PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 29.04.2002, horário: 09:00 horas – “Dez Dias”:

Tinha acabado de retornar do café matinal e Braga estava na “Assistência Jurídica” conversando com “Jô Guedes”. Logo que me viu chegar foi perguntando:

- “E daí doutor Felipe, quais são as novidades?” 

Disse que não havia nada de novo e acabamos conversando sobre a velha questão da tão famigerada hierarquia na Polícia Civil.  Braga comentou desgostoso que não havia mais hierarquia na Polícia Civil, que tudo estava como o “diabo realmente gostava”. Eu argumentei que se não existia hierarquia era porque o comando não queria, a começar porque o Delegado-Geral ainda era de terceira entrância, o principal assessor do Secretário Chinato era Delegado Substituto... Braga aproveitou para dizer:

-  “Vocês já sabiam que o Paulo Koerich assumiu a DPL e DPI, mas quem vai comandar vai ser mesmo o Mauro Dutra”.

Argumentei:

“Como é que pode isso, ele ainda é Delegado Substituto? Como é que pode isso, é um sem noção, é uma vergonha, é uma afronta a ti Braga que és Especial e já fosse diretor daquilo lá!”

Braga respondeu:

- “Acho que ele é de primeira entrância, foi promovido recentemente. O doutor Felipe fala isso para mim, não tem coragem de falar para o Lipinski, eu falo!”.

Respondi: “Olha Braga, eu falo sim!  Faço maiss que isso, coloco no papel. Concordo contigo que deveria falar até mais, mas não adianta. Não tenho medo não!”

Depois falei que a coluna de hoje do Paulo Alceu estava muito boa e Braga logo me interrompeu:

- “Do Paulo Alceu? Eu contei para vocês que falei com ele na semana passada, telefonei para ele e disse: ‘Paulo Alceu o pessoal da Codesc disse que em dez dias vão calar a tua boca, que é para esperar até dez dias que calam a boca do Paulo Alceu’. Eu disse: ‘ó Paulo Alceu o Marlon não quis dizer quem da Codesc disse, mas em dez dias o Paulo Alceu não escreve mais nada sobre jogos’.  E não é que calaram mesmo, não sai mais nada, vocês viram?” 

Fiquei olhando fixo para Braga, já sabia de tudo, só tinha esquecido de registrar aquele prazo de dez dias. Aproveitei para dizer que o comentarista político Paulo Alceu do poderoso “Grupo RBS” havia colocado uma nota na coluna de hoje dizendo que juízes entraram com mandado de segurança contra o Tribunal de Justiça por problemas com o concurso de remoção horizontal:

- “Tá vendo, não é só com os Delegados que acontecem problemas com a remoção”.

Braga fez seu comentário:

- “Que lei? Não existe mais hierarquia na Polícia Civil, eles não cumprem nada. Olha só aqui na Capital, quantos Delegados estão irregulares, a Ester, o Neves, o Sena não é Substituto?”

E Braga foi citando vários outros nomes e depois deixou a “Assistência Jurídica”, quando “Jô Guedes” começou a dar uns quase “resmungos”, aproveitei para  perguntar para ela se Braga veio trazer mais serviços?  Ela disse que era aquele serviço que ele tinha pedido na semana passada e que ficou para trazer na sexta-feira.  Disse para “Jô Guedes”  que desconfiei e quase abri o verbo...  Acabamos falando da “Jogos e Diversões” e da história de Paulo Alceu. “Jô Guedes”  comentou:

- “Eu não sei por que o doutor Braga aceita uma coisa dessas, ele deveria pedir para sair, não precisa passar por isso, se submeter.  Pede para ir para outro lugar.  Como é que pode aceitar trabalhar com um drogado, ele tem dois funcionários lá que têm história...”.

