PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 17.10.2007, horário: 10:00 horas:

Estava na minha sala na sede da Corregedoria (centro de Florianópolis), quando apareceu o Delegado aposentado Moacir Bernardino (convocado para prestar serviços na Delegacia-Geral). Fazia tempo que a gente não conversava e aproveitei para trocar algumas amenidades. Moacir disse que havia retornado de sua confortável aposentadoria porque realmente precisava, eis que se afastou como Delegado ainda em início de carreira, com vencimentos na faixa de sete mil reais, estava no segundo casamento, tinha filhas novas...

Moacir deixou escapar um sorriso maroto e foi dizendo:

- “Eu tenho dito e repetido lá em cima (na Delegacia-Geral) que o senhor tinha que está lá. O seu lugar é lá em cima, não aqui, o senhor sabe que é, mas disseram que já conversaram com o senhor e parece que está bem aqui na Corregedoria, não quer sair daqui...”.

Interrompi:

- “É verdade, Moacir, é aqui que eu quero ficar até me aposentar, prometi isso para mim mesmo quando fui mandado para cá”.

Moacir interrompeu:

- “Mas o seu lugar é lá, com esse conhecimento jurídico, essa sua experiência... “.

Interrompi:

- “Bom, eu já estive lá, mas quiseram que eu saísse, então...”.

Moacir interrompeu:

- “Ah, mas então doutor, o senhor tinha que retornar, tinha que retornar até para mostrar a sua capacidade, voltar por cima...”.

Interrompi:

- “Olha só, Moacir, em noventa e cinco, quando a Lúcia Stefanovich (Delegada) assumiu a Secretaria da Segurança Pública uma das metas dela foi me tirar da ‘Assistência Jurídica’. Imagine, nós trabalhamos no governo do Kleinubing, eu fiz vários projetos, e algumas vezes a Lúcia me encontrou puta da cara porque eu estava ajudando aquele governo fazendo projetos. Lembra, Moacir, eu trabalhei na lei complementar cinquenta e cinco, na noventa e oito... e isso desagradou muito o pessoal do PMDB que era oposição. Então, quando a Lúcia assumiu o poder uma das primeiras coisas que ela pretendeu foi criar problemas... Eu sei disso porque quando fui nomeado Diretor da Penitenciária de Florianópolis, num determinado dia estavam reunidos no gabinete da Lúcia, lá na Secretaria da Segurança Pública e ela recebeu um telefonema de alguém comunicando que eu havia sido nomeado para aquele cargo da Justiça. Imagina, ela olhou para o pessoal que estava sentado na frente dela e disse: ‘O Genovez nos escapou, foi nomeado Diretor da Penitenciária de Florianópolis’. Um Delegado que era meu amigo e que estava presente ficou intrigado, não que não sabia de nada, mas estava ali no gabinete dela ficou se perguntando por que ela estaria me perseguindo? Depois, eu retornei para a ‘Assistência Jurídica’, na época do Moreto e num determinado momento dei um parecer que contrariou um Delegado nosso aí, foi por causa de um livro que queria que contabilizasse pontos para promoção por merecimento... Acho que ele não gostou do meu parecer... Quando esse Delegado assumiu a Delegacia-Geral uma das primeiras medidas dele foi acabar com a ‘Assistência Jurídica’ e me mandou aqui para a Corregedoria... Então, Moacir, não dá para ficar nessa onda...”.

Moacir acabou concordando e lamentando que esse tipo de tratamento existisse entre colegas Delegados. Relatei a Moacir que naquele governo do PMDB os Delegados tiveram perdas históricas e que a única saída era nós emplacarmos uma emenda constitucional para sairmos da Segurança Pública. Expliquei a proposta de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” e Moacir pediu que eu mandasse por e-mail uma cópia do material para que ele pudesse articular. Moacir ainda argumentou que a ideia era muito boa. Citei que a ex-Inspetora “Jô Guedes”, atualmente  “Escrivã da Polícia Federal” estava ganhando quase o que ganhava um Delegado Especial, com mais de trinta anos de serviço, o que era uma vergonha. Moacir me surpreendeu ao dizer:

- “Ela é boazinha, merece, que bom...”.

Na verdade o que eu esperava escutar era um grito de indignação, um brado retumbante, tipo: “Isso é uma vergonha, temos que resistir, nos indignar, precisamos fazer alguma coisa!”  Mas não era nada disso, Moacir ainda elogiou Maurício Eskudlark, sem tecer maiores comentários, apenas querendo dizer que gostava muito dele. Acabamos falando sobre a administração do ex-Delegado-Geral “T.” e concordamos que foi um momento caótica na história da instituição, um dos piores momentos das nossas história.

Horário: 14:00 horas:

Estava chegando na  Corregedoria da Polícia Civil, quando recebi uma chamada no celular. Para minha surpresa era o Delegado Moacir Bernardino.  Foi dizendo que recebeu uma determinação do Delegado-Geral Maurício Eskudlark para analisar documentos produzidos pelo Delegado Sergio Maus, a respeito do aumento de efetivo. Moacir disse que estava mandando o policial Adílio (motorista da DGPC) para me trazer o material na Corregedoria. Fiquei meio em dúvida, sem saber o que realmente estavam querendo, ou seja, se era para fazer um parecer, um anteprojeto... Moacir disse que Maurício tinha um despacho com o Governador Luiz Henrique naquela manhã e que foi cancelado, podendo ser chamado a qualquer momento. Perguntei para quando que precisaria da minha manifestação e Moacir afirmou foi que era “para ontem” e que qualquer coisa era para entrar em contato com Maurício Eskudlark.

Horário: 15:00 horas:

O policial Adílio chegou na Corregedoria e veio direto no meu gabinete trazendo consigo um envelope saco amarelo. Em tom de brincadeira perguntei para Adílio o que era aquilo, se estava trazendo “pepino” para eu descascar. Adílio respondeu em tom de brincadeira, ao mesmo tempo que me repassava o material:

- “Doutor, quem sabe, sabe, o senhor sabe”.

Olhei para ele e pensei em fazer outra brincadeira, só que me contive, mas pensei em ter dito: “É, esse tipo de prestigiamento pode deixar para o pessoal lá da ‘Assistência Jurídica’”.