Chuva fina

Esse dia chuvoso assim
me faz voltar para mim
Sempre que o tempo se fecha
e se torna sombrio
o meu recolhimento
se faz necessário
até do rosário eu me lembro
e por um momento
me ponho a rezar
É como se o dia sem Sol
e a noite ainda mais escura
me exarcebasse a ternura
que tenho no coração
E na chuva que cai lentamente
qual lágrimas macias
numa face triste
vejo uma mensagem celeste
que em dias comuns inexiste
como um pedido de prece
um convite à introspecção
É que o mundo está
por demais acelerado
os nervos andam
extremamente exaltados
e poucos prestam atenção
no vazio que fica
na falta absoluta de contemplação
Aí Deus manda uma chuva fina
ininterrupta
mas que nada lembra
aquela
abrupta e torrencial
É como se o Criador dissesse
que é na mansidão que o amor acontece
e como a chuva fina e suave
o amor deve ser leve
para adubar um continente inteiro
e fazer nascer na terra mais árida
a sementinha da compreensão
da boa vontade
e de tudo genuinamente verdadeiro
assim como uma carícia infantil
sem nenhum alarde

Essa chuva fria
esse quê de nostalgia
pode até despertar a tristeza
mas me traz de volta pra mim
me coloca de novo nos trilhos
me põe novo brilho no olhar
Me sinto de alma lavada
até mesmo expurgada
de tantas inquietações
Lá se vão os lamentos
e a ansiedade também se esvai
a vontade é só de abraço
de tudo envolver num grande laço
em que todos os afetos possam entrar

Enquanto a chuvinha miúda persistir
as minhas cores serão sempre amenas
nada de tons fortes
nem sons que não sejam sussurrantes
E quando ela (a chuva) passar
aí terei o arco-íris
com cores vibrantes alegres e passionais
que também serão bem-vindas
depois desse apagão circunstancial
para o mundo lá de fora
que uma chuvinha despretensiosa
pôde provocar