprender com Paulo alguns princípios para nossa prática de oração diária, a começar por um tempo e lugar definido. Às vezes podemos ser um pouco flexíveis, mas sabendo que oração exige disciplina e diligencia. Se não fizermos planos para orar, provavelmente não conseguiremos! Além disto, podemos manter um diário ou lista daqueles a quem vamos orar. Isso servirá como um lembrete das necessidades que os outros têm e as pessoas para quem temos maior preocupação. 

 

Ao analisar o conteúdo da oração de Paulo aos colossenses, podemos perceber que ele estava bem ciente dos problemas que estavam enfrentando: “não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual”. Certamente haviam pessoas doentes ou desempregadas naquela sociedade, mas essência do conteúdo da sua oração foi que os colossenses pudessem compreender a verdade e permanecer firmes nela.

 

Esta igreja estava em seu período formativo, praticamente ainda na infância. Por causa de sua pouca maturidade, ela corria o risco de ser varrida pelas falsas doutrinas, ou ser influenciada a uma direção que teria danificado o resto da vida daquela congregação. O problema do gnosticismo incipiente, as religiões populares, sincretismo religioso, legalistas e ascetas bombardeavam os jovens cristãos, por isso eles precisavam ser preenchidos com o conhecimento de vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual.

 

O texto original traz a seguinte implicação: “Que Deus vos encha do conhecimento da sua vontade” (isso é evidente pelo uso da voz passiva no grego). Nem eles e nem nós somos preenchidos com tal conhecimento por nossas próprias mentes, mas por obra da graça de Deus em nós. A maioria dos estudiosos acredita que havia um grupo em Colossos que afirmava ter um conhecimento (gnosis) especial dos mistérios de Deus. Estes se autoglorificavam em seus discursos e eram elitistas espirituais.  Sem esse “conhecimento” (gnose) os crentes de Colossos não seriam capazes de alcançar um nível superior e desfrutar dos mistérios de Deus, insistiam.

 

A oração de Paulo é tanto reconfortante quanto instruidora. O que eles precisavam não era um conhecimento especial, mas simplesmente conhecer a Deus. Assim, ele ora para que o Senhor se faça conhecer aos colossenses. 

 

Se há alguém que tem essa mesma necessidade de conhecer a Deus e caminhar com Ele, então já temos um motivo para orar pelos outros.  Não há nada de errado em emprestar uma oração bíblica para orar pelos outros. Muito pelo contrário, ao utilizar as Escrituras na oração, certamente não temos que nos preocupar se estamos orando segundo a vontade de Deus. Penso ser extremamente sadio usar orações bíblicas para ajudar a guiar nossas intercessões pelo próximo.

 

Reflita: Quais motivos nos impulsionam a orar pelo próximo? Saiba que estes motivos mostram o que consideramos ser os assuntos mais importantes da nossa existência.

 

Ore: Senhor, nos ajude a sair de nossa mesquinhez. Que o foco de nossas orações esteja nas coisas que tem valor eterno.

  

 

9. ORANDO POR UM PROPÓSITO MAIOR                                                                                                           

 

​Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; ​a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; ​sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, ​dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. (Colossenses 1.9-12; Efésios 4.1; Filipenses 1.27)

 

Paulo considerou o que os cristãos de Colossos estavam enfrentando e orou. Mas é interessante notar que foi bem além de suas necessidades físicas e materiais. Sua verdadeira preocupação era com a vida espiritual dos colossenses. À medida que vamos nos envolvendo nos relacionamentos dentro do corpo de Cristo, que ficamos atentos às necessidades na vida uns dos outros, que ouvimos os problemas que pesam em seus corações, temos que começar a (re) considerar a maneira como oramos.

 

 Podemos ver ainda que Paulo tinha um objetivo com este pedido: “a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus”. Certamente Paulo desejava ver algumas mudanças na vida daqueles irmãos. Para que isso acontecesse, eles precisavam ser preenchidos com o conhecimento de Deus.

 

 Paulo queria ver mudanças no comportamento. É bem verdade que a ideia de crescimento espiritual sempre começa com conhecimento da vontade de Deus, mas sua implicação final é um comportamento transformado pela Palavra. Diz respeito aos valores cultivados, à nossa moral, e à ética nas pequenas coisas do dia-a-dia, etc. Invariavelmente, crescimento aponta para obediência a Deus. Quando Jesus disse que seus discípulos são sal e luz no mundo, referia-se também às dimensões éticas de nossas vidas. A Palavra não deve apenas ocupar nossas mentes, mas transformar todo nosso comportamento e ações (nossos negócios, relações sociais, vida financeira, relações familiares, nosso falar, olhar, ouvir, etc.).

     

 Paulo também queria ver o objetivo de vida aqueles irmãos afetada. Isto é indicado pela frase, “para o seu inteiro agrado”, ou seja, para agradar a Deus em todos os aspectos. Agradar a Deus era o objetivo do Senhor Jesus. Ele sempre procurou fazer o que agradava ao Pai (João 8.29):

 

“E aquele que me enviou está comigo; o Pai não me tem deixado só porque eu faço sempre o que lhe agrada”.

 

Era este mesmo objetivo que o apóstolo levava adiante ao instruir as igrejas. Escrevera aos efésios que eles deveriam viver “como filhos da luz... aprendendo a discernir o que é agradável ao Senhor” (Ef 5.8-10). Sempre queremos agradar a quem amamos, e isto significa que devemos avaliar as decisões de nossas vidas à luz desta pergunta: “Isto é agradável ao Senhor?” Será que nossas decisões honram o Senhor e redundam em glória ao seu nome?

 

Paulo queria que a transformação no modo de viver atingisse ainda o ministério cristão. A partir do momento que eles tivessem uma melhor compreensão da revelação de Deus, e aplicassem-na em suas vidas, seriam evidenciados os frutos no seio daquela igreja: “frutificando em toda boa obra”.  Há uma ênfase neste termo (em toda), pois Paulo desejava ver esses cristãos tão cheios do amor por Deus que tudo o que eles fizessem manifestaria a glória e a graça de Deus: isto é frutificar! Mais à frente, Paulo descreve esta prática (Cl 3.17):

 

“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai”.

 

E da mesma forma, ele instrui aos coríntios (1 Coríntios 10.31):

 

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.”

 

Por fim Paulo queria ver transformada a compreensão que eles tinham de Deus. Isso fecha o círculo: Para ver a mudança na vida dos colossenses, eles precisavam ser preenchidos com o conhecimento de Deus. Este conhecimento é fundamental para melhorar o comportamento ético, o objetivo de suas vidas, e o serviço cristão. E tudo isso redunda num aumento ainda maior do seu conhecimento de Deus (um crescimento constante em nossa compreensão pessoal da revelação de Deus). Quanto mais servimos ao Senhor mais crescemos na graça, e nossa capacidade de compreender a Deus aumenta. Quanto mais sabemos sobre Deus, mais queremos servir. Quanto mais servimos, mais aumenta nosso desejo de conhecê-lo. 

 

Reflita: Uma vida frutífera significa que a graça de Deus está ativa em nós, sendo evidenciada pela nossa disposição a servir e amar os outros.

 

Ore: Senhor, tira-me do comodismo e desenvolva em mim este poder que alcança outras pessoas. Que eu possa fazer diferença na vida de muitos.

 

 10. ORAÇÃO CONSISTENTE                                                                                                                                       

 

Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; ​a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; ​sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, ​dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. (Colossenses 1:9-12; 1 Tessalonicenses 2.12; João 15.16)

 

O conteúdo da oração que Paulo deixou registrado em Colossenses contrapunha-se àqueles que afirmavam ter alcançado algum conhecimento misterioso de Deus. Estes não conseguiram ver que o nosso conhecimento de Deus é sempre crescente e não é algo “atingível” por conta de alguma iniciação. Nós temos uma capacidade finita para compreender a um Deus infinito. No entanto, à medida que crescemos em Sua direção, o próprio Deus aumenta a nossa capacidade de conhecê-lo e compreendê-lo.

 

 Não sei se há alguma maneira de avaliar o impacto da oração em nossas vidas. Não há meios para se criar um impactômetro (escala de impacto oração). No entanto, à luz do nosso texto, podemos ver que quando Deus trabalha, algumas coisas acontecem em resposta às nossas orações. Depois de orar pela plenitude do conhecimento de Deus, a certeza de Paulo era que aqueles irmãos seriam fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz”.  Isso aponta para dois resultados específicos na vida do cristão: perseverança e gratidão.

 

Paulo faz um jogo de palavras: fortalecidos com todo o poder”. Aqui ele menciona duas vezes a palavra grega dunamis, e poderia ser traduzida como “vocês podem ter o poder [de Deus] com todo poder”.  Como está na voz passiva, significa que nós recebemos de Deus, ou seja, é o próprio Deus, pelo Seu poder, quem nos fortalecerá para que possamos perseverar nas dificuldades.

     

Força e poder não nos são dados simplesmente para exibirmos força e poder, mas para permitir que nós suportemos (hupomone) as aflições que aparecem em nosso caminho e pacientemente lidarmos com estas circunstâncias. A isto chamamos de perseverança. Em Romanos 5.3,4 Paulo escreve:

​E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; ​e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.

Aqui também aparece a palavra (hupomone). Ela aponta para a capacidade de manter-se sob pressão (em circunstâncias e relacionamentos), por mais difíceis possam ser, através da força e poder dados pelo Senhor. Aqueles que estão buscando caminhar com Deus e servi-lo estarão mais bem preparados para perseverar nestas situações.

 

Penso que este era o objetivo final da oração de Paulo: uma vez que eles crescessem no conhecimento de Deus, consequentemente, cresceriam na fé, no amor e no serviço, e em seguida, encontrariam a força necessária para perseverar.  Perseverança deve ser visto mais como uma consequência da nossa caminhada com Cristo, do que qualquer coisa que possamos fazer pelas nossas forças.  Em nossa jornada, conforme caminhamos fielmente, o Senhor nos concede a força para perseverar.

 

A atitude de todo aquele que tem trilhado e experimentado desta força, deve ser profundamente agradecido pela Sua graça. Ou seja, a ênfase no agradecimento deve estar focada em Deus: “... dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz”.

 

Não foram nossas boas obras ou nossa justiça que nos qualificou para participarmos da herança divina. Foi a graça de Deus. Podemos saber que estamos crescendo no conhecimento de Deus quando nos vemos olhando firmemente para esta graça. Graça que nos trouxe até aqui e nos levará à vida eterna. O reconhecimento da graça nos faz andar em humildade e dependência divina. Isto é vida cristã! 

 

Faça um exercício: Anote o nome de 10 pessoas, depois peça ao Senhor para lhe mostrar suas necessidades espirituais. Converse com essas pessoas para ouvir o que elas estão enfrentando em vidas. Proponha-se a orar regularmente em por estas pessoas, talvez utilizando a oração deste texto ou outro.

 

Reflita: Responda sinceramente (só entre você e Deus): Você acha muito difícil alcançar este patamar? Bem, então este é mais um motivo de oração... uma boa razão para pedir a Deus (que não conhece impossibilidades)

 

Ore: Que o Senhor nos transborde do pleno conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de que vivamos de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, para que frutifiquemos em toda boa obra, sempre crescendo no pleno conhecimento de Deus. Que sejamos fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, dando sempre graças ao Pai, que nos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz.

 

 

 

11. RESGATADOS!                                                                                                                                                     

 

​Ele nos resgatou do império das trevas e nos transportou para o reino do filho do seu amor, ​no qual temos a redenção,

a remissão dos pecados. (Colossenses 1.13-14; Efésios 2.4-9; 1 Tessalonicenses 2.12)

 

Há cinco palavras nestes versículos que precisamos saber o significado, para compreendermos bem a profundidade da mensagem que Paulo quis transmitir aqui: resgate, império, reino, redenção e remissão.

 

Resgate é uma palavra que voltou a ser utilizada nestes últimos anos graças à ação da polícia frente aos inúmeros sequestros ocorridos em nossa sociedade. O dicionário Aurélio traz a seguinte definição: livrar de cativeiro ou  sequestro a troco de dinheiro ou de outro valor; pagar a dívida; obter por dinheiro a restituição de algo; retomar, recuperar, salvar.

 

O contexto, porém, nos remete a um mercado de escravos. Naquela época escravidão era uma realidade. Havia pessoas que nasciam livres e aquelas que já nasciam escravas. Uma pessoa livre poderia se tornar escrava por conta de uma dívida. Dependendo da quantia, seus filhos e até netos poderiam permanecer debaixo de escravidão até que a dívida fosse quitada (redimida). Mas alguém poderia pagar o preço e resgatar o escravo, seja para se tornar seu patrão ou simplesmente para remi-lo (libertá-lo daquela dívida para sempre).

 

Note que redenção e remissão são praticamente sinônimas e estão intrinsicamente ligadas à questão do resgate, mas com pequenas diferenças. Redenção é a ação de pagar o preço exigido pelo resgate. Pedro nos revela este valor em sua primeira carta:

 

“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.” (1 Pedro 1.18-19)

 

Já a palavra remissão é o resultado da redenção, ou seja, o perdão ou a quitação do ônus ou dívida.

 

Precisamos também entender a diferença entre império e reino. Da forma como são usadas hoje, as duas palavras costumam ser empregadas no sentido de Estado (governo). A questão da extensão territorial é relevante, mas talvez a diferença mais importante entre os dois conceitos seja outra: o rei governa seu próprio povo, enquanto o imperador é soberano sobre vários povos (reinos), às vezes conquistados pela força, mas também pelo poder econômico ou pela eficiência diplomática. Dentro de um império, podem coexistir várias etnias diferentes, unificadas por uma única administração e submetidas a uma mesma autoridade. Apesar de que nenhum dos dois (império e reino) é bom ou mau por si só, aqui em Colossenses Paulo define a natureza de cada um para explicar de onde fomos resgatados: de um império de trevas para um reino de luz. Consequentemente, entendemos o quão opostos são um do outro.

 

Cristo nos resgatou! A linguagem utilizada deve transportar nossas mentes para um mercado de escravos, onde nós estávamos cativos pelo pecado. Deus é o nosso libertador e o sangue de Cristo na cruz foi o preço pago por este resgate. Aleluia! O resgate aconteceu através de Cristo e sua obra redentora na cruz (Colossenses 2.15).

 

As Escrituras fazem uso destas palavras há muito tempo. Ela descreve o Senhor como aquele que resgata (salva) de um império que escraviza a todos. O diferencial, porém, está no fato de que Ele não é resgatador daqueles que estão ao seu lado, mas daqueles que são seus inimigos (Romanos 5.10). Ele resgatou o pagão Abraão de Ur dos Caldeus e deu-lhe uma herança. Ele resgatou os filhos rebeldes de Israel que estavam cativos no Egito. O livro de Juízes dá inúmeros exemplos de resgate a uma nação teimosa e obstinada que continuamente caía sob o jugo de nações vizinhas. Mas o maior resgate foi aquele que aconteceu na cruz do Calvário. Lá, o Filho de Deus nos resgatou - pecadores indignos, e o preço foi seu sangue.

 

Reflita: Cristo nos resgatou do império das trevas! A frase nos ajuda a compreender qual era a nossa condição sem Cristo. O domínio de Satanás sobre nossas vidas foi removido para sempre porque a justiça divina fora satisfeita e a penalidade do pecado retirada. Todos os que creem podem desfrutar desta salvação. Você crê?

 

Ore: Senhor, embora não consiga compreender a profundidade e extensão do Teu amor, quero agradecer-te pela iniciativa tão nobre de me resgatar da escravidão e me transportar para o teu reino. Obrigado, Pai.

