PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 16.03.2010, horário: 18:30 horas:

Estava na estava Corregedoria de Polícia e eis que fui  surpreendido com a visita do Delegado Wilmar Domingues. No momento que entrou na minha sala eu estava sentado de costas revisando o anteprojeto de lei a respeito das infrações disciplinares e da reestruturação do órgão correctional. Wilmar Domingues permaneceu plantado em silêncio junto a porta e foi se anunciando:

- “Tô aqui faz horas só te observando”.

Imediatamente me levantei e de braços abertos foi ao se encontro para cumprimentá-lo. Wilmar parecia firme e forte como um “jabobá” e aquilo me deixou muito satisfeito, pois no alto dos seus sessenta e três anos dava a impressão que estava ainda de pé, sem se render aos cânticos de uma aposentadoria certa.

Durante o turno da primeira rodada de conversa soube que Wilmar ainda estava atuando junto ao gabinete do Delegado Maurício Eskudlark e que estava mantendo contados direto com o Escrivão Milton Sché e com o Delegado Julio Teixeira que também prestava serviços naquele mesmo local. Achei interessante que Wilmar Domingues estivesse se relacionamento bem com os dois, primeiro porque sabidamente Nilton Sché era extremamente ligado ao Delegado-Geral, respondendo pela chefia de gabinete. Já com relação a Julio Teixeira existia um passado não tão distante, onde um grupo de intrépidos quis revolucionar (!?!?), mas morreram todos na praia.

No Segundo turno da conversa relatei que estava trabalhando em alguns livros sobre história da Polícia Civil e ele rebateu:

- “Que livros? Eu nunca vou ler esses teus livros, acho que nunca vão sair, vou morrer e não vou ler…”.

Sim, aquilo soava quase como uma provocação e eu tive que abrir meu notebook e mostrar várias textos que estavam no “forno”.  Wilmar deu a impressão que sentiu o peso da minha ação, a começar pelo Estatuto da Polícia Civil, edição histórica que ainda não consegui republicar.

Já no terceiro turno, Wilmar Domingues relatou a sacanagem que fizeram com seu filho em Palhoça, reputando a Maurício Eskudlark essa responsabilidade. Depois, comentou que estava muito ligado ao Delegado Julio Teixeira que pretendia ser candidato novamente, só que a Deputado Federal e já estava em campanha. Wilmar Domingues relatou que Julio Teixeira estava em contato direto com o Senador Raimundo Colombo e com o ex-Senador Altoff de Tubarão, fazendo um trabalho político e envolvente, demonstrando muito agilidade e ligação com essas personalidades. A seguir,  relatou que recentemente viu as fotos de um jantar que teve a participação de Julio Teixeira, do Delegado Lauro Cesar Radka  Braga (aposentado) num restaurante em Canasvieiras, da qual participou também o Senador Raimundo Colombo, cujo assunto era sobre a segurança pública no futuro governo. Wilmar Domingues me surpreendeu quando disse:

- “Eles me mandaram aqui conversar contigo para ver se tu queres participar do grupo, eles sabem que tu és importante e é por isso que eu estou aqui, eles vão precisar de ti e querem contar contigo”.

Ouvi atentamente o relato de Wilmar Domingues que disse que na semana passada esteve me procurando na Corregedoria e argumentei:

- “Bom, eu não entendi por que o Julio não me ligou, não me procurou, nós nos conhecemos há tantos anos, desde a faculdade de Direito, depois, lembra daquele nosso grupo? Pois é, isso foi em mil novecentos e noventa e sete, noventa e oito, lembra? Então, trabalhamos naquele nosso projeto, lembra?

- “Não, não lembro, o que era mesmo?”

- “Puxa, Wilmar, o da “Procuradoria!”

Wilmar me interrompeu com um questionamento bastante preocupante:

- “Mas eu não me lembro, eu era mesmo desse grupo? Eu participei de alguma reunião desse grupo?”

Permanece estático, fiquei olhando sério para Wilmar e achei que realmente ele está tendo lapsos de memória e que me enganei ao fazer um julgamento de sua saúde pelas aparências, pois as redes neurais contavam muito. Em seguida perguntei:

- “Quem são as pessoas que estão nesse grupo do Julio?”

