CIÊNCIA: DOR DOS IMORTAIS
Por Ali Impalea | 21/09/2011 | FilosofiaUniversidade Federal de Santa Catarina.
Curso: MESTRADO EM SOCIOLOGIA POLÍTICA
Disciplina: METODOLOGIA CIENTÍFICA I e II
Artigo:
"CIÊNCIA: DOR DOS IMORTAIS"
Professoras:
Doutora MARIA SOLEDAD
Doutora MARCIA GRISSOTI
Aluna:
ALESSANDRA IMPALÉA
Resumo: Este artigo propõe-se à uma breve análise de alguns conceitos que epistemológica e tecnicamente forjaram, de modo teórico e praxiológico, a luta do homem em sua necessidade de conhecimento, sob perspectivas de diversos autores que investigaram e refletiram o campo da metodologia científica desde as primeiras formas de socialização até a sociedade global.
Palavras-chave: conhecimento ? ciência ? método ? legitimidade.
Florianópolis, 05 de Julho de 2011.
"Muitos processos nervosos tem lugar entre o recebimento de um estímulo e a consciência de uma sensação. Entre as poucas coisas que sabemos á este respeito estão: estímulos muitos diferentes podem produzir a mesma sensação; o mesmo estímulo pode produzir sensações muito diferentes.(...) Indivíduos criados em sociedades diferentes comportam-se, em algumas ocasiões, como se vissem as coisas diferentes. Se não fôssemos tentados a estabelecer uma relação biunívoca entre estímulo e sensação, poderíamos admitir que tais indivíduos realmente vêem as coisas diferentes." KHUN (1991)
"Tudo o é relativo ? eis o princípio absoluto único" COMTE (1798-1857)
O gênero humano histo0ricamente vem buscando conhecer o mundo das mais diversas formas; manipulando espaços e tempos, gestos e movimentos, silêncios e sons, substâncias, superfícies e luzes afim de conferir sentido a determinados eventos, e talvez estabelecer um vínculo ou comunicação com o outro.
Esta comunicação de ordem sensível e subjetiva e as formas com as quais compreendíamos o mundo não se deram por constituição lingüística imediata nas primeiras formas de socialização e nem se dá hoje no multiculturalismo sonhado da sociedade global de modo que à cada dia parece que aumenta a necessidade de compartilhar, entender ou abstrair idéias, sentimentos e significados de pessoas e culturas tão diferentes a partir de uma demanda de produção de códigos artístico-culturais - construídos com músicas, danças, literaturas, poesias, pinturas e etc.
Utilizamos a linguagem simbólica para ativarmos uma percepção humana primordial que podemos aqui conceber pelo conceito da estesia : modo de recepção intuitivo e sensorial do ser humano, que revela nossa capacidade sensível de apreender imediatamente códigos e /ou sinais emitidos pelo meio ambiente, pelas coisas e indivíduos que o constituem em um dado momento (a estesia opõe-se à "anestesia", que neste contexto é a impossibilidade ou falta da capacidade de sentir).
No exercício da subjetividade, partimos do mundo interior (emoções, sensações, intuições e sentimentos) para estabelecermos relações com o espaço e com o outro que o habita, forjando experiências que proporcionam, na perspectiva hegeliana, um conhecimento social sensível (particular) e assim essencial (universal) . Fazemos isto há milhares de anos antes que o homem utilizasse potencialidades mentais, habilidades racionais e lógicas que hoje o possibilitam a vislumbrar microscópica e fragmentadamente um universo celular a ponto de observar e verificar seus processos internos, seus elementos e subcategorias elementares e características fundamentais e complementares em um mundo não visível a olho nu, na perspectiva técnica, teórica e empírica de passar a entendê-lo em seus mecanismos, formas, contradições e possibilidades a partir de sua intervenção afim de talvez explicá-lo em suas origens causais - como o universo diversamente peculiar proposto e concebido através do mecanismo e dinâmica do acelerador de partículas, que:
"Por fora, parecem grandes túneis, e podem ter vários quilômetros
de extensão. Dentro deles, partículas (...) são aceleradas a velocidades próximas das da luz, utilizando-se campos eletromagnéticos para esse efeito. O único requisito para acelerar partículas é o de que estas tenham carga elétrica e vivam o tempo suficiente para poderem ainda ser úteis. (...) são então equipamentos que fornecem energia a feixes de partículas subatômicas eletricamente carregadas (...)" .
Modéstia à parte, hoje os cientistas pretendem com o acelerador de partículas identificar as "partículas divinas", como as chamam, que estariam no centro da atividade primordial que gerou as primeiras forças do universo. Mas, para chegarmos aqui, nas sociedades tribais (as primeiras formas de socialização) o conhecimento e o saber ? ou todo o tipo de experiência humana que somos capazes de reunir e passar à diante ? eram comunitários, e arrisco-me a dizer que tradicional e culturalmente há no caso das sociedades tribais uma categoria social subjetiva ( ou estrutura estruturante como diria BOURDIEU, 2007) mas de caráter, ordem e prática informal não programada em seus tempos e espaços e cujas ocorrências davam-se ocasionalmente, vinculando as práticas e hábitos da vida cotidiana com um padrão de ação social valorativa e em conexão com o meio ambiente (a natureza). Nesta formal social, todos os indivíduos ensinam e todos aprendem desde os princípios éticos e condutas, regras e normas próprias de sua constituição tribal até as habilidades comportamentais e pressupostos espirituais e/filosóficos, num processo constante de experimentação diária agindo não só objetiva mas subjetivamente com a natureza - e não exclusiva e objetivadamente sobre a natureza ? o oposto da sociedade pós-moderna a qual irei abordar ao longo deste artigo.
