PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 30.11.2010, horário: 18:10 horas:  

Estava na “Padeiro de Sevilha”, na rua Esteves Junior (centro de Florianópolis), sentado na grande mesa sorvendo um café com aqueles aromas e cheiros de “gostosuras e travessuras”  digno de incautos “da boca”, do olfato, dos olhos..., depois de jogar conversa fora, de dar uma olhadela pelos jornais... eis que surgiu a imponente figura do Delegado César Amorim Krieger próximo da porta de entrada, acompanhado de uma senhora misteriosa.

No início ficou aquele clima de “viu-não-viu”, quebrado a seguir pelas obviedades das circunstâncias e, também, pelo quebranto das habilidades que todos desenvolvemos enquanto sobreviventes num mundo onde era imperativo também a “cordialidade” e a discrição. Fiz um sinal diante de um sorriso radiante e digno do que parecia mais se tratar de um “monge beneditino” que estava me acenando.

Passados uns instantes,  me dirigi para a fila do caixa e aguardei pacientemente chegar a minha vez, quando acabei me ombreando com Krieger que veio ao meu encontro com os cumprimentos reverenciais, ostentando aquela “pinta” nobiliárquica, bem típica de nossos encontros passados que propiciavam aquele clima com um quê de escolástica. Enquanto a fila-longa teimava em não andar procurei conter meus cacoetes, evitando ranger os dentes, bem típico do “bruxismo” que me acompanhava já de há muito, além de me segurar para não morder os lábios, resultado de um tique nervoso, especialmente, decorrente da fadiga de mais um dia exaustivo de trabalho, em especial, por consequência do relatório final no processo disciplinar do Delegado “R. T.” de Laguna.

Quando já estava pronto para sair Krieger quase que me interceptou na porta para lançar um questionamento que estava na ordem do dia:

- “E daí, já sabe de alguma novidade ai nos cargos?”

Obstei de imediato a minha trajetória em direção à saída e me vi novamente de frente para Krieger. Em frações de segundos veio um torvelinho de questionamentos interiores: “Seria aquela senhora a Adréia, esposa ou alguma colega de trabalho do ‘Sebrae’ ou da Secretaria de Assuntos Estratégicos?” Krieger estava à disposição de outra Secretaria de Estado e pude observar que havia ganho peso, parecia bem maios “espaçoso”, estava mais para um  daqueles monges beneditinos da Idade Média e me perguntei o que teria acontecido com aquele Krieger de antigamente, bem mais magro, pequeno, “slim”...? Krieger realmente estava diferente, aparentava menos a jovialidade de outros tempos, porém, esbanjando um outro tipo de vitalidade tipo daqueles ambientes típicos de “mosteiros”, esbanjando sorriso largo, papada, cabeça e corpo roliço, sorrisos carreados de habilidades, faceirices... e me perguntei se no meu caso, também aos olhos dele, não estaria refletindo meu interlocutor e velho amigo?”

Desconfiado, voltei à realidade, procurei focar minha atenção  à indagação que me foi dirigida,  dando a impressão de estar convincente diante da sua solicitude:

- “Pois é, parece que vai ser mesmo o ‘Grubba’, não é?” 

Krieger argumentou:

- “Sim, isso já esta decidido, encontrei o Benedet hoje e ele disse: ‘é o Grubba mesmo!’”

Interrompi:

- “Bom, a gente estava torcendo pelo Julio Teixeira, lembra daquele nosso velho projeto? Pois é, mas...”.

Krieger, sem perder o seu sorridente incontinente e o bom astral,  argumentou:

- “Mas será que ele...?”.

Respondi:

- “Acho que talvez Secretário Adjunto ou Delegado-Geral, mas se ele for inteligente vai querer ser Delegado-Geral...”.

Krieger concordou com meu empirismo racional. Enquanto a conversa fluía lembrei o encontro do dia anterior quando conversei com a  Delegada Ester Fernanda Coelho que tinha comentado que Krieger havia encaminhado um requerimento ao Delegado-Geral solicitando autorização para realizar uma viagem de estudos para a Espanha, a fim de ficar dois anos por lá com todas as despesas pagas pela Secretaria de Segurança Pública. Ester Fernanda comentou que quando o pedido de Krieger passou pelas mãos dela foi correndo conversar com o Delegado-Geral Ademir Serafim que imediatamente mandou o pleito para um setor do órgão que traduzindo significava “o cemitério”, inclusive, utilizando uma frase que o “Chefe de Polícia” sempre costumava usar para aqueles que só queriam “mordomia e se dar bem”: “vocês querem merenda é? Vão trabalhar...!”.

