Coexistir ou como muitos também preferem simplesmente dizer: conviver. Com certeza conviver em harmonia é uma das tarefas que muitas vezes se torna muito difícil, ou pelo menos com mais desafios, especialmente nas grandes cidades. Não falo apenas dos problemas de superpopulação, infraestrutura, alto custo de vida e, inclusive, de diversidade cultural entre outras coisas.

Mas o que questiono e comento é: Será que está tão difícil assim coexistir e manter sentimentos nobres, independente do lugar onde moramos? Não importa se em metrópoles ou cidades de menor porte?

Sim, claro que sei que isso também tem a ver com a questão dos princípios de cada um. Sabemos que faz parte do comportamento humano, não é mesmo? Mas, será que infelizmente as pessoas se esqueceram de que todos somos partes de alguém?  Hoje em dia há tantas demonstrações exigindo tantas coisas, o que é algo importante, mas será se realmente estamos prestando atenção se há também alguém que precisa de algum tipo de ajuda ou apenas ser ouvido? No meu modo de ver, acho que deveríamos olhar melhor ao nosso redor e às nossas comunidades, não importa o tamanho da cidade ou espaço que habitamos. Não falo de deixarmos de exigir direitos ou manifestar nossas opiniões ou mesmo argumentar o que nos parece correto, mas sim de coexistirmos com maior consciência do que se encontra bem mais perto de nós mesmos, em um círculo bem menor ao nosso redor.

Sempre fui o tipo de pessoa disposta a ajudar quem precisa, mas não perco meu tempo divulgando ou falando sobre que faço nesse sentido. Entretanto, meses atrás algo me deixou tão triste ao saber o quanto ainda falta fazer para assimilarmos isso e assim seguir evoluindo como seres humanos.

Eu estava na estação do metrô em Nova York quando uma pessoa pegou no meu braço bruscamente e eu rapidamente me virei assustada. Essa pessoa, um senhor de idade, me entregou um papel, sorriu e se foi. Estava bem na hora do rush e como ele não me perguntou nada, nenhuma informação, e se afastou rapidamente no momento, até achei que havia me confundido com outra pessoa. Mas, o papel ficou na minha mão. Ao entrar no metrô abri o pequeno papel que dizia: “Não a/o conheço, não sou morador de rua e isso não é nenhum tipo de assédio. Apenas gostaria de falar com alguém” e havia um número de telefone.

Sabe gente, infelizmente, ou felizmente, sou uma pessoa que não costumo confiar muito de primeira mão em coisas ou situações, ainda mais inusitadas. Talvez por ter sido tão machucada de formas diversas, e também influenciada por aquilo que leio e assisto diariamente, que sou levada a desconfiar de tudo e de todos sem fazer distinção alguma. No entanto, bateu aquele sexto sentido e ao ler aquela notinha me fez chorar por alguns minutos. Aquele pedido de atenção, de apenas um “oi”, de apenas um sorriso, uma conversa, um pedido desesperado por um gesto de bondade... me deixou triste e me tocou profundamente.

Ao chegar a casa ainda pensativa, comentei com a família e as respostas foram praticamente unânimes: com certeza uma falcatrua ou o que chamamos em inglês de “scam”. Um golpe do tipo que nos atraí pelo “coitadismo”, mas meu instinto ainda dizia o contrário. Ao invés de ligar, comecei a procurar pelo senhor durante alguns meses e, perto das festas de final de ano, acabei ligando e deixei uma mensagem com o meu número de telefone. Acabei perdendo a notinha depois de algum tempo, mas outro dia saindo da fisioterapia, acabei encontrando o senhor. E ele estava sorrindo e conversando com alguém na estação de trem e resolvi me aproximar. Percebi que estava feliz e pude ouvir pela conversa que estava se mudando para ficar mais perto de um velho amigo militar e estava muito feliz. Então resolvi falar com ele e disse: “Fico feliz em te ver sorrindo senhor e já não mais distribuindo seu pedido em papeis”, enquanto as lágrimas começaram a descer pelo rosto dele, emendei: “te liguei e deixei o meu número”. Enfim, acabei sabendo que ele era um militar aposentado, que seus filhos haviam se mudado e segundo ele, esquecido dele e que somente o procuravam quando precisavam algo e concluiu que agora havia reencontrado seu melhor amigo que havia servido com ele na época do serviço militar e que não poderia estar mais feliz. “Ele sim é minha família e vou me mudar de cidade para ficar perto dele”, disse ele. Pediu desculpas por ter me assustado naquela ocasião e disse que recebeu muitas ligações negativas, inclusive ameaças de morte por ter dado aquela nota a pessoas casadas, o que fez com que trocasse seu número de telefone.

Sabe gente, fiquei com isso na mente durante meses me sentindo mal por vários motivos, principalmente por ter perdido a notinha e não ter tomado uma atitude providencial. Minha intenção era ligar a uma rede de apoio à vida e passar o telefone dele, assim poderiam prestar uma assistência adequada, caso se tratasse de um problema legítimo. No entanto, como havia perdido a notinha, nada pude fazer. Mas, o importante é agir e checar sim quando nos pedem ajuda. Assistimos na mídia a onda crescente de suicídios em todo o mundo, inclusive de algumas celebridades. Problema serio e precisa ser comentado para com informacoes podermos ajudar melhor ao nosso redor. Não sabemos das dificuldades que pessoas enfrentam no seu dia a dia. Não faltam lições e ensinamentos cotidianos que nos demonstram que dar mais atenção aos pequenos detalhes fazem SIM a diferença. A vida de alguém pode estar por fio. Um simples “oi”, um sorriso, é capaz de tocar em alguém e ter um efeito positivo, e isso nos deixa ainda  com a nítida sensação de que atingimos um sentido de humanidade que tanto nos falta nos dias de hoje.

Portanto, manter o coração com sentimentos bons e nobres faz com que ele bata com mais serenidade. Assim deixo minha experiência aqui para relembrar a importância de nos mantermos atentos ao que acontece ao nosso redor. Espalhar o bem, não é sinal de fraqueza, é atitude de coragem.

Isso não significa deixar de desconfiar e exercitar a cautela, muito pelo contrário, apenas ser mais cautelosa com tudo que realmente ocorre ao nosso redor. Isso e demonstratar nossa senso de humanidade, gente.

Posto isso, termino com uma frase tão linda e pontual que sempre me faz sorrir quando leio: “Aprendi que as pessoas irão esquecer o que você disse, as pessoas vão esquecer o que você vez, mas jamais esquecerão como você as fez sentir”, Maya Angelou.

Com um sorriso para o mundo,

Adriana Maluendas