As referências sociológicas encontradas nos estudos das formas primárias de socialização, alguns destacados pela antropologia e história Ocidental que investigam os dados e registros desde as primeiras sociedades tribais, das aldeias até as primeiras civilizações organizadas, revelam entre suas características principais um acentuado lócus no politeísmo social ascendente durante séculos (primeiras civilizações aquelas sociedades estabelecidas em suas formas lingüísticas orais e gráficas; seus critérios e escalas hierárquicas; suas categorias sociais, seus modos de vida político-econômico, religioso e artístico, etc).
Deus e a ciência - um amor antigo:
Segundo a história Ocidental, identificamos as primeiras civilizações por um prisma geopolítico nos territórios do sudoeste do asiático ? em especial a Mesopotâmia - , e no nordeste africano - Egito -. Áreas continentais próximas, suas tradições espirituais e religiosas, práticas e saberes sociais, características político-econômicas, produção material e influências culturais sofreram sincretismos diversos mas em comum, e aproximadamente no mesmo período histórico (variando entre os anos 4.000 e 1.200 a.C.) estes territórios distintos constituíam-se pelo politeísmo, cujas lideranças eram carismáticas, e este tipo de constituição em que o governos eram exercidos através de uma dominação carismática (SELL, 2010) precediam e predominavam normativa e valorativamente sobre os outros modos de relação e orientação social, sobre as relações com as práticas com o mundo do trabalho e a produção dos bens materiais. Estes líderes carismáticos vinculavam as representações e as ações divinas (ou os seus bens espirituais) com as suas relações com o meio ambiente (a natureza e seus elementos, formas, forças e recursos fundamentais (ou bens naturais), ou seja: justificavam as ações do mundo essencial-universal, sensível-subjetivo com as condições de vida as quais os homens estavam submetidos em um processo transdimensional e dialético, concreto e imaterial, produzindo a superioridade dos bens espirituais sobre o mundo e os bens materiais. E nas primeiras civilizações Orientais observamos exatamente esta forma de exercer poder e controle sobre as populações as quais posteriormente WEBER conseguiu identificar com o método compreensivo aplicado às suas pesquisas através do conceito de racionalização cultural. Nestas formas de governo as lideranças carismáticas articulavam-se e se alternavam entre as funções de "vozes divinas" e de controle estatais a exemplo da China, Índia e antigo Egito; estes governos característicos da racionalização cultural utilizavam o poder carismático para a manutenção do controle e reproduziu-se também na Antiguidade Ocidental politeísta (nos territórios da Grécia e de Roma). Similar ao que ocorrera nas culturas orientais os deuses encontrados na mitologia grega também habitavam os elementos da natureza imanando seus "poderes" e modificando o destino da humanidade revelando também a mesma capacidade de humanização de sentimentos em suas reações ações de modo análogo às emoções humanas mais primitivas. Grande parte dos sentimentos que originavam as ações divinas ? embora sutis e inteligentes nem sempre coerentes - eram provocados por emoções produzidas em um estado à priori radical e de carga emocional intensa, caracterizado por uma relação instintiva, ou seja: irracionais e primitivas para com seus próximos e determinando-se através de ações e reações sociais causais cuja última palavra era sempre da divindade, a entidade divina corporificada e/ou representada e cujos critérios de justiça, julgamento e decisão dos fatos não cabiam à quaisquer tipos de perspectivas axiológicas humanas ou sociais.
Podemos definir então a existência e a contextualização dos mitos como o estabelecimento de crenças, lendas, ritos e histórias que transmitidos oralmente ou através de práticas coletivas se perpetuam em certas tradições de grande parte, ainda hoje, das populações. Formalmente os conhecemos por referências arqueológicas e históricas que demonstram suas relações causais (origens e efeitos sobre os destinos dos homens a partir das decisões e ações dos mesmos, mas emitidas por uma ordem divina). Logo, os mitos viriam a ser (e ainda são sob perspectivas distintas) uma projeção característica da linguagem e atividade simbólica para mediar nossa capacidade de compreensão sobre uma realidade social complexa - pois o mundo adquire o significado que o ser humano o atribui, com o objetivo de se adaptar e conceber certos modos e condições de vida, ações sociais, normas e valores.