Já sabia que Krieger estava à disposição da Secretaria de Assuntos Estratégicos, com Vinicius Lumertz, mas fiz de conta que não sabia de nada, e ele confirmou com “soavidade”, tomando conhecimento que aquela senhora que o estava acompanhando no café era mesmo uma colega de trabalho... Procurei abreviar nosso contato e nos despedimos fraternalmente parecendo mais dois irmãos do que frades bem tratados e parcimoniosos.     

Data: 30.11.2010 – “A notícia da morte do Delegado Flares do Rosar”:

Li no “site” da Adepol/SC a seguinte nota de falecimento:

“A ADEPOL-SC comunica, com pesar, o falecimento do Delegado de Polícia aposentado FLARES ROSAR ocorrido nesta madrugada, na sua residência em Florianópolis após grande luta contra o câncer. Seu corpo será velado na Câmara de Vereadores de Campos Novos, e o seu sepultamento ocorrerá amanhã, as 10hs, com a celebração na Igreja Matriz daquele município”.

Não pode deixar de lembrar os bons momentos passados em que tentei motivar o amigo a concorrer à presidência da entidade e agradeci por isso não acontecido, os motivos pareciam óbvios! Nem tanto, melhor que não tenha sido o nosso candidato à presidência da Adepol-SC, ainda mais num governo onde colhemos tantas iniquidades e não pude deixar de me reportar em pensamento a lição de Rui Barbosa: “...Entre vós, porém, moços, que me estais escutando, ainda brilha em toda a sua rutilância o clarão da lâmpada sagrada, ainda arde em toda a sua energia o centro de calor, a que se aquece a essência d'alma. Vosso coração, pois, ainda estará incontaminado; e Deus assim o preserve. (...) Ninguém, senhores meus, que empreenda uma jornada extraordinária, primeiro que meta o pé na estrada, se esquecerá de entrar em conta com as suas forças, por saber se a levarão ao cabo. Mas, na grande viagem, na viagem de trânsito deste a outro mundo, não há possa, ou não possa, não há querer, ou não querer. A vida não tem mais que duas portas: uma de entrar, pelo nascimento; outra de sair, pela morte. Ninguém, cabendo-lhe a vez, se poderá furtar à entrada. Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída. E, de um ao outro extremo, vai o caminho, longo, ou breve, ninguém o sabe, entre cujos termos fatais se debate o homem, pesaroso de que entrasse, receoso da hora em que saia, cativo de um e outro mistério, que lhe confinam a passagem terrestre.      Não há nada mais trágico do que a fatalidade inexorável deste destino, cuja rapidez ainda lhe agrava a severidade. Em tão breve trajeto cada um há de acabar a sua tarefa. Com que elementos? Com os que herdou, e os que cria. Aqueles são a parte da natureza. Estes, a do trabalho (...) (Oração dos Moços).

Depois dessa notícia, em respeito a todos os servidores e trabalhadores do Estado, fui ler uma mensagem de final de ano:

“Final de Ano é Lei na Surdina. Fiquemos Atentos! O pessoal da Saúde, Segurança Pública e Educação está atento para manobra de final de ano do Governo do Estado e Deputados. Todos nós já sabemos que é no apagar das luzes e quando o ano termina, todos já com férias e recesso à vista, que o Governo do Estado e alguns Deputados metidos a espertos começam a passar leis no afogadilhos e para dar benesses a algumas categorias de servidores públicos. Este governo dobrou remuneração do Pessoal da Fazenda, Administração, Procuradoria Geral do Estado e Instituto de Previdência. Este Governo faz e desfaz transposições de cargos entre órgãos para beneficiar amigos do rei (enfermeiros, policiais, etc.) Continuam fazendo, mesmo sabendo que é irregular. Este Governo esqueceu que existem outros servidores de outras áreas com o mesmo valor. Prepara o caminhão que vai lei que vai transbordar o Legislativo, tudo com interesses diversos e pessoais. Tudo com tramitação a jato para a comunidade engolir sem muito debate. Não aguentamos mais. Digamos não a este absurdo! Bruno Ferreira/Florianópolis” (http://www.pauloalceu.com.br/index?colunas=ant01.12.2010).