PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 11.02.2010, horário: 13:50 horas:

Havia acabado de sair da Gerência de Recursos Humanos da Secretaria da Segurança Pública, onde fui entregar um requerimento relativo a adicional por tempo de serviço. Quando já estava de saída encontrei o Delegado Cesar Amorin Krieger que conversava com um vigilante do prédio. Foi Krieger que me reconheceu, pois estava com pressa e não prestei a atenção no que estava se passando a minha volta. Inicialmente observei que  Krieger estava mais “bonachão”, guardadas as devidas proporções, lembrava um pouco a figura do Delegado Getulio Scherer (DRP/Canoinhas), muito embora fosse mais apessoado e magro, além de bem mais novo…

Enfim, enquanto Krieger queria saber como é que estava, inclusive, argumentou que há fazia muito tempo que não me via, aproveitava para inspecionar sutilmente o que tempo havia feito com meu amigo naqueles dez anos que se passaram, apesar de parecer que havia sido “ontem”. Krieger me perguntou se eu já não tinha tempo para me aposentar, e respondi que já se passaram quarto anos e que aguardaria o próximo governo para ver no que iria dar porque estava trabalhando ainda naquele nosso projeto antigo.

Em seguida, Krieger, parecendo mais que queria colher saber das novidades, ouvir sem se comprometer, revelou que estava chefiando a Diretoria de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública, assessorando diretamente o Secretário Ronaldo Benedet.

Logo lembrei de “Dom Murilo Krieger”, promovido a Arcebispo pelo “Papa” e da gênese da sua força política.

Enquanto meu amigo fazia uso da palavra fiquei pensando: “Puxa vida, o que esse cara tem feito durante esses anos todos trabalhando numa área estratégica da Pasta da Segurança Pública, afinal, a sua contribuição era para o governo, para instituição, para sociedade? Obviamente que se eu perguntar ele irá responder que é prá tudo ... ou para ele?”

Em seguida fiz alguns comentários sobre a possibilidade da Senadora Ideli Salvatti ser a futura governadora do Estado de Santa Catarina e que talvez fosse uma alternativa procurarmos a mesma para apresentar o projeto de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”. Krieger me olhou concordando que havia uma possibilidade muito grande de Ideli Salvatti vir a ser a futura governadora do Estado e comentou:

- “É, o governo federal tem tratado bem o pessoal do service publico, pode ser que dê certo…”.

Interrompi:

- “Sim, imagina como está a Polícia Federal hoje, olha a estrutura, o que eles têm feito, os avanços e os salários bem superiores aos nossos? Então, a esperança talvez seja mesmo a Ideli, ela é como um caderninho em branco, diferente dos outros candidates que têm passado, são ligeiros, comprometidos… “.

Depois disso, lembrei que era importante termos um grupo que ocupasse espaços no próximo governo e que pensasse em um projeto para a “Polícia” e não em cargos, como sempre defendi no passado. Aproveitei para desabafar ao comentar que o governo “Luiz Henrique da Silveira” estava sendo o pior governo para a Polícia Civil, justamente ele que foi Escrivão de Polícia por quase dez anos... Krieger me interrompeu:

- “Mas tu achas mesmo isso? Tu achas que ele foi tão ruim assim?” 

Respondi:

- “Nossa, não tenhas dúvidas Krieger. A útlima deles foi a lei complementar quatrocentos e noventa e um agora de dois mil e dez. Mexeram no nosso estatuto no que diz respeito a regime disciplinar, especificamente, quanto ao rito nos processos disciplinares, sem o nosso conhecimento, vai fazer isso com o Judiciário, Ministério Público, Procuradoria-Geral do Estado, Polícia Militar… Imagina, Krieger, revogaram vários dispositivos do nosso estatuto sem nos consultar, sem ninguém saber de nada, na calada da noite, nos jogaram na vala comum, e agora é a Procuradoria-Geral do Estado que vai supervisionar tudo, desconheceram a nossa realidade, nos nivelaram por baixo, não levaram em conta a nossa realidade…”.

Krieger me interrompeu para confirmar:

- “É mesmo, foi aprovada essa lei…”.

Continuei:

- “Bom, tu sabes que eu estudei um pouco de cada governador, e posso te dizer que este governo do Luiz Henrique foi o pior de todos os tempos, bateu todos os recordes, só retrocessos para nós. Acabaram com a nossa Polícia Científica em 2005, acabaram com a nossa Corregedoria-Geral em 2003, os nossos salários se transformaram nos piores do país e nos empurraram goela abaixo  horas extras para nos escravizar, vai ver se Juízes, Promotores, Procuradores querem isso? Quem foram os iluminados que foram responsáveis por isso? Onde andam? Estão por aí circulando entre nós de bem com a vida, não sabem de nada, apostam na nossa falta de memória, no esquecimento... e fizeram um estrago dessa tamanho... Só para se ter uma ideia, um Delegado no Estado do Paraná começa com um salário de dez mil reais, aqui…, bom houve agora essa melhora dos dois mil reais que parece piada, aliás, esmola, mendicância, era para ser quatro mil..., mas é triste ver Delegados ganhando quarto mil reais, com empréstimos, faculdade de filhos para pagar, uma situação indigna por culpa deste governo, eu sei que tu és Diretor de Inteligência, participas deste governo, estais aí com o Secretário...”.

No final da conversa relatei que desde aquelas nossas reuniões do “grupo”, lá no final da década de noventa, que a Polícia Civil só marchava para trás, só tinha prejuízos e citei os ex-chefes de polícia: Lipinski, Rachadel, Dirceu Silveira, Thomé, Ilson Silva e por ultimo Maurício Eskudlark… No final, argumentei que se não tivermos um projeto institucional iria continuar assim, ou seja, só prejuízos, só retrocessos… Krieger percebendo meus argumentos e minha carga emocional como um desabafo, procurou só me ouvir, com toda a sua “habilidade”, entretanto, não procurei não perder  o estilo meio “doce-azedo” e ao mesmo tempo externar um certo ar de que tudo continuariam como sempre, parecendo “bem e normal”.

Durante o curso da nossa conversa rememorei o projeto da “Procuradoria-Geral de Polícia” e a necessidade mais do que nunca de se tentar emplacar mudanças urgentes para a Polícia Civil e depois, quem sabe, para a Polícia Militar, isso desde que absorvida a ideia do segundo grau na carreira, ou seja, os “Procuradores de Policia” e a autonomia institucional..., como forma de unificar os comandos e resolver, de vez, os problemas de conflitos entre as instituições.

Procurei abreviar a conversa, apesar de Krieger parecer que devêssemos conversar mais e mais… Depois que me despedi fiquei pensando: “É triste, uma pessoa como Krieger assumir um cargos desses, cacifado por seu tio Arcebispo Dom Murilo Krieger, mas chancelando politicamente que projetos? Nada vezes nada, apenas gastando tempo...? E,  depois de anos de governo de inteligência qual a sua contribuição, justamente ele que bebeu na nossa fonte? Nada vezes nada?  Sim, Krieger era uma boa pessoa e acabei lembrando que num determinado momento da conversa ele afirmou que a Polícia Civil era o “nosso ganha pão”, e essa talvez tenha sido a coisa mais importante que disse em toda a sua vida, pura sabedoria, pragmatismo...