 

12. O QUE MAIS PODEMOS ACRESCENTAR AO RESGATE?                                                                               

 

Ele nos resgatou do império das trevas e nos transportou para o reino do filho do seu amor, ​no qual temos a redenção,

a remissão dos pecados. (Colossenses 1.13-14; Efésios 1.7)

 

Um escravo ou cativo (sequestrado) não tem absolutamente nenhum poder sobre sua situação. É preciso que haja uma intervenção de alguém de fora para que o resgate seja feito. O resgate em si já é uma obra completa!

 

Mas em Colossos, os adversários do evangelho estavam insistindo que o que Cristo realizou não foi suficiente. Ritos secretos, mistérios inexplorados e conhecimento oculto eram necessários para alcançar um nível superior de espiritualidade, alegavam. Por este motivo, o apóstolo mostra para aqueles cristãos enfraquecidos pelo engano o caminho de volta. Paulo aponta para o que Cristo fez e como Ele realizou com sucesso a missão recebida do Pai, para o benefício de todos os que creem. 

 

Fomos resgatados de um local de trevas (que não permitia que enxergássemos nada, nem onde estávamos e nem o que aconteceria conosco) e levados para um local iluminado. O dono do cativeiro tinha nossas vidas em suas mãos. Podemos dizer que esta é a situação de todos os que estão sem Cristo. Ironicamente, estes mesmos que resistem ao evangelho, alegam que assim mantêm a sua “liberdade”. Há uma série de textos que nos ajudam a enxergar com mais clareza esta situação:

 

“... nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência (Efésios 2.2)

 

Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça? ​Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; ​e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. (Romanos 6.16-18)

 

Fomos resgatados de uma condição de trevas. Esta é a principal característica deste império. Não temos como dimensionar o domínio de Satanás e do pecado. Mas podemos compreender (pelas Escrituras) que sua principal característica é a escuridão. Esta palavra diz respeito a uma condição espiritual e moral dominado pelo pecado, e é usada para descrever o reino do mal. O evangelho de João, descreve bem este contraste entre trevas e luz:  

 

​O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. ​Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. ​Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus. (João 3.19-21)

 

Escuridão é a antítese de tudo que é bom, santo, certo, justo, puro, estável e pacífica. É a imagem do caos, da incerteza, da insegurança e da instabilidade que uma vida longe de Deus proporciona. Jesus se apresenta como a opção contrastante deste reino:

 

“Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida”. (João 8.12)

 

Uma questão tem se arrastado durante séculos indaga: “O homem é intrinsicamente bom?” Embora o evolucionista humanista sugira que estamos melhorando, as próprias evidências e leis naturais mostram que não: estamos nos degenerando a cada geração... em todos os sentidos. Quando olhamos para trás (para o homem das cavernas) vemos que eles lutavam por comida, espaço, reprodução e sobrevivência. Além disto, preocupavam-se em dominar a natureza e pintavam paredes. Agora olhe para o homem moderno! Podemos estar vivendo em casas e cidades, mas nossa luta é a mesma e ainda escrevemos nas paredes e, pior ainda! 

 

Mas fomos resgatados pela graça divina. Observe o contexto nos vs. 11-12, que mostra o que Deus tem feito por seus filhos. A ênfase no evangelho é sempre sobre o que Deus tem feito por nós, nunca sobre o que o homem tem feito para melhorar suas condições. Tentativas humanas estão de sempre aquém da glória de Deus (Romanos 3.23). Foi Deus quem nos encontrou em meio às trevas, deformados pela influência do mundo, moralmente fracos e espiritualmente mortos. Então, Ele nos resgatou! Libertação de um domínio pelo poder da Sua autoridade. Ninguém nunca poderia salvar-se a si mesmo. Ninguém pode escapar deste domínio das trevas por acaso ou sorte. A melhor palavra para descrever este resgate é graça. Foi iniciativa de Deus, escolha de Deus e o amor de Deus que vieram em nosso socorro. 

 

O texto de Hebreus 2.14-15 explica como este ato de graça se deu:

 

Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida.

 

Os intimidadores da graça em Colossos estavam tentando fazer aqueles jovens cristãos pensarem que ainda faltava alguma coisa mais.

 

Reflita: Você compreende a realidade de ter sido resgatado da escravidão do pecado através de Cristo? A coisa mais surpreendente sobre este resgate é que Deus resgata aqueles que estão em inimizade com Ele! O apóstolo declara: Deus já salvou você! Você não pode adicionar absolutamente nada ao que Ele tem feito!   

 

Ore: Apenas agradeça por tão grande salvação!

 

 


13. MISSÃO CUMPRIDA!                                                                                                                                                   

 

Ele nos resgatou do império das trevas e nos transportou para o reino do filho do seu amor, ​no qual temos a redenção,

a remissão dos pecados. (Colossenses 1.13-14; Efésios 2.1-10; )

 

Embora a obra de Cristo na cruz tenha sido completa, nem todos desfrutam desta graça. Mas por quê? Será que o valor do resgate não foi suficiente?  E a redenção do mercado de escravos não alcançou todo seu propósito? A remissão dos pecados tem alguma implicação na sua vida?

 

Durante alguns anos, fiz um trabalho voluntário numa penitenciária. Ficava imaginando a seguinte situação hipotética: se alguém se propusesse a pagar todas as fianças e todas as penas de todos os que ali se encontravam detidos, como estes encarcerados reagiriam? Conhecendo melhor as almas aprisionadas naquele ambiente, pude entender que mesmo que aqueles homens e mulheres recebessem perdão pleno de seus crimes, nem todos desfrutariam da liberdade da maneira adequada. Uma grande maioria reagiria da maneira esperada: a liberdade seria para voltar à sua antiga vida de crime e violência. Outros não aceitariam tal indulgência (por orgulho ou por comodidade) e prefeririam continuar em suas celas. Mas uma pequena parcela pararia por um minuto e refletiria: “livre?... alguém pagou o preço?... quem foi?... quero conhece-lo, agradece-lo e servi-lo”.

 

Creio que o Senhor não nos salva para, em seguida, nos colocar em um vácuo para escolher seguir ou não a Cristo.  Ele nos resgatou e, em seguida, nos transferiu para o Reino do Filho do seu amor (literalmente). A palavra transportou é usada nesta passagem de uma maneira muito peculiar, diferente da forma como a utilizamos, ou seja,  retirar alguma coisa de um lugar e levar para outro.  Mas aqui em Colossenses a ideia é de transferência, como quando somos transferidos de um ambiente para outro. Mais um detalhe, é que não somos nós quem requisitamos esta transferência, ela é um ato de pura graça de Deus por nós.

 

Estávamos sobre domínio de Satanás, e de sua ‘autoridade usurpada’. Mas fomos transferidos por Deus para o reino de Cristo. Aqui surge uma curiosidade: Há alguma diferença entre o reino de Deus e o reino de seu filho?  Provavelmente não. Normalmente entendemos o reino de Deus como a abrangente dimensão eterna do governo de Deus sobre nossas vidas. Mas o reino de Cristo também é referido como sendo de natureza eterna, e não temporária, conforme nos relata 2 Pedro 1.10,11:

 

Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. ​Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

 

Portanto, podemos definir o reino de Cristo como o governo soberano do Senhor Jesus sobre os corações daqueles que creem, e aquilo que, em sua plenitude habita em nós, se torna eficaz em nós.  A singularidade deste Reino é visto em Romanos 14.17: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”

 

O nosso livramento (resgate + transferência) se dá única e exclusivamente pela obra de Cristo, que satisfez a justiça de Deus pela qual Ele declara que pecadores sejam justificados. A transferência para o reino de Cristo implica no conhecimento, adoração e serviço ao nosso Redentor. Somente “alguém de fora” teria condições de pagar o preço exigido para nossa liberdade. Nós fomos redimidos da maldição da lei, porque Cristo fez-se maldição por nós (Gálatas 3.13). 

 

Por fim, a característica marcante desta redenção é o perdão dos pecados. Estes termos passaram a ser equivalentes justamente porque é pela obra redentora de Cristo que somos perdoados (cf. Efésios 1.7 e Colossenses 2.13,14).  Redenção implica na libertação de uma situação, mas com o fim de ser levados a outra situação completamente diferente. É inconcebível a ideia que Deus nos liberta para que continuemos viver nossa velha vida. Libertação sem transformação seria uma incoerência (também de nossa parte). 

 

Reflita: Você foi resgatado do império das trevas e transferido para o Reino de Cristo, remido única e exclusivamente pela soberania de Deus. Você vive esta realidade? Reconhece o que Ele fez por você? Consegue estender esta graça a outros através do perdão e da mensagem do evangelho?

 

Ore: Senhor, ajude-me a compreender a plenitude desta graça, as implicações desta liberdade e a responsabilidade do testemunho cristão.

 

 

14. A IMAGEM DE DEUS                                                                                                                                                                             

 

Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; ​pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. ​Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste (Colossenses 1.15-17; Filipenses 2.6; Hebreus 1.3)

            

Um dos problemas mais comuns cometido por missionários ao redor do mundo é a falta de discernimento para separar (ou conciliar) evangelho Bíblico de cultura local. Nestes campos é muito comum – e igualmente complicado, a mistura que se faz entre Cristianismo e superstições, crenças e tabus, preservados por séculos nestas culturas. Consequentemente os missionários tem dificuldade em compartilhar sua fé enquanto que os nativos não veem sentido na mensagem e tem dificuldade em confiar em Jesus para sua salvação e vida diária. 

 

Mas creio que este não é um problema exclusivo das tribos e aldeias mais isoladas do mundo. Parece ser também um problema em nosso próprio contexto cultural. Sempre que há uma incompreensão ou insatisfação com a suficiência do evangelho de Cristo e da revelação bíblica a respeito dEle, a velha inclinação humana para “complementos espirituais” (como culto aos anjos, superstições, legalismo, experiências extra bíblicas e segredos exclusivos) aparecerão. Ou seja, vivemos a mesma situação e enfrentamos os mesmos problemas de uma cultura animista, por exemplo. 

 

Os locais e tempos podem ser outros, mas as circunstâncias em Colossos era bem semelhante. A estratégia que Paulo utiliza nesta carta é simplesmente desenhar o perfil de Cristo. Você notou o destaque que o apóstolo deu (até aqui) à pessoa e obra de Jesus? A partir do v. 15, ele delineia a identidade de Jesus Cristo definindo-O como O Criador: Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”.

 

O que ele quer dizer com “a imagem do Deus invisível”? Quando pensamos em imagem, normalmente formamos na mente a cópia de algo, como um desenho ou uma pintura. Para nós, imagem não é uma coisa real, mas virtual. Por exemplo, uma fotografia é uma imagem captada de uma realidade (um por do sol ou uma criança). A fotografia não é realmente a cena do pôr do sol ou da criança, mas uma imagem destes. Mas o que pode ser entendido em nossa língua pode ser completamente diferente em outra língua (e cultura) de 2.000 anos atrás. A palavra grega para imagem aqui em Colossenses é a palavra ícone. Traduzindo ao pé da letra, Cristo é o ícone de Deus. Para nossa felicidade, a palavra ícone voltou a ser utilizada de uns anos para cá por conta da informática. Ela é entendida como um símbolo que representa algo pelos seus traços mais característicos (como um símbolo na tela do computador). No pensamento grego o ícone é esta imagem que representa algo muito maior, no sentido de ser parte do todo. Portanto, ícone é uma minúscula realidade do todo que ele representa.  O que Paulo explica aqui é que a pessoa de Jesus faz parte e revela algo que é invisível e muito maior: Deus.

 

Como podemos ver a Deus? João declarou que “nenhum homem jamais viu a Deus”. Por que? Porque Deus é espírito e invisível ao olho humano (João 4.23-24).   Mas na continuação, João escreve que “o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou”. (João 1.18). O fato é que em Cristo, o Deus invisível tornou-se visível. Ele compartilha eternamente a mesma substância de Deus e tornou o caráter de Deus conhecido nesta esfera humana. Alguns antagonistas de Colossos ensinavam que Jesus não era Deus, mas sim uma ‘emanação de Deus’, da mesma forma que os raios do sol são emanações do sol.  Paulo, então, defende que Cristo revela o Deus invisível para nós! Quando Cristo é definido como “a imagem de Deus” a ênfase cai sobre a igualdade com o original.

 

O escritor de Hebreus usa um termo semelhante para expressar a mesma relação de Cristo como Deus (Hb 1.3):​“Ele, que é o resplendor da glória (de Deus)” ou seja, a evidência visível da glória de Deus, que não pode ser contida; e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder (que é equivalente  à “Nele tudo subsiste”). Assim, Paulo não está falando que Cristo é apenas um exemplo do que Deus é. Tampouco ele está se referindo a alguém que é apenas semelhante a Deus em caráter. Ao invés disso, ele diz aos colossenses que Cristo, é Deus visível para a humanidade! João 1.1-14 revela exatamente a mesma coisa. 

 

Em seguida, Paulo acrescenta a respeito de Cristo: “o primogênito de toda a criação”. Diferente do que prega as Testemunhas de Jeová (ressuscitando o arianismo, heresia do século IV) ele não quer dizer que Jesus foi o primeiro ser criado e que, depois de ter sido criado, tornou-se o agente criador. O próprio contexto facilmente esclarece isso: “​... pois, nele, foram criadas todas as coisas”. Ele não escreveu “foram criadas todas as outras coisas” ou “Ele criou tudo, exceto a si mesmo”. Jesus não é criação de Deus como “todas as coisas...”. Paulo aponta claramente que tudo o que existe no reino visível e invisível, Cristo criou. Ele, portanto, não poderia ser criado, conforme João:

 

“Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1.3).

 

Jesus é gerado de Deus eterno, portanto é igualmente eterno: exatamente a mesma essência e natureza. A palavra primogênito aqui tem também a conotação de primazia, da mesma forma que Ele é “o primogênito de entre os mortos”, onde o próprio apóstolo esclarece: “para em todas as coisas ter a primazia”.

 

Precisamos ainda considerar o uso deste termo no Antigo Testamento. Deuteronômio 21.17 e Ezequiel 4.22 primogênito expressa posição, louvor, honra e respeito. Salmos 89.27 usa esta palavra para descrever o destaque do rei de Israel diante das nações.  Portanto, dizer que Jesus é o primogênito de toda a criação exalta-O sobre ela e não O iguala com ela.  Em outras palavras, Ele não é parte da criação, mas está acima dela. 

 

Por que Paulo fez questão de abordar este assunto? Lembre-se: os colossenses estavam sendo influenciados por filosofias e doutrinas estranhas à fé cristã. Por exemplo, a dar mais prioridade aos anjos do que a Cristo. Anjos são meras criaturas, que rendem a Cristo a honra, o louvor, o respeito e o reconhecimento devido como Deus e criador. Segundo o escritor de Hebreus (1.3-6):

 

Ele (Jesus), é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser (de Deus), sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, ​tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. ​Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?

​E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.

 

Então, por que gastar tempo e energia atrás de algo que é inferior a Cristo? É somente a Jesus que devemos adorar, louvar, servir, dirigir nossas orações, esperar, confiar e é o seu Nome que devemos proclamar.

 

Reflita: Qual é a importância de saber estas coisas? Por que Paulo fez questão de registrar estas características de Cristo nesta carta? Como isto muda ou afeta sua conduta diária e pregação do evangelho?

 

Ore: Glória a Deus por Sua revelação e Sua posição sobre toda a criação em Cristo Jesus.

 

 

 

15. AS OBRAS DE UM CRIADOR                                                                                                                                    

 

Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; ​pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. ​Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste (Colossenses 1.15-17; João 1.1-3)

            

Agora que os colossenses obtiveram uma compreensão melhor da natureza de Cristo, Paulo dá um passo à diante ao posicionar Jesus Cristo como criador de todas as coisas. Isto nos remete diretamente para o relato de Gênesis 1: “No princípio, criou Deus os céus e a terra...”, e nos ajuda a enxergar que o propósito da nossa existência, bem como o relacionamento com toda criação, tem a ver com o fato dEle decidir nos criar. Esta linha de pensamento vai não somente contra o ateísmo, mas também o deísmo, filosofia que aceita a existência de Deus, porém não através de revelação, mas sim do uso da razão, do livre pensamento e da experiência pessoal.  Os deístas defendiam (e defendem) o conceito de um Deus distante, que vive a parte de qualquer envolvimento com sua criação.

