Cidadania

Eu estava no meio do caos de Porto Alegre, no dia 20 de fevereiro, assolada por temporais e chuva torrencial. Ao sair do consultório, não conseguia condução para voltar para casa. Chovia aos borbotões. Lá pelas tantas passou um taxi com um motorista que me conhecia, levando um rapaz que se dirigia à Cidade Baixa. O taxista perguntou ao moço se permitia que eu fosse junto, pois nossos trajetos eram semelhantes. Gentilmente foi atendido. Deixamos o jovem na José do Patrocínio, que estava totalmente alagada. Depois nos dirigimos para a Érico Veríssimo. O quadro presenciado foi assustador: carros atolados na imensidade da água, decorrente da chuva incessante. Ninguém conseguia passar. Quem tentou, parou.

 O que mais me chamou atenção foi a falta de educação das pessoas. Os carros lotavam as calçadas, não permitindo a passagem de pedestres. As pessoas não conseguiam atravessar as ruas, porque seriam atropeladas. A solução encontrada por muitos, foi entrar em sentido contrário no corredor de ônibus e pegar a Ipiranga. Outra vez observei a falta de respeito , quando vi o Dilúvio quase transbordando e a quantidade de detritos, garrafas, papéis, caixas e um colchão boiando nele!  As ruas também com tocos de cigarros , papéis, e os mais variados objetos desfilando soberanos sobre as águas. Além da quantidade imensa de carros nas ruas, cada um querendo passar na frente do outro, não respeitando nem as ambulâncias. A agressividade dos motoristas no trânsito era notória. Cada um preocupado consigo, sem dar a mínima importância aos outros Fiquei com uma pena imensa de nossa capital, que será palco de partidas da Copa do Mundo, sendo maltratada dessa forma.

 As ruas viraram lixeiras. Será possível uma rede de esgotos que suporte toda essa triste falta de educação e respeito? Claro que a infra-estrutura é fundamental. Mas se não tivermos um mínimo de respeito e consideração com a cidade onde moramos e de um cidadão em relação ao outro, que podemos esperar?

 Penso ser importante fazer essas considerações para que possamos refletir um pouco sobre a conduta de cada um de nós. Somos todos responsáveis como partícipes de uma sociedade, que deve orgulhar-se de sua gente e colaborar para que realmente o povo gaúcho, possa mostrar as suas tradições de bravura e superação, aliadas ao respeito e a boa educação.

 Devemos mostrar ao mundo de que somos capazes não só de sediar uma Copa Mundial, mas principalmente de fornecer um exemplo de dignidade e cidadania. Observando o contraste entre a atitude gentil do motorista e do rapaz, fiquei convicta de que somos capazes de realizar a tarefa que exige um pouco de cada um, representando no final, muito de todos.

Themis Grposman Lopes