Da consciência mítica ao método filosófico-científico:
Durante milhares de anos a humanidade serviu-se da mitologia como fonte de recurso de primeira grandeza para traduzir e explicar o mundo utilizando-se da crença dos homens na força de um espectro invisível (ou evento ao qual o homem não conhecia nem controlava), afim de orientar e proteger sua existência e materialidade. Mas este fato não dá-se só na Antiguidade: se repete hoje em alguns Estados soberanos, reproduzindo culturas em que os homens optam por acreditar que seus líderes, Imperadores ou Reis representam Deus na face da terra ao contrário de assumir certas responsabilidades, e estabelecendo um ápice do que WEBER categorizou como dominação carismática, que posteriormente, na teoria da modernidade, traduz-se no racionalismo da dominação do mundo (SEEL, 2010) . E foi uma longa jornada e processo histórico-cultural no qual a humanidade, insatisfeita com o tipo de conhecimento mítico destrona a concepção exclusivamente simbólica do mundo negando-se a submeter-se a idolatrias. Mas esta precipitação ? acreditar unilateralmente no simbólico ou mítico - ocorrera inúmeras vezes durante a evolução científica; parte da subjetividade sensível e essencial cujas raízes bem fincadas nas crenças, valores, na imaginação e na memória coletivas podem ser determinantes ou desconcertantes para a objetividade (como estrutura estruturante) do conjunto de procedimentos científicos sobre um evento ou objeto de análise a ponto de desprezar toda e quaisquer observações e estudos à longo prazo dos mesmos. Este tipo de apropriação da ciência (entendendo-se neste contexto a ciência como "forma de saber") é conhecida como "consciência mítica" (MEKSENAS, 1990) ; caracteriza-se pela persistência da crença à priori na ocorrência dos fatos antes que aconteçam, sem que precise apresentar quaisquer indícios lógicos ou pressupostos teóricos racionais.
E aqui, talvez, vem à tona um elemento e momento paradigmático onipresente que se enleva, vez em quando, nos interiores de cada método científico e passível de ocorrer em quaisquer áreas científicas: o fato duvidoso, mas curiosamente recorrente, de que a fé em um mito (ou a fé em um sistema simbólico, como os códigos matemáticos) seja o bastante para justificar certos fenômenos do e no mundo exterior. Logo, os mitos que possivelmente foram os mensageiros de valores, ordens e normas para as primeiras sociedades, transmitindo sinais de uma força externa ou superior à elas, serviram e servem também para representar fatos, conflitos e resultados, e para orientar condutas e limitações da vida social e dos indivíduos.
Contudo, ao propor-se sobreviver às mudanças dos modos de aceitar e se adaptar à vida social, a filosofia nasce na Antiguidade no contexto geopolítico e econômico da Grécia clássica cerca de 300 anos a.C.. Epistemologicamente, esta forma de ação intelectual logo caracterizou-se como método também na era Medieval ("Idade das Trevas") enquanto meio de conhecer o mundo excluindo perspectivas míticas e saltando cuja atividade obedece a um pressuposto lógico-racional , propondo a "dúvida" como lócus de quaisquer tipos de conhecimentos, questionando certezas estabelecidas para provocar novas, ampliando as possibilidades de encontrar outras verdades, saberes e práticas sociais que no entanto não estariam sobre pilares místicos mas sim sob o exercício filosófico e lógico-racional e aplicando este critério sistematicamente à todas as ordens possíveis de conhecimento que da era Medieval para a pré-industrial transfigura-se em outra forma: o método experimental. Aqui, surgem os critérios científicos modernos que preestabelecem, no mínimo, um padrão de etapismos para conhecer uma verdade: a observação do evento, a formulação de hipóteses (dúvida e suposições sobre o mesmo), a experimentação (quando o evento é transferido para outro ambiente estabelecendo-lhe outras relações e processos) e a produção das leis - sendo as leis a produção de um sistema teórico ou teoria, e que muitas teorias podem vir a constituir-se em uma doutrina científica. Assim, em perspectiva regressa, podemos dizer que a humanidade pôs-se a contemplar os céus na pré-história; a observá-lo como a morada dos deuses na Antiguidade; a sistematizá-lo nos fins da Idade Média para penetrá-lo na Modernidade:
"No decorrer do século XVI, estudiosos como Francis Bacon (1561-1626), Galileu Galilei (1564-1642), Nicolau Copérnico (1473-1543) e Isaac Newton (1642-1727) buscavam explicar a realidade de forma radicalmente nova. Aprofundando e ao mesmo tempo superando o projeto raional da filosofia eles criaram a base da ciência moderna: o método experimental". (SEEL: 20 ).
De acordo com SEEL este foi um divisor de águas pois agora os critérios eram outros: só seriam considerados conhecimentos científicos àqueles produzidos obedecendo as etapas de testes empíricos que pudessem "comprovar a veracidade ou a falsidade de suas teorias" (SELL: 20). Logo, o positivismo surge nas "idéias e doutrinas" de AUGUSTO COMTE que se apropria do termo "sociologia" (combinação das derivações da língua latina e da grega, correspondendo os seus radicais "sócius" a companheiro, e "logos" à palavra, razão;), forjando "sociologia" que remetia ao significado de "estudo do social"). Seus pressupostos filosóficos positivistas eram fundamentais para a aplicação sistemática e o estudo da sociologia positivista, pois suas premissas epistemológicas reafirmavam que a explicação da realidade partia da observação das relações entre fenômenos igual ao método das ciências naturais, numa sobrecarga de princípios não só normativos mas valorativos à sociologia, o que pode ter o influenciado a identificar e delimitar os estudos das sociedades sob de duas perspectivas originais: a Sociologia Estática, constituída das investigações sobre a estabilização do organismo social e da a ordem entre as suas partes; e a Sociologia Dinâmica, proposta voltada aos estudos do progresso histórico social. No entanto, as idéias empiristas (ver Hume, Mill, Mach & Russell) e a lógica moderna foram de tal forma combinadas (ver Hilbert, Peano, Wittgenstein) que o positivismo logo tornou-se também conhecido como empirismo lógico e/ou positivismo lógico pois, diferentemente dos métodos usados pela Matemática e a pela Lógica (validadas pelo positivismo pela sistematização de regras lingüísticas que produziam um conhecimento específico que as conferiam experiências, processos, atividades e codificações próprias), o empirismo lógico ou positivismo partia essencialmente do processo de observação e do método Indutivo como forma de experiência e processo científico para refutar ou corroborar um conjunto de hipóteses.
