Antigamente se dizia que o crime não compensa e que não existe crime perfeito etc e tal. Esse aforismo caiu de moda depois que o assassinato do presidente John Kennedy em 1963 que não foi solucionado até hoje.  Dois dias depois da prisão do Lee Oswald, Jack Rugy entra armado na delegacia e, a queima roupa, liquida o suposto assassino. Resultado: passados mais de cinquenta anos e não se tem uma pista confiável sobre esses crimes. É possível que tenha sido um crime terceirizado, quando o contato com o terceiro é também eliminado, desaparecendo qualquer possibilidade de se chegar aos mandantes.

O caso Celso Daniel guarda alguma analogia com o caso Kennedy, pois há a suspeita de que vários envolvidos e testemunhas por estranha coincidência, morreram. A ousadia do crime chocou a todos, pois mataram a sangue frio um político promissor, prefeito de uma das maiores cidades do estado de São Paulo, que fazia uma administração pelo que se sabe, com razoável competência.

Coincidentemente, uma semana antes de sua morte, vi o Celso com sua suposta namorada em frente à livraria Cultura, na Avenida Paulista. Estava alegre e sorridente, e nos cumprimentamos, pois já nos conhecíamos de vista na PUC SP onde ele frequentava o curso de doutorado. Foi um choque para as pessoas que acompanhavam de perto a sua carreira política e acadêmica. Tenho amigos que foram muito próximos dele, minha esposa e minha mãe foram pacientes do seu irmão Francisco, médico oftalmologista e tive como colega de trabalho sua irmã caçula, a Maria Clélia, durante quinze anos.

Celso Daniel, caso não tivessem tirado sua vida, teria sido, muito provavelmente uma figura proeminente do governo Lula, pois tinha currículo para isso. Graduado em Engenharia pela Poli USP, mestre em administração pública pela FGV e professor universitário, reunia condições para participar da linha de frente do primeiro governo petista. Talvez com ele no governo a história do PT poderia ter sido outra, mas na história não existe “se”

Hoje vemos figuras importantes do governo Lula e Dilma atrás das grades sob acusações diversas que enlamearam um partido que tinha como proposta original uma nova ética na política, tendo como fundadores nomes do calibre de Florestan Fernandes, Sergio Buarque de Holanda, Chico de Oliveira, Hélio Bicudo entre outros. Provavelmente alguns dos fundadores já falecidos não estariam mais nas fileiras do partido e teriam acompanhado os dois últimos citados, que se demitiram após o escândalo do mensalão.

Existem várias versões sobre o sequestro e assassinato do Celso Daniel, mas o que chamou mais a atenção do público foram as manifestações iniciais das lideranças do partido de que haveria um complô com o objetivo de eliminar as lideranças petistas. Mas logo depois, como num passe de mágica, todos assumiram que foi um crime comum, um sequestro que tinha como objetivo extorquir dinheiro de algum empresário e por azar o Celso estava no lugar errado.   Nesta versão, ao perceberem a importância do sequestrado, os marginais teriam tratado de eliminá-lo para evitar a caçada que ocorreria logo depois da libertação.

Enfim, é uma história cheia de mistérios que talvez nem os historiadores do futuro conseguirão decifrar, já que os responsáveis devem ter apagado todas as pistas que poderiam levar à solução do mistério. Talvez ressuscitando o Coman Doyle, autor do famoso detetive Sherlock Holmes teríamos algumas respostas. Como isso é impossível, só restará quem sabe em futuro longínquo, em alguma posta restante de uma São Paulo submersa, alguma pista.