 

Paulo revela que a ação de Cristo na criação não se restringiu ao projeto, nem tampouco ao processo criador. Cristo encarnou como homem e habitou entre nós. O objetivo era ajudar os colossenses perceberem que este Jesus que há poucos dias atrás estava andando por este mundo é realmente o Deus criador.  Assim, compreendendo esta verdade, eles poderiam ponderar a loucura de depositar sua fé em meras criaturas. 

  

Paulo explica ainda a extensão da criação de Cristo: “Tudo foi criado por meio dele e para ele”. Tudo! O visível e o invisível, o que existe no mundo físico e que o que existe no reino espiritual “sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades”, fazendo provável menção a anjos e outros seres espirituais. Apesar de Paulo não nos esclarecer isso, ele geralmente usa os dois últimos termos (principados e potestades) fazendo referência aos maus espíritos. Independente do que seja, uma coisa fica bem clara: seja um anjo ou um demônio, todos eles são meras criaturas. Então, ao invés de reverenciá-los ou teme-los, mire-se no nosso Criador.

 

Isso é relevante para os dias hoje? Sem dúvida. Além das inúmeras filosofias que influenciam a igreja, sempre houve ao longo da história (e nos últimos anos não tem sido diferente) certa mística e obsessão em torno dos anjos.  Pessoas (inclusive crentes) dirigem-se a anjos para obter algum tipo de benefício, recorrem a estes seres para realizarem coisas em suas vidas ou buscar algum tipo de proteção, conforto ou orientação. Na verdade, isto é uma completa desorientação.  Hebreus nos revela que os anjos são espíritos ministradores enviados para servir aos santos, mas a decisão é de Deus sobre como, quando e onde os anjos atuarão, nunca é por conta de nossas invocações!  Em vez disso, precisamos aprender que nossas ansiedades devem ser lançadas sobre nosso Criador e não sobre uma mera criatura!   

 

Assim como os colossenses estavam sendo persuadidos por uma série de doutrinas e filosofias, nós também podemos ser. Não temos um apóstolo Paulo na igreja atual, e pior, temos milhares de “apóstolos” arrogando para si autoridade divina em suas opiniões. É só ligar a TV para assistir a igreja ser persuadida ao vivo! Qualquer um de nós esta sujeito a cair em algum tipo de engano. Alguns são bem grosseiros e bizarros, outros extremamente sutis. A estratégia de Paulo, conforme mencionamos, é apontar para Cristo: “​Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Tudo foi criado por meio dele e para ele”. (Veja também Romanos 11.36)

 

Uma vez que todas as coisas foram criadas por ele, então isso deve nos levar a olhar para Ele e entender qual é o nosso objetivo nesta vida. Nenhum de nós é um mero acidente de percurso. Algumas pessoas lutam desesperadamente conflitos internos questionando a razão por que vivem. Não poucas chegam ao ponto de pensar em suicídio, por não encontrar nenhuma razão para a sua existência. Se quisermos compreender a vida, então há apenas uma pessoa a quem podemos olhar para obter resposta: Jesus Cristo, nosso Criador. Mas a resposta só é encontrada quando aprendemos a deixar de olhar para nós mesmos e para a situação ao nosso redor.

 

Eu me pergunto o quanto nós temos sido céticos a respeito de Cristo, pensando o quanto Ele está distante de nós, tão longe de nossos problemas para saber como nos sentimos... Gostaria de lembrar: Ele nos fez para ele. Ele pode satisfazê-lo como você nunca sonhou ser possível! Mas entenda o seguinte: que sua vida não é sua, mas do Criador, portanto somente nEle encontramos sentido para a vida.

 

Reflita: Tudo o que existe é o resultado do comando criativo de Cristo e nenhum outro. Ninguém pode ser plenamente satisfeito fora do Criador ou vivendo contrário à Sua vontade.  Porém, independentemente da sua resposta, Cristo será glorificado por toda a criação, seja por amor redentor ou santo julgamento. Volte-se completamente para o Criador. Busque Sua face, descanse na Sua graça e misericórdia.

 

Ore: Faça uma oração de entrega pessoal e irrestrita ao nosso Senhor e Criador Jesus.

 

 

16. A PREMINÊNCIA DE CRISTO

 

Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; ​pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. ​Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste (Colossenses 1.15-17; Hebreus 1.2)

 

Conta-se a história de uma fábrica que comprou uma máquina de uma empresa estrangeira. Depois de montada a máquina, os operários da fábrica não conseguiam fazê-la funcionar corretamente. Gastaram horas e dinheiro buscando ajuda com os melhores profissionais do mercado, mas nenhum resolvia o caso. Quando não havia mais recurso, num ato de desespero, ligaram para o exterior solicitando alguém que pudesse consertá-la.  Quando ele chegou à fábrica, nem o proprietário e nem os funcionários confiaram que aquele homem pudesse resolver o problema, pois parecia muito jovem e inexperiente para isto. Então, gastaram mais um telefonema para reclamar: “Este rapaz é muito jovem... por que não nos enviaram uma pessoa mais experiente?”. A resposta foi a seguinte: “Foi ele quem projetou a máquina... temos certeza que ele pode consertá-la!”.

 

Desde os tempos de Paulo, logo nos primórdios da igreja, o ataque gnóstico contra a pré-existência de Cristo é bastante acirrado. Até hoje, são muitas as correntes tanto que empreendem estas investidas: místicas, religiosas, filosóficas, racionalistas, ateístas, humanistas, etc. Já naquele tempo os segmentos gnósticos influenciavam as pessoas. Temos evidências aqui em Colossenses, e durante os dois primeiros séculos, que o gnosticismo tomou grandes proporções, a ponto de ter se tornado um dos maiores problemas para a igreja nos primeiros 350 anos de sua existência, período em que lutava para definir e estabelecer as doutrinas básicas da fé cristã. Imaginem ter que defender a veracidade das Escrituras debaixo de muitos questionamentos, colocando-a a prova, para que ela fizesse sentido com a cruz e harmonizasse com toda a Escritura. Não era uma tarefa nada fácil. Porém, passagens como esta (Colossenses 1.15-17) forneceram a âncora necessária para a igreja lutar contra as ondas e ventos de doutrinas de heresias.

 

Por isso um dos grandes perigos em nossos dias é subestimar ou ignorar esta verdade, fazendo que a nossa visão de Cristo seja muito medíocre. Precisamos igualmente nos ancorar e descansar firmemente sobre a Palavra, pois sem ela, a suficiência da obra de Cristo é questionada. Se cremos que Jesus é pré-existente, Ele deve também ser preeminente em nossas vidas. Essa é outra maneira de confessar que Ele deve ter a primazia. Note que Paulo engloba TODA a criação nesta passagem. Com isto em mente, toda a criação devem a Jesus reconhecimento, gratidão e louvor: “... todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades... tudo”. Em filipenses, o apóstolo escreve um ‘hino’, cujo conteúdo revela que num futuro, todos reconhecerão que Jesus Cristo é o Senhor! (Filipenses 2.5-11)

               

Para reforçar, Paulo ainda nos lembra que “nEle tudo subsiste”. Esta palavra implica colocar junto, no mesmo lugar, unir as partes num todo. Significa que Cristo tem mantido tudo juntos desde a criação e continuará a fazê-lo. Paulo não queria que os cristãos de Colossos pensassem como um fatalista ignorante. Eles precisavam entender que nosso Projetista soberanamente governa toda a vida. As minúcias do ecossistema são mantidas por Ele. O equilíbrio da natureza – no mundo vegetal e animal é ordenado por ele. Em cada momento de cada dia, Ele mantém os corpos celestes firmes em suas órbitas. O “ajuste fino” de grandezas astronômicas, que é o que garante nossa existência aqui nesta terra, foi programado por Ele.  Cristo dirige a história humana. 

 

Várias momentos da história parecia que a última testemunha da verdade deixaria de existir e nosso mundo mergulharia na escuridão. A influência de grupos estranhos à fé cristã estava levando a igreja em Colossos olhar para outras coisas além da suficiência de Cristo. Alguns começaram colocar em dúvida a sua salvação, buscando alicerce na observação da lei. Outros estavam buscando ajuda em anjos ou aguardando alguma visão ou nova revelação. Ainda outros se enveredavam por desvendar mistérios e segredos. Todos foram deixando de enxergar a plena suficiência que há em Jesus Cristo, tanto a sua pessoa quanto em sua obra. 

 

Jesus é o nosso criador e não há nada que Ele não possa fazer por nós. Crer que Ele é nosso criador implica aceitar que Ele é antes da criação, e é exatamente o que Paulo nos lembra aqui: a pré-existência de Cristo.

 

Reflita: Se Cristo sustenta tanto a ordem natural das coisas quanto a história da humanidade, então como podemos questionar Sua suficiência para nossa salvação? E como podemos duvidar de Sua capacidade para dirigir nossa caminhada diária?

 

Ore: Que o Senhor aumente minha compreensão a cada dia da Sua majestade e glória.

 

 

17. A REVELAÇÃO DE CRISTO  

E ele é a cabeça do corpo da igreja: é o princípio e o primogênito de entre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.  (Colossenses 1.18-20; João 1.14)

No cerne de cada culto, seita, ou heresia pseudocristã reside uma visão diferenciada e distorcida da pessoa e obra de Jesus Cristo. Alguns grupos chegam até a embasar biblicamente suas opiniões sobre quem é Jesus Cristo, mas não conseguem abranger toda doutrina bíblica sobre o que Jesus Cristo realizou. Outros grupos exaltam a obra, mas distorcem ou ignoram o que as Escrituras ensinam sobre Sua pessoa, ora diminuindo (ou negando) sua divindade ora sua humanidade, sempre confundindo algum aspecto de sua personalidade.

 

Esse é praticamente um apanhado dos ensinos heréticos que afetavam a igreja em Colossos. Os jovens cristãos estavam confusos a respeito de Cristo e, consequentemente, confusos sobre sua salvação e santificação. Então a melhor maneira de defender a fé cristã, de acordo com a estratégia paulina, não era gastar tempo falando sobre os falsos mestres e suas heresias, mas sim focar sua atenção na glória de Jesus Cristo. Uma vez que eles compreendessem claramente quem era Jesus (pessoa e obra), eles não seriam mais intimidados e ou afetados pelos falsos mestres. Poderiam fortalecer sua fé e crescer espiritualmente, desimpedidos do peso da dúvida que havia sido colocada sobre eles.

 

É sempre decepcionante quando sabemos que alguém abandonou a fé cristã para seguir outras religiões. Mas fico particularmente triste ao ver quão fraco tem sido o ensino bíblico nas igrejas hoje em dia. Algumas das mensagens e sermões que tenho ouvido ultimamente, as passagens escolhidas enfatizam prosperidade, curas, sinais, milagres e expulsões de demônios. Tenho uma particular preocupação pela igreja, em relação ao fraco conhecimento do que a Bíblia ensina a respeito de Cristo. Nosso maior perigo reside no fato de presumir que uma experiência particular (de cura, por exemplo) é suficiente para obter uma compreensão completa da pessoa e obra de Jesus. Assim, estaremos sempre aquém de um conhecimento satisfatório e consequente admiração e reverência que devem continuamente encher nossas mentes quando pensamos no nosso Criador. 

 

Não creio, por outro lado, que alguém possa atingir um nível de conhecimento pleno de Cristo ainda nesta vida (como Paulo bem coloca em I Coríntios 12.13), seja por estudo, seja por experiências subjetivas. Mas, quando há pouco ou nenhum conhecimento da revelação de Deus (Escrituras) a tendência natural é procurar por experiências que satisfaçam nossos caprichos e anseios espirituais. Agindo assim, estamos assumindo que o simples conhecimento da verdade sobre Jesus (revelada nas Escrituras) não é suficiente para preencher nossas almas sedentas. 

 

Precisamos – necessariamente – buscar conhecer mais sobre Jesus. Este conhecimento nos dará embasamento para confiarmos nEle nas situações de crise. Uma vez que confiamos, podemos experimentar suas promessas para nossa vida, bem como todo o seu cuidado e consolo: é esse tipo de experiência que nos fortalece e edifica. A partir de então buscaremos conhecer mais de Jesus sabedores que outras situações de dificuldades virão. À medida que O conhecemos mais, poderemos confiar mais. Outra coisa que tenho aprendido neste relacionamento com Deus: Ele nunca nos decepciona. Nossas expectativas podem nos decepcionar, mas Jesus não. E quando Ele não me dá o que que tanto desejo no momento, é porque Ele tem guardado algo muito melhor para o futuro. O próprio fato de passarmos por tribulações pode ser algo muito bom para nós, porque nestas horas nos agarramos mais em Deus.

 

Porém, outras pessoas agem de maneira contrária e não poucas pessoas abandonam a fé. Por quê? Penso que é por se desiludirem com Jesus, pelo que aprenderam a Seu respeito. Seu conhecimento (deficiente) das Escrituras os levou a uma fé igualmente deficiente. Quando experiências não coadunam com esta fé parca, estas se decepcionam. A verdadeira fé se desenvolve a partir de um entendimento sadio das Escrituras, como Paulo diz: ​“E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Romanos 10.17).

 

Reflita: Com isso em mente, devemos centrar a nossa atenção sobre o que o A Palavra diz a respeito de Jesus Cristo, de modo que somente ela preencha nossas dúvidas, console nossas aflições e revele a maravilhosa glória do nosso grande Redentor.

 

Ore: ​Senhor, desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei. (Salmos 119.18)

 

 

 

18. CRISTO, O CABEÇA DA IGREJA

E ele é a cabeça do corpo da igreja: é o princípio e o primogênito de entre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.  (Colossenses 1.18-20; Efésios 1.22; 4.15)

O que esta metáfora de cabeça e corpo transmite a você? É importante compreende-la melhor, pois ela nos ajudar a entender a relação orgânica entre Cristo e a igreja.

 

Cabeça (kephale) é uma figura comum no NT usada para descrever Cristo. Neste exemplo, ela transmite a ideia de mente, líder, ou aquele que dá sentido e significado para o corpo. Também implica o conceito de que há um corpo vivo na dependência da cabeça. Nenhum corpo pode funcionar sem uma cabeça e nem uma cabeça viver sem um corpo.

 

Ao usar esses termos, somos lembrados de que a igreja é mais do que uma organização, é um organismo, (completamente vivo), funcionando sob a autoridade de uma mente. Este conceito deve permear toda nossa compreensão sobre a igreja. Caso contrário, sustentaremos uma visão muito medíocre do que a igreja é. A Igreja é um organismo vivo do qual fazemos parte, cuja mente criadora e governadora é Jesus.

 

Se um corpo não obedece ao comando da cabeça pode ser que esteja doente ou é deficiente. Mas se não for nenhum destes casos, então se enquadra na categoria da preguiça, negligência e desobediência. Cabeça corpo devem trabalhar juntos, em unidade. Eles não podem ser separados (senão morrem) e nem caminhar em direções diferentes, o que seria um absurdo.

 

Não há nenhuma outra fonte no mundo que trate da unidade da Igreja com Cristo, a não ser a Bíblia. Esta metáfora do corpo nos comunica algumas verdades fundamentais. Primeiro, que por ser a igreja um organismo vivo, esta é composta de membros unidos de forma interdependente e vital um para o outro. Segundo, assim como o corpo é o meio pelo qual a cabeça age, a Igreja é o meio pelo qual Cristo realiza seus propósitos e executa sua obra aqui na terra. E terceiro, a união que deve existir entre Cristo e Seu povo é a mais íntima e vital possível. Por último, não tem como o corpo fazer algo escondido da cabeça! 