A indução, processo pelo qual o pesquisador usa a observação de um fenômeno peculiar pressupondo que ele possa se repetir, e que este processo tenda a prevalecer de forma generalizada, é o principal procedimento metodológico do positivismo lógico. Mas além do uso metodológico indutivo por observação, os positivistas tinham como exigência fundamental que as leis ou teorias científicas, ante à elaboração de seus conceitos, apresentassem seus objetos de pesquisa de modo que estes fossem passíveis além da observação, experimentação empírica e enunciados descritivos que serviriam como uma "base empírica sólida, a partir da qual poderia ser construído o conhecimento científico, garantindo, ainda a objetividade da ciência" . E logo as leis e teorias eram aceitas ou refutadas de acordo com a possibilidade ou não de tais objetos serem observadas, testados e descritos em sua plena atividade, pois relações lógicas se estabeleciam entre os enunciados científicos justificando estes conhecimentos pelas suas fundamentações empíricas. Logo, podemos arriscar afirmar que os positivistas buscavam desenvolver suas investigações utilizando critérios científicos normativos ideais para justificar a produção do conhecimento.
Durkheim, Marx e Weber: pontes à novos espaços
Contudo, se o positivismo que em seus critérios teórico-científicos (e por que não destacar axiológicos?) discriminara certos pressupostos que precederiam as práticas e processos de aquisição e/ou atribuição de conhecimentos, o mesmo reúne-se de modo embriatório aos movimentos da metodologia científica em que os preceitos teórico-filosóficos e as normas e princípios normativos e valorativos deram seus primeiros sinais de vida no período pré-industrial fincando suas raízes de vastíssima abrangência durante todo o decorrer do período Moderno, especificamente no continente europeu e em soberanias que respeitavam e persistiam nos anseios das comunidades intelectuais e científicas, conscientes das potencialidades geopolíticas e econômicas que o campo científico viria a representar enquanto representação de conhecimento legítimo e universal produzido por certos Estados expansionistas, e daí à diante.
Subjetiva e/ou pragmaticamente conquistada como prática e meio de apreensão do conhecimento, a ciência e a metodologia científica modernas passaram a ser o início de uma era de incógnitas que distintamente está constituída não só pelo estudo e pela busca das relações causais entre os fenômenos, mas pelas transformações que as intervenções científicas podem provocar substancialmente se realizadas de modo elementar sobre tais fenômenos naturais e/ou sociais investigados. No entanto, a mesma ainda seria por seus pressupostos a disposição de conhecimentos não personalizados, colocados como que podendo distinguir uma verdade de um falso argumento? E estaria a mesma predisposta e relacionada aos eventos do mundo natural e material sem submeter-se a quaisquer critérios de verificação para legitimar uma verdade dominante?
Estas são questões inquietantes que do século XVIII à diante já provocavam angústias que permearam as teorias sociológicas clássicas e os métodos científicos distintos propostos por MARX, DURKHEIN e WEBER, a saber: DURKHEIM defendeu em sua dimensão teórico-empírica como objeto de análise da modernidade a divisão do trabalho social; na esfera da ação política sistemática argumentou a favor do culto do indivíduo sendo que podemos classificá-lo dentre os pressupostos da teoria sociologia clássica como o principal representante do método Funcionalista. KARL MARX, por sua vez, funda o método histórico-dialético como base de sua teoria sociológica definindo como pressuposto fundamental da ação política no mínimo o comunismo (equivalente apropriado aos resultados que este tipo de método analítico acarretaria por ser especialmente problemático e pela sua extrema concentração intelectual na investigação sobre as realidades dos modos de produção capitalistas e não-totalitários), e comunismo neste contexto é a resultante invariável do fracasso do capitalismo. Destaca-se na teoria marxista moderna o foco sobre a divisão do trabalho social que reafirma que a luta de classes e a revolução do proletariado fenômenos sócio-econômicos que antecederão o surgimento do socialismo. Mas WEBER no entanto veio a defender como ponto de partida de sua teoria moderna e pressuposto empírico um outro viés bem mais abrangente, complexo e distinto mas não menos cientificista, objetivo ou coerente: a ação social submetida pelo racionalismo da dominação do mundo, apresentando como método científico para conhecermos e explorarmos tais fundamentos o método Compreensivo.
