A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP 22, realizada em novembro de 2016 na cidade marroquina de Marrakesh, ocorreu sob clima de expectativa. Apesar do acordo mundial de redução de emissões, assinado em Paris em 2015, ter entrado em vigor em 4/11/2016, os acontecimentos no mundo da política, economia e, principalmente, na natureza, parecem indicar que ações de prevenção precisam ocorrer mais rápido.

Na área da política, a eleição de Donald Trump causa grandes preocupações a todos aqueles envolvidos com os fenômenos climáticos. O novo presidente dos EUA, quando tomar posse pretende cancelar a participação de seu país nos acordos assinados em Paris. O processo de desligamento não poderá ser de imediato; a nação que quiser sair do acordo ainda terá vínculos e obrigações durante quatro anos. Mesmo assim, o impacto da atitude da nação mais poluidora será muito forte e poderá influenciar outros países.

A economia mundial também causa preocupação. Com a retração da economia de diversas regiões do globo, a falta de recursos financeiros impede que a maior parte dos países em desenvolvimento faça investimentos em projetos de energia renovável e eficiência energética, melhoria do transporte público, aterros sanitários, entre outros. As iniciativas são assim limitadas aos projetos amparados pelos países desenvolvidos, que no momento também enfrentam problemas com suas próprias economias.

A redução das emissões torna-se cada vez mais urgente, principalmente porque 2016 (e antes 2015) foi o ano mais quente nos últimos 160 anos, quando tiveram início as medições. Um estudo realizado por cientistas da universidade do Havaí, reunindo dados sobre o clima do planeta nos últimos 784 mil anos, prevê que o aumento da temperatura da Terra poderá ultrapassar os 7ºC até o final deste século. Este valor é muito acima do limite de 2ºC, que o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) havia estabelecido em 2014 como sendo o máximo, além do qual o clima da Terra seria cada vez mais sujeito a mudanças súbitas. Outro estudo trazido a público pela universidade da Flórida, mostra que o aumento de 1ºC já ocorrido na temperatura média da atmosfera está afetando a vida. Segundo os autores do trabalho, nada menos que 82% dos processos biológicos e sistemas ecológicos do planeta foram afetados pelo calor. Entre as alterações encontradas os cientistas identificaram atrasos e adiantamentos de florescimento de plantas, redução do tamanho de alguns animais, desequilíbrios populacionais (nascimento de maior número de fêmeas ou de machos), ecológicos (mudança da distribuição espacial) e comportamentais.

No Brasil os esforços para redução das emissões avançam devagar. A agropecuária é responsável por 69% das emissões do país e até agora pouco foi feito nesta área. Com cerca de 90% da população brasileira vivendo em cidades até 2020, são as consequências físicas da mudança do clima que representam o maior desafio para o Brasil, segundo o jornalista Washington Novaes. Disponibilidade de água e eletricidade, enchentes e desabamentos nos centros urbanos, aumento das doenças tropicais (dengue, zica, malária, febre amarela, etc.), são problemas a serem enfrentados pelas cidades nos próximos anos. Importante protagonista nos fóruns internacionais, o Brasil precisa colocar seus discursos em prática.