CETOACIDOSE DIABÉTICA CANINA
Publicado em 25 de janeiro de 2018 por M.V. Esp. MsC. Dr. LUCAS BERGER DA SILVA
CETOACIDOSE DIABÉTICA CANINA
POR DR. LUCAS BERGER DA SILVA CRMV 15533
DATA 20/12/2017
Desordem metabólica de característica aguda, associada preferencialmente a cães com diabetes insulino dependentes com idade entre 4 e 13 anos, possui alto índices de óbito em cães com diabetes mellitus, mais frequente em cadelas e animais sem raça definida. Nos últimos anos mudanças comportamentais impostas aos cães, levaram a animais extremamente estressados, sedentários e obesos isto fez com que a prevalência da diabetes aumentasse a níveis preocupantes (PÖPPL & GONZÁLEZ, 2005).
Etiofisiopatogenia
O diabete melittus é complexo distúrbio que resulta na incapacidade das ilhotas pancreáticas secretar insulina e ou ação deficiente da insulina nos tecidos. (DI TOMMASO et al., 2009), a baixa quantidade do hormônio insulina ocasiona a elevação dos hormônios reguladores (hormônio do crescimento, glucagon, catecolaminas e glicorticóides) tornando a atividade cetogênica mais forte, isso acarreta produção de corpos cetônicos que ultrapassam a capacidade do organismo em degrada-los e formar energia (FOSS-FREITAS & FOSS, 2003), o fígado é responsável pela cetogênese ele realiza metabolizando ácidos ácidos graxos livres oriundos da lipólise em transformam em ácido ß-hidroxibutírico (ßHB), formando ácido acetoacético (AcAc) e acetona (DI TOMMASO et al., 2009).
Ocorre por fatores múltiplos; porém o maior responsável pela acidose, esta ligada a produção dos ácidos ß-hidroxibutírico e acetoacético, o fígado produz o ácido acetoacético, sendo a primeira cetona produzida, logo ela é degradada em ácido ß-hidroxibutírico ou decarboxilada e biotransformada em acetona (BOYSEN, 2008). Seu acumulo resulta em acidose metabólica, com consequente redução do pH e dimuição do bicarbonato nas artérias, as outras cetonas levam a cetonúria e a diurese osmótica a partir da filtração renal dessas, sendo o resultante é parcialmente liberadas na urina (FOSS-FREITAS & FOSS, 2003).
O catabolismo das reservas corpóreas são induzidos a partir da incapacidade de se utilizar glicose, a formação de corpos cetônicos pelo fígado, a estimulação dos ácidos graxos, são aumentados resultando em modificação no equilíbrio entre acido e base e também a hipercetonemia(NELSON & COUTO, 2006).
A cetoacidose diabética leva a uma hipovolemia severa, isto por que, os níveis de glicose aumentam e absorção renal tubular é excedida, levando a diurese osmótica e a eliminação de água, glicose e eletrólitos, os rins principalmente a região cortical é sensível a toxinas geradas e essa hipovolemia paralisa o metabolismos gerador de ATP, levando a isquemia que logo esgotam toda energia celular levando a baixa nos estoques energéticos, afetando a bomba Na+/K+-ATPase, evoluindo a edema e a morte das células (BICHARD & SHERDING, 2008).
A azotemia e a diminuição da filtração por parte dos glomérulos renais, devido a redução da perfusão renal, se ocorrer por muito tempo, levam a necrose tubular isquêmica e a insuficiência renal com anúria. Os aumentos da ureia e creatina na bioquímica sérica, mostram dificultada dos rins em desempenhar seu papel, dificultando assim o diagnostico e a terapêutica e complicando a situação do paciente (DI TOMMASO et al., 2009).
Sinais Clínicos e achados laboratoriais
Os sinais clínicos de diabetes melittus não se desenvolvem até que a hiperglicemia resulte em glicosúria, na anamnese é visto polidipsia (aumento na sensação de sede), poliúria (urinar em excesso), polifagia (fome excessiva) e perda de peso. Nos animais que desenvolveram a cetoacidose diabética e tem piora do quadro clinico os sinais clínicos adicionais incluem depressão, fraqueza, taquipnéia, vômito, odor forte de acetona na respiração, distenção abdominal, dor, desidradratação severa e alterações do sistema nervoso (FELDMAN & NELSON, 1996).
Em exames laboratoriais encontra-se hiperglicemia, hipercetonemia (quando em acidose metabólica), glicosúria, cetonúria, densidade urinaria diminuída (pela baixa da diurese osmótica)(PINEDA & DOOLEY, 2003).
Mensuração das dosagens de ácido ß-hidroxibutírico devem ser preferidos aos tradicionais testes semi-quantitativos urinários, por serem mais precisos, os semi-quantitativos que utilizam a mensuração de ácido acetoacético em testes estipulados apartir da reação de nitroprusside, a proporção encontrada de ßHB:AcAc é de 3/1 e em casos severos podem chegar a 20/1 (DI TOMMASO et al., 2009).
Serão vistos também, aumento em hematócrito refletindo o quadro de hemoconcentração e hipovolemia, aumento no colesterol devido a lipólise. Ocorrem variações em concentrações sanguíneas de potássio, fosfato e sódio (BRUYETTE, 1997).