E neste momento aproximo-me de HENRY THOREAU que entre outras verdades de sua obra "Desobediência Civil" nos lembra que antes de sermos cidadãos de bons modos, bom gosto e etiquetas, tão melhor e simples seria sermos homens lutando para ser tratados como tal - razão pela qual vim a intitular este artigo de "Ciência: Dor dos Imortais" porque de fato a verdade não atinge tantas pessoas como teria, não contrai tantos corações como o deveria e nada disto pertence ao espaço-tempo sociológico, político ou histórico presente: a mentira e a ignorância sempre foram os triunfos das pessoas mais felizes.
Método pragmático e a mediação da infelicidade - sutilezas
de Uma verdade e a superação da dor:
"(...)A opinião a qual esta destinada a ser um consenso último por todos que investigam é o que queremos dizer por verdade e o objeto representado nesta opinião é o real. (...)". (PEIRCE, C. How to Make Our Ideas Clear. IV, p. 14.)
Método Pragmático: proposta que antiga e constantemente apresentava-se como atraente referencial estratégico metodológico e se impunha à outras técnicas de pesquisa devido à incursões e experiências em produção científica anteriores, visitados nas investigações no campo das Artes Cênicas que pode ser descrito como de ordem eminentemente empírica (na graduação), e também nas pesquisas no curso de Pós-Graduação latto sensu em Gestão e Metodologia Interdisciplinar.
Através de argumentos abaixo elencados e desenvolvidos, tive como inspiração as aulas teórico-dialógicas das Excelentíssimas Doutoras Professoras do curso Sr.ª Maria Soledad e Srª Marcia Grissoti, no que aqui refiro-me à primeira ao abordar tendências que privilegiam o método pragmático, e logo após baseio-me na segunda ao indagar-me sobre as inquietações éticas da legitimidade do campo científico Soledad,
Ao observar uma pesquisa exposta em aula pela Profª Maria Soledad e ouvir suas observações e percepções relativas ao emprego de um método pragmático como técnica de investigação (com que já havia me aproximado antes mas pude conhecer em sua condição teórica ampliada e empiricamente complexa com Á mesma). Um fator muito importante que pode inquietar no emprego do pragmatismo em uma pesquisa em sua parcela empírica era o quanto impregnados estão os agentes observados de seus saberes, práticas e críticas pré-concebidas ? e a partir de quais critérios encontrar a produção de uma verdade nesta situação. No entanto, ao conhecê-lo mais profundamente, percebe-se que este fator sobrepuja-se à uma condição elementar do investigador: sua sonhada neutralidade - pois muito se perde durante os processos técnicos para a coleta dos registros, como as anotações presenciais, gravações e entrevistas, que queiramos ou não, na tentativa de serem sistematizadas obedecendo à padrões científicos que objetivam a produção teórica e analítica do mesmo, submetem-se a um movimento de racionalização por parte do investigador ao qual todo o cientista está à mercê. Contudo, tal aula expositiva de uma amostra de pesquisa da Profª Maria Soledad (em que estudávamos os eventos decorrentes dos encontros e reuniões entre representantes membros da comunidade de moradores locais constituída de modo organizado e que habita o sul da ilha de Florianópolis, com os grupos de engenheiros e representantes empresariais da Eletrosul debatendo a implantação da rede elétrica por cabos submarinos nesta região). Esta exposição e aula dialogada produziu grande significação a ponto de aqui arriscar-me a traduzir suas palavras (pena que estava sem um gravador - que A mesma também me ensinou da importância...) que, espero não estar terrivelmente equivocada, chegou aos meus sentidos e memória deste modo:
"É incrível o quanto passamos a conhecer das pessoas quando nos propomos a ouví-las a partir de seus lugares, condições, saberes, organizações e posições políticas próprias ? ouvir um lado e o outro de forças aparentemente antagônicas. Esta pesquisa se estabeleceu pelo método em sua forma pragmática, porque objetivei escutar as suas vozes, falas e tipos de interações que os dois pólos conformavam - e que me revelou conhecimentos e expressões de modo muito ricos e tão diversos, de ambos os lados... Haviam resistências que gradualmente evoluíram à rejeição de conflitos subjetivos e à intervenções externas (imposição do poder político ou econômico, se bem me lembro de fala da Professora).
(...) Em sessões e assembléias com debates abertos à comunidade local e técnicos e engenheiros da empresa, houve a busca dialógica, ecológica e racional de uma solução entre os dois núcleos para um problema de proporções bem maiores, de caráter municipal; mas não prevaleceram distinções coletivas de indivíduos socialmente desiguais. Os espaços de disputas quanto a status, capital cultural e simbólico foram reduzidos pelos próprios envolvidos". (SOLEDAD, Maria) .
Ao observar e questionar à Professora sobre o processo de pesquisa, posso arriscar que o método pragmático nos conduz cientificamente a pensar o conhecimento "fora da caixinha", para além das implicações teóricas à priori, das representações sociais e institucionais ? e ouvir "suas vozes".
