INTRODUÇÃO

         Se traçarmos uma linha histórica do conhecimento, poderemos verificar que o primeiro tipo de conhecimento, a primeira forma de tentar explicar o mundo, foi o mitológico. Os povos antigos buscavam compreender o mundo que os cercava e, para isso, recorriam às explicações oferecidas pelas crenças nos mitos. Ainda na busca por essas respostas, o conhecimento evoluiu do mítico para o filosófico. Essa mudança ocorreu aproximadamente no século VII aC e se caracterizou pelo uso de respostas racionais (não mais mitológicas) para os problemas do mundo que os cercavam.

         A Filosofia, assim, trata-se de um tipo de conhecimento (o filosófico), desenvolvido no ocidente primeiramente na Grécia antiga e baseado no uso da razão. O conhecimento filosófico, desde a sua origem, é marcado por várias características, como a racionalidade, o questionamento, o uso de conceitos, a transmissão pelo diálogo, o desenvolvimento da reflexão crítica, entre outras.

         O objetivo desse artigo é identificar algumas das características do conhecimento filosófico e tentar explicá-las.

  • RACIONALIDADE

O primeiro tipo de resposta dado para resolver os problemas do mundo concreto (physis) foi o mitológico. Quando percebeu-se que esse tipo de conhecimento tinha muitas falhas, os povos antigos passaram a buscar novas respostas. Tal mudança ocorreu na Grécia. Historicamente falando, aproximadamente no século VIII aC havia comércio marítimo entre o império grego e povos orientais. Com o fim de facilitar esse comércio marítimo, os gregos desenvolveram o calendário e a moeda. A partir destas invenções alcançaram o que pode-se chamar de abstração de raciocínio. Esta evolução da maneira de raciocinar (do concreto para o abstrato) ocasionou a invenção da escrita alfabética e, posteriormente, a organização política, levando à construção da democracia grega.

  • QUESTIONAMENTO

Ainda em decorrência do comércio marítimo, os gregos entraram em contato com povos orientais, devido à expansão do mundo grego. Ao se depararem com cultura tão diversificada, os gregos passaram a formular questões, como “por que os deuses têm outros nomes?”, ou “Por que tamanha diferença nas vestimentas?”, ou ainda “Por que uma alimentação tão estranha?”. Esse processo, conhecido como estranhamento cultural, trouxe à Filosofia uma de suas características mais marcantes: os constantes questionamentos. Alguns filósofos chegam a afirmar que a base do conhecimento filosófico são as questões, e não as respostas.

  • O USO DE CONCEITOS

         Antes da Idade Moderna, a Filosofia era tida como o conjunto de todos os saberes em proveito dos seres humanos. Com a divisão das ciências, ocorrida na Idade Moderna, a Filosofia passou a trabalhar, entre outros aspectos, com as bases de cada ciência (que dela se originou). Assim, uma das preocupações da Filosofia é com a construção e estudo dos conceitos. Tal atividade permite a fundamentação e explicação das bases de cada ciência ou área. Desta forma, ocorre a Filosofia do Direito, a Filosofia da Física, a Filosofia da Religião, etc. Tais disciplinas acontecem quando uma área específica torna-se autoconsciente.

TRANSMISSÃO PELO DIÁLOGO

Desde o início a filosofia caracterizava-se pelo diálogo. Entende-se por diálogo a conversação entre duas pessoas. Dentro das principais ideias filosóficas, não se poderia pensar na filosofia como uma preleção de alguém muito inteligente a outros ignorantes. Para que seja característico do conhecimento filosófico, reconhece-se que pessoas que possuem conhecimentos diferentes podem dialogar e, assim, construir novas ideias, perceber novos pontos de vista. Essa é uma característica importante do conhecimento filosófico: reconhecer que o outro com quem se fala não é ignorante, apenas possui conhecimentos distintos dos meus, delimitados pelas experiências vivenciadas.

REFLEXÃO CRÍTICA

         É uma característica marcante do conhecimento filosófico. Reflexão vem do latim Ref lectere, que significaria, em outras palavras, uma “ré em algo lido”, uma revisão de alguma informação. A reflexão crítica trata-se da capacidade de utilizar o intelecto com o fim de repensar desde as situações mais comuns até as mais complexas, mas sem se basear em crenças sem embasamento, ou em ideias preconceituosos. A reflexão crítica é, assim, o oposto de preconceito. É utilizada com o objetivo de evitar o preconceito, as vezes enraigado em nossa sociedade, sem nem sequer percebermos.

CONCLUSÃO

         Todas as características citadas são marcantes no conhecimento filosófico, mas não são as únicas. É possível a identificação de diversas características que não foram contempladas neste trabalho. Por esse motivo, o objetivo do trabalho não é esgotar as características do conhecimento filosófico, apenas apontar algumas percebidas no decorrer de minha prática docente.

         Pode-se perceber que estas características apontadas fundamentam o conhecimento filosófico e que faz-se mister do professor de filosofia a explicação delas aos estudantes do Ensino Médio, principalmente nas primeiras séries, com o fim de orientar sobre as características e a formação do conhecimento filosófico.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lucia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2009.

SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 2.

BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

SAVIANI, Demerval. Educação brasileira: estrutura e sistema. 10. ed. Campinas: Autores associados.

GAARDER, Jostein. Ei, tem alguém ai? São Paulo: Companhia das letras, 1999.