Introdução

Uma das grandes discussões dos presentes tempos, (estamos em meados do ano de 2016), trata-se das cogitações dos adeptos espiritistas relativamente ao retorno, ou reencarnação, de Allan Kardec tal como fora predito em obras por ele mesmo organizadas.

Assim, pois, temos de um lado:

A - Os defensores da Tese (1): Kardec/Chico; ou, noutros termos: Chico Xavier, por sua grandessíssima obra, é a reencarnação de Allan Kardec, pois retornara no Século 20 para dar complemento natural à obra do Século 19; e, de outro: 

B - Os defensores da Tese (2), contrária à Tese (1): ou seja: Chico Xavier não é a reencarnação de Allan Kardec, e, sobretudo por seus perfis psicológicos que, “definitivamente”, não se encaixam. 

Sendo o motivo de mencionarmos: - definitivamente -, entre aspas, vem a ser, mais exatamente, pela vulnerabilidade de tal conceituação, pois que: 

Não se conhece tudo da personalidade psíquica de Allan Kardec; e, o pretender que a mesma fora de uma inteligência descomunal em comparação com a de Xavier, é supervalorizar a inteligência de um e menosprezar a do outro. O que não procede, pois se sabe que: muita inteligência numa encarnação pode perfeitamente expressar, numa outra situação palingenésica, a possibilidade de progressos noutro sentido, ou seja, no campo interior, dos valores éticos e demais procedimentos axiológicos.

Logo, dir-se-ia, com a Tese (1), que o psiquismo do Chico, repleto de conhecimentos pretéritos, retornara no Século 20, e, em tal existencialidade, estivera a exemplificar, na prática, os ensinos que, na pessoa de Kardec, no Século 19, teorizara, sobretudo em seu “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (AK). Ora, o que é a teoria sem a prática? E, portanto, se você teoriza hoje, você se obriga, amanhã, de modo inexorável, a colocar sua teoria em prática e, no caso, Kardec não tivera tempo de exemplificar, de modo amplo e vasto, suas lucubrações, mas tão só de teorizar em seus quinze anos de organização do Espiritismo.

Todavia, se diga que o autor deste escrito, em representando nosso 32º. e.Book, não se posiciona, em absoluto, como defensor da Tese (1): Kardec/Chico, e, tampouco, da Tese (2), sua opositora; mas sim, guarda, e tem, consigo, uma única certeza: esperar, com paciência, o seu desencarne para obter, de seus superiores, a confirmação de uma, ou, de outra coisa, pois que o Universo se nos mostra como sendo infinito em suas possibilidades, e, portanto, nossas conjecturas nem sempre são as mais precisas e as mais acertadas.

Logo, estamos numa posição bastante confortável, e privilegiada, pois observamos ambos os lados da questão, e, conquanto guardemos simpatia, ou, antipatia, por uma ou por outra questão da “contenda” em foco, temos opinião própria, e, portanto, não nos deixamos envolver por nenhum deles, pois, em nome da moderação, reconhecemos nossa fragilidade para impor verdades que podem estar falseadas, se bem que, no caso em questão, a possibilidade de acerto, bem como de erro, é de apenas e de tão só: 50%:

-Ou Chico é, ou, não é, a reencarnação de Kardec.
Por fim, julgamos que não estamos a trazer mais lenha para a fogueira, mas sim, a cogitarmos que nossas opiniões nem sempre são tão precisas e tão acertadas, pois laboramos em plano de densos cérebros animais que, nem sempre, pois, acerta, pois muito se equivoca em achar que tudo sabe, quando, quase tudo ainda está por pesquisar e por conhecer. 

Ora, aonde nos leva a pretensão de tudo saber, e, inclusive, da momentosa questão?

E, por isto: sejamos mais humildes e mais ponderados!

O autor e estudioso do Espiritismo, tal como você: Prezado Leitor.

Parte 1

DE KARDEC: RAZÃO E CUEE
Um dos mais usados argumentos da conjectura:
B – Dos defensores da tese contrária: Xavier não é a reencarnação de Kardec, se prende a seus perfis psicológicos que, “definitivamente”, não se encaixam.

Assim, estimam, tais elementos, que a inteligência de Allan Kardec é descomunal se comparada à de Francisco Cândido Xavier. Ou, noutros termos: pretendem tais defensores fazer pouco da figura ímpar de Xavier, detentor de apenas curso primário, sendo ele, pois, tão só um humilde e modesto médium; e, na contrapartida, pretendem enaltecer a figura de Kardec, notável pedagogo, escritor renomado que, como cientista observara o fenômeno mediúnico durante quinze anos de pesquisa e constante trabalho.

E Kardec, como se sabe, estabelecera os termos para preservar-se o Espiritismo das teorias controversas, das seitas que dele quereriam se apoderar, e, por isso, visando protegê-lo das inverdades e das mistificações, esclarecia em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (AK – 1864 - Ide) que o primeiro termo, ou, primeira condição para tal:

“... é, sem contradita, o da Razão, ao qual é preciso submeter, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos”. (Opus Cit.).