Poderíamos conhecer as relações sociais e seus desdobramentos se viessemos a observar o mundo não premeditadamente mas ouvindo o que ele tem a dizer em suas formas de expressão pelas quais se manifesta, e sem parar de nos questionarmos mas sem pretender resolvê-lo? Conhecer nem sempre é ter que criar "soluções" epistemológicas a um problema - mas vislumbrar possibilidades de concebê-lo, sem vendê-lo em uma receita teórica pronta (e sei que a idéia é sedutora), mas poderia estar aí a fronteira de uma pesquisa sectária e uma investigação genial? Contudo, para fazermos esta pergunta faz-se necessário o merguho nas fontes conceituais que exploram o método pragmático, que nasce como filosofia: pragmatismo é um termo forjado a partir do seu equivalente grego "pratka"; seu significado é a ação e nos remete ao sentido eventualmente prático e que insere-se na filosofia em 1878 através de CHARLES PEIRCE , que no artigo "Como Tornar Claras Nossas Idéias" enfatizava que na realidade um conjunto de crenças são regras de ação e de conduta, e que o significado de um conceito (expressão ou discurso) habita as conseqüências de ordens práticas de sua ação, ou seja: se um indivíduo decide agir de determinado modo haverá uma conseqüência e esta consequência é o significado primeiro e último de seu pensamento e intenção. WILLIAM JAMES, por sua vez, desenvolveu o método pragmático centrando-os sobre a concretude do evento vinculando os conceitos aos fatos e estes às conseqüências das ações e assim como PIERCE buscou utilizar o método pragmático para aprofundar seus estudos metafísicos como o faz aqui ao usar metodologicamente o pragmatismo para entender e explicar questões religiosas:
"(...) Se as idéias teológicas provam que têm valor para a vida concreta, são verdadeiras, pois o pragmatismo as aceita, no sentido de serem boas para tanto. O quanto serão verdadeiras, dependerá inteiramente de suas relações com as demais verdades, que têm também, de ser reconhecidas" (JAMES, W. Op. cit., idem, p. 57).
No método Pragmático, o conhecimento parte da experiência prática para deliberar e construir posteriormente. Para ilustrar este entendimento observemos o modo pelo qual as crianças aprendem: de modo geral as crianças observam diariamente em seu núcleo familiar cada ação cotidiana dos seus pais; contudo, se eles falam palavrões mas castigam as crianças por falar também, há uma incoerência e contradição indiscutíveis (entre o que os pais afirmam e o modo como eles agem); um esvaziamento de sentidos porque a prática nega o discurso familiar. Assim, a realidade pragmática apresenta uma verdade que se estabelece no consenso entre indivíduos que participam de seu processo; este procedimento antecede um problema de caráter cientificista à priori que PIERCE chamou de "falibilismo" no qual há a possibilidade onipresente de que todo o investigador (por mais concentrado que seja em suas observações sobre o objeto de pesquisa) corra o risco de a qualquer momento inclinar-se para um dos lados da verdade baseando-se na apropriação de variantes (versões) e maximizando-as, o que pode levá-lo à posturas e premissas unilaterais. Para que isso não ocorra caberia ao pesquisador, antes mesmos que evidências contrárias se revelassem, o exercício de humildade intelectual constante, ou a revisão cotidiana de suas próprias idéias, pressupostos teóricos e pressupostos filosófico-científicos.
Na contemporaneidade surgem filósofos que adotam não mais o método mas a filosofia pragmática, forjando o movimento neopragmático com destaque à RICHARD RORTY para os quais todo o pressuposto ou ambição teórica passa a ser dispensada. Não há mais critérios nem etapas ou procedimentos técnicos à priori para distinguir e legitimar uma verdade sendo que o que se espera de um pesquisador pragmático é o registro de todo e qualquer tipo de narrativa que para além da esfera científica e acadêmica possa defender coerentemente uma verdade. Nesta prática coexiste a utopia da libertação dos métodos, normas e procedimentos científicos mas:
"O que valida uma crença, segundo o pragmatismo clássico, não são seus ornamentos argumentativos ou o conforto que nos traz ao tornar aprazível e suportável a realidade. Mas sim, seus efeitos práticos concebíveis e a experiência futura, que irá confirmá-la ou não. Ao nos devolver teimosamente à mesma realidade, por vezes tediosa e angustiante, da qual tentamos escapar por meio de filosofias baratas, dogmas e auto-ajuda, o pragmatismo só pode oferecer em troca uma existência mais criativa, num oceano de possibilidades." (SALATIEL, José Renato).
No entanto, HANSON (1958) problematiza a experiência em sua distinção praxiológica pois para ele no pragmatismo só a observação como meio catalisador de dados não é o bastante, não se justifica e não constitui como referencial básico não só no campo científico, mas também em sua prática diária operando somente pela identificação e interpretação das práticas, emoções ou valores sociais, pois "interpretar é pensar", e da observação terão que desdobrar-se outros elementos essenciais como contexto, conhecimento (que teleologicamente é a observação e não se adiciona à ela) mas também de teorias pois os objetos observados estão e são impregnados de saberes, sendo que:
"O paradigma do observador não é o indivíduo que vê e relata o que todos os observadores normais vêem e relatam, mas aquele que vê em objetos familiares o que mais ninguém viu antes." (HANSON, in SILVA, Porfírio)
Considerações teleológico-argumentativas:
Ciência na Pós-modernidade - o mito do método
e o pressuposto teórico transdimensional:
A ciência pós-moderna, campo de produção de orientação teórica, técnica e tecnológica metodologicamente diversificada devido à sua evolução controversa, debate hoje no séc. XXI, ano 2011 (entre outros espaços antecipados da UFSC - mas especifica, polêmica, essencial e democraticamente na disciplina "Metodologia I e II") sobre suas reais necessidades, importância substancial e objetivação produtiva que anteriormente era institucionalizada de tal modo como segue o gado ao peão. Mas "sociologia política não é para iniciantes" ? e aqui insiro a metodologia científica do campo da sociologia política, neste destaque do Professor Doutor CARLOS SELL em seminário do mestrado de sua disciplina, Teoria Política Clássica.
