PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 09.11.2010, horário: 10:00 horas:

Tinha acabado de chegar na Delegacia Regional de Polícia de Chapecó onde pretendia ouvir a Delegada Regional Tatiana numa sindicância que investigava o policial Luciano de Araújo da DPMu/Sul Brasil, em razão de um acidente de trânsito envolvendo uma viatura na SC 469 (Pinhalzinho – Modelo), no Km 59 (data do sinistro: 23.02.2010).  Logo que me acomodei na recepção do andar superior da “DRP” fui cumprimentado pela Delegada Tatiana de quem já tinha ouvido falar a respeito, porém, esse foi o nosso primeiro contato. Segundo soube, se tratava de uma Delegada com poucos anos na carreira e que rapidamente foi guindada ao cargo máximo de direção da Polícia Civikl daquele região, superando Delegados antigos como Natal, Alex, dentre outros.

A imagem de Tatiana logo me remetia ao ex-Delegado Regional de Chapecó Mauro Rodrigues, também um novato e que logo foi nomeado para o cargo de “DRP” daquela importante cidade e, depois, Diretor de Inteligência da Delegacia-Geral da Polícia Civil, em cujo cargo se encontrava até aquele momento.

Tatiana parecia se esforçar para demonstrar segurança ao conversar comigo, mas sem perder a humildade e singeleza... Lembrei que o Delegado Natal já tinha elogiado a postura profissional dela e em razão disso procurei ser o mais transparente possível. Tatiana aparentava não ter mais do que trinta anos, era magra, cabelos castanhos compridos, voz calma, trajava roupas discretas...  Fui me encaminhando até uma “salinha” destinada à Corregedoria, sempre acompanhado da “DRP”, já que seria a primeira a sua ouvida...

Quando entrei no recinto encontrei o Delegado Deonilo Agostinho Pretto (Corregedor do Oeste) e logo me veio aquele filme de dois ou três anos atrás, quando estive conversando com ele na “DRP” de Xanxerê, em cujo encontro havia feito um relato sobre o nosso projeto da “Procuradoria-Geral de Polícia”.  Na verdade, encontrar o Delegado Pretto foi um misto de satisfação e decepção. No primeiro caso porque era uma figura imponente, tirada daqueles filmes tipo “Barão M...”, aliás, talvez mais para uma espécie de ícone “quixotesco” da Idade Média...  Pretto aparentava ter um metro e oitenta de altura, uns quase sessenta anos de idade, rosto rubro de italiano,  levemente “rechonchudo” e longitudinal fino, pele clara e avermelhada, barriga saliente (contrastando com o peito para dentro), porém, sem aqueles pneus laterais, pernas finas e esguias, cabelos brancos penteados para traz, com um cacheado levemente nas pontas, andar e gestos seguros, “fala suave”... e um olhar penetrante. Um registro sobre seu passado foi que se elegeu Prefeito da cidade de São Domingos, localizada na região de Xanxerê... Quanto ao segundo fato, logo que o Delegado-Corregedor Pretto percebeu nossa “intromissão” na sua área de trabalho imaginou que se tratava de pessoas “amigas” ou conhecidas que iriam ocupar o seu local de trabalho... Só depois fui entender seus gestos primeiros, na verdade, ele não sabia quem era quem, exceto a “DRP” Tatiana, desconhecia totalmente a minha pessoa e os demais membros da Corregedoria da Capital, então, o que dizer quanto ao  advogado de defesa e o sindicado... Conversei rapidamente com Pretto e ele de pé me enganou direitinho, fazendo pensar que estava me reconhecendo desde aquele nosso último contato no seu gabinete na “DRP” de Xanxerê, quando defendi minha tese (Procuradoria-Geral de Polícia, em cujo encontro despendi  um tempão lhe dando atenção e respondendo as suas indagações...), usandoo de de unhas e dentes, sem contar toda a carga de emoção necessária, na tentativa de lhe repassar meus recados...  Sim, meu interlocutor – com a experiência de ex-Prefeito – dava a impressão que me conhecia plenamente, que estava atento a tudo que eu dizia, repetia minhas palavras, argumentava, soltava frases soltas no ar de encantamento...