E prosseguia:

“Toda teoria em contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos que se possui, com qualquer nome respeitável que esteja assinada, deve ser rejeitada”. (Opus Cit.).

 

Logo, para Kardec, a primeira condição, é, fora de dúvida, que se faça uso da Razão; que a ela deveria e deve ser submetido tudo quanto venha dos Espíritos, confrontando-se ainda com uma lógica rigorosa, com o bom senso e com os dados positivos de até então. Mas, sua experiência no trato com os Espíritos mostrara a Kardec que esta primeira condição, por si só, era incompleta; ela era, evidentemente, necessária, mas deveria ser ampliada com outra adicional: a da Concordância. Sobre tal questão, eis o pronunciamento do codificador: 

 “A garantia única, séria, do ensinamento dos Espíritos está na Concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente, por intermédio de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros e em diversos lugares”. (Opus Cit.). 

E confirma logo a seguir que tal se destina, sobretudo, aos princípios mesmos da Doutrina e não a questões secundárias, ou seja, de menor importância. E tal Conceito Kardequiano ficara registrado como: 

“CUEE: Concordância Universal no Ensino dos Espíritos”. 

Todavia, em “O Livro dos Médiuns” (1861), Kardec também advertira sobre a importância do conteúdo do ensino transmitido pelos Espíritos, e que a pessoa da instrumentalidade mediúnica é um tanto irrelevante, com isso pretendendo ministrar que não devemos endeusar a ninguém e tampouco os nossos médiuns. Amar e respeitar são obrigações de todo espiritista a outrem, mas endeusar é coisa bem diferente. 

Coisa que, de modo igual, também se aplica ao Codificador do Espiritismo, conquanto as insistências de alguns espiritistas em idolatrá-lo como se Kardec não fosse suscetível de enganos, possíveis equívocos, que, sem dúvida, estão em muitos de seus livros, como é tão fácil de constatar. (Vide: nossos e.Books).

Parte 2


SUAS ÓBVIAS FRAGILIDADES

E, em nosso tempo, ao que se sabe, dir-se-ia que Inteligência se define como a capacidade de raciocinar, de aprender, de resolver problemas, em suma, de compreender, se confundindo e se entrosando, pois, com a Razão, que, para muitos, é sinônimo de Inteligência. Iniciando-se como função Pré-Lógica, o fato é que nossa Inteligência se vai desenvolvendo para a chamada Racional Concreta que, por sua vez, vai ascensionar-se ainda, e, nalguns, já pudera culminar na mais alta delas, na que se conhece como Razão Formal, ou, dir-se-ia, como Inteligência das Operações Intelectuais Formais.
 

Esta, pois, como Inteligência Formal, caracteriza-se por ser altamente teórica, porquanto raciocina sobre hipóteses e consegue produzir esquemas conceituais complexos, matemáticos e outros mais avançados ainda, trabalhando, pois, com alta desenvoltura, nas coisas ditas abstratas, incorporando Lógica distinta de suas formas menores, e, situando-se, pois, acima de tais que, se diga, fazem parte da grande massa das Inteligências terrenas. 

E o fato é que: só por aí, nos deparamos com uma real e imediata dificuldade:

-A qual Razão se referira Kardec quando de sua construção do referido conceito da CUEE?  

-Ora, em seus antípodas temos a Razão do bárbaro numa ponta, ou seja, de indivíduos notadamente cruéis, devotados ao mal, estando tais elementos presente em todas as classes sociais terrenas.

-E, na outra ponta, a Razão de um Kardec mesmo, de Inteligência nitidamente Formal, que é a Razão dos mais reluzentes espiritualistas, filósofos e cientistas que, nos últimos séculos vem revolucionando o conhecimento, o saber, em todas as áreas culturais de nossa sociedade terrena.

O que significa dizer que nossa Humanidade constitui-se de um psiquismo variadíssimo, onde um plano de inteligência entrosa-se com outros de menor ou maior alcance conceitual, caracterizando uma miscelânea de psiquismo bastante interessante. O que torna, já por aí, um tanto difícil conceituarmos a Razão Ideal, aquela a que se referira Kardec, pois que se verifica, além das retro citadas, a constatação de outras ainda, quais sejam:

-Da Razão cega dos fideístas, e, nos seus antípodas:
-A Razão cética dos desiludidos de tudo, situando-se, de permeio, ainda:
-A Razão equilibrada com a Fé, dos ditames de que:

“Fé inabalável só o é aquela que pode encarar a Razão face a face em todas as épocas da Humanidade”. (Allan Kardec). 

Já por aí, pois, verifica-se uma quantidade algo inumerável de Razões, de Inteligências, de distintas Mentalidades, dificultando-se, logicamente, encontrar-se a Razão Ideal, aquela mesma da proposição de Allan Kardec, vulnerabilizando um tanto sua construção avaliativa da CUEE.

Assim, pois, pelo visto, Razão, bem como Inteligência, ao que tudo indica: sinônimos, são faculdades essencialmente evolutivas, percebendo-se que minhas potências intelecto-morais, por exemplo, diferem das suas, das de outrem, na infinita distinção de tudo, expressando, pois, que somos um tanto diferentes, conquanto iguais perante Deus. 

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