 

Como um corpo, a igreja deve funcionar. Temos responsabilidades que, embora variem entre as partes do corpo, são igualmente importantes. Paulo amplia essa ideia em I Coríntios 12, onde ele mostra que cada pessoa é colocada no corpo como Deus quer e que cada um é importante para o funcionamento geral do corpo. E no capítulo 4 de Efésios o apóstolo mostrar-nos que cada parte do corpo contribui para a saúde geral e para a vitalidade do resto do corpo. 

 

Então, como membro do corpo, o que isso lhe diz sobre como você é para o resto da igreja? O que isso sugere sobre suas próprias responsabilidades na igreja? Qual a implicação disso sobre seu relacionamento pessoal com Cristo?

  

A igreja deve ser direcionada pela sua cabeça, Jesus. O texto anterior (1.15-17) demonstrou como Cristo é o soberano sobre toda a criação. Mas aqui, a ênfase é que Ele rege principalmente sobre a igreja. Penso que este governo que Jesus exerce sobre a Igreja deve ser diferente do que exerce sobre o mundo, devido ao nosso relacionamento com Ele, ou pelo menos pelo reconhecimento de sua iniciativa em nos resgatar.

 

Este é mais um motivo do porquê devemos dar mais atenção para a Palavra acima das experiências pessoais. É sempre nela que devemos buscar orientação para todos os assuntos da nossa existência.

 

Reflita: Como podemos seguir a direção do nosso Cabeça, em termos práticos? 

 

Dica: Embora o mundo possa ter mudado muito nos últimos 2000 anos, Cristo não mudou suas diretrizes para a igreja! Quando há áreas que não são tratadas de maneira suficientemente claras no NT, devemos procurar princípio bíblicos para nossa direção. Se não há nenhum princípio, então devemos confiar na direção do Espírito Santo para nos guiar no caminho da obediência. 

 

Ore: Senhor, preenche-me com o conhecimento de Sua vontade em toda a sabedoria e entendimento espiritual. (Colossenses 1.9)

 

 

19. CRISTO, O PRIMEIRO NO RANKING

E ele é a cabeça do corpo da igreja: é o princípio e o primogênito de entre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.  (Colossenses 1.18-20; 1 Coríntios 15.20)

Em virtude da pré-existência de Cristo, Ele é o princípio de todas as coisas e exerce primazia (reconhecida) dentro da Sua igreja. Essa é a implicação do termo princípio (arché), que, quando devidamente aplicado, aponta para Cristo como aquele que existe antes de todas as coisas; cuja igreja tem origem, aquele que criou, iniciou e governa tanto nosso universo quanto este organismo chamado igreja.

 

As afirmações que Paulo faz em Ele é o princípio” e “o primogênito dentre os mortos”, tem um significado paralelo: ambas implicam que Cristo deve ser o primeiro na classificação ou prioridade e ambas apontam para seu governo e autoridade sobre a igreja. Isto deveria estabelecer limites aos falsos ensinos em Colossos e aos absurdos que a gente ouve hoje em dia também. Apontando para a sublimidade da pré-existência de Cristo, não faria mais sentido submeterem-se à criação.  Paulo está praticamente repetindo o que tratara um verso antes (17), mas neste verso focaliza a visão que a igreja deve ter de Cristo.

 

Pense sobre o valor implícito na pré-existência de nosso Senhor. Você já prestou atenção nisso? Ou você pensa nEle como alguém que veio à existência somente em Belém? Como meros seres criados, somos alertados por textos como este a refletir sobre a eternidade de Cristo, que é diferente de nós em Sua natureza. Por isso, também sua encarnação é uma coisa maravilhosa para se contemplar. João inicia seu evangelho exatamente com a mesma ideia:

 

No princípio (arché) era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. ​E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. (João 1.1,14)

 

Em virtude da sua ressurreição, Cristo é o “primogênito dentre os mortos”. Esta verdade nos aponta para a realidade de que Cristo é o único que venceu a morte, Jesus ressuscitou da morte e sua ressurreição prova o senhorio de Cristo sobre todo o mundo material. A ressurreição de Jesus é o fato primordial da história e da fé cristã. Sobre a ressurreição, a Igreja foi  construída e, portanto, se Cristo não ressuscitasse a igreja não existiria. A ressurreição de Jesus é única. Outras religiões têm sistemas éticos sólidos, conceitos sobre o paraíso e escritos “sagrados”. Mas somente os cristãos creem no Deus que se fez homem, literalmente morreu por seu povo e ressuscitou em poder e glória para governar a sua Igreja para sempre.

A ressurreição é tão importante para nós porque nos ajuda a encontrar significado até em meio à dor da maior tragédia. Não importa o que chegue a nos acontecer, à medida que caminhamos com o Senhor, a ressurreição nos dá esperança para o futuro. Graças à ressurreição sabemos que a morte não é o fim e que nós também podemos ter esperança de uma nova vida na eternidade. Por causa da ressurreição podemos estar seguros que Cristo vive e governa seu Reino. Embora vivemos num mundo que opta insistentemente pelo mau, o mesmo poder de Deus que fez que Jesus ressuscitasse está a nossa disposição para nos auxiliar em nossa jornada.

É muito interessante ler a apologia de Paulo sobre este assunto em sua carta aos Coríntios (1Co 15.12-58.)

 

Medite: Pode até haver divergências entre cristãos em defender opiniões políticas, estilo de vida e (até) particularidades teológicas. Mas a verdade central que une e inspira a todos os verdadeiros cristãos não pode ser questionada jamais: Jesus Cristo ressuscitou da morte!

 

Ore: Senhor, que a ressurreição seja uma certeza cada vez mais crescente em minha vida, a ponto de dirigir todas minhas ações, opiniões e sentimentos sobre as coisas deste mundo.

 

 

  

 

 

20. CRISTO, A PLENITUDE DE DEUS

E ele é a cabeça do corpo da igreja: é o princípio e o primogênito de entre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.  (Colossenses 1.18-20; Atos 10.36; Filipenses 2.6-11)

Seguindo a linha de pensamento a respeito de Cristo, Paulo diz que “foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse”. Note que Paulo foi enfático em suas definições a respeito de Cristo para que não ficasse nenhuma dúvida na cabeça da jovem igreja colossense. Eles não poderiam se desvencilhar das dúvidas em que se encontravam a menos que seu fundamento teológico fosse reforçado. Assim, o apóstolo reforça seu argumento com mais esta declaração sobre a divindade de Cristo.

 

O quanto de Deus habita em Cristo? Foi uma pergunta levantada no primeiro século e discutida por vários séculos seguintes. Alguns defendiam que Cristo tinha um ‘pouco de Deus’ nele, ou uma ‘emanação de Deus’, mas que ele não era totalmente Deus. Outros diziam que Jesus só trazia em si uma ‘consciência de Deus’, ideia semelhante defendida por alguns pensadores da Nova Era hoje em dia. Talvez nossa sociedade ocidental (materialista e ultra racional) não se preocupe tanto com este tipo de questão como em outras partes do mundo, onde as esferas material e espiritual se fundem. Porém, nós como igreja ainda somos muito afetados por este assunto, justamente por não refletirmos nele. É triste: a igreja de Cristo não pensa em Cristo. Podemos afirmar que Ele é Deus, da mesma forma que o Pai é Deus? Faça esta pergunta a alguns irmãos de sua comunidade. Pode ser que você se surpreenda com algumas respostas...

 

O significado da palavra “plenitude” é totalidade; ou seja, tudo o que Deus é, Jesus é. A totalidade de Deus encarnou num homem chamado Jesus (Yeshua, em hebraico), cujo nome significa Yavé Salva. Tanto a essência de Deus quanto seus atributos são encontrados na pessoa de Jesus, e todos os atributos humanos quanto nossa essência também são encontrados em nEle. Apesar de nEle habitar toda a plenitude divina, Jesus era plenamente humano, com apenas uma exceção: Cristo não conheceu pecado algum. Ou seja, Ele nunca pecou, conforme lemos em 2 Coríntios 5.21: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.”

 

Foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse! Nem a palavra Pai ou Deus (dependendo da tradução) constam no original grego, mas está implícita no texto de Colossenses que foi Ele quem se agradou, conforme o próprio Deus revelara (3x registrado nos evangelhos) em alto e bom som: Este é meu Filho amado em quem me comprazo!

 

Não há como negar a íntima relação entre Deus Pai e Seu Filho: as mesmas características e a mesma essência habitando em Jesus homem. Outra palavra relevante que aparece aqui “habitar” significa uma residência permanente. A mesma palavra é aplicada em João 1.14: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.

 

Podemos concluir que, esta afirmação de Paulo, em consonância com as Escrituras, aponta sim tanto para a divindade de Cristo quanto para Sua humanidade. Cristo continua hoje como o Deus/Homem, nos representando junto ao Pai (I João 2.1). 

 

Este assunto é tão importante, que Paulo fez questão de registrá-lo nesta epístola. A verdade é que a Encarnação foi o maior ato de misericórdia da parte de Deus pela humanidade. É o ápice de Sua infinita condescendência, uma demonstração impressionante de Sua graça. Deus não era obrigado a dar esse passo, mas Ele fez isso deliberadamente, demonstrando seu amor incondicional por nós. Éramos nós, e não Deus, quem precisávamos deste ato de misericórdia, graça e amor. Somente como homem (limitado e condenado à morte) é que Deus poderia expiar o pecado de uma humanidade corrompida. Somente como homem Jesus poderia passar pela morte, e através dela nos justificar diante do Pai.

 

Reflita: O que muda em sua vida a consciência desta verdade? Posso ser um cristão melhor no relacionamento com Deus e com o próximo pelo fato de saber que Jesus se fez homem e habitou entre nós? Leia Filipenses 2.5-11 para te ajudar a pensar no assunto.

 

Ore: Senhor, ajude-me a contemplar e compreender a plenitude da Tua glória em Cristo Jesus.

 

21. CRISTO, NOSSO RECONCILIADOR

E ele é a cabeça do corpo da igreja: é o princípio e o primogênito de entre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.  (Colossenses 1.18-20; Romanos 5.1; Efésios 2.14)

Muitas pessoas afirmam que Jesus Cristo veio à Terra para ser apenas um exemplo, fazer boas ações ou para aliviar as dores de algumas pessoas. Definitivamente, estas opiniões demonstram um conhecimento deficiente de quem Jesus realmente é tanto no que diz respeito à Sua obra quanto à Sua pessoa. Paulo vai um pouco além deste tipo de opinião, mostrando que Jesus veio ao mundo para reconciliar todas as coisas para si mesmo! 

 

Reconciliar implica que no passado houve uma quebra nos relacionamentos, que há uma hostilidade entre as partes e a necessidade de aproxima-las novamente. Pense neste termo em referência à tentativa de fazer com que judeus ortodoxos convivam pacificamente com radicais muçulmanos na faixa de Gaza. Praticamente impossível. Ambos alimentam inimizade com o outro. Isto acontece em todas as esferas de relacionamento humano, com povos, etnias, famílias e individualmente também. Não precisamos ir muito longe para descobrir a necessidade de reconciliação! 

 

A origem desta inimizade está relatada em Gênesis 3 que mostra a escolha do homem em andar separado de Deus. Ao longo do Antigo e Novo Testamento, somos confrontados com as implicações desta separação e a hostilidade que o homem alimenta em relação a Deus, apontando para a necessidade de reconciliação e o fracasso das tentativas humanas. 

 

Devemos entender que, da parte do homem, há hostilidade para com Deus por conta do seu pecado. Mas da parte de Deus, a hostilidade é por causa de Sua justiça em contraposição ao pecado humano. Deus não é hostil ao homem, mas ao pecado do homem. O homem pode alimentar ódio, revolta e inimizade contra Deus, porém Deus não alimenta e nem compactua com estes sentimentos.

 

Se houve uma quebra de relacionamento no passado, foi porque alguém pisou na bola, quebrou um contrato, ofendeu, roubou etc. Diariamente vemos milhares de processos correndo nos tribunais. Nestes casos, a reconciliação (quando há), é feita na base da força da lei, por conta da dureza do coração humano, e nos acordos “amigáveis” prevalece o princípio de levar o menor prejuízo possível. Mas sempre alguém paga pelo dano.

 

No Antigo Testamento reconciliação exigia expiação. A oferta de um animal (que para o dono tinha certo valor) era suficiente para nos reconciliar com Deus (o que para nós tem valor inestimável). Quando chegamos ao NT, temos a palavra reconciliação usada em muitos lugares, sempre atrelada à ideia de uma expiação feita para que o homem pudesse voltar a se relacionar com seu Criador.  O “prejuízo” ficou com Deus. O preço foi pago por Cristo, o Cordeiro de Deus, na cruz. Pela gravidade da ofensa, reconciliação exigia um preço de sangue, conforme vemos no AT.

 

O sangue de Jesus na cruz foi o preço da nossa reconciliação com Deus. Através dele, o pecado (motivo que nos separava e causa de nossa inimizade com Deus), foi removido. A justiça de Deus foi totalmente satisfeita com o sacrifício expiatório de Cristo na cruz. A cruz beneficiou o homem e satisfez a Deus.

 

O mérito desta reconciliação é exclusivamente de Cristo, por causa da Sua obra. A justiça de Deus tinha que ser satisfeita em referência ao Seu pronunciamento contra o pecado: “por que o salário do pecado é a morte”; e qualquer traço de hostilidade de Deus para com o homem pecador foi aniquilada por Jesus: “mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6.23). Jesus removeu o objeto de hostilidade e nos trouxe paz com Deus, de forma que Ele nos olha com amor, pela lente da graça, e não mais com ira. A ira permanece, porém, sobre aqueles que insistem em andar segundo a sua própria vontade (Romanos 1.18 em diante).

 

O resultado desta reconciliação é a paz: “havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz”. Paz não é apenas a ausência de conflitos entre o homem e Deus; como se houvessem decretado um tipo de cessar-fogo. Paz significa muito mais, é aquela paz onde pessoas podem conviver, compartilhar ideias, trabalhar juntas por uma causa, confiar umas com as outras, etc. Isso é o que significa paz. Estamos em paz com Deus quando desaparecem as inquietações da nossa alma, o medo, a incerteza e a insegurança desaparecem por completo. Assim, mesmo diante das intempéries da vida, minha alma navega tranquila, pois o meu relacionamento com Deus tornou-se completo, e eu sei que não estou mais debaixo da ira de Deus, mas agora desfruto da Sua graça e do Seu amor.

 

Em última análise, todas as coisas” estão reconciliadas em Cristo porque tudo Ele reconciliou. Diferente da doutrina universalista (que diz que agora todos estão salvos, independente do que façam ou creem), esta reconciliação de todas as coisas apenas nos abre o caminho de volta para Deus. O que era impossível ao homem (mesmo pela lei), Deus realizou, enviando seu próprio Filho, à semelhança do homem, como oferta pelos pecados (Romanos 8.3).

 

Em sua segunda carta, Pedro diz que Deus “é longânimo para [conosco], não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pedro 3.9). A vontade do Pai é que todos se voltem para Ele, por isso Ele reconciliou em Cristo todas as coisas. Mas embora seja da Sua vontade, nem todos o farão. Aqueles que o buscam, experimentam ainda nesta vida todo Seu cuidado, encontram guarida, segurança, paz de espírito e razão para viver. Os que não o fazem, continuam na mesma “meleca”. Esperneiam, protestam inconformados, se debatem, sofrem e choram, mas não saem da lama. Jesus Cristo é tudo para aqueles que estão reconciliados, mas é loucura para aqueles que não entendem a mensagem da cruz!