Depois que encerrei a audiência o Delegado Pretto retornou para a sua sala e me lançou uma pergunta de impacto e que entrou para os anais das historietas:

- “Eu estou te reconhecendo de algum lugar, eu acho que te conheço, espera aí...”.

Aproveitei para brincar pois nessa altura minhas fichas caíram todas de uma vez só:

- “Ah, sim, com certeza, quem sabe, o mundo é muito pequeno, quem sabe alguém um dia deve ter feito algum comentário sobre “Procurados, Procuradorias, Procuradoria-Geral de Polícia..., quem sabe?”

Diante do seu silêncio, aproveitei para emendar meus comentários para lançar uma indagação:

- “E daí, como que estão as expectativas por aqui com as mudanças de governo?”

Pretto não titubeou:

- “Tem uma disputa aí pela ‘Regional’, ninguém sabe ainda quem vai ser. O Alex deve ser o Diretor de Polícia do Interior. O Maurício deve ser o Secretário de Segurança...”.

Olhei para Pretto e fiz de conta que também achava tudo isso muito normal, mas resolvi perguntar:

- “Sim, mas quem é que está fazendo projetos na área da Polícia Civil? Quer dizer que vai ter uma Diretoria de Polícia do Interior aqui em Chapecó?”

Pretto respondeu:

- “Bom, eu não sei bem, mas é o Alex que esta vendo isso aí, parece que eles querem interiorizar os serviços, criar uma Diretoria do Interior aqui em Chapecó, outra em Lages, bom, não sei quem é que está por trás disso...”.

Depois daquela tirada de Pretto esqueci literalmente o projeto da “Procuradoria-Geral de Polícia” pois seria como conversar com um “autista”, mas perguntei:

- “Sim, fostes candidato a Deputado nas últimas eleições?”

Pretto respondeu:

- “Eu era candidato, mas desisti, me prepararam, quando eu fui ver já estava tudo preparado e sem dinheiro eu não iria entrar. Eu só entro na política para ganhar e quando vi que não receberia dinheiro... O Merísio aqui recebeu apoio total, foi tudo para ele, então eu não teria chance alguma, apostaram tudo nele e agora vai ser o Presidente da Assembleia. Eu fui prefeito duas vezes de São Domingos, já fui candidato a deputado..., o que eu quero é ficar aqui como Corregedor, só isso...”. 

Horário: 11:40 horas:

Aproveitei o final das audiências para me despedir do Delegado Pretto, abreviando a nossa conversa, a seguir, me dirigi até o gabinete da “DRP” Tatiana para tomar um cafezinho, conforme ela havia me convidado, o que não ocorreu porque optei por um “chazinho”.  Tatiana relatou que era da turma de Delegados de 2006, a mesma do Delegado Mauro, e que também veio do Rio Grande do Sul. Logo pensei no Secretário de Segurança Delegado André Mendes da Silveira que também era gaúcho, sem qualquer sentido xenófobo, muito pelo contrário... Procurei entrar nos assuntos institucionais e questionei a “DRP” sobre o projeto que reconhecia os delegados como “carreira jurídica” e ela argumentou que segundo tinha conhecimento o projeto era bom. Interrompi para comentar que o projeto da Adepol, capitaneado pelo Delegado “Renatão” também beneficiaria os Oficiais da PM que teriam o mesmo tratamento. 

Aproveitei o momento para relatar o projeto de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” e Tatiana ouviu atentamente meu relato, inclusive, a histórico do projeto original que pretendia criar o segundo grau para  Delegados e Oficiais da PM. Procurei “pegar” leve nas críticas aos Delegados Maurício Eskudlark, Ademir Serafim, André Mendes e “Renatão” da Adepol, especialmente, por serem amigos do Governador Pavan e de estarem patrocinando o “pacotão” da carreira jurídica quando a meu ver isso não seria necessário, pois dependeria de uma “Pec” nacional que resgatasse o art. 251 da CF-1988. Tatiana, mantendo a mesma serenidade do nosso primeiro contato, confidenciou:

- “Aqui nós trabalhamos para o Maurício nas eleições. O senhor sabe se ele vai ser o Secretário de Segurança?”