Na mesma linha ouvimos aos problemáticos questionamentos da Professora MÁRCIA GRISSOTI sobre as questões quanto à legitimidade das produções científicas e as relações de poder em seu campo de produção:
- legitimidade, e os tipos de necessidade da produção científica nas ciências naturais e nas ciências socais;
- legitimidade, e o capital cultural e simbólico no campo científico.
Subsidiando os debates, o inevitável aparato econômico neoliberal, o mundo do trabalho e a produção em massa da sociedade global de consumo. Mas além destas esferas problemáticas, eis que em todas as aulas um tema conflitante vinha à tona: a supremacia tecnológica e os processos de produção de soluções químicas (remédios), sobre e a partir de sua forma elementar (o meio ambiente) e de suas práticas originais (tradições tribais cujos procedimentos são classificados como modos de produção primitivos, sem sistematizações e registros teóricos e logo não científicos). Nestas aulas, vislumbrou-se o paradigma dialético científico da produção técnica e tecnológica que "interage" com saberes e práticas comuns, reconstituindo-os e adquirindo-os em patentes, negligenciando os direitos e os conhecimentos produzidos por tradições e métodos peculiares originais. E o contexto da legitimidade deste tipo de produção e pesquisa científica no Brasil, soberania de proporções continentais cujos recursos naturais fornecem um conjunto absolutamente diversificado e abundante de matérias-primas cujos elementos são indispensáveis à quaisquer investigações científicas, só para citar de início, nos campos das ciências biológicas, químicas e naturais, de repente deixou de ser a preocupação maior, senão a própria questão da legitimidade valorativa (antes de normativa) sobre os próprios métodos para produzir estes conhecimentos, de modo que a pergunta ainda ecoa:
"As práticas que se originam e se perpetuam pelas sociedades e tradições tribais envolvem seus modos próprios de coleta e produção de soluções naturais ao tratamento de enfermidades... Elas são tão menos importantes das sintetizadas e produzidas pelos laboratórios?Deve a ciência descaracterizá-las e desqualificá-las ? mesmo sendo práticas e conhecimentos produzido legítima e originalmente?" (GRISSOTI, Márcia).
E agora? Há submissão do campo científico pós-moderno ao sistema econômico neoliberal? Ela é determinante a ponto de relevar ao esquecimento toda a construção conjuntural histórica de produção de saberes e práticas característicos das primeiras formas de socialização ? as sociedades tribais?
Em uma retórica comparativa breve, podemos dizer que um indivíduo enfermo na sociedade tribal teria que permanecer com o corpo deitado e sem ação (eliminando a aceleração do esforço físico e mental), durante três dias. "Tres dias": na sociedade global pós-moderna, este mesmo enfermo ingere um antialérgico, anti-histamínico ou um "anti" tudo o mais e corre radiante da farmácia ao escritório pois "tres dias" é o período de tempo em que ele, executivo do mercado imobiliário, por exemplo, acumula alguns milhões; "tres dias". Alguns milhões ou um corpo descansado? Um ataque cardíaco no dia seguinte pela queda da bolsa, ou um por do sol matando mosquitos? São certamente escolhas muito difíceis.
E seguindo a mesma premissa, outras escolhas de consumo ou adaptação também se apresentam, como o poder do laser intracraniano de altíssima definição que extermina se preciso for uma única célula cancerígena alojada em lugares do cérebro antes inatingíveis, segundo o neurocirurgião francês ALEXANDER CARPENTIER em primeira em entrevista realizada e publicada em vídeo (cuja segunda fora escrita e publicada na mídia virtual):
?O procedimento envolve a introdução da fibra ótica no tumor, na metástase. É preciso apenas de um minúsculo buraco de três milímetros no crânio. Tudo é feito sob anestesia local. A técnica destrói as células e por isso acaba com a metástase dos tumores cerebrais. Entre os quinze primeiros casos seis chegaram ao final e todos com cura sendo que cinco sem recaída. A técnica prolongou a expectativa de vida das pessoas, porque os pacientes que apresentam metástases cerebrais durante o câncer morrem geralmente da complicação."
Na segunda reportagem, surgem estes dados:
"Assim que o tumor é localizado e a fibra é colocada no interior do crânio, o laser é ativado e "esquenta durante um ou dois minutos a metástase e a destrói (necrose)". Um sistema de informática permite ajustar a energia emitida pelo laser. O calor é controlado a cada três segundos para não passar de 90ºC. Os mapas da temperatura permitem prever as zonas necrosadas. Resultados que podem ser verificados logo em seguida (...). O paciente não sente nada durante a intervenção e pode sair em geral 14 horas depois".
