Coisas da vida!

Como sempre, após o trabalho, ele passava no bar para bater um papo com os amigos. Era seu ritual diário, pessoa bem humorada, alegre, e mão aberta que era. Sentia-se bem, pagando a conta dos amigos. Quando o dinheiro era pouco, pedia que pusessem em sua conta. Acertaria tudo ao final do mês, como sempre fazia, ou pretendia fazer.

Uns salgadinhos, uma pinguinha seguida de outra e mais outra, tornavam o bate papo mais alegre. Riam de tudo. Até as coisas ruins que tinham acontecido, tornavam-se motivo de piada. Dizia a quem quisesse ouvir, que era assim que se livrava do estresse do dia a dia. Pararia de beber se tivesse vontade para tal. E bebia, pensando assim poder ser feliz. Uma felicidade imaginária, de curta duração, mas era.

Lá pelas tantas, resolvia voltar para casa.

Muitas vezes ficava pelo caminho, deitado no chão, zombado pelas crianças, que o chamavam de pudim de cachaça.

Quando conseguia chegar em casa, o bom humor, a vontade de conversar, a alegria, não vinham com ele. Ficavam do lado de fora, esperando o dia seguinte. Com ele, só a vergonha de estar bêbado, e a vontade de colocar a culpa de tudo em alguém.

Entrava em casa, empurrando a porta com força, tropeçando nas cadeiras, e exigindo uma comida gostosa e quentinha. E se não tivesse, começava a esbravejar, a querer bater nas crianças, a xingar a mulher.

Às vezes o barulho era tanto, que os vizinhos chamavam a polícia.

Nos finais de semana, saia a passear com os filhos, e invariavelmente o passeio terminava num bar, com ele implorando para que não contassem nada para a mãe. E eles não contavam, pois esse era o único tempo que tinham com ele. Só depois de muitos anos, entenderam o porquê desse pedido. E doeu. Muito.

Ninguém conseguia entender o motivo pelo qual sua mulher não o deixava. Seus pais sempre insistiam para que ela fosse morar com eles, mas ela dizia que tinha esperança que ele voltasse a ser o homem que já tinha sido.

Enquanto isso, levava aquela vida triste de mulher de um dependente do álcool, suportando as humilhações, explicando para os filhos que o pai era doente, e que precisava de tratamento médico. Mas eles não conseguiam entender porquê isso não acontecia. Era só tocar no assunto, que ele ficava na defensiva, com raiva. Como ajudar que não quer ser ajudado? E as muitas vezes, que tinham que busca-lo na rua, sujo, cheirando bebida e urina, tendo que ajudar a mãe a dar-lhe um banho e coloca -lo na cama. 

Ele, que não entendia que sem enfrentamento não há solução, era motivo de conflito na vida da família

Ou não?