Fiquei surpreso com a pergunta, lembrei da minha última conversa com o Delegado Natal  e externei minha opinião:

- “Sinceramente? Acho muito difícil. O Maurício é do PSDB e o governo é do ‘DEM’. Além disso, o Maurício é primeiro suplente, então o negócio dele é assumir uma cadeira na Assembleia. Eu acho que o governador Colombo deve colocar alguém do Ministério Público...”.

Tatiana deu a impressão que caiu na real e fez outra confidência:

- “Doutor, eu era Delegada lá em Pinhalzinho na época do Mauro e quando ele foi convidado para ir para a Capital me chamou e perguntou se eu queria ser sua substituta. No início fiquei em dúvida, achei que não era a minha hora. O Mauro insistiu dizendo que era a minha vez, aí eu achei que era mesmo e resolvi aceitar”.

Interrompi:

- “Sim, mas a tua pretensão era continuar na ‘Regional’ se o Maurício viesse a ser o Secretário de Segurança?”

Tatiana confirmou que sim e fez outro comentário:

- “Nós aqui trabalhamos para o Maurício na eleições, o Alex Passos subiu em camarote para fazer campanha para ele. Eu não cheguei a tanto, mas todo mundo aqui ajudou...”.

Interrompi:

- “O Alex Passos é Delegado?”

Tatiana confirmou com certo ar de surpresa:

- “Sim, o Alex é Delegado aqui, o senhor não conhece ele?”

Respondi:

- “Ah, sim, é o Alex Boff, não é?”

Tatiana confirmou:

- “Sim, é o Alex Boff dos Passos. Segundo a gente tem ouvido comentários por aqui eles estão querendo criar uma Diretoria de Polícia do Interior aqui no oeste e o Alex está cotado para esse cargo...”.

Fiquei curioso:

- “Quem é que está fazendo esse projeto? Segundo eu tenho conhecimento não existe ainda um grupo fazendo projetos, tem?”

No primeiro instante Tatiana permaneceu em silêncio, balançou a cabeça e argumentou:

- “É, mas a gente tem ouvido comentários. Eu gostaria de continuar aqui na ‘DRP’...”.

No final da conversa Tatiana se mostrou um pouco impressionada com o projeto da “Procuradoria-Geral de Polícia” e fez uma sugestão:

- “Doutor, esse seu projeto é muito interessante, tem que ser passado para os Delegados, eu não tinha conhecimento algum sobre essas suas ideias, quem sabe o senhor coloca na rede, conversa com o pessoal...”.

Interrompi:

- “Eu tenho procurado fazer um trabalho de formiguinha, inclusive, já coloquei na rede. Meu negócio é fazer um trabalho de formiguinha...”.

Tatiana argumentou:

- “Doutor, amanhã eu vou ter uma reunião aqui com todos os Delegados da minha região e vou colocar o seu projeto...”.

Acabei relatando a conversa que tive com o Delegado Pretto, com quem já tinha conversado há alguns anos atrás sobre a “Procuradoria-Geral de Polícia” e quando o reencontrei momentos antes ele nem lembrava mais de mim, quem diria desse nosso projeto. Tatiana apenas ouviu, com discrição e elegância, demonstrando grandeza de coração ao não tecer qualquer comentário sobre o lapso de memória do colega e seu foco na política e nos seus interesses pessoais... Na saída da ‘DRP’ em direção à viatura pensei: “Que ‘figuraço’ esse Delegado, acabei tendo a sensação que estava diante do ‘Barão de Munchhausen’, uma excelente pessoa que já deveria ter ido há muito tempo para casa...”.