Resolvi omitir os nomes que “Jô Guedes” deu e fiz meu comentário:

- “Olha ‘Jô’ eu acho que o Braga deveria fazer o seguinte: ‘ou ele ou os funcionários’ Ele deveria chamar a imprensa, mostrar a situação dele, os funcionários  e colocar para a sociedade que é ele ou a ‘Codesc’, eu tenho certeza que o Paulo Alceu iria escrever alguma coisa, dariam atenção ou então que peça a aposentadoria...”.

“Jô Guedes” insistiu que Braga não quer perder o lugar dele porque dava destaque na mídia, estava no centro dos acontecimentos, de vez enquanto ele aparece na imprensa, conversava com jornalistas,  mas que ele deveria mesmo era pedir para sair, não deveria se submeter mais. 

Horário: 11:10 horas:

Braga retornou à “Assistência Jurícia” porque “Jô Guedes” havia telefonado avisando que o documento que ele havia solicitado já estava pronto.  Como eu estava saindo do banheiro, fui direto para minha mesa compulsar uma sindicância, enquanto que Braga ficou entretido com “Jô Guedes” lendo o documento que acabava de ser redigido pela sua “guru”. Depois da leitura Braga acabou soltando uma frase no ar e que me tirou do silêncio:

- “O parecer do doutor Felipe não foi juntado”.

Olhei na direção deles e “Jô Guedes” esclareceu:

 “Não adianta, ele não escutou”.

Realmente não e me interessei em saber do que se tratava. Braga completou:

- “É sobre o processo das vídeos loterias, o teu parecer é que deu início a tudo, mas o Lipinski não juntou. Eles juntaram o parecer da Cojur, juntaram tudo, menos o teu parecer, que desprestígio doutor...”.

“Jô Guedes” reforçou o coro fazendo provocação:

- “É desprestígio mesmo, não adianta doutor Braga, ele não tem prestígio, só quando interessa prá eles, aí juntam!”.

Braga saiu rápido e logo que a porta se fechou “Jô Guedes” comentou com suas “habilidades habituais” perdoáveis no meio do caos e dos cínicos:

- “Pronto, mais um feliz!” 

Depois de tudo isso, uma reflexão: “não poderia ter mais dúvida que Lipinski usava minhas informações nos processos quando lhe interessava ou era conveniente, quando não era mandava arquivar naquela sua pasta “caixa preta” de arquivos do Delegado-Geral”.  Acabei lembrando do que Braga havia dito na semana passada sobre o caso Celito Cordioli, será que realmente Lipinski mandou juntar minha informação? Lembrei que Braga contou que quando era o responsável pela “Assistência Jurídica”, na época que o Trilha era Delegado-Geral, este teria chamado Braga no seu gabinete e solicitado que mudasse o seu parecer e ele acabou aceitando, fato que hoje causa arrependimento, então o que seria preferível, ser manobrado pelo Delegado-Geral Lipinski ou ele usar essa sua estratégia de despachar nos autos ou arquivar, dependendo do conteúdo, não da encomenda?  Nesse ponto Lipinski parecia mais esperto, pois sabia que eu não mudaria nada se violasse meus princípios e consciência.... Pensei comigo mesmo: “Isso não é uma afronta? Como não sou comissionado ele sabe que não poderá me dobrar e mesmo que fosse não seria diferente, porque em outras épocas eu nunca me dobrei às vontades de Delegados-Gerais, por que agora seria diferente? Lembrei do Delegado Ilson, como seria importante meu parecer para a sua defesa e que a não juntada do documento nos autos seria passível de ser questionada porque atentava contra princípios da administração pública.  Certamente que naquele caso as minhas posições se antagonizavam com os interesses da cúpula... Porém, era o meu pensamento, independente de cor, bandeira, ideologia...  Felizmente, no último contato que o Delegado Ilson fez comigo sobre a sua punição e indignação, pedi a ele que requeresse cópia dos autos...  E quando ele constatasse que Lipinski  deu uma rasteira iria querer saber o porquê ou  talvez ele nem faça nada, porque contra poder não haveria resistência?