Wilmar respondeu:

- “Bom, pela foto que eu vi do jantar com o Colombo são o Julio, o Braga e o Milton Sché”.

Pensei: “Bom, tem que se incluir o Wilmar” e argumentei:

- “Bom, é um grupo pequeno…”.

Wilmar continuou:

- “Sim, por isso que eles pediram para eu te procurar, o Julio e o Milton…”.

Interrompi:

- “Tem que dizer para o Julio não esquecer o W. R., diz prá ele Wilmar para chamar o W., o W. já está no grupo?”

Wilmar respondeu meio que acanhado:

- “Bom, bom, eu não vi ele por lá, alias, tenho visto ele algumas vezes indo lá na Delegacia-Geral, mas só para falar com o Maurício”.

Interrompi:

- “Bom, tu sabes que eu acabei tendo problemas com o W. R.  por tua causa, lembras daquela história dos bicheiros? Pois é, bom isso agora é história, coloquei no meu livro…”.

Wilmar fez mais uma incursão:

- “Ah, eu nunca vou ler esses teus livros, tu sabes que eu prendi a mulher do W. por causa do jogo do bicho, tu lembras disso?”

Continuei:

- “Claro, e foi por isso que eu tenho certeza que ele me queimou com o Amin… Quando ele percebeu naquela época que eu estava tendo prestígio acabou pensando que eu era uma ameaça já que era teu amigo, como nós estávamos ligados, eu acredito que ele foi lá e disse para o Amin que nós éramos o grupo que iria morder os  ‘bicheiros’, bom eu acredito que ele tenha dito isso porque o Amin no início me tratava de um jeito e depois que o Wanderlei percebeu o meu conceito tratou de fazer contra informação e o Amin passou a virar a cara para mim. Tudo isso porque antes o W. R. havia me telefonado querendo que o nosso grupo corresse contigo porque tu era o maior mordedor do bicho em Florianópolis e eu te defendi, eu disse para ele que a gente não traia os amigos e ele ficou puto da cara…”.

Wilmar, mais aparentando algum grau de senilidade, argumentou:

- “Mas, tu tens certeza que eu era desse grupo de vocês, eu não me lembro…”.

Procurei me controlar e passei a borracha. No final da conversa, depois de muitas reflexões, argumentei que o momento exigia cautela e que na minha opinião o futuro governador iria talvez ser a Senadora Ideli Salvatti e que Raimundo Colombo sequer seria  candidato porque a tríplice aliança não deveria sair, ou melhor, que o PMDB não iria abrir mão de cabeça de chapa. Pedi para Wilmar Domingues dizer para Julio Teixeira que poderia contar comigo para fazer projetos, mas que no momento estava muito ocupado...  e que também era para dar um tempo até o final do mês para ver como iria ficar a história da tríplice aliança. Na verdade comentei com Wilmar que era mais prudente aguardar o desfecho dos fatos, mesmo porque minha simpatia era com Ideli Salvatti em quem acreditava ser possível se fazer realmente alguma “revolução” na área policial, claro que estava pensando na unificação dos comandos das “policias”, no projeto da “Procuradoria-Geral de Polícia”, e Wilmar tinha conciência disso. Antes de Wilmar me deixar, tirei uma impressão do projeto da “indenização aposentatória”, dando ciência que se tratava de uma iniciativa minha e da Delegada Marilisa Bohem de Joinville, junto ao Deputado Darci de Mattos. Pedi que ele conversasse com Julio Teixeira para que fizesse um trabalho na Assembleia Legislativa com vistas a impulsionar o andamento da matéria que estava emperrada na Comissão de Constituição e Justiça. Wilmar se comprometeu a entregar os documentos (projeto/tramitação) para que Julio Teixeira fizesse os “contatos”.

Depois que deixei Wilmar Domingues na garagem da Corregodoria (já passava das dezenove horas e não havia quase ninguém no prédio), fiquei pensando: “Será que Julio Teixeira vai fazer alguma coisa? Bom, quem no passado não fez, é bem provável que nada fará no presente e no futuro, muito embora a esperança fosse a última fronteira entre a vida e a morte…!”