 

 Reflita: Como está o seu coração? Você tem se aquietado, confiado e descansado na Palavra? Ou continua se queimando em seu próprio coração? Existe a consciência de que Jesus Cristo é o seu tudo, sua alegria e vida, aquele que é dono de seus mais profundos sentimentos? Se não for o seu caso, então desfrute desta reconciliação e experimente o que é ter Paz com Deus.

 

Ore: Senhor, ajuda-me a encontrar satisfação em Jesus, e seu sacrifício na cruz; encontrar refúgio eterno naquele de quem toda a plenitude de Deus habita.

 

 

  

 

22. ANTES DA RECONCILIAÇÃO

 

E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro. (Colossenses 1.21-23; Efésios 1.4)

Como seres impuros e imperfeitos como nós podem se relacionar com um Deus santo, justo e perfeito?  Esta é a questão básica que uma pessoa deve começar a se perguntar quando ela pensa no seu Criador.

O problema do homem concernente ao seu relacionamento com Deus é duplo. Primeiro, por ele se achar em condições de estabelecer os termos para reconciliação com Deus; e segundo, por ele se achar capaz, através de esforços próprios, agradar e conseguir algum favor de Deus. No entanto, todas as suas tentativas terminam e terminarão em profunda frustração. A ação de Cristo na cruz foi única e suficiente para nos reconciliar com Deus. Este é o conteúdo da mensagem do evangelho, e o texto que passaremos a considerar agora, é um resumo deste evangelho. 

 

Paulo começa descrevendo nossa condição comum, citando como nos encontrávamos antes: alienados e hostis, mergulhados em más ações. Ele fala isso do passado também em referência aos colossenses. Esta é a maneira comum de Paulo descrever nossa situação sem Cristo (Efésios 2.12). Não podemos nunca esquecer quem éramos e onde estávamos antes de conhecer a Cristo.       

  

Isso pode ser difícil para o homem comum aceitar, especialmente se ele é de natureza religiosa (note que não estou nem considerando o ateu). Pode até ser que as pessoas admitam alguns poucos pecados “insignificantes” ao longo da vida, mas dizer que estão separados de Deus é algo que não aceitam de maneira alguma. É curioso notar que há uma indisposição natural contra as coisas de Deus naqueles que igualmente se dispõe contra Cristo.

  

O peso das palavras utilizadas por Paulo para descrever nossa situação nos dá uma ideia de como é grave a situação: estranhos e inimigos, traduções de apallotrioo (que significa alienado, distante, excluído) e echthros (hostil, odioso). Não se trata de um “probleminha à toa”. Nossa situação sem Cristo era lastimável diante de Deus. O triste é saber que há uma tendência natural em toda a humanidade de negar a Deus, repudiar seu socorro, odiar a revelação do Seu caráter, rejeitar a verdade do evangelho e qualquer outra coisa que venha de Deus. Grandes campanhas têm sido feitas para tentar apagar o nome de Deus na história, mas deixe-me contar duas coisinhas para quem não sabe: 1. Isto não é exclusividade desta geração e 2. Deus ri (veja Salmos 2).

 

Todo este distanciamento e hostilidade a Deus se manifesta no comportamento humano. Paulo registra aos colossenses que “éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas”. O próprio sentido do texto no grego aponta para esta direção: as sementes que nossa sociedade tem cultivando há anos começaram a germinar e colheremos frutos amargos consequentemente. Vejamos o caso dos colossenses, por exemplo: o fato de estarem mergulhados num paganismo politeísta, pode ter sido expresso em sensualidade e avareza. Pode ser. Mas nossa sociedade conhecemos bem. Podemos verificar claramente os frutos de uma sociedade que tem se afastado cada vez mais de Deus, marcada pela arrogância ou orgulho, ódio, vingança, luxúria (que é a soma da sensualidade egoísta com avareza), impureza nas intenções, no culto ao eu (egolatria, egoísmo e egocentrismo) na indiferença ou falta de amor ao próximo, da desobediência obstinada, na abusividade, etc. 

 

Infelizmente, parece não haver limites sobre a propensão do coração humano em exibir sua podridão. Mesmo quando nos esforçamos para não acreditar nisto, a mesma mídia que trabalha para maquiar a natureza humana também nos lembra de nossa infeliz condição: diariamente notícias de crimes hediondos, anúncios de guerra, atentados terroristas, roubo, tráfico, fraude, corrupção, injustiça e impunidade despertam nossos mais carnais sentimentos. Inconformados, muitos questionam como alguém pode fazer uma coisa destas, e não poucos perguntam: Onde está Deus? Boa pergunta. Principalmente vindo de alguém que nunca quis Ele perto!

 

 Reflita nesta frase que li outro dia: Deus morreu! Assinado Nietsche. Nietsche morreu: Assinado Deus.

 

Ore: Somos parte integrante e ativa da sociedade. Como temos nos comportado? O nosso relacionamento com Deus tem feito alguma diferença como nos relacionamos com a sociedade ou o contrário?

 

 

23. O CORAÇÃO HUMANO

 

E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro. (Colossenses 1.21-23; 2 Timóteo 1.9)

 

Quão desesperadora é esta condição humana? Paulo escreveu aos Romanos que Não há um justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus, todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Romanos 3.10-12). A repetição destes absolutos “não há um... nenhum... não há quem... todos” ajuda-nos a compreender que não escapa ninguém! Seja ateu, seja religioso, seja moralista, ou indiferente, TODOS estão afastados de Deus.

 

Geração após geração, Deus tem assistido a falência da raça humana em suas obras. Com os colossenses não foi diferente, até a mensagem do evangelho chegar àquela sociedade, pelos lábios de Epafras. Agora, a intenção de Paulo não era sobrecarrega-los com acusações e lembranças detalhadas sobre quem eles eram antes de Cristo. Em vez disso, ele queria se concentrar na graça revelada aos colossenses por meio de Cristo e sua obra de reconciliação.

 

A Bíblia trata claramente sobre depravação humana, e com ela podemos aprender algumas lições sobre nossa natureza. Primeiro, o homem não é tão ruim quanto tem potencial para ser, pois ele não pode carregar por tempo indeterminado seus sentimentos de culpa: consciência existe sim, e pesa! Segundo, um homem não é, necessariamente, tão mau quanto o outro, pois assim como há “muitos tons de cinza”, assim também acontece com a maldade. Terceiro, que todas as pessoas, de toda a humanidade, têm noção do certo e do errado, por mais isolado possa ser sua cultura do resto do planeta. Por último, a Bíblia nos ensina que o homem, por causa de sua natureza e desejo, não traz nada em seu caráter que possa ser agradável aos olhos de Deus. Seu coração, alienado de Deus, é uma fonte contaminada que polui seu temperamento, sua mente, sua intenções e, consequentemente, todas as ações que realiza. Mesmo aqueles que são, em si, pessoas boas e caridosas, carregam as marcas desta natureza orgulhosa e obstinada, quando não admitem que é Deus quem faz algo por nós, e não o contrário.

 

Vemos esta (in)disposição humana registrada nas Escrituras por toda a história. Lemos no Salmo 2, de forma sucinta, esta verdade registrada no AT; e quando lemos os evangelhos, vemos a mesma hostilidade ente os líderes religiosos de Israel. Os fariseus, saduceus, escribas e sacerdotes eram homens que tinham devotado suas vidas a Deus. Intérpretes e guardiões da Lei (hebraico Torah, o AT), eram bem versado nas Escrituras, exigentes no cumprimento e obediência á esta Lei, e extremamente zelosos e piedosos em suas atitudes. No entanto, Jesus travou o seguinte diálogo com eles: “Bem sei que sois descendência de Abraão...”, ou seja, era o povo da Aliança com Deus, “... contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não está em vós”.  Note que mesmo sendo eles os guardiões e intérpretes da Lei de Deus (norma divina registrada no coração de toda raça humana), estavam violando descaradamente o “não matarás” e “ame o seu próximo como a si mesmo”, sem contar as intenções e propósitos maliciosos em seus corações: encontrar um pretexto para matar Jesus. Seus corações destilavam ódio contra ele, e a pergunta inevitável é: Por que eles queriam matar Jesus? Leia em João 8.34-47.

  

Por fim, em Efésios 4.17-19, Paulo nos descreve ainda outra vertente dessa indisposição interior do homem. Aqui podemos ver como funciona a mente do homem natural, longe de Cristo:

 

“Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza”.

 

Palavras como vaidade, obscurecidos, alheios, ignorância, dureza de coração, insensíveis, dissolução e impureza nos ajudam a entender que não é apenas um estado de fraqueza, mas são ações motivadas por suas mentes. Como todas as nossas ações, começam pela mente.

 

Reflita: Donde brota esta indisposição interior que ferve ódio contra Deus e o evangelho de Cristo? 

 

Ore: Mesmo que o mundo me odeie, ensina-me a amar como Tu amaste. Mesmo que o mundo me entristeça, coloque alegria em meu coração para continuar testemunhando da Tua graça.

 

 

 

24. A RECONCILIAÇÃO

 

E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro. (Colossenses 1.21-23; 2 Timóteo 1.9)

 

Eu não sei o que você já ouviu até hoje sobre evangelho, mas saiba que o foco da mensagem nunca deve ser sobre o que o homem pode fazer pela sua salvação. O evangelho mostra o que Deus fez por nós. A ênfase nesta passagem de Colossenses encontra-se na transição “agora, porém...”, onde estas duas palavras apontam para uma mudança radical.  Vemos caso semelhante em Efésios 2.4, onde passamos de um “império das trevas” para o “reino do seu Filho amado” (lembra?). Assim, o versículo 22 (acima) aponta para a centralidade do evangelho. 

 

Vamos pensar um pouco sobre nossa salvação. Primeiro, consideremos que nenhum ser humano nasce com a consciência de que está afastado de Deus e, portanto, perdido e sem esperança.  Depois, consideremos também que fé é algo inerente ao homem e que o ser humano é um ser religioso por natureza. Seguindo por este caminho, podemos concluir uma das duas alternativas: ou ele está convicto que sua bondade e religiosidade são suficientes para apresentar-se diante de Deus, ou ele conta com a impunidade.

 

Já com os céticos o caso é diferente. Penso que sua fé está centrada em si mesmo, no que ele crê ser verdade, não em Deus. Portanto, em nenhum destes casos, há a preocupação ou não veem a necessidade de salvação.  Se cada um de nós saiu de uma destas situações, concluímos que nenhum de nós buscou a Deus primeiro, sem antes Ele ter trabalhado em nossos corações. Nenhum de nós clamaria a Deus por misericórdia, se Ele primeiro não intervisse graciosamente em nossas vidas. Leia I Coríntios 1.26-31 para entender um pouco de como Deus trabalha. Aquele que se gloria, Paulo diz, glorie-se NO SENHOR.

 

Foi exatamente esta mensagem que Jesus ensinou em seu ministério terreno. Era necessária a intervenção do Pai para chegarmos ao Filho: “Todo o que o Pai me dá virá a mim”, afirmou Jesus. E acrescentou: “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim(João 6.37, 45).  Vemos por outras passagens a concretização desta iniciativa. No anseio de levar o evangelho para a Europa, Paulo chega a Filipos. Um mulher chamada Lídia, vinda da cidade de Tiatira, é tida como sendo a primeira convertida na Europa. Atos 16.14 nos diz que Lídia estava ouvindo, mas foi “o Senhor quem lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia”. Tendo em mente a intervenção divina na salvação, podemos entender como Ele trabalha na vida das pessoas (leia agora I Coríntios 1.20-25). 

 

Reconciliação, conforme vimos, refere-se à junção de duas partes desavindas. É o restabelecimento da comunhão. No nosso caso, o ato da reconciliação trouxe um prejuízo, o qual Deus arcou, pagando o preço na cruz: agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte”.

 

A encarnação, vida e (neste contexto) morte de Jesus Cristo não foi um mero ato de Deus para solidarizar conosco. Muito menos um esforço para deixar um belo exemplo de amor. Este texto declara que um verdadeiro trabalho de reconciliação ocorreu através da morte de Cristo. A alienação e a hostilidade eram realidades que não poderiam ser removidas simplesmente por decreto. A reconciliação diz respeito à atividade de Deus Pai. Foi Ele quem propôs redimir os homens. Foi Ele também que, por misericórdia, enviou seu Filho para encarnar e viver entre nós. Foi Deus, o Pai, quem se alegrou em ver tão nobre sacrifício em favor do homem (Isaías 53.10). Deus, o Pai, agiu através de seu Filho para satisfazer a justiça, desferindo o golpe final na cruz. Deus, o Filho, de bom grado suportou o fardo de nossa culpa para cumprir a vontade e a justiça do Pai. 

 

A ênfase deste texto recai sobre “no corpo da sua carne, mediante a sua morte”. Alguns dos falsos mestres em Colossos estavam insinuando que Jesus Cristo não tinha um corpo real, mas apenas aparentava ser físico ou humano. Paulo insiste que um fantasma não poderia enfrentar a morte! Havia a necessidade de Deus, o Filho, se tornar um homem, a fim de enfrentar devidamente o julgamento em favor dos homens. Ele fez isso para que pudesse morrer como homem. Em Hebreus 10.5-10, o autor fala sobre o mesmo assunto, traçando um paralelo com os sacrifícios levíticos. Portanto, pode descansar. O sacrifício de Cristo foi único e suficiente! Apenas confie (coloque sua fé) na obra da reconciliação que Jesus Cristo realizou.

 

Reflita: Somente através de um sacrifício único toda inimizade e alienação entre nós e Deus foram removidas. Pela fé, nós nos apropriamos e nos beneficiamos com o que Cristo já fez.

 

Ore: Além de reconhecer, Senhor, só me resta agradecer!

 

 

 

25. OS EFEITOS DA RECONCILIAÇÃO

 

E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro. (Colossenses 1.21-23; Efésios 5.25-27)

 

Como Deus é eterno, a reconciliação tem implicações eternas. Quando pensamos em eternidade, automaticamente nossos pensamentos viajam para o futuro (isto é inevitável). Dificilmente pensamos em passado ou presente – o que é um erro, pois se estamos tratando de eternidade, não estamos tratando de tempo: eternidade encampa o que conhecemos de passado/presente/futuro numa esfera atemporal. Você pode deixar para pensar mais a respeito deste assunto (talvez na hora de dormir). Mas agora, para não alimentarmos a ideia de que a obra de reconciliação que aconteceu no passado tem a ver apenas com nosso futuro (vida eterna...), quero chamar sua atenção para esta frase que Paulo escreveu aqui: para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis”.

 

Entre as consequências implícitas nas falsas doutrinas infiltradas em Colossos estava o afastamento gradual entre a pessoa e Deus; o conhecimento de sua vontade e, naturalmente, o não cumprimento desta vontade.  À luz desta falta de cuidado na vida cristã, que era uma ameaça iminente aos colossenses, Paulo explica que o trabalho de reconciliação tem um objetivo claro no presente.

 

“Apresentar-vos” é a mesma palavra e está no mesmo tempo utilizado pelo apóstolo quando nos exorta a apresentar nossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Romanos 12.1).  Assim, a reconciliação significa uma vida dedicada ao Senhor já neste tempo. Mas por que Paulo chama esta dedicação de sacrifício vivo? Muitas pessoas trazem ainda hoje a ideia medieval de sacrifício (penitência, punição, autoflagelo, abstinência, ascetismo). Mas não é este sacrifício que o verso sugere. Quando Paulo nos estimulou a nos apresentarmos como um “sacrifício vivo”, acabara de criar um termo antagônico, pois sacrifício é imolação. Como um animal pode ser imolado e continuar vivo? Só quando pensamos nas duas esferas (temporal/atemporal) podemos compreender o que Paulo quis comunicar: mortos para este século, mas vivos para Deus: só assim poderemos “experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus” para nossas vidas.

