Cemitério dos Automóveis
Por Jean Carlos Neris de Paula | 16/04/2011 | LiteraturaSucata humana
A peça Cemitério dos Automóveis, competentemente dirigida e encenada no município de Cariacica, no Centro Cultural Frei Civitella di Trento, com excelente destaque para o ator Hudson Braga, apresenta um texto teatral que provoca o sentimento de texto sugestivo e aberto, sem linearidade argumentativa, mas com provocações soltas e, ao mesmo tempo, amalgamadas no caos da mente perdida, acerca da pequenez humana, tudo isso de forma dialogada com a história de Cristo, traído por Judas e assassinado por trazer alento ao povo pobre.
Morar em carros velhos e querer ser tratado como se estivesse em hotel de luxo mostra que o pobre tem os mesmos sonhos do rico, e isso uniformiza a miséria ideológica da atualidade. Além disso, os carros, símbolos de conquista no mundo moderno, terminam velhos e abandonados, assim como os homens que, infelizmente, no comportamento capitalista, amam as coisas e usam as pessoas, em vez de amar as pessoas e usar as coisas.
Dessa forma, a utilização do sexo como sobrevivência, o autoengano, a alienação, a ganância, a fusão e a troca de papéis entre os casais, a pobreza de espírito e financeira, a correria sem ponto de chegada, entre outras temáticas sugeridas, constituem uma colcha de retalhos, um mosaico, uma mistura de reflexões que levam o espectador a perceber, em cada cena, a fundição entre carcaças humanas e sucatas automobilísticas, bem como o entrelaçamento de correntes, algemas e correias, que amarram o indivíduo em seu "mundinho" apertado, do qual ele não pode, não consegue nem quer sair.
Jean Carlos Neris de Paula