Tratamento e prognóstico
O prognóstico e o sucesso do tratamento dependem do estado do animal no diagnostico da doença, a fluidoterapia é o principal aliado da clinica, e o tipo de solução a ser empregada dependerá do estado geral do paciente, de maneira primordial e básica deve-se corrigir desiquilíbrios ácidos-base e de eletrólitos, reestabelecer o volume intravascular e diminuir as taxas de glicose (BOYSEN, 2008).
Para a diminuição da hiperglicemia, ponto fundamental na terapia, opta-se pelo uso de insulinas de rápida ação (insulina N), baixas doses são efetivas e seguras, quando aplicadas por via intramuscular, e devem ser utilizadas com o objetivo de reduzir lentamente a concentração sérica de glicose a um ponto de 75 mg/dl de horário (BOYSEN et al., 2008). Meça a concentração de glicose a cada 2 horas, até os níveis glicêmicos chegar a 250 mg/dl. Deve-se administrar uma dose inicial de 0,2 UI/kg, seguida de 0,1 UI/kg a cada hora até as concentrações diminuírem a níveis de 250 mg/dl, após interrompa esse regime e passe a fazer aplicações de 4/4 ou de 6/6 horas, ou se o estado de hidratação estiver bom de 8/8 horas. Mantenha esse regime terapêutico até que as concentrações se mantenham entre 150 a 250 mg/dl e o animal passe a se alimentar caso não retorne a comer utilizar dextrose e voltar a monitorar taxas (BICHARD & SHERDING, 2008). A terapia dietética é outro ponto de grande valia sendo que deve ser instituídas existem rações especificas para pacientes diabéticos. Os objetivos da terapia é proporcionar quantidades adequadas de insulina, restaurar perdas hidroeletrolíticas, corrigir acidose, identificar fatores precipitantes, proporcionar substratos de carboidratos e instituir terapias suportivas até melhora do quadro. Para orientar a terapia avalie: a urinalise, o hematócrito, a glicose sanguínea, o dióxido de carbono total venoso ou os parâmetros ácido-base arterial, ureia e creatinina sanguínea, eletrólitos séricos e eletrocardiograma (BUSH, 2004; CHASTAIN, 1981; DUARTE et al., 2002; MACINTIRE, 1993; NELSON & COUTO, 2006).
REFERÊNCIAS
BOYSEN, S.R. Fluid and electrolyte therapy in endocrine disorders: diabetes mellitus and hypoadrenocorticism. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, Philadelphia, v.38, p.699-717, 2008. Disponível em: https://www.vetsmall.theclinics.com/article/S0195-5616(08)00003-X/pdf. Acesso em 15 nov. 2017.
BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Manual Saunders - Clinica de Pequenos Animais. 3ed. São Paulo:Roca, 2008. 2072p.
BRUYETTE, D.S. Diabetic ketoacidosis. Seminars in Veterinary Medicine and Surgery (Small Animal), Orlando, v.12, n.4, p239-247, 1997.
BUSH, B.M. Interpretação de resultados laboratoriais para clínicos de pequenos animais. Roca: São Paulo, 2004. 376p.
CHASTAIN, C.B. Intensive care of dogs and cats with diabetic ketoacidosis. Journal of the American Veterinary Medical Association, Ithaca, v.170, n.10, p.972-978, 1981.
DE MARCO, V.E. Diagnóstico de diabetes mellitus na espécie canina e avaliação a longo prazo da terapia insulínica através das concentrações sérica de hemoglobina glicosilada. Revista de Educação Continuada do CRMV-SP, São Paulo, v.2, p.23- 28, 1999. Disponível em: https://www.hostcentral.com.br/crmv/PDF/v2n2a05.pdf. Acesso em: 15 nov. 2017.
DUARTE, R. A. Accuracy of serum â-hydroxybutyrate managements for the diagnosis of diabetic ketoacidosis in 116 dogs. Journal of veterinary internal medicine, Philadelphia v.166, p.411-417, 2002. Disponível em: https://www.doi.wiley.com/10.111//j1939-1676.2002.tb01258.x. Acesso em: 15 nov. 2017.
FELDMAN, E.C.; NELSON, R.W. Diabetic ketoacidosis. In: Canine and feline endocrinology and reproduction. 2.ed. Philadelphia: Saunders, 1996. p.392- 421.
MACINTIRE, D.K. Treatment of diabetic ketoacidosis in dog by continuous low-dose intravenous infusion of insulin. Journal of the American Veterinary Medical Association, Ithaca, v.202, n.8, p.1266-1272, 1993.
NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p.701-743.
PINEDA, M.H.; DOOLEY, M.P. McDonald´s veterinary endocrinology and reproduction. 5.ed. Iowa: Blackwell, 2003. 556p.
PÖPPL, A.G.; GONZÁLEZ, F.H.D. Aspectos epidemiológicos e clínico-laboratoriais da diabetes mellitus em cães. Acta Scientiae Veterinariae, Porto Alegre, v.33, n.1, p.33-40, 2005. Disponível em: https://www.ufrgs.br/actavet/33-1/artigo605.pdf . Acesso em: 15 nov. 2017.
DI TOMMASO, M. et al. Evaluation of a portable meter to measure ketonemia and comparison with ketonuria for the diagnosis of canine diabetic ketoacidosis. Journal of veterinary internal medicine, Philadelphia, v.23, p.466-471, 2009. Disponível em: https://www3.interscie.willey.com/cgi-bin/fulltext/12232398/PDFSTART. Acesso em: 15 nov. 2015.