 

Devemos ainda considerar outra analogia que a Bíblia faz do nosso relacionamento com Cristo: uma noiva que se apresenta perante seu Noivo. Em Efésios 5.27 Paulo faz uma descrição de como esta noiva deve se apresentar: “gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”.  Como poderemos esconder todas as nossas manchas, rugas e imperfeições? Não com plástica nem com maquiagem, mas simplesmente por compreender que nossa santificação (presente) é também um efeito da reconciliação (passado).  Santificação é nada menos que o processo de crescimento espiritual no qual nos encontramos.

 

Portanto, é importante saber que há implicações para esta vida presente. Será que o Senhor nos reconciliou para que pudéssemos viver para nós mesmos e da maneira que desejarmos? Sua obra deve realmente causar algumas mudanças em nós: uma nova dimensão para pensamentos, palavras e conduta. Claro que não seremos perfeitos, até que estejamos literalmente diante de Cristo. Mas a obra de santificação prossegue mesmo assim. A base para nossa transformação moral, ética, social, e espiritual está na obra de reconciliação. Este é o nosso alicerce. Agora vamos edificar (sobre essa fundação) nossa vida diária, através da capacitação do Espírito e do conhecimento da Palavra de Deus.

 

Por fim, Paulo mostra uma sentença condicional nesta dinâmica: ​se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes”. Esta condicional “Se é que permaneceis” poderia ser traduzida como “supondo que vocês continuam...”. Paulo não está, em hipótese alguma, querendo lançar dúvidas sobre a salvação dos colossenses, mas ajuda-los a compreender a natureza da verdadeira conversão: fé autêntica e exclusiva na reconciliação proposta por Deus em Cristo Jesus. Quando há uma reconciliação (de fato!) pela fé, os efeitos desta são demonstrados na forma como você vai continuar vivendo sua vida.  Esta é a perseverança na qual devemos nos firmar. Não nas nossas obras, mas nesta fé.

 

“Permaneceis...” aponta para uma ação contínua (algo que começou lá atrás) e pode ser traduzido como persistir ou perseverar. Mas perseverar em que? A resposta é: na fé, alicerçados e firmes”, ou seja, solidamente fundados.

 

Fé não é algo estático, mas sim um exercício ativo de confiança em Jesus Cristo e sua obra. Vemos o mesmo princípio explicado em Romanos de outra forma: “... a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Romanos 1.17).

 

A reconciliação com Deus diz respeito a cada passo desta nova jornada; e fé é fundamental. Pegando a definição bíblica de fé (encontrada em Hebreus 11), somando com a citação de Paulo a Habacuque 2.4, e parafraseando-os temos a seguinte definição: O justo viverá (enfrentará todos os obstáculos de sua jornada, prosseguindo sempre para o alvo maior)  porque ele tem  certeza das coisas que espera, e sustenta uma  firme e inabalável convicção em fatos que ele (ainda) não pode ver.

 

Esta fé deve estar solidamente fundada em Jesus Cristo e nenhum outro. Esta é a razão pela qual os escritores bíblicos falam continuamente em “crer no Senhor Jesus”.  É nesta fé que devemos permanecer “... não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes”.

 

Esperança (presente) é uma expectativa confiante de que o que Jesus Cristo garantiu para nós em sua morte e ressurreição (passado) será totalmente cumprida (futuro) por toda a eternidade. Esta verdade deveria sanar todas as dúvidas dos colossenses, que estavam titubeando em se afastar da verdadeira esperança, deixando-se iludir pelas ilusões estranhas ao evangelho. Descanse em Cristo. A esperança que nos traz certeza está nele.

 

Reflita: Você consegue compreender a profundidade, a extensão e as implicações da reconciliação? Se assim for, testemunhe pela perseverança em uma fé segura e estável em Cristo. Pare de tentar encontrar motivo para viver em qualquer outro lugar (mundo, bens materiais, prazer momentâneo, ou até em si mesmo) e aprenda a confiar em Cristo para tudo: “de fé em fé... o justo viverá por fé”.

 

Ore: Que o Senhor faça aumentar a cada dia a minha fé.

 

  

 

 

26. O SOFRIMENTO QUE FALTA

 

Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus: o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória.

(Colossenses 1.24-27; 2 Coríntios 7.4; Efésios 3.13; Filipenses 2.17)

 

Paulo tratou da glória e suficiência de Cristo na criação, depois falou de glória e suficiência em nossa vida, e em seguida, sobre a esperança eterna através da fé na obra de reconciliação de Cristo na cruz. Agora, após esta explanação, ele passa a nos explicar como o evangelho chegou ao mundo.

 

Um fato curioso neste texto é que ele usa a palavra mistério como sinônimo de evangelho, e na verdade, até que o evangelho enraíze no coração de uma pessoa, ele permanece um mistério! É o Senhor que, por meio de seus mensageiros, faz com que o mistério do evangelho – pela fé – se torne realidade.

 

Paulo inicia este versículo expressando que finalmente podia se alegrar ao ver o fruto de tanto trabalho (seus sofrimentos). Mas a sequencia deste versículo é um tanto controverso, porque muito se tem debatido sobre o que ele quis dizer com “preencher o que resta das aflições Cristo”. Antes de tentar explicar, precisamos compreender o que Paulo não está dizendo: que o sofrimento de Cristo na cruz foi incompleto ou insuficiente, sendo necessário também sofrermos para completar Sua obra. 

 

Conforme vimos até agora, o apóstolo empreendera grandes esforços para explicar que Jesus Cristo é suficiente para a salvação e que sua obra fora completa. Algumas correntes teológicas têm usado este versículo para dizer que precisamos passar por algum tipo de sofrimento expiatório devido alguma falta da parte de Cristo para completar o que era necessário para a salvação. Mas isso contradiz não apenas a epístola aos Colossenses, mas todo o Novo Testamento. Veja, por exemplo, estes textos:

 

Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado... ​Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus. (Hebreus 9.26; 10.12).

 

Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, ​o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; ​pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, ​carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados. (I Pedro 2.21-24).

 

Então, o que Paulo quer dizer com “preencher o que resta das aflições de Cristo”? Alguns estudiosos lembram uma tradição judaica prevalecente nos dias de Paulo, de que o Messias viria em meio a sofrimentos. Portanto, o pensamento é que certa medida de sofrimento deve ser existir ante o retorno do Messias. É difícil determinar se esse é o significado preciso. Outros comentaristas ensinam que para o evangelho ser levado aos confins da terra, terá de ser sempre acompanhado de sofrimento. Embora não tenha sido Paulo quem levou a mensagem aos colossenses, foi através de seu sofrimento pela causa de Cristo que o evangelho foi pregado e que (indiretamente) aquela igreja foi estabelecida. Foi o sofrimento que acompanhou seu chamado para pregar o evangelho (Atos 9.15-16). Parece plausível esta ideia, pois o link entre o sacrifício e o evangelho pregado é o trabalho humano. Foi à favor do Corpo (que é a igreja) a causa que Paulo lutou.

 

Penso que estas aflições, que o texto descreve, ocorrem por três motivos principais. Primeiro, devido à incredulidade do mundo, aqueles que levam a mensagem do evangelho sofrem por causa da aversão natural à Palavra de Deus. Um bom exemplo disso é o próprio Saulo de Tarso. Ele fez de tudo para infligir dor e outros danos sobre os primeiros cristãos. Por quê? Porque ele estava cheio de incredulidade e aversão para com a mensagem do evangelho. Este mesmo tipo de perseguição/sofrimento acontece todos os dias em todo o mundo. Anualmente, milhares de cristãos são mortos ou hostilizados por sua fé em Cristo! Muitas das pessoas a quem os missionários alcançam com o evangelho, morrem pelas mãos de seus próprios familiares e vizinhos. Foi o próprio Senhor Jesus quem disse: Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. ​Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. ​Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. (Mateus 10.34-36).

A segunda razão é que Deus utiliza estes sofrimentos para nos aperfeiçoar. Paulo trata deste assunto em suas epístolas, como por exemplo, em Romanos 5.3-4: E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; ​e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança”. E também Tiago, que escreve em sua carta (1.2-4): ​Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, ​sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança.  ​Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”.

 

A terceira razão é que o sofrimento dos cristãos torna-se um exemplo vivo e radical do amor de Cristo pelo mundo. Por qual motivo o Novo Testamento enfatizaria tanto o sofrimento e a perseverança do cristão, se não houvesse grande importância para eles? Para a igreja em Filipos, Paulo escreveu que o Senhor lhes tinha dado dois presentes: fé e sofrimento. Atente para este versículo: Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele, ​pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o meu(Filipenses 1.29-30). A relevância desta passagem aumenta quando lembramos que Paulo escreveu esta carta de uma prisão romana.

 

Durante sua primeira viagem missionária no sul da Galácia, na cidade de Listra (Atos 14), Paulo fora apedrejado após proclamação do evangelho. Considerado morto, foi abandonado do lado de fora da cidade. Milagrosamente, ele se levantou e tornou entrar na cidade onde tinha sido apedrejado! Com isto, ele nos ajuda a compreender como o sofrimento e o evangelho andam de mãos dadas. Veja o desfecho no versículo 22 deste capítulo:

 

​E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, ​fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”.

 

Só uma curiosidade: a palavra que aqui foi traduzida por tribulações é a mesma para aflições em Colossenses e ambos são adequadamente compreendidos quando analisado pela mesma ótica.  Porém, muito mais do que meras palavras, este texto é um testemunho pessoal do apóstolo Paulo. Minha oração pessoal é que ele nos ajude a compreender o que estamos fazendo aqui nesta vida.

 

Reflita: Até onde estamos dispostos a ir/enfrentar/sofrer pelo evangelho de Jesus Cristo? Muitas vezes recuamos diante de um pequeno desconforto... O que seria de nós se enfrentássemos perseguição severa? 

 

Ore: Senhor, tira de mim todo medo e covardia e me dê um espírito de coragem para enfrentar os sofrimentos com alegria e perseverança.

 

  

 

 

27. PROCLAMANDO O EVANGELHO INTEGRALMENTE

 

Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus: o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória.

(Colossenses 1.24-27; Romanos 16.25)

 

Mesmo diante da perseguição e do sofrimento que acompanhavam aqueles que pregavam o evangelho, Paulo nunca amenizou a mensagem nem deixou de fora as partes “ofensivas” para ganhar audiência. Ele sempre procurou pregar o evangelho integralmente:

 

​Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; ​por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. ​Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, ​e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras(1 Coríntios 15.1-4).

 

Este cuidado com o conteúdo da mensagem era característico de Paulo, tanto é que temos ainda hoje em nossas mãos suas preciosas cartas. Penso ser esta a mordomia (dispensação) que ele se referia ter recebido do Senhor: ... ​da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor”. A frase seguinte apoia esta ideia: para dar pleno cumprimento à palavra de Deus”, ou seja, “para executar plenamente”. Em outras palavras, Paulo estava interessado em anunciar a mensagem do evangelho integralmente, onde quer que fosse, pois entendia que esta era a dispensação que Deus a ele confiara.

 

O que ele quis dizer com isso? Quando consideramos o que os colossenses estavam enfrentando, enganosamente poderiam supor que Epafras tinha esquecido algo quando levou o evangelho a eles. Este teria deixado de fora alguns segredos e outras experiências que os antagonistas do evangelho estavam apresentando como complementos do evangelho. Paulo discordou veementemente. O evangelho por ele proclamado, e que, obviamente, repassado por Epafras, foi o evangelho todo. Nem Paulo e nem Epafras haviam deixado de fora alguma “segunda bênção” ou “mensagem secreta” que precisariam ser desvendadas por estes falsos mestres. 

 

Este duplo tema (sofrimento e proclamação integral do evangelho) é encontrado também em 1 Tessalonicenses 2.1-8. Observe como Paulo relata que o evangelho chegou aos Tessalonicenses num momento de sofrimento e maus-tratos, de modo que era evidente que os mensageiros do evangelho estavam dispostos a sacrificar suas vidas por esta causa. 

 

Porque vós, irmãos, sabeis, pessoalmente, que a nossa estada entre vós não se tornou infrutífera; ​mas, apesar de maltratados e ultrajados em Filipos, como é do vosso conhecimento, tivemos ousada confiança em nosso Deus, para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita luta. ​Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo; ​pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração. ​A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha. Também jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros. ​Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos; ​assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amados de nós.

 

Nós também temos a responsabilidade de pregar o evangelho integralmente, sem retirar ou acrescentar qualquer coisa à sua mensagem. Deixe a Palavra de Deus falar! Somente esta verdade pode penetrar corações e trazer os homens a um verdadeiro conhecimento de Cristo.

 

Reflita: Uma das formas mais desonestas que alguns utilizam para ensinar a Palavra é “pular de texto em texto” segundo seu bel prazer, tirando textos de seu contexto, para enfatizar apenas o que lhes interessa. Por isso, a melhor maneira de ensinar a Palavra é fazê-la de forma expositiva. Assim, podemos estudar a Bíblia toda, livro a livro, examinando cada texto, deixando que a Palavra de Deus fale em sua plenitude, sem tendência alguma. 

 

Ore: Agradeça ao Senhor pelo poder e suficiência da mensagem do Seu evangelho.

 

 

 

28. O MISTÉRIO REVELADO

 

Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus: o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória.

(Colossenses 1.24-27; Efésios 1.9; 3.9)

 

Já vimos que Paulo considera este mistério que estivera oculto dos séculos e das geraçõescomo sinônimo de evangelho. E vai além: este evangelho “agora... se manifestou aos seus santos”, ou seja, o mistério foi revelado.  Mas por que (aqui especificamente) ele se refere ao evangelho como um mistério?

  

Antes de tudo, precisamos compreender que o primeiro século foi marcado por uma ‘explosão do evangelho’ pelo mundo todo. Uma notícia nunca ouvida anteriormente, somada a acontecimentos nunca dantes vistos e fatos jamais percebidos nos séculos anteriores estava sendo agora amplamente anunciados e conhecidos por todos. O nome e a mensagem de Jesus estavam sendo amplamente anunciados, e pessoas de todos os lugares estavam adotando um novo modo de vida, fruto da fé nesta mensagem.  Esta passagem também implica que a mensagem do evangelho é proclamada por pessoas comuns, e isto inclui você e eu. A tarefa é simples: sair pelo mundo e fazer discípulos de Cristo, ensinando todas as coisas que Jesus nos ensinou.

 

Paulo estava no centro deste redemoinho e compreendia claramente que lhe fora confiado o trabalho de explicar as profecias do Antigo Testamento a respeito de Jesus e do Seu evangelho. Muitas das explicações e aplicações do Antigo Testamento que temos hoje são porque Paulo e outros escritores do Novo Testamento expuseram seu significado para nós. Paulo frequentemente cita os profetas e outros escritos do AT, fazendo uso de passagens que os rabinos eruditos do seu tempo poderiam não ter entendido. Assim, vemos que pelo discernimento do Espírito de Deus, os apóstolos foram capazes de expor a verdade clara das Escrituras que havia sido escondida das gerações anteriores.

 

Este princípio contrasta com a ideia do oculto, do conhecimento baseado nas experiências dos falsos mestres em Colossos. Ao invés de proclamar abertamente o que consideravam ser a verdade, procuravam influenciar particularmente os novos cristãos, denegrindo com isso a verdadeira mensagem do evangelho. Paulo, aqui neste texto, está afirmando que embora o evangelho tenha sido escondido das gerações passadas, agora é amplamente conhecido. Não é um segredo reservado para poucos, mas abertamente proclamado para quem tem ouvidos para ouvir.

 

Mas isto não foi sempre assim. “Oculto dos séculos e das gerações” remonta eras anteriores à história humana. Penso que o plano de Deus estivera oculto dos próprios seres celestiais (caídos ou não). Eles não puderam entender o evangelho até que Jesus o cumprisse plenamente. Não podiam imaginar que Deus, o Criador, invadiria a história humana em Sua encarnação e acabaria por receber o seu próprio juízo numa cruz! 