E em seguida em sua estratégia corroborada cientificamente a reportagem destaca:
"Esta forma de tratamento, bem tolerada pelos pacientes, beneficia-se de uma técnica desenvolvida com o centro MD Anderson de Houston e a sociedade BioTex (Texas)."
Pesquisando o Centro MD Anderson de Houston observa-se que seu fundador John Mendelsohn ("MD") guarda em sua trajetória profissional e científica uma escalada em seu status acadêmico bem sucedida, premiado com títulos e honras como a Medalha de Ouro de Paris em 1997 entre muitos que confirmam seus méritos de pesquisa e terapias contra o câncer, e que o mesmo "recebeu doutorado honorário da Universidade de Nápoles (2005), China Medical University( 2006) e da Universidade Yonsei (2006)", além do fato econômica e politicamente corretos de que a instituição MD Anderson "dobrou de tamanho pela maioria dos parâmetros. Sob sua direção, MD Anderson foi nomeado o hospital de câncer de topo no país sete dos últimos nove anos nos EUA News & World Report´s "America´s Best Hospitals", incluindo de 2010." Logo não é de se estranhar que a política comercial do Centro MD Anderson mantenha em sua proposta e atividade à priori o Escritório de Comercialização de Tecnologia que "apoia a Universidade do Texas, (...) acelerando a entrada de novos medicamentos, diagnósticos, equipamentos e terapias para o mercado comercial", e cuja visão objetiva a operacionalização do programa do Centro de Cancer MD Anderson,
"como um negócio: Capital prudentemente investindo em um portfólio de patentes; Buscando parceiros de investimento para compartilhar o risco e a recompensa; Operações de gestão para maximizar os retornos financeiros; Buscando crescimento a longo prazo na renda de licença e valor da carteira de capital".
Conclusão:
Entre tantas, uma grande dúvida do campo científico subsiste à questão fundamental político-econômica: somos pessoas ou coisas?
Na essência do multiculturalismo característico da sociedade global neoliberal do século XXI, ascende e predomina o privilégio ao patrimônio também na esfera científica e lógica de mercado, de modo que não nos deixa muito espaço para discussão pois posições foram tomadas e são hoje a partir desta premissa agora mundial e ao meu parecer não há nada de mal nem de final nisto pois sempre soubemos que no mínimo há os dois lados desta moeda que na disputa acabará em umas da mãos que dela fará uso. E como diz o provérbio "diga-me com quem tu andas que te direi quem és", o caráter político virtuoso (ou não) de um cientista escolherá quem estará ao lado, pois sem constituir-se como novidade o sistema político neoliberal continua utilizando indiscriminada e inapropriadamente os recursos ambientais sem estabelecer quaisquer critérios ou fronteiras originadas de uma ação social científica, à priori e de longo prazo, de acordo com as tecnologias e dados científicos que agiriam na verificação da garantia de sua existência sem, no mínimo, ser exponencialmente prejudicial, estrutural e conjunturalmente - e de que outro modo o homem pode entender que o seu espaço é o tempo do outro, e é o tempo de todos pois o tempo e a história humana se fazem no espaço e não o contrário.
Mas o paradigma científico que enfrenta o sedutor sistema de produção e de consumo neoliberal já está colocado. Revela-se no initerrupto processo de motivar o homem à busca do conforto e satisfação imediatas de modo a fechar os olhos e esgotar os seus recursos. Esta verificação do movimento de produção e do consumo acelerados da sociedade global pós-moderna nos leva à uma jornada no mínimo intransigente, e no máximo existencialmente trágica, de modo que destaquem-se aqui as dúvidas:
1 - O homem deve utilizar a ciência (seus pressupostos, técnicas e métodos para conhecer, transformar e manipular o mundo) para identificá-la como lócus do problema ideológico social, que move a própria ciência à lógica da produção e de consumo neoliberais?
2 - Devemos persistir na justificação de que a humanidade (e as formas que a mesma utiliza para investigar, conhecer e transformar o mundo) tem que servir exclusivamente à si mesma e à seus próprios interesses afim de compreender-se - ou será que ainda não nos conhecemos o bastante?
Dentre estas dúvidas (hoje absurdas de se conceber tal é o nível com que se apresenta a democratização dos meios e das informações), há o emergente conflito no mundo neoliberal sobre a esfera científica, que também parece estar servindo à mesma lógica de produção e de consumo, levando a humanidade ao risco extremo de perder seu vínculo com o meio ambiente, manter a relação de perpetuação que ambos lutam para conquistar cada qual à seu modo, sendo que cabe ao homem reconhecer e submeter-se ao seu vínculo essencial com o meio, obedecendo a um possível pressuposto fundamental filosófico, social e geopolítico transdimensional (em que uma parte de um todo habita o plano material, mas a outra parte habita ? respeita e considera - a imaterialidade, as forças elementais e as quais estamos demasiado distantes de poder vislumbrar...).
Assim, quem sabe, a dor de saber (e ao agir) não caberia e nem seria só dos imortais.
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