 

“Mistério que estivera oculto” implica algo que estava escondido, mas foi revelado. As gerações anteriores não sabiam nada dobre esta mensagem que agora estava sendo proclamada. Com grande clareza e poder, o evangelho estava sendo entregue a povos de todo o mundo. Mas, embora seja declarado abertamente, embora os homens possam ler o evangelho através das Escrituras, livros, folhetos e outras mídias, ainda é um mistério para o coração que insiste permanecer fora da obra reveladora de Deus. Devido à condição espiritual do homem, ele continua na escuridão, cego para a verdade do evangelho, por causa de seu próprio pecado. Note estes versículos:

 

​Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. (I Coríntios 2.14)

 

​Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus (I Coríntios 1.18).

 

Se estas coisas estavam ocultas do homem comum, como poderia ele conhece-las senão através da transmissão da Palavra? A Palavra revela Deus, que fez o evangelho conhecido. O evangelho é uma revelação que é dada principalmente através da proclamação da Palavra. Daí a importância de estudarmos, conhecermos e ensinarmos as Escrituras.

Porém, as “coisas de Deus... são discernidas espiritualmente”, escreveu Paulo aos coríntios. Ou seja, enquanto a pessoa insistir em analisar as coisas de Deus pela perspectiva humana, não poderá compreendê-las. Somente em Deus podemos encontrar a chave para começar a ver a luz da verdade do evangelho. Dito isso, vemos que ele fala especificamente que “o mistério... se manifestou aos seus santos”. Santo significa alguém que foi separado para um propósito (e não alguém que não comete pecados, conforme cultura popular). Aos santos, então, cabe a responsabilidade de proclamar toda a verdade de Deus. Além disto, esta verdade nos é dada para a nossa vida diária e para nossa esperança futura. 

 

Isso deve nos servir de incentivo para buscarmos constantemente a Palavra de Deus. A Bíblia é um livro de mistério apenas para aqueles que não conhecem a Cristo. Sim, há muitas coisas que podemos não compreender, mas a própria Palavra de Deus nos iluminará! Ela é autoexplicativa e tem poder para nos ajudar a crescer no conhecimento da verdade.

 

Reflita: Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.(2 Coríntios 4.3-4)

 

Ore: Senhor, quero conhecer cada vez mais de Ti. Livra-me do engano de busca-Lo em qualquer outro lugar que não seja a Tua Palavra.

 

 

 29. O MISTÉRIO EXPLICADO

 

 Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus: o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória.

(Colossenses 1.24-27; 2 Timóteo 1.9-10)

 

A revelação de Deus ao longo da história foi gradual e progressiva, conforme registrado nas Escrituras, e o que esteve oculto durante milênios – o mistério do evangelho – foi revelado ao mundo na pessoa e obra de Jesus. Com grande prazer e alegria Deus fez conhecido o Seu evangelho: este diz respeito à Sua graça e bondade inerente, trata de questões pertinentes ao nosso relacionamento com Ele, e revela coisas que eram impossíveis de serem conhecidas pelo homem, como por exemplo, o caminho, a verdade e o segredo para a vida eterna. 

 

Esta maravilhosa mensagem finalmente chegara aos colossenses, e aqui neste contexto, Paulo fala que o mistério do evangelho foi dado primeiramente aos judeus e através destes transmitido aos gentios. Estes últimos pareciam ter sido deixados de fora das bênçãos e das alianças, conforme pensavam os judeus. Mas agora, diz Paulo, Deus estendeu graciosamente a Sua verdade revelada também aos gentios: povos idólatras, pagãos, que nunca deram atenção às coisas de Deus. Pedro toca neste assunto em sua carta quando diz:

 

“... vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.(1 Pedro 2.10)

 

Ainda hoje, o Senhor sente grande prazer e alegria em fazer o mistério do evangelho conhecido mundo afora, entre aqueles que não O conhecem. É sempre emocionante ouvir relatos missionários de como esta mensagem têm chegado aos lugares mais inóspitos do planeta, e como ele tem mudado a vida daqueles que ouvem, compreendem e o aceitam como a verdade. Homens e mulheres desesperançados encontram sentido para a vida e esperança de uma vida eterna: a morte (cuja humanidade luta desesperadamente para vencer) não é mais o fim de sua existência, mas o início de uma vida eterna junto a Deus.

 

É bem verdade também que muita barbaridade foi (e tem sido) cometida “em nome de Deus” por homens que desejam apenas impor suas vontades ambiciosas, dominar pessoas e até nações inteiras por pura vaidade. Estes são os inventores das inúmeras religiões que existem atualmente. E a cada dia surgem mais! Mas o evangelho não é religião humana. Conforme Paulo diz, ele é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. É por isso que não devemos hesitar em se envolver na obra missionária: para que homens e mulheres se libertem da tirania religiosa e para que conheçam a esperança que há em Cristo Jesus. Deus tem prazer de fazer Seu nome conhecido até mesmo entre povos que durante séculos o rejeitaram. Ele é glorificado ainda mais quando o pano de fundo daquele povo é marcado por completa ignorância e total rejeição à Sua pessoa.

 

Nesta carta aos colossenses, vemos este impacto acontecendo “entre os gentios”.  Não é que os gentios estavam fazendo fila e implorando por missionários, mas ao ler as narrativas do NT vemos que por quase todos os lugares que os primeiros missionários andaram, encontraram pessoas que o Senhor tinha aberto os olhos e os corações para receber a verdade de Cristo. 

 

Ainda hoje há milhares de grupos de povos que nunca ouviram falar deste evangelho de Jesus Cristo. O chamado missionário é para todos os cristãos: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura...” (Marcos 16.15; Mateus 28.19; Atos 1.8). Mas nem todos têm obedecido. Embora Paulo soubesse que “o evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”, ele também sabia que “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir da palavra de Deus” (Romanos 1.16; 10.16).

 

O evangelho é a boa notícia que Cristo morreu pelos nossos pecados e ressuscitou dos mortos para nos justificar e reconciliar com Deus. Só esta notícia seria suficiente para nos alegrar eternamente, mas ainda temos uma jornada a caminhar ainda nesta vida. E para nos auxiliar, ele nos deixou seu Espírito para auxiliar todos os que ele justificou: “... Cristo em vós, a esperança da glória”. Paulo normalmente fala da presença do Espírito, mas aqui (assim como ele faz em Romanos 8), fala que somos habitado por Cristo. Não se trata de algum engano, mas a certeza de uma realidade para o que crê: Cristo vive em mim!   

 

  

Portanto, o evangelho é para o agora, e para o porvir. Paulo afirma que o fato de Cristo habitar em nós, nos dá a firme esperança de que tomaremos parte na glória de Deus. Esperança refere-se ao que, certamente e seguramente, está à frente, mas que ainda não foi totalmente revelada ou concluído. É algo que é certo, não é algo que ‘talvez possa acontecer’. Esperança implica uma antecipação, e o conteúdo dessa antecipação é a glória (não do homem, mas de Deus). Essa palavra transmite a grandiosidade de tudo o que Cristo realizou por nós, e que será experimentada por toda a eternidade. É a isto que Paulo se refere em Romanos 8.30, “... e aos que justificou, também glorificou”.    

 

Esta esperança tem nos sustentado através dos séculos. É a certeza de que a vida porvir é mais, muito mais do que nós podemos imaginar ou compreender. Nossa vida atual é um tempo de preparação para louvar e servir ao Senhor para sempre. Os sofrimentos do hoje não são para se comparar com a glória eterna, e o prazer que o Senhor nos dá através da obra do Seu Espírito é uma pequena demonstração da alegria indizível que nos espera.

  

Reflita: A mensagem do evangelho só pode ser entendida pela fé. A esperança da glória futura sustentamos pela fé.  O que Deus nos tem dado a conhecer, aceitamos pela fé. Pela fé conheceremos a Sua glória.

 

Ore: Senhor, sustente e guarde minha fé até o fim.

 

 

 

30. O CORAÇÃO DO MINISTÉRIO

 

O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; ​para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim. (Colossenses 1.28-29; 2 Timóteo 3.16-17)

 

Que pensamentos vêm à mente quando ouvimos o termo ministério cristão? Talvez alguém pense em obras sociais que envolvem programas de alimentação, trabalho com crianças de rua ou atendimento na área de saúde. Outros podem pensar num ministério mais específico, visando pessoas e não grupos, com destaque para aspectos físicos e emocionais da vida. Para isso cria-se grupos recreativos, de autoajuda, de apoio a dependentes químicos, de terapia ocupacional, e muito mais. Ninguém negaria a importância destas áreas no amplo espectro da vida e do ministério.

 

No entanto, seria alguma destas ações o coração e a alma do ministério cristão? A verdade é que você pode fazer qualquer uma destas coisas sem ser um cristão. Vários tipos de organizações sociais desenvolvem trabalhos nestas áreas sem abranger ou suprir as necessidades espirituais das pessoas. Não que estas coisas não sejam necessidades legítimas, nem que elas não tenham nada a ver com igreja. Mas o que acontece, é que muitos destes problemas crescem quando a igreja se concentra mais em eventos ou atividades físicas, emocionais e sociais em detrimento do cerne do ministério cristão. Nada substitui o coração do ministério cristão: anunciar o evangelho, cuidar e promover a maturidade dos cristãos.

 

Muitas filosofias de ministério têm surgido nos nossos dias, mais parecida com uma proposta de negócio e muito longe do que lemos no texto acima citado. Por exemplo, assisti há algum tempo atrás, por insistência de um irmão, algumas palestras em DVD de um pregador internacional que viera ao Brasil ministrar para pastores e líderes. Durante cerca de quatro horas, este homem falou de quantos milhões seu ministério movimentava, sobre como ele lidava com o dinheiro e com o tempo, entre viagens, almoços, palestras e reuniões... tudo isso num salão de um hotel de luxo no Rio de Janeiro. Em quatro horas de auto promoção, ele não citou nenhum versículo bíblico sequer.

 

Em outra ocasião, um pastor, tentando me convencer da relevância do trabalho de certa denominação, citou todos os recursos que possuíam, como templos, emissora de TV, ente outros bens. Isto é bem típico de nossa época, quando a importância de um ministério é avaliada pelo patrimônio ou saldo em caixa.

 

Eu não quero ser demasiadamente simplista, mas acredito que podemos encontrar o verdadeiro coração do ministério cristão nos dois versículos do nosso texto. A tendência atual é deixar-se impressionar pela ventania, enquanto Deus fala através do sussurro de uma brisa. Não tenho medo de afirmar que se o direcionamento da igreja não estiver nas Escrituras então ela está no caminho errado. Não interessa quantos milhões tenha em caixa. Não importa se executivos e profissionais de marketing ditem o que é para ser feito e como fazê-lo para crescer. Em vez disso, devemos olhar para a Palavra eterna de Deus para direcionar nossos pensamentos e ações no ministério.

 

É muito interessante notar como este texto escrito por Paulo aos colossenses aponta para nós a essência do ministério cristão. Há um monte de ‘coisas’ que as igrejas fazem que não são necessariamente ruins ou más. O problema surge quando estas coisas (que estão fora do foco do ministério cristão) começam a conduzir a igreja. 

 

Talvez a atmosfera em Colossos não fosse muito diferente. Distrações e substituições estavam sendo oferecidas no lugar de Cristo. Assim, Paulo explica aqui é o foco do ministério cristão:

 

“Nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo”.

 

Reflita: Como é fácil tomar decisões que desviam o foco da igreja. Pense em como os nossos calendários são montados com tantas atividade de lazer e eventos sociais, e como a igreja vive para cumprir o programa.

 

Ore: Não permita, Senhor, que caiamos no engano do ativismo sem propósito. Que a nossa igreja não seja um clube onde as pessoas vão para sentirem-se bem confortáveis e se divertirem.

 

 

31.  MINHAS TESTEMUNHAS...

 

O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; ​para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim. (Colossenses 1.28-29; Atos 1.8; 1 Coríntios 15.1-4)

 

Paulo inicia este parágrafo descrevendo o conteúdo do seu ministério: anunciar Cristo. “O qual nós anunciamos” diz respeito a quem Paulo vinha tratando no verso anterior, que era Jesus Cristo, o Senhor. Esta declaração é a finalização de uma das maiores porções nas Escrituras que tratam e nos ajudam a entender a pessoa e natureza de Jesus. Depois de apresenta-lo como Cristo, Criador e Redentor, Paulo declara: é a Ele quem proclamamos! Tenho impressão que se pudéssemos perguntar a este apóstolo como ele queria ser conhecido no ministério, não seria por ter rodado mais quilômetros do que o resto dos apóstolos; nem pelo fato dele ter escrito mais cartas do que qualquer outro. Creio que ele gostaria de ser conhecido como um homem que anunciou a Jesus Cristo incessantemente.

 

Aos Coríntios, ele fez a mesma afirmação: "​Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus." (2Coríntios 4.5).  Aos Filipenses, mesmo estando preso por ser um proclamador do evangelho, Paulo escreve que seu grande prazer e alegria era ver isto acontecer, mesmo que a intenção não fosse tão nobre assim: Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei.(Filipenses 1.18). Anunciar que Jesus Cristo é o Senhor era o cerne de seu ministério! Ele não estava interessado nas últimas tendências teológicas para incrementar sua pregação, nem utilizar estratégias de autoajuda tão populares em nossos dias para arregimentar mais ouvintes, muito menos substituiria a teologia pela psicologia para alcançar seu objetivo.

 

A palavra anunciar (katangello) refere-se a um anúncio público, como aquelas declarações lidas em praça aberta por um oficial, falando em nome do imperador. Isto significava que algo importante deveria chegar ao conhecimento de todos. É muito comum ainda hoje, em cidades do interior, carros de som percorrerem as ruas para anunciarem algum evento importante. Esta era a ideia que Paulo fazia, e aqui podemos entender a importância que ele dava para a proclamação de Cristo e seu evangelho (2 Coríntios 5.19-20).    

 

Havia ainda a responsabilidade por parte do oficial encarregado do anúncio, proclamar precisa e claramente tudo o que o imperador tinha a comunicar. Na verdade, é exatamente isto que somos chamados a fazer: ... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra (Atos 1.8).

 

Somos chamados a testemunhar a respeito de Jesus. Uma testemunha não pode omitir e nem acrescentar nada além da verdade.  Quando proclamamos com fidelidade o que a Palavra de Deus revela a respeito de Cristo, então estamos realmente testemunhando sobre a Pessoa de Cristo: “O qual nós anunciamos”, Paulo diz.  Nosso testemunho define diante do mundo quem é e o que fez Jesus Cristo. Tudo o que se deve saber sobre ele deve estar contido em nosso anúncio. Portanto, tudo o que dissermos em nosso testemunho deve estar baseado na Palavra de Deus (lembre-se: sem aumentar ou diminuir uma vírgula sequer).

 

Resumidamente, podemos testemunhar sobre sua eternidade, que Ele é um com o Pai (mesma essência) e juntamente com o Espírito Santo formam uma tri-unidade. Ele é o criador, é “o Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós”, o único que viveu sem pecado, cuja existência abrangia duas naturezas (humana e divina) coexistindo harmoniosamente. Reconhecemos que ele é Senhor, soberano, que sustenta o universo e deixou sua glória para ser o resgatador de todos os homens (porque todos pecaram e carecem da glória de Deus, Rm 3.23). Isto nos leva ao clímax do anúncio/testemunho cristão:

 

​Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; ​por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. ​Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, ​e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” (I Coríntios 15.1-4)

 

Reflita: Todas as religiões trazem suas definições de que é Deus. Todas as seitas cristãs também o fazem, e tem sua interpretação particular sobre a natureza e obra de Cristo. Mas somente por conhecer e entender biblicamente quem é Jesus e o que ele fez, conseguimos discernir e filtrar toda a mentira inventada a Seu respeito, e ainda conhecer o Deus verdadeiro.

 

Ore: Senhor, me ajude ser uma testemunha fiel.

 

32. O FOCO DO TESTEMUNHO

 

O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; ​para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim. (Colossenses 1.28-29; 2 Timóteo 2.2)

 

Se a igreja deve ser conhecida pelo seu testemunho (anunciar a Cristo), devemos pensar seriamente em como fazê-lo. Talvez os antagonistas da fé em Colossos utilizassem de linguajar carregado de mistério para impressionar e iludir as pessoas. Mas este não era o caso de Paulo. Aqui ele explica que “... anunciamos, advertindo... e ensinando... em toda a sabedoria”, ou seja, ele procurava expor a verdade claramente de forma que esta pudesse ser compreendida e vivida por aqueles que a ouviam. Sua preocupação primordial era anunciar a Cristo com toda a sabedoria. Isto implica que sua mensagem não vinha embasada em mera filosofia ou tradição humana. 

 

Paulo não tinha nenhum interesse em enquadrar sua mensagem ao esquema do mundo (filosofias), nem criar uma casca de religiosidade (legalista) ou ainda envolve-la numa capa de pretensa espiritualidade (mística), de forma que a verdade pudesse se tornar mais “engolível” aos homens. A sabedoria na qual ele se fundava era dada por Deus, e era capaz de explicar per si “​o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, [manifestada] aos seus santos” (1.26).

 

Os dois termos ligados ao anúncio requer de nós seriedade, empenho e prontidão a servir. Primeiro, ele fala de admoestar a todo homem.  Admoestação (noutheteo) é mais do que uma simples crítica ou censura. É chamar a atenção para que a pessoa possa observar sua própria vida e seus atos. No grego, esta palavra significa literalmente “colocar na mente”. Se Paulo estava se referindo à Palavra de Deus, devemos fazer de tal forma que uma pessoa passe a, pelo menos, dar atenção a ela. Admoestar alguém significa confrontar esta pessoa com a verdade, chamando-a para a responsabilidade e para as consequências de se afastar da verdade. 

 

Admoestação não é algo muito popular em nossos dias por vários motivos. Primeiro, vivemos na época do politicamente correto que, geralmente, é interpretado como manter as aparências a qualquer custo para não afetar os relacionamentos. Há também a questão do relativismo. Neste sistema de pensamento, o significado ou valor de algo varia conforme a situação ou às relações com outros elementos e valores. De certa forma, isto é aplicável quando avaliamos certos costumes em diferentes culturas, porém se torna um grave problema quando se relativiza a verdade e absolutos morais dentro duma sociedade; quando se diz: “o que é certo ou errado para você não necessariamente é para mim”. A Palavra é a verdade, e se perdermos o foco da verdade revelada na Palavra, todo comportamento passa a ser aceitável e justificável, portanto, livre de qualquer admoestação. Mas além destes, há um pecado muito mais grave e que nenhum de nós está livre: o orgulho.  Escrevi algo a respeito deste assunto tão pertinente para nós (http://www.webartigos.com/artigos/orgulho-x-humildade/88805/). Por causa dele, não admoestamos e nem nos deixamos admoestar. O orgulho nos impede de ir até o próximo, porque requer de nós humildade. O orgulho (o nosso orgulho) é considerado o pior de todos os pecados, porque sequer admite ser. Mas saibam que não admoestar está longe dos planos de uma igreja saudável. Tanto a necessidade de admoestar quanto a admoestação deve gerar em nós um “santo incomodo” para não nos conformarmos com nossa situação.

 

O segundo termo utilizado deveria ser bem familiar a todos nós: “ensinando a todo homem”. Digo deveria porque infelizmente a igreja brasileira (com raras exceções) tem negligenciado esta importante tarefa, seja pelo baixo desempenho dos pastores e mestres, seja por substituir o ensino por práticas mais atrativas como promoções de curas e milagres. Paulo sabia da importância vital do ensino para a igreja, e como ensino ele se refere à instrução contínua nas doutrinas elementares da fé cristã. Esta mesma palavra é usada em todo o Novo Testamento referindo-se ao ensino ou instrução de Jesus a seus apóstolos, bem como a transmissão destes para as gerações futuras. Note que a “grande comissão” envolve “fazer discípulos, ensinando-os a guardar tudo o que Jesus ensinou” (Mateus 28.19-20). Ensinar implica que somos ensináveis e envolve o testemunho de nossas vidas. Ensinar é estabelecer a verdade da Palavra de Deus em nosso contexto histórico e cultural. Não há outro meio de conhecer a Cristo a não ser pelas escrituras, e a melhor maneira é por meio da exposição clara (admoestação e ensino) da Palavra de Deus. 

 

Reflita: O estudo e ensino da Bíblia é a necessidade gritante da igreja de hoje. (Leia 2 Timóteo 3.16-17)

 

Ore: Senhor, que o meu testemunho seja de acordo com que aprendi na Tua Palavra.              

 

 

33. O OBJETIVO DO TESTEMUNHO

 

O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; ​para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim. (Colossenses 1.28-29; Efésios 4.11-14)

 

O objetivo final de anunciar Jesus Cristo, segundo este texto, é “apresentar todo homem perfeito em Cristo”. Note que o termo “todo homem” repete-se por três vezes neste pequeno versículo. Esta redundância servia para lembrar a universalidade do alcance do evangelho, diferentemente da estratégia utilizada pelos falsos mestres que tentavam enganar os colossenses. Estes atingiam uma pessoa aqui e outra ali, alegando serem portadores de mistérios que só podiam ser entendidos por um grupo seleto de iniciados em seu círculo.    

 

Mas para Paulo, não havia tal elitismo entre os cristãos. A igreja não poderia se desenvolver com base numa hierarquia de poucos iniciados, enquanto todos os outros eram tratados como estranhos ou inferiores. A verdade de Jesus Cristo deve ser proclamada a todos, indistintamente, para que todos possam crer e crescer espiritualmente. Qualquer doutrina que exclua ou diferencie qualquer cristão na base de alguma manifestação sobrenatural ou segredo exclusivo é enganosa e anti-bíblica. O grande incentivo que obtemos nesta afirmação é que não há cidadãos de segunda classe no reino de Deus. 

 

Podemos ser diferentes no presente em termos de personalidade, habilidades profissionais, talentos naturais, dons espirituais e ministérios no Corpo. Por conta destas diferenças, tratamos (humanamente falando) as pessoas com desigualdade, e isto é um pecado bastante grave de nossa parte, pois Deus não nos classifica pelas características acima. Quando se trata de vida com Cristo, esta depende unicamente da nossa humildade, disposição em aprender e aceitar as sementes da Palavra, que é dada a todos indistintamente para o nosso crescimento. Não pode haver desigualdade. Todos podem e devem crescer e amadurecer espiritualmente.

 

Podemos tentar adivinhar o que Paulo tinha em mente ao escrever “a fim de apresentarmos todo homem perfeito”. Talvez ele visualizasse o dia de sua partida, quando estaria diante do Senhor para dar conta de seu ministério. Ou ainda, pode ser que ele pensasse em suas lutas e aflições diárias pregando, cuidando, pastoreando e intercedendo pelos santos, preocupado com o crescimento espiritual da igreja. De qualquer forma, Paulo antevia o grande dia que ainda está por vir, quando todos estarão reunidos ao redor do trono, na presença eterna de nosso bendito Redentor. Imagine que grande alegria poder apresentar-se juntamente com aqueles para quem pregamos, admoestamos e ensinamos aqui nesta vida!

 

Mas o que ele quer dizer com “perfeito em Cristo”? Será que isso implica alguma falta por parte da obra de Cristo em nossas vidas, de modo que precisamos completar o que ele não terminou? Ou será que podemos alcançar ainda nesta vida um estado tal de perfeição que não erraremos ou pecaremos mais? A resposta para ambas as perguntas é não! Perfeito em Cristo aponta para o trabalho permanente de santificação em nossas vidas, que começa no momento em que somos regenerados e continua até que cheguemos diante do trono de Deus. Perfeito significa completo, cheio. Perfeito significa “o homem todo” que nasceu de novo quando creu na obra de Cristo na cruz, e vive pela fé porque aprendeu andar no Espírito (Gálatas 5.22,23).

 

Isso é conversão genuína: a vida cristã é para ser vivida em sua plenitude. Cada parte de nossa vida diária deve encontrar equivalência em nossa relação com Cristo. O que fazemos como estudante, como empregado, como chefe, como cônjuge, como pai, como filho, ou meramente como membro da sociedade, deve ser feito com a consciência de que pertencemos a Deus, que vivemos para glorificá-lo em tudo e que devemos desejar viver como Ele deseja que vivamos. Isto é crescimento espiritual. Ninguém amadurece automaticamente, e o primeiro passo é esvaziar-se do nosso orgulho, de nossa vaidade e nossos preconceitos, conhecer a vontade de Deus e aplica-la em cada área da nossa vida.

 

Cristãos genuínos devem ansiar e se deleitar com o processo de crescimento espiritual. Esta jornada inclui o passar por lutas, fracassos, provações e tentações. Mas também inclui obediência, comunhão, conhecimento, estudo e a alegria da vitória. Quanto mais descobrimos o que significa conhecer a Cristo, mais crescemos como cristãos. A seiva do nosso crescimento é a Palavra de Deus. Através de uma pacienciosa admoestação as verdades da Palavra de Deus são colocadas em nossas mentes. Muitas vezes temos que lutar com elas, pensar e reavaliar nossos conceitos através delas para, finalmente, aceitá-las como novo paradigma para nossa vida. Precisamos ainda do ensino regular da Palavra para nos ajudar a conhecer detalhes, promessas, instruções, advertências e riquezas encontradas na Bíblia. Ninguém amadurece sem admoestação e ensino. E por fim, fechando o ciclo, temos a responsabilidade de proclamar esta Palavra a “todo homem” através de uma variedade infinita de métodos. O mundo é o campo e a sala de aula para proclamar e ensinar a Palavra de Deus.

 

Crescimento visando a semelhança de Cristo deve ser o alvo de todo cristão. Aos Filipenses (1.6) Paulo escreve: Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”, ou seja, o Senhor que nos salvou é o mesmo que coopera para o nosso crescimento; a Palavra que nos liberta é a mesma que nos transforma; o Espírito que nos convence é o mesmo que nos capacita. Em última análise, todos (o Pai, a Palavra e o Espírito) agem em nós para nos levar à Sua presença. Isto, meus amados, é pura graça de Deus em nós. Não pense que o crescimento na graça é algum tipo de ocupação ou terapia espiritual para preencher algum vazio nesta vida. Não! Crescimento na graça é o prenúncio do que vêm pela frente, quando deveremos nos apresentar perfeitos, plenos, cheios, por completo diante de Cristo, em todos os sentidos!

 

Reflita: Você já nasceu de novo? E depois deste novo nascimento, tem crescido na graça e no conhecimento de Jesus Cristo. Faça uso dos meios que Deus lhe deu para crescer e amadurecer espiritualmente. Cuidado para não cair no conforto do marasmo espiritual. Exercite-se para crescer!

 

Ore: Senhor, que eu possa a cada dia esvaziar-me do meu orgulho, da minha vaidade, dos meus preconceitos e da minha vontade, para encher-me da Tua Palavra, da Tua vontade, da Tua instrução e do Teu Espírito.

 

 

 

  

34. O MINISTÉRIO CRISTÃO

 

O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; ​para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim. (Colossenses 1.28-29; Isaías 40.31; Filipenses 2.13)

 

Algumas vezes penso no cuidado e na preocupação constante que Paulo tinha com a Igreja (ou as igrejas). Quando ele descreve as provações que enfrentou como um ministro do evangelho, ele registrou: ​Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas”. (2 Coríntios 11.28). A igreja na Galácia estava sendo infectada por hereges. A igreja em Éfeso cercada pelo culto imoral à Diana. A igreja em Filipos, sob perseguição. A igreja em Corinto ia sendo tragada por vários problemas internos. A igreja em Tessalônica confundida por falsos ensinamentos sobre o fim dos tempos. A igreja de Colossos, perturbada  por antagonistas à verdadeira fé. Como é que ele aguentava tudo isso? Como não sofrer por elas? Como podia viver, dia após dia, sem preocupação? Este último versículo do capítulo primeiro nos diz como Paulo era capaz de cumprir seu ministério e, de tabela, como podemos seguir o seu exemplo no nosso ministério.

 

Paulo começa com o trabalho de proclamação, admoestando e ensinando, a fim de fazer discípulos maduros e perfeitos em Cristo. Ele identifica este trabalho como a finalidade de seu ministério, e “... para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível”. Note que primeiro ele descreve o que ele fez, depois como fez.

 

A palavra grega que foi traduzida por afadigo é a palavra kopiao, que significa trabalhar com empenho físico até a exaustão. Portanto, ela enfatiza o trabalho corporal. Deste verbo vem o termo copiosamente (abundantemente, exaustivamente). Podemos entender que Paulo estava dizendo: “... para isso é que eu trabalho copiosamente”.  Isso implica que o ministério requer esforço físico de nossa parte. Alguns de nós entendemos muito bem o que é trabalhar até o ponto de exaustão, pois já experimentamos isto vez ou outra em nossa profissão secular. Paulo, porém, diz que ele fazia assim em seu ministério, anunciando Cristo e trabalhando para levar a igreja à maturidade espiritual desejada. Ele trabalhava mesmo quando cansado... e ia além.

 

Para nos ajudar a compreender, ele enfatiza com outra palavra: “esforçando-me” (gr. agonizomai). É daqui que vem a palavra agonia. No original, tinha a ideia de competir numa olimpíada com zelo extremo, empenho e esforço a fim de obter um prêmio. Podemos dizer que Paulo trilhou um longo, exaustivo e agonizante caminho. Isso significa que devemos nos esforçar continuamente, gastando parte de nossas energias, empenhando-nos fisicamente, mentalmente, emocionalmente e espiritualmente. Ministério cristão envolve trabalho físico, muitas vezes exaustivo. Faça um exercício: procure nos evangelhos as passagens onde o próprio Senhor Jesus nos estimula a trabalhar. Se você trabalha duro no ministério, você está no caminho certo, na companhia do apóstolo Paulo. Mas isso é apenas metade da história. O ministério cristão envolve o trabalho físico (preguiça e ministério não pertencem ao mesmo conjunto).

 

Mas saiba que, mesmo que estejamos empenhando todas as nossas energias físicas e emocionais no trabalho, não estamos sozinhos nesta empreitada. Há um poder que opera em nós e que nos permite continuar nesta luta. O segredo do vigor de Paulo era: “segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim”. Há um jogo de palavras muito interessante no texto grego, que poderia ser traduzido assim: “debaixo da energia que me energiza poderosamente”. Não se trata de uma energia mística. Note que Paulo tinha acabado de explicar a fonte desta energia: “Cristo em vós, esperança da glória”. O mesmo Cristo que habita em nós fornece esta energia para labutar em Sua obra. 

 

Não existe uma fórmula oculta ou mantra secreto para receber este poder, a não ser nossa fidelidade e disposição para trabalhar. Apenas dependa de Cristo, e experimente esta energia necessária para executar Sua obra. Nós somos chamados para colaborar na obra que Cristo iniciou. 

 

Reflita: Nosso testemunho como igreja consiste num triplo desafio: 1. Proclamar Jesus Cristo, Sua pessoa e obra, de forma clara e apaixonadamente. 2. Ensinar o que Cristo nos ensinou com o objetivo de fazer discípulos maduros. 3. Trabalhar com afinco, dando nosso melhor, na dependência consciente do nosso Senhor que nos concede a energia e poder necessários para fazer tudo o que Ele nos mandou.

 

Ore: Que possamos ser este tipo de igreja, por Sua graça e para a Sua glória!